O milagre de Berna (ou a maior zebra da história das Copas do Mundo)



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Transcrição:

Nome: Nº: Turma: História 3º º ano O milagre de Berna Benê fev/0 /08 O milagre de Berna (ou a maior zebra da história das Copas do Mundo) Façam o impossível, mas vençam os húngaros (Frase de João Lyra, chefe da delegação brasileira, de incentivo ao escrete nacional quando ficou sabendo qual seria o adversário da seleção nas quartas de final do torneio) Finalmente, a FIFA havia conseguido organizar uma Copa do Mundo com o melhor do futebol mundial e com a presença de jogadores de três continentes. Depois do fiasco da Copa do Brasil de 1950, vencida surpreendentemente pelo Uruguai, com apenas 13 seleções, várias delas inexpressivas, como Bolívia e Estados Unidos, a entidade suprema do futebol mundial organizava um torneio com eliminatórias nos dois anos que precederam a sua realização, conseguindo reunir nas pacatas cidades suíças a nata do futebol mundial do período. Pelos simpáticos (e às vezes acanhados) estádios de Berna, Lausanne e outras cidades aprazíveis, desfilaram craques como os irmãos Walter (Fritz e Ottman) e Rahn, da Alemanha; Mitic, da Iuguslávia; Didi, Julinho e Nilton Santos, do Brasil; os incansáveis e raçudos uruguaios, capitaneados pelo grande Obdulio Varella e o maravilhoso time húngaro de Puskas, Kocsis e Hidegkuti. Seria o último mundial assistido por Jules Rimet, presidente da FIFA, cujo nome batizaria, a partir de 1958, o próprio troféu dado ao campeão. A final, disputada naquela chuvosa primavera suíça, reuniria os favoritos absolutos à conquista do título mundial e um bravo e destemido candidato ao vicecampeonato. O favorito absoluto havia batido inapelavelmente o campeão e o vice da última Copa por idênticos 4 X 2, havia esmagado por absurdos 9 X 0 o pobre time da Coréia do Sul, estreante nesse tipo de competição, e, parecendo não deixar dúvidas sobre sua superioridade, havia derrotado o rival aspirante ao título por categóricos (e

inacreditáveis) 8 X 3 na fase inicial do torneio (então chamadas oitavas de final). A final seria disputada pelos times da Hungria e da Alemanha. Você, leitor-torcedor do século XXI, que nunca ouviu falar de qualquer façanha do futebol húngaro, deve imaginar que a Alemanha era a favorita disparada ao título naquela Copa, certo? Errado! A Hungria era a favorita inconteste ao título. A Alemanha nunca havia protagonizado grandes feitos futebolísticos. Em 1938, disputou o torneio mundial, último antes da guerra, com cinco jogadores da Áustria, país que os alemães, sob o Reich de Hitler, haviam anexado alguns meses antes. E o resultado havia sido nulo. A Alemanha caiu fora logo de cara, uma vez que o torneio era eliminatório. Na mesma copa, os húngaros chegariam ao vice-campeonato. Em 1954, os alemães possuíam uma boa geração de jogadores (alguns afastados de competições por muitos anos em virtude da guerra), mas ninguém imaginava que pudessem fazer frente aos magiares, que já os haviam derrotado de forma humilhante nas oitavas de final do torneio. Nem se comparava, portanto, à potência futebolística atual, detentora de três títulos mundiais e quatro vice-campeonatos e dona de uma liga de clubes que está entre as mais competitivas da Europa. Máquina húngara A base do favorito time húngaro era o Honved, equipe do exército do país, que havia se tornado uma máquina de jogar futebol após a Segunda Guerra. O time era o preferido do ministro dos esportes, Gustav Sebes, e do recém-implantado regime comunista imposto por Moscou (dizem até que o ministro recrutava para o escrete militar os melhores jogadores que iam aparecendo). No final da década de 1940, o Honved já contava com o meia esquerda Puskas, tido nas década seguinte como o melhor jogador do mundo, ao lado do argentino-espanhol Di Stéfano. O time possuía ainda o meia direita Kocsis, notável cabeceador, além de outros oito jogadores que formariam a base da seleção do país a partir de 1952. Como a base da seleção era o time do exército, os craques do elenco eram todos oficiais militares. Na seleção de 1954, Puskas e Kocsis eram majores, Czibor, ponta-direita, era capitão, entre outros com patentes de tenente. Reza a lenda que mal sabiam bater continência, o que não era grande problema, pois o único fardamento que usavam com freqüência era composto por calções, camisas com número às costas, chuteiras e meiões.

Comandados pelo major Puskas, os húngaros conquistaram a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 1952 e seguiam invictos há mais de trinta jogos até a fatídica final com a Alemanha em 1954. Jogavam um futebol extremamente ofensivo e procuravam fazer vários gols ainda no primeiro tempo. Numa novidade tática que antecipou o esquema brasileiro com dois meio campistas e quatro atacantes da Copa do Mundo de 1958, Hidegkuti, o centroavante do time, recuava abrindo espaço para as ncursões dos meias Puskas e Kocsis, fato que desnorteava os adversários, que estavam acostumados à postura fixa dos centroavantes da época. Meses antes do campeonato mundial na Suíça, submeteram a Inglaterra a uma das suas maiores humilhações futebolísticas. Os ingleses, que durante muitos anos esnobaram a FIFA, recusando-se inclusive a participar das primeiras copas do mundo e estavam invictos em jogos internacionais em seu país, foram derrotados por 6 x 3 pelos húngaros em pleno estádio de Wembley. Inconformados, exigiram uma revanche em Budapeste, que ficou pior ainda. Nova goleada dos magiares, dessa vez por categóricos e arrasadores 7 x 1. Liderados dentro do campo pelo craque Puskas, fora das quatro linhas pelo técnico Giula Mandi e nos bastidores pelo ministro Sebes, os húngaros vinham assombrando a Europa com seu futebol espetacularmente ofensivo. A final de 1.954, entretanto, ao invés de coroar a majestade húngara, mostrou ao mundo uma nova força futebolística, a Alemanha. O MILAGRE ALEMÃO Graças ás benesses norte-americanas concedidas pelo Plano Marshall, e também graças ao sempre exaltado senso de disciplina e ao voluntarismo do seu povo, a Alemanha conseguiu uma espetacular recuperação nos anos posteriores à Segunda Guerra Mundial. De grande vilã no período do nazismo, a Alemanha passou a simbolizar o espírito empreendedor do capitalismo democrático da Guerra Fria na década de 1.950.

Essa recuperação, chamada o Milagre Alemão, teve no triunfo de 1.954, um dos seus símbolos mais eloqüentes. Dividida após a Segunda Guerra Mundial, privada de grande parte de Berlim, sua capital histórica, os alemães encontraram nos times da Baviera a sua redenção esportiva. Comandados pelo técnico Sepp Herberger e pelo veterano capitão Fritz Walter, a Alemanha contava com a facilidade de ter caído num grupo nas oitavas de final, onde havia um único adversário de peso: a própria Hungria! Depois de golear a Turquia, 4 x 1, os alemães colocaram em campo no jogo seguinte um time cheio de reservas que foi humilhado pelos fabulosos húngaros por 8 x 3. Os vigorosos reservas germânicos, entretanto, graças à truculência do seu jogo, conseguiram a façanha de excluir Puskas do restante do torneio até a final. Certos de que num provável jogo extra contra os turcos, não teriam grande trabalho, os alemães pouparam vários jogadores contra a Hungria e no jogo extra, já com o time titular, bateram os turcos por 7 x 2, classificando-se em segundo na chave para a fase seguinte do campeonato. Nessa fase, venceram a Iugoslávia por 2 x 0 e surpreendentemente massacraram por 6 x 1 na semifinal a Áustria, uma das grandes equipes européias da época. A GRANDE FINAL A Hungria chegou a final de 1.954 com um impressionante saldo de 25 gols marcados e sete sofridos.em partidas bem mais duras dos que as enfrentadas pelos alemães, venceram o Brasil num jogo que terminou em pancadaria e o Uruguai, marcando dois gols na prorrogação, após empate em dois gols no tempo normal. Em todos os jogos marcavam gols com menos de dez minutos de jogo (às vezes dois, como no jogo contra o Brasil e na própria final), embora na partida contra os uruguaios na semifinal, já fosse visível o desgaste físico provocado por jogos seguidos em campos encharcados (chovera durante a maior parte da Copa). E restava a dúvida: Puskas, que havia se contundido contra a Alemanha, voltaria a enfrentar os germânicos na final?

O jogo final em Berna era visto pela imprensa internacional como uma mera ratificação do favoritismo húngaro, ainda mais quando foi confirmada na véspera, a presença do capitão Ferenc Puskas, o que parecia confirmar a maré de sorte em favor dos escrete magiar. Com o meia esquerda em campo a Hungria não tomou conhecimento dos alemães. O próprio major abriu o placar aos quatro minutos e iniciou a jogada do gol do ponta direita Czibor poucos minutos depois. Aos oito minutos do segundo tempo os húngaros já ganhavam de 2 x 0 e pareciam prontos para a festa. Mas a Alemanha não estava disposta a colaborar. Dois minutos mais tarde, quando os húngaros ainda eram melhores e a Alemanha mal tinha visto a cor da bola, o meia direita alemão, Morlock diminuiu, numa falha do goleiro Grosics e, para a surpresa geral, o ponta direita Rahn, o nome do jogo, empataria, aos dezessete minutos. Os suíços, que a princípio torciam pela Hungria, estavam pasmos. Até o final do primeiro tempo o jogo seguiu equilibrado, com chances perdidas de parte a parte. Mas era visível a melhor condição física dos alemães, além da precipitação óbvia de colocar Puskas em campo. Esse já mancava no final do primeiro tempo e mal se moveu no segundo (não eram permitidas substituições na época). O jogo seguiu disputado no segundo tempo, com uma ligeira vantagem para os alemães. O ponta direita Rahn, entretanto, num chute cruzado da entrada da área, viraria o jogo, marcando o gol do título aos 37 minutos. Dada a saída, o manquitolante Puskas empatou, mas o gol foi anulado pelo árbitro Walter Ling, da Inglaterra sob alegação de impedimento (no precário filme da Copa, é impossível visualizar qualquer irregularidade, entretanto as reclamações foram mínimas). Terminada partida, sacramentava-se o milagre alemão e o futebol húngaro seria uma página virada na história, pois nunca mais o país disputaria outra final de Copa do Mundo, diferentemente dos alemães, que se afirmariam como potência futebolística, disputando mais seis finais e ganhando outras duas. ATENÇÃO: NNA REVISTA EM QUE SAIU O ARTIGO, ESSES TEXTOS ABAIXO FICARAM COMO BOX EXPLICATIVO. BOX 1

O Brasil, embora contasse com uma geração de bons jogadores como Didi, Nilton Santos, Djalma Santos (que os anfitriões suíços equivocadamente acharam que eram irmãos), Julinho e outros, ainda carregava o estigma de amarelar nos momentos decisivos, conseqüência da inesperada derrota em casa em 1.950. Talvez por isso os jogadores tenham entrado no jogo contra os húngaros tão tensos, querendo resolver na marra a partida. Tomaram dois gols em poucos minutos, reagiram, mas no final perderam por 4 x 2. Depois veio o vexame: briga contra os vencedores e o chefe da delegação, João Lyra, acusando por escrito o juiz inglês Arthur Ellis de estar a serviço do comunismo internacional. BOX 2 A copa de 1.954 registrou os placares mais elásticos de todas as copas do mundo até aqui. Alemanha e Hungria chegaram ao fim do torneio com a impressionante marca de 25 e 27 gols em cinco jogos, respectivamente, um recorde. A Áustria derrotou nas quartas de final a anfitriã Suíça por inacreditáveis 7 x 5! O maior placar de um único jogo em copas do mundo Se no campo esportivo a copa foi um sucesso, o regulamento deixou muito a desejar. Brasil, e Iugoslávia, ambos classificados em seu grupo com um empate (o jogo terminou 1 x 1) tiveram que disputar uma inexplicável e inútil prorrogação no qual os jogadores do leste europeu sinalizavam desesperados para os brasileiros que o empate também na prorrogação classificava os dois, enquanto o time nacional, que desconhecia o regulamento, se matava em campo atrás da vitória. No fim o jogo continuou com o mesmo placar e só depois os desconsolados jogadores do Brasil, que choravam no vestiário achando-se desclassificados, foram informados que estavam na fase seguinte do certame.