OUTRA FORMA DE VER? A CONSTRUÇÃO DO AUTOCONCEITO DE CRIANÇAS CEGAS E AMBLIOPES



Documentos relacionados
INSTITUTO SUPERIOR MIGUEL TORGA ESCOLA SUPERIOR DE ALTOS ESTUDOS

MAUS TRATOS NA POPULAÇÃO IDOSA INSTITUCIONALIZADA

INFLUÊNCIAS DA KINESIOTAPING NO DESEMPENHO DO SALTO EM DISTÂNCIA, EM INDIVÍDUOS SADIOS JOVENS

Resumo. pela presença extra, total ou parcial, do cromossoma 21. Assim, existe uma alteração

MARLI DA COSTA RAMOS SCATRALHE FAMÍLIA E ESCOLA: DOIS SISTEMAS INTERDEPENDENTES NA COMPREENSÃO DOS SIGNIFICADOS NO PROCESSO ESCOLAR DO FILHO/ALUNO

Dedico este trabalho às minhas filhas à minha esposa pelo apoio em todos os projetos. iii

FACULDADE ENIAC ENIAC INOVATTION CÉLULA DE PROJETOS CIENTÍFICOS

CULTURAS, POLÍTICAS E PRÁTICAS INCLUSIVAS NO SECTOR PÚBLICO E PRIVADO UM ESTUDO DE CASO EM DUAS ESCOLAS DO 1.º CICLO, DO CONCELHO DE SINTRA

Profª. Vera Maria Ramos de Vasconcellos Instituto de Psicologia - UFF

IMPLICAÇÕES DA FORMAÇÃO CONTINUADA DOCENTE PARA A INCLUSÃO DIGITAL NA ESCOLA PÚBLICA

PERFIL DE ESCOLAS DO ENSINO FUNDAMENTAL DO CICLO II A RESPEITO DO USO DE RECURSOS DE INFORMÁTICA PELO PROFESSOR PARA AUXÍLIO DA APRENDIZAGEM DO ALUNO

Deficiência mental Síndroma de Down Tipos ou classes de Síndroma de Down Etiologia 9

ANÁLISE DE UM MÉTODO DE AVALIAÇÃO DOCENTE PARA CURSO DE ENGENHARIA ELÉTRICA

Estereoscopia Digital no Ensino da Química AGRADECIMENTOS

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE EDUCAÇÃO JOÃO FÁBIO PORTO. Diálogo e interatividade em videoaulas de matemática

Educação Ambiental no Ensino Fundamental a Partir da Percepção do Corpo Docente em Rio Verde - GO 1.

Palavras-chave: cotas universitárias; ensino superior; curso pré-vestibular, acesso à universidade.

Infraestrutura, Gestão Escolar e Desempenho em Leitura e Matemática: um estudo a partir do Projeto Geres

ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO NO GERENCIAMENTO DE UNIDADE DE SAÚDE DA FAMÍLIA

SUMÁRIO. Introdução Capítulo 1: Fundamentação teórica Origem e desenvolvimento da abordagem instrumental... 06

Interação entre crianças com e sem necessidades educacionais especiais: possibilidades de desenvolvimento

Tese apresentada para obtenção do grau de Mestre em Engenharia Civil pela Universidade da Beira Interior, sobre a orientação de:

A DISLEXIA E A ABORDAGEM INCLUSIVA EDUCACIONAL

UNIVERSIDADE DOS AÇORES DEPARTAMENTO DE ECONOMIA E GESTÃO DISSERTAÇÃO DE MESTRADO PREVISÃO DA VULNERABILIDADE FINANCEIRA NO SETOR SEM FINS LUCRATIVOS

A PERCEPÇÃO DOS DISCENTES SOBRE O DESEMPENHO DOS DOCENTES DOS CURSOS DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS E ADMINISTRAÇÃO DA UNIVERSIDADE REGIONAL DE BLUMENAU

Roberta Costa Caminha. Autismo: Um Transtorno de Natureza Sensorial? Dissertação de Mestrado

Indicadores de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (P,D&I) em Software e Serviços de TI: o Caso da Lei do Bem (nº /05)

A discussão de controvérsias sócio-científicas a partir de documentários em vídeo

Criança e jornalismo: um estudo sobre as relações entre crianças e mídia impressa especializada infantil

Mariana de Lemos Alves. Carro Flex Fuel: Uma Avaliação por Opções Reais. Dissertação de Mestrado

Normas sociais influenciam o reuso de toalhas em hotéis? Um experimento no Rio de Janeiro

RELAÇÕES ENTRE O DESEMPENHO NO VESTIBULAR E O RENDIMENTO ACADÊMICO DOS ESTUDANTES NO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE MATERIAIS DA UFSCAR

CARLA ALEXANDRA SEVES DE ANDRADE CANOTILHO

A MÁQUINA ASSÍNCRONA TRIFÁSICA BRUSHLESS EM CASCATA DUPLAMENTE ALIMENTADA. Fredemar Rüncos

UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO VERSUS. Dissertação de Mestrado em Ciências do Desporto - Especialização em Actividades de Academia

Universidade da Beira Interior. Departamento de Psicologia e Educação

Bruno Batista de Carvalho. Canal de venda direta: um estudo com revendedores do Rio de Janeiro

A DISLEXIA COMO DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM SOB A ÓTICA DO PROFESSOR UM ESTUDO DE CASO

Políticas Públicas e Desemprego Jovem

Documento de Análise de Negócio DAN. Template para Entrevista

À minha linda Raíssa, Que, desde a barriga, me acompanha nessa trajetória!

TUTORIA INTERCULTURAL NUM CLUBE DE PORTUGUÊS

Universidade da Beira Interior Faculdade de Ciências Sociais e Humanas Departamento de Psicologia e Educação

Resumo. Palavras-chave: Inclusão; Níveis de envolvimento; Níveis de empenhamento.

922 ambientalmentesustentable, 2015, (II), 20

NAS TRAMAS DO COTIDIANO: ADULTOS E CRIANÇAS CONSTRUINDO A EDUCAÇÃO INFANTIL

Faculdade Boa Viagem DeVry Brasil Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração - CPPA Mestrado Profissional em Gestão Empresarial

Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now.

IN RE: GUARDIAN ADVOCATE OF/ REF: CURATELA ESPECIAL DE

LABORE Laboratório de Estudos Contemporâneos POLÊM!CA Revista Eletrônica A PERCEPÇÃO DA TERCEIRA IDADE SOBRE USO DE AUTOATENDIMENTO BANCÁRIO

A ATUAÇÃO DO PSICOPEDAGOGO FRENTE ÀS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM DE ALUNOS COM NECESSIDADES ESPECIAIS INCLUÍDOS EM ESCOLA REGULAR

01-A GRAMMAR / VERB CLASSIFICATION / VERB FORMS

BR-EMS MORTALITY AND SUVIVORSHIP LIFE TABLES BRAZILIAN LIFE INSURANCE AND PENSIONS MARKET

ANÁLISE DAS ATIVIDADES DE RACIOCÍNIO LÓGICO NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA

Saulo de Souza Ladeira. Técnica, território e ensino a distância: Articulações histórico-teóricas. Dissertação de Mestrado

Portaria 002/2012. O Secretário Municipal de Educação, no uso de suas atribuições, e considerando os preceitos legais que regem a Educação Especial:

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

FATORES QUE INTERFEREM NA QUALIDADE DO SERVIÇO NA UNIDADE DE SAÚDE DA FAMÍLIA RENATO AUGUSTO PEDREIRA LEONNI EM SANTO AMARO DA PURIFICAÇÃO-BA.

UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE CIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO

Estudo do perfil docente nos cursos de odontologia da região Sul

A elaboração da presente dissertação foi apoiada, em parte, por um financiamento da Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica, no

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO - PROGRAD

INCLUSÃO DE UMA ALUNA COM AUTISMO PERTENCENTE À COMUNIDADE CIGANA NO ENSINO REGULAR ESTUDO DE CASO NUMA ESCOLA DE VIANA DO CASTELO

A INCLUSÃO DIGITAL COMO FATOR SIGNIFICATIVO PARA A INCLUSÃO SOCIAL. Autores: Carlo Schneider, Roberto Sussumu Wataya, Adriano Coelho

1 Um guia para este livro

CAPÍTULO I INTRODUÇÃO

EDUCAÇÃO FISÍCA ESCOLAR: INCLUSÃO / EXCLUSÃO DOS DEFICIENTES FÍSICOS MOTORES 1

Normas Gráficas do Símbolo e Logótipo aicep Portugal Global aicep Portugal Global Symbol and Logo Graphic Guidelines Capítulo 1 Chapter 1

UM MODELO PARA AVALIAÇÃO DE PRÉ-REQUISITOS ENTRE DISCIPLINAS DO CURSO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

UMA MOBILIDADE URBANA OU UMA PSEUDOMOBILIDADE URBANA ESTÁ SENDO CONSTRUÍDA NAS CIDADES?

As Novas Tecnologias como componente da. Formação, de 1º ciclo, em Serviço Social

ANÁLISE DO ALINHAMENTO ENTRE O BALANÇO SOCIAL E O RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE DOS TRÊS MAIORES BANCOS EM ATIVIDADE NO BRASIL

42º Congresso Bras. de Medicina Veterinária e 1º Congresso Sul-Brasileiro da ANCLIVEPA - 31/10 a 02/11 de Curitiba - PR

Interacção Homem-Máquina Análise de Utilizadores

Este documento faz parte do acervo do Centro de Referência Paulo Freire. acervo.paulofreire.org

Páginas para pais: Problemas na criança e no adolescente A criança com Autismo e Síndrome de Asperger

OS MEMORIAIS DE FORMAÇÃO COMO UMA POSSIBILIDADE DE COMPREENSÃO DA PRÁTICA DE PROFESSORES ACERCA DA EDUCAÇÃO (MATEMÁTICA) INCLUSIVA.

42º Congresso Bras. de Medicina Veterinária e 1º Congresso Sul-Brasileiro da ANCLIVEPA - 31/10 a 02/11 de Curitiba - PR 1

São eles: SOME (Algum, alguma, alguns,algumas). É utilizado em frases afirmativas,antes de um substantivo. Ex.:

DIAGNÓSTICO DE DISPOSIÇAO DE RESÍDUOS URBANOS EM MUNICÍPIOS BRASILEIROS: UM LEVANTAMENTO ATRAVÉS DE CURSOS DE GESTAO DE RESÍDUOS URBANOS

A ESCOLA: PRINCIPAL FERRAMENTA NA FORMAÇÃO DE UMA CONSCIENCIA COLETIVA VOLTADA PARA UMA VIDA SUSTENTÁVEL

Instituto Superior de Línguas e Administração

Factos sobre a seriedade da mulher de César

Searching for Employees Precisa-se de Empregados

Pensamento. Não se envelhece, enquanto buscamos." (Jean Rostand)

Aíla de Nazaré Campos Magalhães

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E AS ATIVIDADES FÍSICAS DE AVENTURA NA NATUREZA COMO CONTEÚDO DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR NO ENSINO FUNDAMENTAL

Formação continuada de professores em escolas organizadas em ciclo

FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ECONOMIA E FINANÇAS GEORGE PINHEIRO RAMOS

EDUCAÇÃO PATRIMONIAL A PARTIR DE JOGOS DIDÁTICOS: UMA EXPERIÊNCIA EXTENSIONISTA NO MUNICÍPIO DE RESTINGA SÊCA/RS/Brasil

Trabalho de Compensação de Ausência - 1º Bimestre

Flavia Di Luccio. As múltiplas faces dos blogs. Um estudo sobre as relações entre escritores, leitores e textos

Universidade de São Paulo USP Departamento de Engenharia de Produção EESC Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção

TEMAS ABORDADOS NA EDUCAÇÃO FÍSICA PARA O ENSINO MÉDIO

Vanessa da Costa Martins A perceção do clima de segurança e os seus efeitos na Segurança e Saúde no Trabalho

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo FACULDADE DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM EDUCAÇÃO: HISTÓRIA, POLÍTICA, SOCIEDADE

INCLUSÃO SOCIAL NO TURISMO

O ÊXODO RURAL E A BUSCA PELA EDUCAÇÃO DENTRO DA EEEFM HONÓRIO FRAGA.

Responsável: Prof. Everton Crivoi do Carmo. LINHAS DE PESQUISA: Gestão e Educação em Saúde e Bem-estar Prevenção e Promoção para a Saúde e Bem-estar

INCLUSÃO DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL NO ENSINO REGULAR

Transcrição:

UNIVERSIDADE CATÓLICA PORTUGUESA CENTRO REGIONAL DE BRAGA FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS OUTRA FORMA DE VER? A CONSTRUÇÃO DO AUTOCONCEITO DE CRIANÇAS CEGAS E AMBLIOPES II Ciclo de Estudos em Ciências da Educação Educação Especial Maria Inês Pelaio Macedo Costa Dissertação de Mestrado Orientada por: Professora Doutora Maria João Carapeto Braga, 2012

ÍNDICE ÍNDICE DE SIGLAS... V ÍNDICE DE TABELAS... VI ÍNDICE DE QUADROS... VII ÍNDICE DE FIGURAS... VIII ÍNDICE DE GRÁFICOS... IX AGRADECIMENTOS... X RESUMO... XI ABSTRACT... XIII INTRODUÇÃO... 15 PARTE I: MÓDULO CONCETUAL Introdução... 19 1. Deficiência Visual... 20 1. 1. Cegueira... 21 1.1.1. Causas da Cegueira... 23 1.2. Ambliopia... 24 1.3. Deficiência Visual e Educação... 26 2. Autoconceito e Deficiência Visual... 29 2.1. O Autoconceito... 29 2.2. O Desenvolvimento do Autoconceito na Criança... 31 2.2.1. Conhecer e Avaliar o Autoconceito... 35 2.2.2. Autoconceito e Rendimento Escolar... 36 2.3. O Autoconceito em Crianças Cegas e Ambliopes... 41

Parte II: ENQUADRAMENTO DO ESTUDO Introdução..... 45 1. Motivação do Estudo... 46 2. Objetivos do Estudo... 48 3. Hipóteses do Estudo... 49 Parte III: ESTUDO EMPÍRICO Introdução... 51 1. Método... 52 1.1. Amostra... 52 1.2. Instrumentos... 56 1.2.1. Perfil de Autoperceção para Crianças e Pré-adolescentes... 57 1.2.2. Questionário de Dados Sóciodemográficos... 59 1.3. Procedimentos... 61 2. Resultados... 64 2.1. Diferenças entre Crianças com Deficiência Visual e Crianças sem NEE: o Autoconceito... 64 2.1.1. Estatísticas Descritivas... 64 2.1.2. Significância Estatística das Diferenças... 66 2.2. Diferenças entre Crianças com Deficência Visual e Crianças sem NEE: o Rendimento Escolar... 67 2.2.1. Estatísticas Descritivas... 67 2.2.2. Significância Estatística das Diferenças no Rendimento Escolar... 69 2.3. Associação entre as Dimensões do Autoconceito e a Autoestima, em cada subamostra... 70 2.4. Associação entre as Dimensões do Autoconceito e o Rendimento Escolar, em cada subamostra... 71 2.5. Alguns Resultados Adicionais... 72

2.6. Análise Qualittiva dos Casos Emparelhados... 73 2.6.1. Caso A... 75 2.6.2. Caso B... 76 2.6.3. Caso C... 77 2.6.4. Caso D... 78 2.6.5. Caso E... 79 2.6.6. Caso F... 80 2.6.7. Caso G... 81 2.6.8. Caso H... 82 2.6.9. Caso I... 83 2.6.10. Análise Qualitativa dos Casos: Sintetizando... 84 3. Discussão dos Resultados... 85 4. Conclusões... 95 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 98 ANEXOS... 106

RESUMO A deficiência visual define-se como um dano parcial ou global do sistema visual que abrange um largo espetro de anomalias visuais, de entre as quais se destaca a cegueira e a ambliopia. Quer a cegueira, quer a ambliopia constituem alterações nas estruturas visuais, colocando, por isso, limitações à realização de atividades do quotidiano que envolvem, sobretudo, o sentido da visão. Entende-se por autoconceito a perceção que a pessoa tem de si mesma. Ao fazer a sua autodescrição, a pessoa enumera juízos não só descritivos, como também valorativos, o que significa que o autoconceito está intimamente relacionado com a autoestima. Este processo de construção não envolve apenas a própria pessoa, mas sim todos s agentes que fazem parte integrante do seu quotidiano: família, amigos, professores, escola, entre outros. Após revisão de um conjunto de pesquisas acerca da construção e desenvolvimento do autoconceito em crianças com deficiência visual, foi possível concluir que não existem fortes convicções sobre o assunto. Se, por um lado, há investigadores que defendem que esta autoconstrução não distingue pessoas deficientes de não-deficientes, outros sustentam que existe uma maior dificuldade em crianças com deficiência visual. Além do mais, não se encontrou referência a investigações na população portuguesa. Assim, a presente dissertação procura explorar a possibilidade de existirem diferenças ao nível do autoconceito entre crianças cegas e amblíopes e crianças sem necessidades educativas especiais, bem como diferenças ao nível do rendimento escolar, e ainda a relação entre autoconceito e este. Constituiu-se, para isso, uma amostra de 18 crianças, 9 com deficiência visual (cegueira e ambliopia) e 9 sem necessidades educativas especiais, sendo estas duas subamostras emparelhadas (quanto à idade, sexo e ano de escolaridade). Aplicou-se a toda a amostra a escala de autoconceito Como é que eu sou (Harter, 1985), um Questionário de Dados Sociodemográficos, e recolheram-se dados do seu rendimento escolar no final do ano lectivo.

Os resultados sugerem que o grupo com deficiência visual se autoperceciona de modo mais favorável ao nível do comportamento e, tendencialmente, ao nível da autoestima global, enquanto o grupo sem necessidades educativas especiais se autoperceciona, de modo tendencialmente mais favorável, ao nível da competência atlética. Não se verificaram discrepâncias significativas relativamente ao rendimento escolar entre os dois grupos de crianças. Melhor rendimento escolar aparece associado a melhor comportamento autopercebido, nas crianças cegas e ambliopes e a uma mais favorável autoperceção da competência social nas crianças sem necessidades educativas especiais. Não se constatou uma associação significativa do rendimento escolar com a autoestima global, nem com a competência escolar autopercebida, em nenhum dos dois grupos. Os resultados são discutidos à luz da teoria e investigação existente. Palavras-chave: necessidades educativas especiais; deficiência visual; autoconceito; autoestima; rendimento escolar.

ABSTRACT Visual impairments is defined as a total or partial damage to the visual system that covers a wide range of visual abnormalities, among which stands out blindness and amblyopia. Whether blindness or amblyopia constitute changes in visual structures, placing therefore limitations to perform activities of daily life, specially involving the sense of sight. It is understood by self-concept the perception one has of himself. When making his self-description, a person enumerates not only descriptive judgments but also evaluative ones, meaning that the self-concept is closely related to self-esteem. This construction process involves not only oneself, but all the agents that are an integral part of their daily lives: family, friends, teachers and school, among others. After reviewing a set of researches about the creation and development of selfconcept in children with visual impairments, it was possible to conclude that there aren t strong views on this matter. If, in one hand, there are researchers who argue that this self-concept creation isn t distinguishable between disabled and non-disabled people, others argue that there is a greater difficulty in visually impaired children. Furthermore, no reference to this research in the Portuguese population was found. Thus, this dissertation intends to explore the possibility of the existence of differences at the self-concept level among blind and visually impaired children, and children without special needs, as well as differences in school performance, and also the relationship between the self-concept and this. It was created for this purpose a sample of 18 children, 9 with visual impairments (blindness and amblyopia) and 9 without special educational needs, being these two subsamples matched (for age, sex and year of schooling). Applied to the entire sample was the self-concept scale of What I Am Like (Harter, 1985), a social-demographic questionnaire, and data was also collected from the children s academic performance at the end of the school year.

Results suggest that the group with visually impairments has a better self-perception at the behavioral level and tendentiously at the global selfesteem level, while the group without special educational needs is tendentiously more favorable self-perceived in terms of athletic competence. No significant discrepancies were verified with regard to academic performance between the two groups of children. There was no significant association between academic performance and global self-esteem or with self-known academic competence in none of both groups. The results are discussed in light of existing theory and research. A better academic performance is associated with a better self-known behavior among blind and visually impaired children, and the same is associated with a more favorable self-perception of social competence among the children without special needs. Keywords: special educational needs; visual impairment; self-concept; selfesteem; academic performance.