ENTECA 2003 IV ENCONTRO TECNOLÓGICO DA ENGENHARIA CIVIL E ARQUITETURA



Documentos relacionados
COMPORTAMENTO MECÂNICO DE FIBRAS DE POLIPROPILENO E DE AÇO NO CONCRETO AUTO ADENSÁVEL

Autor: Antônio de Paulo Peruzzi

COMPORTAMENTO MECÂNICO DO CONCRETO AUTO ADENSÁVEL REFORÇADO COM FIBRAS DE AÇO, POLIPROPILENO E HÍBRIDAS

INFLUÊNCIA DO TEOR DE FIBRAS DE AÇO NA TENACIDADE DO CONCRETO CONVENCIONAL E DO CONCRETO COM AGREGADOS RECICLADOS DE ENTULHO

Revista Científica UMC

AVALIAÇÃO DO BIOCRETO COM FIBRAS MINERALIZADAS DE BANANEIRA. Viviane da Costa Correia 1, José Dafico Alves 2

Soluções em Fibra de Vidro para Nacelles. By: Sinésio Baccan

COMPORTAMENTO DAS FIBRAS DE VIDRO CONVENCIONAIS EM MATRIZ DE CIMENTO PORTLAND MODIFICADA COM LÁTEX E ADIÇÃO DE SÍLICA ATIVA

O cimento CP V ARI PLUS teve sua caracterização físico-químico realizada na Fábrica Ciminas Holcim (Tab. A.I.1).

AVALIAÇÃO DE COMPÓSITOS CIMENTÍCIOS CONTENDO AREIA RECICLADA REFORÇADOS COM FIBRAS DE SISAL

CONSIDERAÇÕES SOBRE O PROCESSO DE PRODUÇÃO DE CONCRETO DE ALTO DESEMPENHO PARA ESTRUTURAS PRÉ- MOLDADAS

TIJOLOS DE ADOBE ESCOLA DE MINAS / 2015 / PROF. RICARDO FIOROTTO / MARTHA HOPPE / PAULA MATIAS

COMPÓSITOS CIMENTÍCIOS DE ALTO DESEMPENHO PARA APLICAÇÃO COMO SUBSTRATO DE TRANSIÇÃO EM VIGAS

ESTUDO DA APLICABILIDADE DA ARGAMASSA PRODUZIDA A PARTIR DA RECICLAGEM DE RESÍDUO SÓLIDO DE SIDERURGIA EM OBRAS DE ENGENHARIA

4 Desenvolvimento Experimental

LAJES COM ARMADURA DE BAMBU: UM ESTUDO COMPARATIVO COM AS LAJES CONVENCIONAIS DE AÇO

DRY D1 NG PC Para parede de concreto

Estudo do perfil reológico de argamassa poliméricas industrializadas para impermeabilização. Letícia Lima de Campos Weber Saint-Gobain

Comportamento de Dutos Enterrados: Modelagem Numérica x Ensaio Experimental

AVALIAÇÃO DE ARGAMASSAS COMPOSTAS PELO CIMENTO PORTLAND CP IV-32 E PELA ADIÇÃO MINERAL DE METACAULIM PARA ELABORAÇÃO DE CONCRETO AUTO-ADENSÁVEL

TIJOLOS CRUS COM SOLO ESTABILIZADO

REUTILIZAÇÃO DE BORRACHA DE PNEUS INSERVÍVEIS EM OBRAS DE PAVIMENTAÇÃO ASFÁLTICA

Fundação Carmel itana Mário Pal mério MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO CIVIL II LABORATÓRIO 04. Professor: Yuri Cardoso Mendes

O que são os PLÁSTICOS? São polímeros que apresentam

Desenvolvimento de concreto colorido de alta resistência por meio do uso de pigmentos, cura térmica e pó de quartzo

ANAPRE CF 001/2011 MACROFIBRAS SINTÉTICAS PARA PISOS INDUSTRIAIS ESPECIFICAÇÕES

4 Determinação Experimental das Propriedades Estatísticas das Fibras de Carbono

REPARO DE DUTOS DANIFICADOS UTILIZANDO MATERIAIS COMPÓSITOS

23ºC) TECHNYL C 218 V TECHNYL C 218 V TECHNYL C 218 V50...

Professor do curso de Engenharia Civil da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões em Santo Ângelo/RS

AVALIAÇÃO DA INTRODUÇÃO DE RESÍDUOS DA INDÚSTRIA TÊXTIL EM ARGAMASSAS

ESTUDO DAS CARACTERÍSTICAS MECÂNICAS E DE DURABILIDADE DO CONCRETO COM BORRACHA

ANÁLISE LABORATORIAL DE TRAÇOS DE CONCRETO PERMEÁVEL

Introdução ao estudo das Estruturas Metálicas

Avaliação do Comportamento de Vigas de Concreto Autoadensável Reforçado com Fibras de Aço

Endereço: alameda Bahia, 550 CEP Ilha Solteira S.P

ESTUDO DAS PROPRIEDADES DE ARGAMASSAS DE CAL E POZOLANA: INFLUÊNCIA DO TIPO DE METACAULIM

a) Os três materiais têm módulos de elasticidade idênticos. ( ) Introdução à Ciência dos Materiais para Engenharia PMT 3110

ADITIVO POLIMÉRICO NANOMODIFICADO

Redução do custo da produção do concreto através da permuta de parte de brita por areia

ESTUDO DO USO DE RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL EM CONCRETO PARA PAVIMENTAÇÃO

FQ-PD-05 Criado: 11/08/2016 Atualizado em: 29/01/2018 FICHA TÉCNICA Rev.: PRODUTO. Cerâmicas Internas ACI 2. DESCRIÇÃO

ÁREA DE TECNOLOGIA - LABORATÓRIO RELATÓRIO DE ENSAIO N O 84891

COMPORTAMENTO MECÂNICO DE COMPÓSITOS CIMENTÍCIOS REFORÇADOS COM TECIDO DE BASALTO

DETERMINAÇÃO DA TENSÃO DE CISALHAMENTO NA INTERFACE FIBRA DE VIDRO E MATRIZ CIMENTÍCIA EM ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO

Estimativa do Teor de Cimento Portland Pozolânico em Concreto

1 ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMANDO 1.1 INTRODUÇÃO

4. MATERIAIS UTILIZADOS

CADERNOS TÉCNICOS DAS COMPOSIÇÕES DE ARGAMASSAS LOTE 1

NBR 14081/2004. Argamassa colante industrializada para assentamento de placas cerâmicas Requisitos

ANÁLISE DA INCORPORAÇÃO DE FIBRAS DE POLIPROPILENO RECICLADAS EM COMPÓSITO CONCRETO

CARIOCA SHOPPING - EXPANSÃO

FQ-PD-05 FICHA TÉCNICA. Rev.: 02 Pág.: 1/5. Criado: 11/08/2016. Atualizado: 05/06/ PRODUTO: Multi Porcelanato Interno

TABELA DE ENSAIOS Revisão: 04 Folha: 1 de 5

INFLUENCIA DO USO DE CINZA DE BIOMASSA DA CANA-DE-AÇÚCAR NO COMPORTAMENTO CONCRETOS AUTO-ADENSÁVEIS

Solo-cimento UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO CURSO DE ENGENHARIA CIVIL. SNP38D53 Técnicas de Melhoramento de Solos

TRATAMENTO DE ÁGUA DE ABASTECIMENTO UTILIZANDO FILTRO DE AREIA GROSSA COM ESCOAMENTO ASCENDENTE COMO PRÉ-TRATAMENTO À FILTRAÇÃO RÁPIDA DESCENDENTE

Argamassa Colante. Argamassa Colante. Areia fina. Aditivos. Adições

ANÁLISE DAS PROPRIEDADES FÍSICAS E MECÂNICAS DE TELHAS DE FIBROCIMENTO COM ADIÇÃO DE PÓ DE PORCELANATO E FIBRA DE SISAL

ESTUDO DA VIABILIDADE PARA A PRODUÇÃO DE CONCRETOS COM ADIÇÃO DE RESÍDUOS DE VIDRO EM SUBSTITUIÇÃO AO AGREGADO MIÚDO NA CIDADE DE PALMAS-TO

Aula 03: Aplicação de argamassas colantes e suas Patologias

CIMENTOS. Prensas para ensaios de Compressão/Tração na flexão

Tecnologia de aditivos e adições para conreto

APROVEITAMENTO DE RESÍDUO TÊXTIL EM MATERIAL COMPÓSITO (CONCRETO)

Tema: Prepregs Termoplásticos

Influência da adição de macrofibra polimérica no comportamento mecânico de concretos de alta resistência

NÁUTICA & NAVAL Reforços e Isolamentos

$SUHVHQWDomRHDQiOLVHGRVUHVXOWDGRV

FQ-PD-05 Criado: 11/08/2016 Atualizado em: 29/08/2017 FICHA TÉCNICA Rev.: PRODUTO. Multi Porcelanato Interno 2. DESCRIÇÃO

EFEITO DO SUPERPLASTIFICANTE, SÍLICA ATIVA E POLÍMERO SB NA POROSIDADE DAS PASTAS DE CIMENTO PORTLAND

Pasta e argamassa de cimento Portland para recuperação estrutural

ESTUDO DA INCORPORAÇÃO DE RESÍDUOS DA FABRICAÇÃO DE PÁS EÓLICAS PARA AEROGERADORES EM CIMENTO PORTLAND

Ensaios de Retração de Argamassas nos Estados Fresco e Endurecido Contribuição para a normalização brasileira

Aplicabilidade de argamassas de revestimento: avaliação empírica e comportamento reológico por squeeze-flow

FQ-PD-05 FICHA TÉCNICA. Rev.: 02 Pág.: 1/5. Criado: 11/08/2016. Atualizado: 03/07/ PRODUTO: Piso sobre Piso Externo

UNIDADE 9 Propriedades Mecânicas I

Estudo por meio de strain gages do comportamento do concreto estrutural convencional e reciclado

Áreas externas; Porcelanatos e pedras naturais; Pastilhas de vidro, de porcelana ou outros materiais;

DISCUSSÃO DE ELEMENTOS PARA REFORÇO DE ARGAMASSAS DE REVESTIMENTO PARA FACHADA

FQ-PD-05 FICHA TÉCNICA. Rev.: 02 Pág.: 1/5. Criado: 11/08/2016. Atualizado: 03/04/ PRODUTO: Arga Cozinhas e Banheiros

bloco de vidro ficha técnica do produto

Laboratório de Pesquisa de Materiais Estruturais - Instituto Lewis - Chicago. Boletim 4 Efeito da Finura do Cimento

Revestimentos de Argamassa Conceitos P R O M O Ç Ã O

ENTECA 2003 IV ENCONTRO TECNOLÓGICO DA ENGENHARIA CIVIL E ARQUITETURA

INFUÊNCIA DOS ENDURECEDORES DE SUPERFÍCIE SOBRE A RESISTÊNCIA AO DESGASTE POR ABRASÃO

ANÁLISE DA UTILIZAÇÃO DA CINZA GERADA A PARTIR DO PROCESSO DE QUEIMA DO BAGAÇO DA CANA-DE-AÇÚCAR NA PRODUÇÃO DE CONCRETO

UTILIZAÇÃO DE RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO RCD NA FABRICAÇÃO DO TIJOLO SOLO-CIMENTO

3 Material e Procedimento Experimental

SUMÁRIO... 1 INTRODUÇÃO... 1 DEFINIÇÃO... 2 FABRICAÇÃO DO CIMENTO... 3

3 Programa Experimental

FQ-PD-05 Criado: 11/08/2016 Atualizado em: 07/03/2018 FICHA TÉCNICA Rev.: PRODUTO. ACIII Duo Tech 2. DESCRIÇÃO

LAMINADOS COMPÓSITOS A BASE DE TECIDOS DE MECHAS HÍBRIDAS: INFLUÊNCIA DO TIPO DE RESINA.

FQ-PD-05 Criado: 11/08/2016 Atualizado em: 29/01/2018 FICHA TÉCNICA Rev.: PRODUTO. Arga Externa Aditivada ACII 2. DESCRIÇÃO

FEIPLAR 2012 Expo Center Norte São Paulo - SP NOVEMBRO REFORÇOS PARA NÁUTICA Giorgio Solinas

AVALIAÇÃO DA RESISTÊNCIA AO IMPACTO DE COMPÓSITOS DE FIBRAS CONTÍNUAS/EPÓXI COM APLICAÇÕES AEROESPACIAIS

RELATÓRIO TÉCNICO - CIENTÍFICO

Influência da adição de filer de areia de britagem nas propriedades de argamassas de revestimento

Disciplina: Construção Civil I Estruturas de Concreto

Potencial de Substituição de Cimento por Finos de Quartzo em Materiais Cimentícios

Transcrição:

242 ENTECA 3 ESTUDO DA PROTEÇÃO DA SUPERFÍCIE DA FIBRA DE VIDRO CONVENCIONAL VISANDO SUA UTILIZAÇÃO EM CIMENTO PORTLAND Antônio de Paulo Peruzzi Departamento de Arquitetura e Urbanismo Escola de Engenharia de São Carlos Universidade de São Paulo Osny Pellegrino Ferreira Departamento de Arquitetura e Urbanismo Escola de Engenharia de São Carlos Universidade de São Paulo Edouard Zurstrassen Owens Corning Fiberglas do Brasil RESUMO O presente artigo traz os resultados dos estudos com a fibra de vidro convencional com objetivo de viabilizar sua utilização no ambiente alcalino do cimento Portland, por meio da proteção superficial das fibras de vidro com uma película de látex ou de uma mistura de látex com sílica ativa. O ambiente alcalino utilizado nas pesquisas foi do próprio cimento Portland e as amostras foram ensaiadas à flexão, o que aproxima os resultados obtidos da situação real de utilização das placas cimentícias. Palavras chaves: Dry Wall / GRC / GFRC / fibra de vidro / látex / sílica ativa 1) Introdução As placas cimentícias têm como principal função substituir aquelas compostas de gesso acartonado em áreas molhadas ou externas, no sistema Dry Wall. Elas são comercializadas com dimensões de 1.2m x 2.4m e espessura por volta de 1mm e são obtidas a partir do reforço das argamassas de cimento Portland com fibras em forma de tela e/ou com a adição de uma certa quantidade de fibras curtas nestas argamassas, formando um compósito. Essa adição visa reduzir a fragilidade dos elementos de cimento Portland, conferindo tenacidade e ductilidade aos mesmos. Dentre os diversos tipos de fibra comercializados destaca-se a de vidro 1, que tem baixo custo, alto módulo de elasticidade e boa resistência à tração. Porém, a fibra de vidro convencional sofre degradação das propriedades físicas com o tempo, devido ao ataque do meio alcalino da matriz de cimento Portland, causando a perda do desempenho mecânico desta. A fibra de vidro álcalis-resistente (AR) foi desenvolvida há alguns anos por meio da adição de cerca de 16% de óxido de zircônio (ZrO2) à composição do vidro, mas, segundo PARDELA & DEL AGUILA (1992) e PURNELL et al (), o processo de degradação das propriedades mecânicas destas ainda permanece, embora com menor intensidade. A Owens Corning do Brasil fabrica, na cidade de Rio Claro-SP, a fibra de vidro Advantex que, embora não tenha características de resistência aos álcalis, apresenta características superiores se comparadas às fibras de vidro tipo E (E-Glass). A Tabela 1 apresenta um comparativo entre a fibra de vidro Advantex e as fibras de vidro convencionais. A Tabela 2 1 Podem ser citadas como os principais tipos de fibras utilizadas para este fim, as fibras de carbono, polipropileno, poliamida, poliéster, vidro e as fibras de amianto, esta última com utilização em processo de proibição no Brasil, acompanhando uma tendência mundial.

ENTECA 3 243 traz as propriedades mecânicas do filamento simples da fibra de vidro Advantex e da fibra de vidro tipo E 2. TABELA 1 Principais características da fibra de vidro Advantex comparadas à fibra tipo E Propriedade Método de Teste Unidade Advantex Vidro E Densidade ASTM D5 G/cc 2,62 2,52-2,62 Índice de refração Imersão em óleo 156-1562 1547-1562 Expansão Térmica ASTM D696 Ppm/C 6 5,4 Linear a o C Ponto de ASTM C338 o C 916 93-86 amolecimento Ponto de Viscosímetro de placas o C 736 64-675 Enrijecimento Ponto de deformação paralelas Viscosímetro de placas paralelas o C 691 6-63 TABELA 2 Principais características mecânicas da fibra de vidro Advantex e tipo E Propriedade Método de Teste Unidade Advantex Vidro E Resistência à tração 23 o C ASTM D211 MPa 3-38 3-38 Módulo de elasticidade Sonic Method GPa 8-81 76-78 Alongamento na carga de ruptura ASTM D211 % 4.6 4.5-4.9 Diante do alto custo das fibras AR e de seu desempenho insatisfatório a longas idades, tem-se realizado estudos para viabilizar a proteção superficial das fibras de vidro, por meio de uma película de látex ou de uma mistura de látex com sílica ativa, denominado tecnicamente de coating, visando a proteção da fibra de vidro convencional ao ataque do Ca(OH) 2 (BENTUR & MINDESS, 199). 2) OBJETIVO Estudar o comportamento da fibra de vidro convencional, em relação ao meio alcalino do Cimento Portland, quando protegida com coating de látex e sílica ativa. 3) MATERIAIS E MÉTODOS 3.1) Fibra de vidro A fibra de vidro utilizada foi a Advantex da Owens Corning, na forma de roving (bobina), com 6 TEX 3 e suas principais características estão apresentadas na Tabela 1. 3.2) Látex No desenvolvimento desta pesquisa objetivou-se usar produtos que já sejam comercializados, sem necessidade de adaptação para ser utilizado na fibra de vidro. A Tabela 3 apresenta os tipos de látex utilizados no coating da fibra de vidro. 2 O diâmetro de cada filamento gira em torno de 16µ e um cabo de 6 Tex (g/km) tem cerca de 1 filamentos. 3 Unidade de densidade linear que corresponde ao peso por unidade de comprimento (g/km)

244 ENTECA 3 TABELA 3 - Látex utilizados na pesquisa Látex Nome Comercial Composição Fabricante 1 Rhoximat Estireno-Butadieno Rhodia 2 Synthomer 1656 Estireno-butadieno acrilato Synthomer 3 Styrofan Estireno-butadieno acrilato Basf 3.3) Sílica ativa Em ensaios exploratórios observou-se que mistura de sílica ativa em pó + látex resultou em um filme não homogêneo, com muitos grumos. Para contornar o problema a Microsílica- Elken forneceu a sílica ativa em dispersão coloidal, ou seja, dispersa em água, com um teor de sólidos por volta de %. 3.4) Argamassa Padrão Para que o ataque alcalino às fibras de vidro ensaiadas pudesse ser padronizado, desenvolveuse uma argamassa-padrão, ou seja, uma única composição de argamassa foi utilizada para envolver as fibras de vidro testadas, cuja composição é a seguinte: Tipo de Cimento: Relação a/c:,4 Agregado: Cimento:agregado Superplastificante CP ARI RS (Ciminas) Areia quartzosa passante na malha 4.8mm, do rio Mogi Guaçu 1 : 2 (em massa) 1% (em relação à massa do cimento) O cimento CP V ARI foi utilizado pelo fato de representar o caso mais crítico em relação à alcalinidade e mais favorável à indústria de pré-fabricados pelo ponto de vista da rapidez da desforma. 3.5) Preparo das amostras 3.5.1) Coating nas fibras Foram realizados três tipos de coating nas fibras: i) coating com látex; ii) coating com mistura de látex e sílica ativa; iii) coating com sílica ativa e posterior coating com látex. i) coating com látex: foi adicionada água a cada um dos látex estudado até o ponto em que, depois de polimerizado, o teor de polímero impregnado na fibra representasse 2% de sua massa total. A fibra de vidro foi imersa no látex e, uma vez garantida sua total impregnação, retirada e colocada na vertical para secagem e formação do filme de polímero. ii) coating com mistura de látex + sílica ativa: misturou-se a sílica ativa em emulsão com o látex até o ponto em que, depois de polimerizado, o teor de polímero impregnado na fibra representasse 2% de sua massa total. A fibra de vidro foi imersa na mistura de látex e sílica ativa e, uma vez garantida que esta tenha sido totalmente impregnada, foi retirada e colocada na vertical para secagem e formação do filme de polímero.

ENTECA 3 245 iii) coating com sílica ativa e posterior coating com látex: de forma diferente ao descrito em ii), neste caso o coating foi feito em duas etapas. Na primeira foi feito o coating com a emulsão de sílica ativa e, logo a seguir, o coating com látex. Depois a fibra foi retirada do látex e colocada na vertical para secagem e formação do filme de polímero. A Figura 1 representa esquematicamente o processo de duplo coating com sílica ativa e látex. Este procedimento foi utilizado para os látex 1 e 2. Fibra de Vidro Látex Sílica ativa FIGURA 1 Representação esquemática da fibra de vidro com coating de sílica ativa e coating de látex 3.5.2) Preparo das placas cimentícias As placas cimentícias foram confeccionadas utilizando-se a argamassa-padrão, com dimensões de xx15mm, segundo a ASTM C 947-99. Em uma das faces foram colocados quatro linhas de fibra de vidro, com o respectivo tipo de coating, distanciadas entre si de 1mm. Para cada tipo de coating a ser ensaiado foram preparados 6 corpos-de-prova. Uma vez moldados e compactados em mesa vibratória, os corpos-de-prova foram curados por 28 dias em câmara úmida. 3.5.3) Processo de hidratação acelerado 4 Após o processo de cura convencional de 7 dias, em câmara úmida, as amostras foram submetidas à processo de hidratação acelerado, imersos em água a 65ºC, segundo procedimentos descritos por LITHERLAND (1981). 3.5.4) Ensaio das amostras As amostras foram ensaiadas saturadas, segundo ASTM C 947-99, com velocidade de deslocamento de travessa de 3,mm/min. O tratamento estatístico foi feito segundo o critério de Chauvenet, adotando-se como número mínimo de amostras 3 corpos-de-prova. 4) RESULTADOS EXPERIMENTAIS 4.1) Amostras com coating de Látex As FIGURAS 2A, 2B e 2C trazem os resultados obtidos para as amostras com coating com látex. 4 Preferimos não usar o termo envelhecimento acelerado pelo fato que, em nosso entendimento, este estar melhor relacionado às situações de uso como exposição à intempéries, ambientes agressivos, etc. que o material possa experimentar.

246 ENTECA 3 2 Coating Látex 1 7 dias 5 anos 5 1 15 2 FIGURA 2.A - Amostras de fibra com coating com látex 1, com hidratação acelerada de 5 anos 2 Coating Látex 2 7 dias 5 anos 5 1 15 2 FIGURA 2.B - Amostras de fibra com coating de látex 2, com hidratação acelerada de 5 anos 2 Coating Látex 3 7 dias 5 anos 5 1 15 2 FIGURA 2.C - Amostras de fibra com coating de látex 3 com hidratação acelerada de 5 anos

ENTECA 3 247 Pode-se observar que nenhuma das amostras com coating de látex apresentaram eficiência na proteção superficial, em relação ao ataque alcalino, após processo de hidratação acelerada de 5 anos. Todas as amostras, para qualquer tipo de látex utilizado, apresentaram ruptura frágil, indicando que as fibras de vidro tiveram suas propriedades físicas afetadas devido a reação Ca(OH) 2. Esse resultado levou à formulação da seguinte hipótese: O coating de látex utilizado foi de aproximadamente 2% da massa da fibra. Qual seria o resultado das amostras se o coating fosse feito com o teor de polímero original do látex( %)? A FIGURA 3 apresenta os resultados obtidos para amostras com coating de látex, tal como industrializado. Coating Látex 2 Puro 2 5 1 15 2 FIGURA 3 - Resultados obtidos para amostras com coating de látex 2 puro Observou-se que a amostra de coating com látex 2 puro apresentou uma pequena resistência mecânica, se comparada às amostras das FIGURAS 2.A, 2.B e 2.C, porém, bastante aquém do desempenho esperado. Outra hipótese levantada foi a de se fazer coatings duplos, ou seja, efetuar um primeiro coating com látex, esperar a polimerização e, a seguir, proceder um novo coating, com posterior polimerização. No teste, utilizou-se duplo coating com látex 2, resultando num coating de cerca de 4% da massa da fibra. A FIGURA 4 apresenta o resultado obtido.

248 ENTECA 3 Duplos coating c/ Látex 2 (1,1) 2 5 1 15 2 FIGURA 4 Resultado obtido com duplo coating com látex 2 diluído em proporção 1:1 As FIGURAS 5 e 6 trazem os resultados obtidos nas amostras com coating em uma mistura de látex e sílica ativa em emulsão coloidal. Aqui, misturou-se o látex 1 e 2 puros à emulsão de sílica ativa, sem se ater ao teor de coating, que será objeto em estudos futuros. Coating mistura látex 1. + SA (5 anos) 2-5 -1 FIGURA 5 Amostras com coating de mistura de Látex 1+ S.A. (linha fina: amostras padrão, linha grossa: amostras ensaiadas) -15-2

ENTECA 3 249 Coating mistura látex 2 + SA (5 anos) 2-5 -1-15 -2 FIGURA 6 Amostras com coating de mistura de Látex 2 + S.A. (linha fina: amostras padrão, linha grossa: amostras ensaiadas) É possível notar que as amostras apresentam alguma resistência, porém, bastante aquém daquela desejada. Uma outra maneira de se fazer um coating na fibra de vidro, utilizando látex e sílica ativa, foi realizada, seguindo os procedimentos: 1 o ) Coating da fibra de vidro em sílica ativa em emulsão coloidal; 2 o ) esperou-se a secagem da água; 3 o ) coating da fibra recoberta com sílica ativa no látex puro. Os resultados dos ensaios são apresentados nas FIGURAS 7 e 8. Coating látex 1 + Coating SA (5 anos) 2-5 -1-15 -2 FIGURA 7 - Resultado dos ensaios das amostras com coating de Látex 1 + coating SA

2 ENTECA 3 Coating látex 2 + Coating SA (5 anos) 2-5 -1 FIGURA 8 - Resultado dos ensaios das amostras com coating de S.A e Látex 2 (linha fina: amostras padrão, linha grossa: amostras ensaiadas) As FIGURAS 7 e 8 mostram que os resultados obtidos são satisfatórios, se comparados aos obtidos com o coating com látex, com coating com S.A. exclusivamente e com a mistura de látex + S.A.. Observe-se que, principalmente para as amostras com coating S.A + coating látex 1 (SB), são apresentados melhores resultados, se aproximando da amostra padrão (linha fina). Resultados menos significativos foram observados para as amostras com coating S.A + coating com látex 2, para tanto, cabe a seguinte observação: o coating com o látex 1 proporciou uma fibra bastante maleável, diferente do látex 2 que resultou numa fibra rígida e com a camada de coating quebrável quando torcida. Talvez nesta diferença esteja a causa para um pior desempenho da fibra com coating com S.A e coating com látex 2. 5) ANÁLISE DOS RESULTADOS Viu-se que o coating feito com qualquer um dos látexes utilizados não resultou em uma proteção efetiva da fibra, quanto ao ataque alcalino, depois de 5 anos no processo de hidratação acelerada. Porém, a utilização desse tipo de coating pode ser interessante na proteção das fibras às primeiras idades da argamassa de cimento Portland. A ruptura frágil das amostras com coating exclusivamente de látex, aos 5 anos, deve-se a dois fatores que ocorreram concomitantemente: o aumento da resistência e do módulo de elasticidade da argamassa - devido imersão em água à 65 o C 5 - e à deficiência mecânica da fibra devido ataque do Ca(OH) 2. Uma maneira eficiente de verificar a intensidade do ataque alcalino à fibra de vidro é submetê-la a envelhecimento acelerado em solução saturada de -15-2 5 O processo de hidratação acelerado atuou como cura térmica.

ENTECA 3 251 Hidróxido de Cálcio e depois ensaiá-la à tração simples. Esse procedimento será realizado em futuros experimentos. Acredita-se que um coating da fibra exclusivamente com sílica ativa em emulsão não resultaria em bons resultados pelo fato da sílica se misturar à água de amassamento da argamassa, deixando a fibra de vidro suscetível ao ataque do Ca(OH)2. A validade desta hipótese é reforçada pelo desempenho da fibra de vidro com coating de S.A. e posterior coating de látex (1 e 2). Neste caso, primeiro a película de látex impediu o contato da S.A. e da fibra de vidro com o Ca(OH) 2, porém, uma vez que o filme de látex foi rompido, a S.A. passou a reagir com o Ca(OH) 2, mas isso em idades mais avançadas. Acredita-se que o motivo para o coating com a mistura de S.A. e látex não se mostrar eficiente - e sim o coating com S.A. e posterior coating com látex - deve-se ao fato das partículas de sílica ativa ficarem encapsuladas pelo filme de polímero, impossibilitando a reação da S.A. com o Ca(OH) 2, pela reação pozolânica 6. O bom desempenho das amostras com duplo coating: S.A e Látex, indica que a hipótese que motivou a realização desta pesquisa parece estar correta, motivando futuros estudos do comportamento deste tipo de coating em idades mais avançadas (entre 1 e 15 anos de envelhecimento acelerado). 6) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS PURNELL, P.; SHORT, N. R.; MAJUNDAR, A. J. () M icroestructural observations in new matrix glass fibre reinforced. Cement and Concrete Research. Pergamon. Ed. 3. PARDELA, M. L.; DEL AGUILA, A. (1992) El envelhecimiento de las pastas de cemento reforzadas com fibras de vidrio. Revista Materiales de construcción, vol. 42, n. 226. BENTUR, A.; MINDESS, S. (199) F ibre reinforced cementitious composites. Elsivier Applied Science. LITHERLAND, K. L., OAKLEY, D. R., PROCTOR,. B. A. (1981) The use of accelerated ageing procedures of predict the long term strength of GRC composites. Cement and Concrete Research. Pergamon. vol. 11, p. 455-466. AGRADECIMENTO Agradecemos à Owens Corning e à FIPAI pelo financiamento desta pesquisa. Estendemos nossos agradecimentos à MBT, Microsílica e Holcim pelos materiais empregados. CONTATO Antônio de Paulo Peruzzi Mestre em Tecnologia do Ambiente Construído Doutorando da EESC-USP e-mail: aperuzzi@sc.usp.br Osny Pellegrino Ferreira Professor Doutor da Escola de Engenharia de São Carlos USP e-mail: osnypefe@sc.usp.br Edouard P. Zurstrassen Engenheiro Químico Owens Corning Fiberglas e-mail: edouard.p.zurstrassen@owenscorning.com 6 A reação pozolânica consome Ca(OH) 2, pois, resumidamente, as partículas de pozolana reagem com o Ca(OH) 2 formando C-S-H (produto desejável na hidratação) Pozolana (Si) + Ca(OH) 2 + H 2 O C-S-H