REQUERIMENTO (Do Sr. Ratinho Junior) Requer o envio de Indicação ao Ministério das Relações Exteriores sugerindo a celebração de acordo com o governo italiano para que os brasileiros descendentes de italianos possam exercer a plena cidadania na Itália. Senhor Presidente: Nos termos do art. 113, inciso I e 1º, do Regimento Interno da Câmara dos Deputados, requeiro a Vossa Excelência seja encaminhada Indicação ao Ministério das Relações Exteriores sugerindo a celebração de acordo com o governo italiano para que os brasileiros descendentes de italianos possam exercer a plena cidadania na Itália. Sala das Sessões, em de de 2008. Deputado Ratinho Junior **
INDICAÇÃO N o, DE 2008 (Do Sr. Ratinho Junior) Sugere ao Ministério das Relações Exteriores a celebração de acordo com o governo italiano para que os brasileiros descendentes de italianos possam exercer a plena cidadania na Itália. Excelentíssimo Senhor Ministro das Relações Exteriores: Que entendeis por uma Nação, Senhor Ministro? É a massa dos infelizes? Plantamos e ceifamos o trigo, mas nunca provamos pão branco. Cultivamos a videira, mas não bebemos o vinho. Criamos animais, mas não comemos a carne. Apesar disso, vós nos aconselhais a não abandonarmos a nossa Pátria? Mas é uma Pátria a terra onde não se consegue viver do próprio trabalho? Essa fala anônima, atribuída a um cidadão italiano e dirigida a um Ministro de Estado da Itália do século XIX, retrata a situação delicada de um povo trabalhador e dedicado, mas que passava por um período de dificuldades severas. A partir desse período, os laços que unem Brasil e Itália começaram **
a estreitar-se cada vez mais. Hoje, sem dúvida, são intensos, apaixonantes e indissolúveis. Também são múltiplas as afinidades que associam os povos dos dois países nos aspectos culturais, econômicos, científicos, políticos, enfim, em quase todos os segmentos da sociedade. Nosso País tem acolhido, desde 1870, com carinho, amor e reverência italianos de diversas regiões: Vêneto, Campânia, Calábria, Lombardia, Piemonte, Sicília e muitas outras. Apenas nos primeiros cinqüenta anos, entre 1870 e 1920, mais de um milhão e quinhentos mil italianos vieram para o Brasil. Atualmente, cerca de 25 milhões de brasileiros são descendentes de italianos. Assim, os ítalo-brasileiros são considerados a maior população de oriundi (descendentes de italianos) fora da Itália. Nas últimas décadas, houve inversão do fluxo migratório. Agora são brasileiros que procuram a Itália. Mesmo assim, o total de brasileiros naquele país não representa 5% do que o Brasil já recebeu de italianos. Segundo reportagem veiculada em março de 2007 pelo Jornal Nacional, da Rede Globo, os brasileiros na Itália passam de 100 mil. Só dez mil são regularizados e 18 mil possuem dupla cidadania. Apenas a título de ilustração, o Brasil chegou a receber mais de 50 mil cidadãos italianos por ano. Senhor Ministro, fazemos uso de depoimento da Senhora Evelina Di Colli, presidente da Associazione Culturale Italo Brasiliana no qual a dirigente chama a atenção do governo brasileiro sobre os obstáculos enfrentados pelos descendentes de italianos. Di Colli constata que, mesmo os brasileiros legalmente no país, com visto para reconhecimento da cidadania italiana (permesso di soggiorno attesa cittadinanza) não têm a possibilidade de trabalhar. O procedimento pode levar de 3 meses a dois anos. A trágica conseqüência, durante o período, é que muitos passam privações desumanas, inclusive fome, porque pela lei ainda são brasileiros. São jovens, mulheres e até pais de família que, no desespero, aceitam trabalhos clandestinos ou subempregos e se transformam em verdadeiros escravos brancos do século XXI. O instinto de sobrevivência persevera, mas a dignidade e **
a condição humana ficam comprometidas. Para ilustrar seu depoimento, a Senhora Di Colli lembrou a história dedicada a um rapaz de 24 anos, que residiu na Itália. Antes, no Brasil, ele era professor de italiano e inglês. Cheio de esperança, por se sentir, de fato, italiano e dominar o idioma, viajou para a pátria de Michelangelo. Mal sabia que encontraria intransponíveis barreiras para conseguir trabalho durante a espera da sua tão desejada cidadania. Bateu em incontáveis portas, sem qualquer possibilidade de êxito. As reiteradas frustrações e injustiças levaram o rapaz a ser acometido por uma síndrome de pânico, depressão profunda e a pensar em suicídio. Socorrido e internado em um hospital psiquiátrico, depois de dois meses, ele teve alta porque a sua cidadania chegou, mas o trauma foi tão grande que, mesmo com o passaporte vermelho (italiano), ele não se recuperou completamente e teve de voltar ao Brasil para continuar o seu tratamento psiquiátrico. A presidente Di Colli garante que existem muitos casos como esse que não chegam ao conhecimento da Associação. A presente Indicação sugere que o Brasil assine um acordo com o governo italiano para que os descendentes de italiano que busquem a cidadania possam ter um visto para cidadania mas também para trabalhar. Isso eliminaria para o governo italiano despesas médicas e hospitalares e erradicaria problemas, além dos mencionados, que denigrem a imagem de todo o Brasil, como a prostituição das mulheres e crimes de brasileiros que não encontram trabalho legalmente. Para o Brasil, há também um ponto fundamental e igualmente importante. Trata-se da remessa de recursos financeiros pelo brasileiro a partir da Itália, atualmente o 7 maior volume entre todas as nações, o que significa expressivo montante e fonte de bem-estar para familiares de ítalo-brasileiros. Para eliminar as filas nos consulados italianos no Brasil, a sugestão é não exigir que os documentos brasileiros sejam legalizados pelo consulado **
italiano. Bastaria que os documentos brasileiros usados para o reconhecimento da cidadania italiana, depois de autenticados, com firmas reconhecidas e traduzidos pelo tradutor juramentado da língua italiana, sejam simplesmente legalizados em Brasília e pela Pasta das Relações Exteriores. Somente após esse procedimento, passariam pelo Consulado Geral do Brasil na Itália, o qual confirmaria a legalização feita em Brasília. Seguramente, não haveria mais problemas de filas nas portas dos consulados italianos no Brasil. Senhor Ministro, estamos convictos de que Vossa Excelência não se encontra alheia aos acontecimentos em tela. Pelo grande alcance social e pela real possibilidade de assistir aos cidadãos ítalo-brasileiros, contamos com o máximo empenho desta destacada Pasta para a celebração de acordo, ou outro termo pertinente, para a solução definitiva do problema. Sala das Sessões, em de de 2008. Deputado Ratinho Junior **