ORNITOFAUNA DA RESERVA PARTICULAR DO PATRIMÔNIO NATURAL (RPPN) DO SESC PANTANAL DE POCONÉ/MT AVIFAUNA OF THE RESERVA PARTICULAR DO PATRIMÔNIO NATURAL (RPPN) FROM SESC PANTANAL IN POCONÉ/MT Priscilla Deluqui MORALECO 1 ; Carla Flávia Matos MENDEZ 2; 3 ; Alex Sandro Henrique Jesus de FREITAS 2; 4 ; Jennifer Rafaella Esteves de SOUSA 1; 5 ; Victor Hugo de Oliveira HENRIQUE 1; 6 ; Ana Sophia Haagsma SIMM 2 ; Diogo Diógenes Ribeiro BARBOSA 2 ; Mackson ALEXANDRE 2. 1 Graduado (a) em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Mato Grosso UFMT. 2 Graduando (a) em Ciências Biológicas pela UFMT. 3 Mestranda em Biologia de Água Doce e Pesca Interior pelo INPA. 4 Mestrando em Botânica pelo INPA. 5 Aluna de Especialização em Gestão e Perícia Ambiental pela UFMT. 6 Mestrando em Educação Ambiental pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho UNESP. Autor responsável: Victor Hugo de Oliveira Henrique. Laboratório de Ecologia Aquática, Instituto de Biociências da UFMT. Endereço: Av. Fernando Corrêa da Costa, n. 2.367, Boa Esperança Cuiabá/MT. CEP 78.060-900, e-mail: <hugo31_oh@hotmail.com>. 1
RESUMO A área estudada é notória pela diversidade e abundância de sua ornitofauna, podendo ser considerada a área úmida com maior diversidade de espécies de aves no mundo. O trabalho objetivou analisar as parcelas de espécies avistadas e ouvidas na RPPN do SESC Pantanal. Foram feitas observações durante quatro dias no mês de abril de 2013 por transecto linear em catorze pontos, com distância de 200 metros e duração de 15 minutos de observação. Para análise dos dados, foi utilizado o estimador de riqueza Jackknife de primeira ordem para a curva do coletor. Foram observadas 40 famílias, 108 espécies e 1029 indivíduos, sendo as famílias Ardeidae, Icteridae e Tyrannidae que apresentaram as maiores riquezas de espécie. As espécies Aratinga aurea (GMELIN, 1788), Coragyps atratus (BECHSTEIN, 1793) e Leptotila verreauxi (BONAPARTE, 1855) apresentaram maior abundância. Os pontos de amostragem que apresentaram maior riqueza foram 1, 2, 3 e 4, com 31, 35, 44 e 28 espécies respectivamente. Das cinco espécies mais abundantes por pontos de amostragem, quatro foram encontradas em três dos catorze pontos amostrados. As cinco espécies mais abundantes são Aratinga aurea (GMELIN, 1788) (P1, P2, P3), Ortalis canicollis (P6, P7, P12), Theristicus caudatus (P9, P10, P11), Leptotila verreauxi (P5, P10, P12) e Rosthramus sociabilis (P8, P11, P14). Em decorrência do tempo e do tamanho da área amostrada, não foi possível estimar o número total de espécies da comunidade de ornitofauna na RPPN. Entretanto, houve uma representatividade significante das aves avistadas e vocalizadas na área amostrada. Palavras-chave: Ornitofauna. Pantanal. Biodiversidade. ABSTRACT The studied area is well known due to the diversity and abundance of its avifauna, which is recognized as the humid area with the widest variety of bird species in the world. This work aimed to investigate the types of heard and sighted species in the RPPN from SESC Pantanal. Sightings happened during four days in April 2013 through line transect in fourteen points at a distance of 200 meters during a 15-minute sighting. In order to analyze data, the first-order jackknife richness estimator was used to the accumulation curve. 40 families, 108 species and 1029 individuals were seen, and the families that demonstrated the largest specie richness are Ardeidae, Icteridae and Tyrannidae. The species that demonstrated the widest diversity are Aratinga aurea (GMELIN, 1788), Coragyps atratus (BECHSTEIN, 1793) and Leptotila verreauxi (BONAPARTE, 1855). The sampling points that showed more richness were 1, 2, 3 and 4, with 31, 35, 44 and 28 species, respectively. There are five most common species according to the sampling points, and amongst them, four species were found in three of fourteen sampling points. The top five most common Species are Aratinga aurea (GMELIN, 1788) (P1, P2, P3), Ortalis canicollis (P6, P7, P12), Theristicus caudatus (P9, P10, P11), Leptotila verreauxi (P5, P10, P12) and Rosthramus sociabilis (P8, P11, P14). It was not possible to calculate the total number of species corresponding to the RPPN avifauna due to time factor and area size. However, there was a considerable presence of heard and sighted birds in the sampling area. Keywords: Avifauna. Pantanal. Biodiversity. INTRODUÇÃO O Pantanal é considerado a maior planície alagável do mundo, com cerca de 140.000 km² e está localizado entre os Estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Anualmente, a região passa por períodos de inundação, o que torna o sistema complexo por apresentar uma variação no tempo/espaço (OLIVEIRA, 2011). Dentro desse bioma, está localizada a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), uma unidade de conservação de domínio privado e de uso sustentável, a qual possui cerca de 106.644 hectares de superfície e um perímetro de 227 km, dos quais 110 km estão às margens dos rios Cuiabá e São Lourenço. Essa é a maior reserva particular natural do Brasil, criada inicialmente para preservar espécies raras, endêmicas e que correm riscos de extinção, além de permitir um enfoque na educação ambiental. (SESC PANTANAL, 2011). O Pantanal pode ser considerado uma das ecorregiões mais ricas em termos de origem da sua flora e fauna por receber influência de três importantes biomas da América do Sul: o cerrado, a Amazônia e o Chaco paraguaio (UBAID et al, 2011). A relação da heterogeneidade da paisagem e a variedade na formação da vegetação se devem às características dos solos, à baixa altitude, à pouca declividade, à alternância de períodos de cheias e secas, às grandes amplitudes térmicas anuais, aos padrões sazonais de precipitação e à variação plurianual de cheias (POTT e ADAMOLI, 1999). A vegetação pantaneira sofre influência de fatores, como cheias, topografia e solo, que 2
ocorrem como mosaicos diversificados, contendo florestas (matas semidecíduas, cerradão, cerrado e cerrado de murundu), ambientes aquáticos (rios, corixós, vazantes, baías, salinas, brejos e campos inundados) e habitats abertos (campos de pastagens nativas e/ou introduzidas e campos inundáveis), que convergem para a planície (BROWN JR., 1986; NUNES e TOMAS, 2004). No Pantanal, a estrutura e a dinâmica das comunidades de aves estão relacionadas à heterogeneidade do ambiente e aos pulsos de inundação (FIGUEIRA et al., 2006). A planície pantaneira atua como um importante sítio de invernada para milhares de aves de várias espécies oriundas de locais, como o Hemisfério Norte, o Cone Sul, a região Norte da América do Sul, a Bolívia e o Paraguai (NUNES e TOMAS, 2008). A região pantaneira é notória pela diversidade e abundância de sua avifauna, podendo ser considerada a área úmida com maior diversidade de espécies de aves no mundo (TUBELIS e TOMAS, 2003). De acordo com a lista do plano de manejo da RPPN do SESC Pantanal, há 340 espécies de aves identificadas na reserva contra 463 espécies identificadas na planície pantaneira. A listagem de espécies corresponde a 52% do total conhecido na bacia do Alto Paraguai e a 73% das espécies pertencentes à planície pantaneira. Este trabalho teve por objetivo contribuir com a lista das espécies de aves que existem na RPPN do SESC Pantanal em Poconé/MT. Desta forma, foi elaborado um inventário das espécies avistadas e vocalizadas dentro da reserva. METODOLOGIA Área de Estudo O estudo foi realizado na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) SESC Pantanal, que é uma unidade de conservação de uso sustentável. A região possui 106.644 hectares de superfície e um perímetro de 227 km, dos quais 110 km constituem as margens dos rios Cuiabá e São Lourenço. Essa é a maior reserva particular natural do Brasil e está localizada no município de Barão de Melgaço (BRANDÃO et al., 2011). A RPPN SESC Pantanal é uma das zonasnúcleo da Reserva da Biosfera, tendo sido reconhecida pela UNESCO em 2000, o que lhe dá importância global pela expressividade dos sistemas e processos naturais de seu interior, bem como pelos efeitos positivos para o seu entorno (BRANDÃO et al., 2011). Confira a seguir a imagem da área estudada. Imagem 1 Área de estudo, registrada pelo Google Earth, mostrando os 14 pontos estudados. 3
Métodos Foram feitas observações durante quatro dias no mês de abril de 2013 em catorze pontos, os quais foram classificados com os números de 1 a 14. Os pontos de 1 a 4 estão localizados entre a Base de Pesquisas Avançadas do Pantanal da UFMT e o aeródromo do SESC Pantanal, e os pontos de 5 a 14 vão desde a Base de Pesquisas Avançadas do Pantanal da UFMT até o haras do SESC Pantanal. Os pontos distam 200 metros entre si. As observações por pontos duraram 15 minutos, tendo sido realizadas nos períodos matutino, vespertino e noturno. Descrição dos pontos de amostragem: Ponto 1 (16º 29' 91" S 56º 24' 84" W) pastagem suja no lado esquerdo, presença de campos inundáveis com lâminas de água no lado direito. Ponto 2 (16º 29' 83" S 56º 24' 95" W) coberturas de Thalia geniculata verde, solo inundado, com flores e sementes no lado direito, havendo predominância de Thalia geniculata no lado esquerdo. Ponto 3 (16º 29' 75" S 56º 25' 03" W) predominância de Thalia geniculata no lado direito, havendo predominância de Combretum lanceolatum no lado esquerdo, sem flores e frutos. Ponto 4 (16º 29' 66" S 56º 25' 17" W) predominância de Thalia geniculata, tanto no lado esquerdo como no lado direito, e alagado. Ponto 5 (16º 30' 06" S 56º 24' 37" W) vegetação de pastagem entremeada por Thalia geniculata no lado esquerdo, havendo um sub-bosque mais fechado com predominância de acuris no lado direito. Ponto 6 (16º 30' 16" S 56º 62' 48,33" W) pastagem limpa no lado direito, com a monodominância de caités no lado esquerdo. Ponto 7 (16º 30' 26,9" S 56º 24' 79,3" W) pastagem suja no lado direito, havendo um campo sujo no lado esquerdo. Ponto 8 (16º 30' 41,2" S 56º 24' 79,3" W) área antropizada, com animais domésticos, haras e construções. Ponto 9 (16º 30' 45,7" S 56º 24' 66,2" W) vegetação de sub-bosque e cordilheiras. Ponto 10 (16º 30' 27,86" S 56º 24' 37,82" W) vegetação de sub-bosque e cordilheiras. Ponto 11 (16º 30' 47,8" S 56º 24,4' 85"W) vegetação de sub-bosque e cordilheiras. Ponto 12 (16º 30' 46,5" S 56º 24' 38,1" W) vegetação de sub-bosque e cordilheiras. Ponto 13 (16º 30' 33,9" S 56º 24' 35,9" W) paisagem de sub-bosque e vegetação alagada no lado direito, havendo macrófitas aquáticas no lado esquerdo. Ponto 14 (16º 30' 23,2" S 56º 24' 34" W) paisagem de acorizal, açori e área alagada. O método utilizado para observação e coleta dos dados foi o transecto linear. Segundo Garcia e Lobo-Faria (2009), esse método é amplamente usado para levantamento da fauna, sendo caracterizado pelo estabelecimento de faixas de comprimento conhecidas ao longo da área amostral, as quais foram acompanhadas por caminhadas sazonais durante o percurso do transecto. Foram anotadas as espécies identificadas por meio de avistamento e de vocalização. Durante a coleta de dados, foram usados os seguintes instrumentos: binóculos, gravador de áudio, GPS, câmera fotográfica, caderno de anotações e guias de campo das espécies da região do Pantanal. Para a análise da riqueza dos dados, foi utilizado o estimador Jackknife de 1ª ordem para a curva do coletor. RESULTADOS Foram registrados 1029 indivíduos, os quais foram distribuídos em 40 famílias e em 108 espécies. Das 40 famílias registradas na RPPN do SESC Pantanal, Ardeidae (n = 8), Icteridae (n = 7) e Tyrannidae (n = 6) apresentaram as maiores riquezas de espécies, conforme dados apresentados no Gráfico 1 a seguir. 4
Gráfico 1 Riqueza das espécies amostradas na RPPN do SESC Pantanal, no município de Poconé/MT. Das 108 espécies registradas, Aratinga aurea (GMELIN, 1788) (n = 136), Coragyps atratus (BECHSTEIN, 1793) (n = 89) e Leptotila verreauxi (BONAPARTE, 1856) (n = 64) foram as que apresentaram maior abundância, conforme dados apresentados no gráfico a seguir. Gráfico 2 Abundância relativa das espécies amostradas na RPPN SESC Pantanal, Poconé/MT, 2013. Os pontos de amostragem que apresentaram maior riqueza de espécies foram os representados pelos números 1, 2, 3, e 4, com 31, 35, 44 e 28 espécies respectivamente, e a família melhor representada em número de espécies foi a Ardeidae (n = 9), conforme dados apresentados no gráfico a seguir. 5
Gráfico 3 Riqueza das espécies por pontos de amostragem, RPPN SESC Pantanal, Poconé/MT, 2013. A curva ascendente de acumulação de espécies não indicou tendência à estabilização, o que demonstra a existência de espécies na comunidade que não foram amostradas, conforme dados apresentados no gráfico a seguir. Gráfico 4 Acúmulo de espécies observadas nos pontos amostrados na RPPN SESC Pantanal, Poconé/MT. As espécies mais abundantes por pontos foram Coragyps atratus (BECHSTEIN, 1793) (P1), Aratinga aurea (GMELIN, 1788) (P2), Molothrus bonariensis (GMELIN, 1789) (P3), Myiopsitta monachus (BODDAERT, 1783) (P4), Dendrocygna autumnalis (LINNAEUS, 1758) (P5), Columbina minuta (LINNAEUS, 1766) (P6), Ortalis canicollis (WAGLER, 1830) (P7), Psarocolius decumanus (PALLAS, 1769) (P8), Theristicus caudatus (BODDAERT, 1783) (P9), Leptotila verreauxi (BONAPARTE, 1855) (P10), Theristicus caudatus (BODDAERT, 1783) (P11), Leptotila verreauxi (BONAPARTE, 1855) (P12), Ramphocelus carbo (PALLAS, 1764) (P13), Paroaria capitata (D'ORBIGNY e LAFRESNAYE, 1837) (P14), conforme dados apresentados na Tabela 1. Quando levadas em consideração as cinco espécies mais abundantes por pontos de amostragem, quatro delas foram encontradas em três dos catorze pontos amostrados, sendo elas Aratinga Aurea (GMELIN, 1788) (P1, P2 e P3), Ortalis canicollis (WAGLER, 1830) (P6, P7 e P12), 6
Theristicus caudatus (BODDAERT, 1783) (P9, P10 e P11), Leptotila verreauxi (BONAPARTE, 1855) (P5, P10 e P12) e Rostrhamus sociabilis (VIEILLOT, 1817) (P8, P11 e P14), conforme dados apresentados na tabela a seguir. Tabela 1 Listagem da abundância de espécies registradas por avistamento e vocalização na RPPN SESC Pantanal Poconé/MT. Taxonomia e sequência sistemática de acordo com o CBRO (2011). Família/Espécie P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 P13 P14 Tot. Tinamidae Crypturellus undulatus - - 2 - - - 1 - - - 1-1 - 5 Anatidae Dendrocygna viduata 1 - - 13 - - - - - - - - - - 14 Dendrocygna autumnalis 3 2 17 2 26 5 - - - - - - - - 55 Cairina moschata 1 6 - - - - - 2 - - - - - - 9 Cracidae Ortalis canicollis - 2-1 3 4 5 1 1 - - 4 - - 21 Penelope ochrogaster - - 1 - - - - - - - - - - - 1 Crax fasciolata - - - 1 - - - - - - - - - - 1 Aburria cumanensis - - - - - - - 1 - - - - - - 1 Ciconiidae Mycteria americana - 1 - - - - - - - - - - - 1 2 Phalacrocoracidae Phalacrocorax brasilianus - - - 1 - - 1 5 - - - - - 1 8 Ardeidae Tigrisoma lineatum 1 - - 1 - - - - - 1 - - - 1 4 Ixobrychus exilis - - - 3 - - - - - - - - - - 3 Butorides striata 1 3 1-1 - 1 1 - - - - - - 8 Bubulcus ibis - - - - - - 1 - - - - - - - 1 Ardea cocoi - 2 1 - - - - - - 1 - - - - 4 Ardea alba - 18 5-2 - 1 - - - - - - - 26 Syrigma sibilatrix - - 2 - - - - - - - - - - - 2 Pilherodius pileatus - - - - - 1 - - - - 1 - - - 2 Egretta thula 2 2 1 - - - - - - - - - - - 5 Threskiornithidae Mesembrinibis cayennensis - - 1 4 1 4 - - - 1 1 - - - 12 Phimosus infuscatus - 1 - - - - - - - - - - - - 1 Theristicus caerulescens - 1 3 - - - - - - 2 - - - - 6 Theristicus caudatus - - 2 1 - - - 2 2 4 3 - - - 14 Platalea ajaja - - - 7 - - - - - - - - - - 7 Cathartidae Cathartes aura 3 - - 4 - - 1 1 1 - - - 1 1 12 Coragyps atratus 45 30 3 2 6 2 - - - 1 - - - - 89 Accipitridae Accipiter striatus 1 - - - - - - - - - - - - - 1 Busarellus nigricollis 0 1 - - - - 1 - - - - - - - 2 Rostrhamus sociabilis 2 11-1 - - - 15 1-2 1-2 35 Heterospizias meridionalis - 4 1 - - 1 - - - - - - - - 6 Rupornis magnirostris - - - - - - 1 - - 1 1 2 - - 5 7
Família/Espécie P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 P13 P14 Tot. Falconidae Caracara plancus 2 1 5 6 7 - - 2 - - - - - - 23 Herpetotheres cachinnans - - - - - 1 - - - - - - - - 1 Aramidae Aramus guarauna - 2 1-2 - - - - - - - - - 5 Rallidae Aramides cajanea 4 - - - 2 - - 1 - - - - - - 7 Porphyrio martinica - 6 8 6 - - - - - - - - 1 1 22 Charadriidae Vanellus chilensis - 2 - - - - - - - 2 - - - - 4 Jacanidae Jacana jacana - - 4 - - - - - - - - - - - 4 Sternidae Sternula superciliaris 1 - - 2 - - - - - - - - - - 3 Columbidae Columbina minuta - - - - 2 6 - - - - - - - - 8 Columbina talpacoti - - - - - - - - - - 2 - - - 2 Uropelia campestris - - - - - - - - 2 - - - - - 2 Zenaida auriculata - 1 29-2 - - - - - - - - 50 Leptotila verreauxi - - - - 8 1 - - - 50-5 - - 64 Psittacidae Aratinga aurea 14 90 32 - - - - - - - - - - - 136 Myiopsitta monachus 14 2 21 15 - - - - - - 1 - - - 53 Brotogeris chiriri - 14-2 - - 4 - - - - - - - 20 Amazona aestiva - 18 - - - 2-1 - - - - - - 21 Cuculidae Piaya cayana - - - - - 1 - - - - 1 - - 1 3 Crotophaga major - - - 3-3 3 3 - - - - - - 12 Crotophaga ani 2 2 1 - - - - - - - - - - - 5 Guira guira - 1 - - - - - - - - - - - - 1 Tapera naevia 1 - - - - - - - - - - - - - 1 Strigidae Strix virgata - - - - 1 - - - - - - - - - 1 Glaucidium brasilianum 1 2-1 2 - - 2 1 1 - - - - 10 Caprimulgidae Hydropsalis anomala - - - - 2 - - 2-1 - - - - 5 Trochilidae Phaethornis pretrei - - - - - - 1 - - - - - 1 1 3 Amazilia fimbriata - - - - 1 1 - - - - - - - - 2 Trogonidae Trogon curucui - - - - - - - 3 1 - - - 1-5 Alcedinidae Megaceryle torquata - 1 1 6 1 - - 6 - - - - - - 15 Chloroceryle americana - - - - - - - 1 - - - - - 1 Momotidae Momotus momota - - - - - - - - - - 1 - - - 1 Bucconidae Monasa nigrifrons - - - - - - - - 1 1 - - - - 2 Ramphastidae Ramphastos toco - - - - 2 2 - - - - - - - - 4 8
Família/Espécie P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 P13 P14 Tot. Pteroglossus castanotis - - - - - - - - - - - - - 1 1 Picidae Campephilus melanoleucos - - 2 - - - - - - - - - - - 2 Thamnophilidae Herpsilochmus atricapillus - 3 - - 2 - - - - - - - - - 5 Thamnophilus doliatus - - - 1 1 1 - - - 1 1 - - - 5 Taraba major - - - - - - - - - - 1 - - - 1 Cercomacra melanaria - - - - - 1 1 - - - - - - - 2 Dendrocolaptidae Sittasomus griseicapillus - - - - - - - - - - 1 - - - 1 Dendroplex picus - - - - - - - - 1 1 - - - - 2 Furnariidae Furnarius leucopus - - 1 - - - - - - - - - - - 1 Furnarius rufus 3 1 3 2 - - - - - - - - - - 9 Pseudoseisura unirufa - - - - - - - - - 2 - - - - 2 Phacellodomus ruber - - - - - - - - - - - - - 1 1 Synallaxis albilora - - - - - - - - 1 - - - - - 1 Tityridae Tityra cayana - - - - - - 2 - - 3 - - - - 5 Tyrannidae Suiriri suiriri - - - - - - - 2 - - - - - - 2 Pitangus sulphuratus - 2-1 - - - - - - - - - - 3 Philohydor lictor - 1 - - - - - - - - - - - - 1 Machetornis rixosa 1 1 1 5 - - - - - - - - - - 8 Megarynchus pitangua - - 1 - - - - - - - - - - - 1 Myiozetetes cayanensis 1 - - - - - - 1 - - - - - - 2 Camptostoma obsoletum 1 - - - - - - - - - - - - - 1 Tyrannus melancholicus - - 1 1-2 - - - - - 1 - - 5 Corvidae Cyanocorax cyanomelas 1 - - - - 2 - - - - - - - - 3 Troglodytidae Campylorhynchus turdinus 1-2 3 2-1 - - - - - - - 9 Cantorchilus leucotis - 2 - - - - - - - - - - - - 2 Donacobiidae Donacobius atricapilla - - 1 - - - - 1 - - - - - - 2 Polioptilidae Polioptila dumicola 2 - - - - - - - - - - - - - 2 Thraupidae Saltator coerulescens - - 2 - - - - - - 1 - - - - 3 Ramphocelus carbo - - - - - - - - 1 1 3 1-6 Tangara sayaca - - - - - - - - - - - - - 2 2 Tangara palmarum - - 1 - - 2 - - - - - - - - 3 Paroaria coronata 1 - - - - - - - - - - - - - 1 Paroaria capitata 2-2 - - - - 4-1 - - - 3 12 9
Família/Espécie P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 P13 P14 Tot. Emberizidae Sicalis flaveola - - - - - - 1 - - - - - - - 1 Volatinia jacarina - - 2 - - - - - - - - - - - 2 Sporophila angolensis - - - - - - - - - - - - - 1 1 Icteridae Psarocolius decumanus 3 25 - - 1 - - 20 - - 1 - - - 50 Cacicus cela - 4 1 1 3 4 1 - - - - - - 14 Icterus cayanensis - - 2 - - - - - - - - - - - 2 Gnorimopsar chopi 5 - - - - - - - - - - - - - 5 Agelaioides badius 1 2 - - - - - - - - - - - - 3 Molothrus oryzivorus - - 12 - - - - - - 2 - - - - 14 Molothrus bonariensis - - 45 - - - - - - 1 - - - - 46 Fringillidae Euphonia chlorotica 1 - - - - - - - - - - - - - 1 As espécies registradas são todas residentes, exceto a Penelope ochrogaster (PELZELN, 1870), que é endêmica da região central do Brasil. Confira a tabela a seguir. Tabela 2 Lista de aves registradas na RPPN SESC Pantanal, Poconé/MT, 2013. Status: R = residente (evidências de reprodução no país disponíveis); E = espécie endêmica do Brasil. Família/Espécie Nome popular Status Tinamidae Crypturellus undulatus (Temminck, 1815) Jaó R Anatidae Dendrocygna viduata (Linnaeus, 1766) Irerê R Dendrocygna autumnalis (Linnaeus, 1758) Asa-branca R Cairina moschata (Linnaeus, 1758) Pato-do-mato R Cracidae Ortalis canicollis (Wagler, 1830) Aracuã-do-pantanal R Penelope ochrogaster Pelzeln, 1870 Jacu-de-barriga-castanha R,E Crax fasciolata Spix, 1825 Mutum-de-penacho R Aburria cumanensis (Jacquin, 1784) Jacutinga-de-garganta-castanha R Ciconiidae Mycteria americana Linnaeus, 1758 Cabeça-seca R Phalacrocoracidae Phalacrocorax brasilianus (Gmelin, 1789) Biguá R Ardeidae Tigrisoma lineatum (Boddaert, 1783) Socó-boi R Ixobrychus exilis (Gmelin, 1789) Socói-vermelho R Butorides striata (Linnaeus, 1758) Socozinho R Bubulcus ibis (Linnaeus, 1758) Garça-vaqueira R Ardea cocoi Linnaeus, 1766 Garça-moura R Ardea alba Linnaeus, 1758 Garça-branca-grande R Syrigma sibilatrix (Temminck, 1824) Maria-faceira R 10
Família/Espécie Nome popular Status Pilherodius pileatus (Boddaert, 1783) Garça-real R Egretta thula (Molina, 1782) Garça-branca-pequena R Threskiornithidae Mesembrinibis cayennensis (Gmelin, 1789) Coró-coró R Phimosus infuscatus (Lichtenstein, 1823) Tapicuru-de-cara-pelada R Theristicus caerulescens (Vieillot, 1817) Maçarico-real R Theristicus caudatus (Boddaert, 1783) Curicaca R Platalea ajaja Linnaeus, 1758 Colhereiro R Cathartidae Cathartes aura (Linnaeus, 1758) Urubu-de-cabeça-vermelha R Coragyps atratus (Bechstein, 1793) Urubu-de-cabeça-preta R Accipitridae Accipiter striatus Vieillot, 1808 Gavião-miúdo R Busarellus nigricollis (Latham, 1790) Gavião-belo R Rostrhamus sociabilis (Vieillot, 1817) Gavião-caramujeiro R Heterospizias meridionalis (Latham, 1790) Gavião-caboclo R Rupornis magnirostris (Gmelin, 1788) Gavião-carijó R Falconidae Caracara plancus (Miller, 1777) Caracará R Herpetotheres cachinnans (Linnaeus, 1758) Acauã R Aramidae Aramus guarauna (Linnaeus, 1766) Carão R Rallidae Aramides cajanea (Statius Muller, 1776) Saracura-três-potes R Porphyrio martinica (Linnaeus, 1766) Frango-d'água-azul R Charadriidae Vanellus chilensis (Molina, 1782) Quero-quero R Jacanidae Jacana jacana (Linnaeus, 1766) Jaçanã R Sternidae Sternula superciliaris (Vieillot, 1819) Trinta-réis-anão R Columbidae Columbina minuta (Linnaeus, 1766) Rolinha-de-asa-canela R Columbina talpacoti (Temminck, 1811) Rolinha-roxa R Uropelia campestris (Spix, 1825) Rolinha-vaqueira R Zenaida auriculata (Des Murs, 1847) Pomba-de-bando R Leptotila verreauxi Bonaparte, 1855 Juriti-pupu R Psittacidae Aratinga aurea (Gmelin, 1788) Periquito-rei R Myiopsitta monachus (Boddaert, 1783) Caturrita R Brotogeris chiriri (Vieillot, 1818) Periquito-de-encontro-amarelo R Amazona aestiva (Linnaeus, 1758) Papagaio-verdadeiro R Cuculidae Piaya cayana (Linnaeus, 1766) Alma-de-gato R 11
Família/Espécie Nome popular Status Crotophaga major Gmelin, 1788 Anu-coroca R Crotophaga ani Linnaeus, 1758 Anu-preto R Guira guira (Gmelin, 1788) Anu-branco R Tapera naevia (Linnaeus, 1766) Saci R Strigidae Strix virgata (Cassin, 1849) Coruja-do-mato R Glaucidium brasilianum (Gmelin, 1788) Caburé R Caprimulgidae Hydropsalis anomala (Gould, 1838) Curiango-do-banhado R Trochilidae Phaethornis pretrei (Lesson & Delattre, 1839) Rabo-branco-acanelado R Amazilia fimbriata (Gmelin, 1788) Beija-flor-de-garganta-verde R Trogonidae Trogon curucui Linnaeus, 1766 Surucuá-de-barriga-vermelha R Alcedinidae Megaceryle torquata (Linnaeus, 1766) Martim-pescador-grande R Chloroceryle americana (Gmelin, 1788) Martim-pescador-pequeno R Momotidae Momotus momota (Linnaeus, 1766) Udu-de-coroa-azul R Bucconidae Monasa nigrifrons (Spix, 1824) Chora-chuva-preto R Ramphastidae Ramphastos toco Statius Muller, 1776 Tucanuçu R Pteroglossus castanotis Gould, 1834 Araçari-castanho R Picidae Campephilus melanoleucos (Gmelin, 1788) Pica-pau-de-topete-vermelho R Thamnophilidae Herpsilochmus atricapillus Pelzeln, 1868 Chorozinho-de-chapéu-preto R Thamnophilus doliatus (Linnaeus, 1764) Choca-barrada R Taraba major (Vieillot, 1816) Choró-boi R Cercomacra melanaria (Ménétriès, 1835) Chororó-do-pantanal R Dendrocolaptidae Sittasomus griseicapillus (Vieillot, 1818) Arapaçu-verde R Dendroplex picus (Gmelin, 1788) Arapaçu-de-bico-branco R Furnariidae Furnarius leucopus Swainson, 1838 Casaca-de-couro-amarelo R Furnarius rufus (Gmelin, 1788) João-de-barro R Pseudoseisura unirufa (d'orbigny & Lafresnaye, 1838) Casaca-de-couro-crista-cinza R Phacellodomus ruber (Vieillot, 1817) Graveteiro R Synallaxis albilora Pelzeln, 1856 João-do-pantanal R Tityridae Tityra cayana (Linnaeus, 1766) Anambé-branco-de-bochecha-parda R Tyrannidae Suiriri suiriri (Vieillot, 1818) Suiriri-cinzento R 12
Família/Espécie Nome popular Status Pitangus sulphuratus (Linnaeus, 1766) Bentevizinho-do-brejo R Philohydor lictor (Lichtenstein, 1823) Bentevizinho-do-brejo R Machetornis rixosa (Vieillot, 1819) Suiriri-cavaleiro R Megarynchus pitangua (Linnaeus, 1766) Neinei R Myiozetetes cayanensis (Linnaeus, 1766) Bentevizinho-de-asa-ferrugínea R Camptostoma obsoletum (Temminck, 1824) Risadinha R Tyrannus melancholicus (Vieillot, 1819) Suiriri R Corvidae Cyanocorax cyanomelas (Vieillot, 1818) Gralha-do-pantanal R Troglodytidae Campylorhynchus turdinus (Wied, 1831) Catatau R Cantorchilus leucotis (Lafresnaye, 1845) Garrinchão-de-barriga-vermelha R Donacobiidae Donacobius atricapilla (Linnaeus, 1766) Japacanim R Polioptilidae Polioptila dumicola (Vieillot, 1817) Balança-rabo-de-máscara R Thraupidae Saltator coerulescens Vieillot, 1817 Sabiá-gongá R Ramphocelus carbo (Pallas, 1764) Pipira-vermelha R Tangara sayaca (Linnaeus, 1766) Sanhaçu-cinzento R Tangara palmarum (Wied, 1823) Sanhaçu-do-coqueiro R Paroaria coronata (Miller, 1776) Cardeal R Paroaria capitata (d'orbigny & Lafresnaye, 1837) Cavalaria R Emberizidae Sicalis flaveola (Linnaeus, 1766) Canário-da-terra-verdadeiro R Volatinia jacarina (Linnaeus, 1766) Tiziu R Sporophila angolensis (Linnaeus, 1766) Curió R Icteridae Psarocolius decumanus (Pallas, 1769) Japu R Cacicus cela (Linnaeus, 1758) Xexéu R Icterus cayanensis (Linnaeus, 1766) Inhapim R Gnorimopsar chopi (Vieillot, 1819) Graúna R Agelaioides badius (Vieillot, 1819) Asa-de-telha R Molothrus oryzivorus (Gmelin, 1788) Iraúna-grande R Molothrus bonariensis (Gmelin, 1789) Vira-bosta R Fringillidae Euphonia chlorotica (Linnaeus, 1766) Fim-fim R DISCUSSÃO Os dados que evidenciam as 3 famílias com maior riqueza de espécies corroboram com os dados do Plano de Manejo da Reserva Particular do Patrimônio Natural do SESC Pantanal, o qual lista uma riqueza de espécies para essas famílias. Cintra e Yamashita (1990) registraram um total de 317 espécies para o Pantanal de Poconé/MT. Brown Jr. (1986) elaborou uma das primeiras listas de aves do Pantanal, com 346 espécies. Composto por socós e garças, os indivíduos da família Ardeidae vivem em bandos e em áreas 13
de brejos, como o Pantanal, lugar que possui um rico complexo hidrológico dentro de uma área de várzea, propiciando habitats característicos dessa família (ANTAS, 2009; FIGUEIRA et al., 2006). Uma das espécies mais abundantes amostradas foi a Butorides striata (LINNAEUS, 1758) (Tabela 1), o socozinho, presente nas Américas (do Sul, Central e do Norte), bem como na África, Ásia, Austrália, ilhas do Oeste do Pacífico e no Sul da Europa (KUSHLAN, 2007). Essa espécie prefere habitats úmidos em bosques ou em vegetação densa às margens de rios, às vezes, em áreas abertas, como pântanos (MARTÍNEZ-VILALTA e MOTIS, 1992; ALMEIDA et al., 2012), conforme observado durante o estudo. De acordo com Junk et al., (2006), a comunidade de espécies aquáticas presente na planície pantaneira é similar àquela encontrada em outras áreas úmidas da América do Sul, como Amazônia e Rio Orinoco. Indivíduos da família Icteridae, os quais habitam regiões que vão desde as temperadas até a equatorial, alimentam-se principalmente de sementes e frutos. Alguns se alimentam de invertebrados. Esses indivíduos vivem solitários ou em pequenos bandos e são encontrados em copas ou bordas de florestas, campos com árvores, cerrado e floresta de galeria, podendo habitar áreas campestres e pastos, geralmente, perto de gado, cavalos e porcos, dos quais eles retiram carrapatos. (ANTAS, 2009; WIKI AVES, s/d; BRANDÃO et al., 2011). Durante o transecto, observou-se em um dos pontos a presença de uma área antropizada, com animais domésticos, haras e construções, proporcionando habitats favoráveis a esse grupo. A terceira maior família, Tyrannidae, possui o maior número de espécies no continente sul-americano (ANTAS, 2009), sendo a mais representativa na categoria de migrantes intracontinentais, na qual alguns grupos podem ser sedentários no Pantanal (NUNES, 2008). Espécies dessa família chegam ao Brasil em abril no período de inverno austral em suas áreas de reprodução (ANTAS, 1986; NUNES e TOMAS, 2004). Essa foi a família mais bem representada por Pinho (2005) na região do Pirizal, em Poconé/MT. Outra espécie avistada foi a Tyrannus melancholicus (VIEILLOT, 1819), que é caracterizada por habitar regiões mais meridionais da América do Sul, como o Sul do Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Sudeste da Bolívia, passando pelo Pantanal durante o processo migratório, mesmo não se reproduzindo nessa região (ANTAS e PALO JR., 2004). Representada pelo periquito-rei, a espécie Aratinga aurea (GMELIN, 1788), da família Psittacidae, é uma das mais conhecidas e abundantes no Brasil (WIKI AVES, s/d), tendo sido encontrada com frequência na região Centro- Oeste, com grandes populações em toda a planície pantaneira (ANTAS, 2009), sendo a espécie com maior abundância, conforme observado neste estudo. Essa espécie está presente em vários habitats, como cerrados, buritizais, manguezais, brejos e cambarazais, e voa em grandes bandos para locais de alimentação onde passa o dia. Esses deslocamentos cobrem com facilidade a área da RPPN, possibilitando a sua observação em qualquer ponto da reserva (ANTAS, 2009; ANTAS e PALO JR., 2004), o que proporciona grande número de avistamentos. Esses deslocamentos em busca de alimento também sugerem que a A. aurea (GMELIN, 1788) seja uma espécie dispersora de semente. Para Paranhos, Araújo e Marcondes-Machado (2009), a observação de voo com sementes indica que essa espécie pode contribuir para a dispersão de sementes, tal como sugerido em outros estudos (MARCONDES-MACHADO e OLIVEIRA, 1988; OLIVEIRA, 1999). O urubu-de-cabeça-preta, Coragyps atratus (BECHSTEIN, 1793), pertencente à família Cathartidae, é a segunda espécie mais abundante no local estudado. É uma das aves mais comuns em qualquer região do Brasil, exceto em áreas florestadas e com pouca presença humana, estando presente também desde a região central dos Estados Unidos até toda a América do Sul, sendo encontrada em cidades, fazendas e áreas abertas (WIKI AVES, s/d; BRANDÃO et al, 2011). Essa espécie pode ser observada em brejos, campos, cerrado, mata ciliar do Rio Cuiabá, corixós e baias, (ANTAS, 2009), habitando também áreas antropizadas na região da RPPN do SESC Pantanal. O urubu-de-cabeça-preta se alimenta de matéria orgânica em decomposição, de pequenos invertebrados, de ovos e de animais vivos impedidos de fugir, como filhotes de tartaruga e outras aves (WIKI AVES, s/d). Essa é a espécie de urubu mais adaptada à presença humana, a qual 14
vive próximo a residências na busca por restos de alimentos e por carcaças de animais domésticos, habitando também todos os ambientes abertos da RPPN. A espécie evita as áreas florestadas mais densas, sendo frequentemente encontrada ao longo do Rio Cuiabá, nas casas de Porto Cercado e nos acampamentos de pescadores (ANTAS, 2004). A terceira espécie mais abundante é a Leptotila verreauxi, a qual pertence à família Columbidae, sendo conhecida como juriti-pupu. Presente em quase todo o Brasil e em regiões que vão desde o Sul dos Estados Unidos até a Argentina, essa espécie vive em matas e em ambientes bem arborizados, podendo ser encontrada solitária ou em pares. Ela se alimenta de vegetais, como sementes, frutos e grãos (WIKI AVES, s/d). Durante o transecto, observou-se, entre as características da vegetação, a presença de coberturas de Thalia geniculata L. com flores e sementes que propiciam um ambiente favorável à presença dessa espécie, a qual pode ser encontrada em áreas abertas, pois ela frequenta cerradões e matas pouco extensas, muito comuns no Pantanal. A espécie está presente em toda a RPPN. Ela se aproxima das habitações e pode ser encontrada nos jardins do hotel em Porto Cercado (ANTAS, 2009). A maior riqueza de aves registradas entre os pontos de 1 a 4 está relacionada aos ambientes encontrados no entorno dessas áreas e aos seus recursos alimentares. Essas áreas são alagadas, cobertas por plantas aquáticas, como a Thalia geniculata L. e a Combretum lanceolatum Pohl, que porventura estavam em estado de floração e frutificação. No Pantanal de Mato Grosso há uma atração toda especial representada pelos capões onde se concentram as aves paludícolas de grande porte, como garças, colhereiros, cabeças-secas, jaburus, biguás, biguá-tingas, carão etc. (SICK, 1997; PINHO, 2005). Portanto, há uma ligação direta entre as espécies encontradas nesses pontos e a vegetação do ambiente, além de recursos alimentares, como peixes, crustáceos, gastrópodes aquáticos, girinos e pequenos mamíferos não voadores. A espécie Coragyps atratus (Bechstein, 1793) aparece em todos os ambientes abertos da RPPN SESC Pantanal, evitando áreas florestais mais densas (CINTRA e YAMASHITA, 1990). Essa espécie é muito comum ao longo do Rio Cuiabá e frequenta as casas de moradores do entorno da reserva, além de ser encontrada em acampamentos de pescadores. Quando alguma carcaça está sendo carregada pelo rio, a espécie pousa sobre o animal morto e começa a se alimentar dele antes que ele chegue à margem (ANTAS, 2004). A Aratinga Aurea (GMELIN, 1788) é o psitacídeo mais frequente do Centro-Oeste brasileiro, com grandes populações em toda a planície pantaneira. Essa espécie realiza grandes pousos comunitários em capões de mata ou cerradões, onde dezenas de jandaias-coroinha concentram-se para dormir. Na madrugada seguinte, elas voam em grandes bandos para os locais de alimentação onde passam o dia (ANTAS, 2009; DONATELLI, 2005; BRANDÃO et al., 2011). Essa espécie foi registrada no ponto 2, o qual é uma área inundável coberta por vegetação aquática que proporciona recursos alimentares. A Leptotila verreauxi (BONAPARTE, 1855) está vinculada a áreas abertas e frequenta cerradões e matas pouco extensas. Muito comum no Pantanal, essa espécie está presente em toda a RPPN (DONATELLI, 2005). Quando não é perseguida, ela se aproxima das habitações e pode ser encontrada nos jardins do hotel em Porto Cercado. No início da manhã, ou a partir do meio da tarde, é muito comum que ela caminhe pelas estradas pantaneiras (PINHO, 2005; BRANDÃO et al., 2011; CINTRA e YAMASHITA, 1990). O ponto 12, no qual essa espécie foi registrada, é caracterizado por sub-bosques e cordilheiras. Como é uma ave que frequentemente anda no chão sozinha ou com outras aves de sua espécie, está relacionada à vegetação do ponto. Vale ressaltar que, segundo o Ministério do Meio Ambiente (2003), o jacu-de-barrigacastanha, Penelope ochrogaster, (PELZELN, 1870), uma das espécies registradas na região, está presente na lista de extinção. Pertencente à família Cracidade, essa espécie é encontrada além do Pantanal mato-grossense, em Minas Gerais e em Goiás, e ainda há registros de sua presença no Estado do Tocantins, tendo uma alta densidade na RPPN SESC Pantanal em Porto Cercado. É uma espécie endêmica do cerrado (ANTAS, 2004; PINHO, 2005). 15
CONSIDERAÇÕES FINAIS Houve um levantamento significativo das aves avistadas e vocalizadas, sendo este registro relevante como suporte para trabalhos posteriores, mas em razão do tempo de amostragem e da extensão do território, entendemos que é necessária a realização de mais trabalhos na área. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, S. M.; EVANGELISTA, M. M.; SILVA, E. J. A. Nidificação Colonial de Butorides striata (Linnaeus, 1758) (Ciconiiformes: Ardeidae) em Área Alagável no Município de Porto Esperidião, Mato Grosso. Papéis Avulsos Zoologia, São Paulo, v. 52, n. 1, 2012. ANTAS, P. T. Z. Pantanal Guia de Aves: espécies de aves da Reserva do Patrimônio Natural do SESC Pantanal. Rio de Janeiro: SESC; Departamento Nacional, 2004.. Pantanal Guia de Aves. 2. ed. Rio de Janeiro: SESC; Departamento nacional. 2009. ANTAS, P. T. Z.; PALO JÚNIOR, H. Guia de aves: espécies da Reserva particular do Patrimônio Natural do SESC Pantanal. Rio de Janeiro: SESC Nacional, 2004. 249 p. BRANDÃO, L. G. et al. Plano de Manejo da Reserva Particular do Patrimônio Natural do SESC Pantanal. 2. ed. Rio de Janeiro: SESC; Departamento Nacional, 2011. 148 p. BROWN JR., K. S. Zoogeografia da região do Pantanal Matogrossense. In: EMBRAPA-CEPAP. SIMPÓSIO SOBRE RECURSOS NATURAIS E SÓCIO-ECONÔMICOS DO PANTANAL, 1., 1986, Corumbá, MS. Anais... Corumbá: EMBRAPA, 1986. p. 137-178. Disponível em: <file:///c:/users/f2438/downloads/anais1simposi o.pdf>. Acesso em: 13 out. 2015. CINTRA, R.; YAMASHITA, C. Habitats, abundancia e ocorrência das espécies de aves do Pantanal de Poconé, Mato Grosso do Sul, Brasil. Papéis Avulsos de Zoologia, São Paulo, v. 37, n. 1, p. 1-21, 1990. DONATELLI, R. J. Birds and dynamics habitat mosaics in the Pantanal. In: CHANDLER, M.; WANG, E.; JOHANSSON, P. (Eds.). The Pantanal Conservation Research Initiative Annual Report, Boston: Earthwatch Institute, 2005. p. 37-43. FIGUEIRA, J. E. C.; CINTRA, R.; VIANA, L. R.; YAMASHITA, C. Spatial and temporal patterns of bird species diversity in the Pantanal of Mato Grosso, Brazil: implications for conservation. Brazilian Journal of Biology, São Carlos, v. 66, n. 2a, p. 393-404, 2006. GARCIA, P. O.; FARIA, P. C. L. Metodologias para levantamentos da biodiversidade brasileira. 2009. Texto apresentado ao programa de pós-graduação em Ecologia aplicada ao manejo e conservação dos recursos naturais como parte das exigências para a conclusão da disciplina, Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, MG, 2009. Disponível em: <http://www.ufjf.br/ecologia/files/2009/11/paulo_ Garcia1.pdf>. Acesso em: 20 ago. 2015. JUNK, W. J. et al. Biodiversity and its conservation in the Pantanal of Mato Grosso, Brazil. Aquatic Sciences, Dübendorf, v. 68, p. 278-309, 2006. KUSHLAN, J. A. Conserving Herons, A Conservation Action Plan for the Herons of the World. Heron Specialist Group and Station Biologique de la Tour du Valat. Arles, France. 2007. Disponível em: <http://www.heronconservation.org/resources/co nserving_herons.pdf>. Acesso em: 13 out. 2015. MARTÍNEZ-VILALTA, A.; MOLTIS, A. (Org.). Family Ardeidae (Herons). In: DEL HOYO, J.; ELLIOT, A.; CHRISTIE, B. A. Handbook of the birds of the World, ostrich to ducks. Barcelona: Lynx Edicions, 1992. p. 376-429. MMA Ministério do Meio Ambiente. Instrução Normativa MMA de 27 de maio de 2003. 2003. Disponível em: <http://www.icmbio.gov.br/sisbio/images/stories/i nstrucoes_normativas/in_03_2003_mma_fauna Ameacada.pdf> Acessado em: 13 out. 2015 16
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