O Amazonas e a bacia amazônica



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Transcrição:

O Amazonas e a bacia amazônica 1. A descoberta do Amazonas Sabemos, por descobertas arqueológicas, que uma parte do Brasil atual foi habitada 12.000 anos atrás por grupos de caçadores e coletores. A foz do Amazonas foi descoberta por europeus por volta de 1500. Quase ao mesmo tempo, o espanhol Vicente Yañez Pinzón e o italiano Américo Vespúcio exploraram a costa leste do recém-encontrado mundo da América do Sul.* É bem provável que os portugueses já conhecessem partes da costa brasileira antes de 1494. Imagine-se o seguinte: navios em pleno mar aberto, a 200 km da costa, e ainda cercados de água doce. Do lado costeiro, mais para o interior, uma gigantesca superfície de água doce com um labirinto de ilhas. Um mar de água doce? É um rio com 65 a 100 km de largura - o Amazonas. Delta do rio - NASA Em 22 de abril de 1500 o navegante português Pedro Álvares Cabral atracava na costa brasileira e tomava posse da terra em nome da coroa portuguesa. Já no ano de 1494, Portugal e Espanha decidiam a distância, no Tratado de Tordesilhas, a divisão da América do Sul em duas partes.

2. Surgimento da bacia amazônica uma hipótese geológica A cerca de 100 anos atrás, cientistas constataram que os contornos da costa sulamericana e da costa africana se encaixavam como duas peças de um quebra-cabeça, concluindo daí que os dois continentes já teriam sido, um dia, um único continente. Supõe-se que até 130 milhões de anos atrás a nascente do antigo Amazonas estaria localizada na África, no nordeste do atual Tchad. Esse supercontinente de Gondwana abrangia então a África, a Índia, a América do Sul, a Austrália e a Antártica. O antigo Amazonas corria na direção inversa, ou seja, de leste para oeste, e desaguava no Pacífico. Quando o supercontinente se partiu, as plataformas se moveram em direções diferentes, separando o Amazonas da sua nascente. Quando então a plataforma sulamericana se chocou com a do Pacífico, a violência do impacto fez surgir a gigantesca Cordilheira dos Andes. Com isso, o curso do rio também se inverteu - há cerca de 10 15 milhões de anos. Ao mesmo tempo, começava a erguer-se no meio da bacia amazônica um maciço de baixas altitudes, que dividiu o curso do rio. Nas encostas orientais, o Amazonas já corria para o Atlântico e, do lado ocidental, os rios que desciam dos Andes misturavam-se com a água das enchentes do Amazonas, dando origem a imensos lagos interiores. Foram necessários mais 5 milhões de anos para que os rios represados escavassem a serra e pudessem juntar-se à parte do Amazonas do lado oriental. Desenvolvia-se aí a imensa rede hidrográfica que, desde então, percorre a bacia amazônica de oeste para leste. Esta é a razão pela qual o leito do Rio Amazonas se estreita perto da foz, quando o normal seria que se estreitasse perto da nascente. Isso também explica por que a uma distância de milhares de quilômetros da costa marítima, ainda se encontram no rio animais como arraias, camarões, linguados, peixes-bois, golfinhos e até tubarões, que, normalmente, vivem no mar. Os animais chegaram ao Amazonas, quando o rio ainda desembocava no Pacífico, perdendo, mais tarde, o acesso ao mar. Porém, o fato de não existir no continente africano nenhum leito seco de rio, nem mesmo resquícios disso, torna essa hipótese questionável. Bacia Amazônica mapa do relevo

3. Significado do nome A origem do nome nunca chegou a ser totalmente esclarecida. Talvez ele venha da **palavra indígena Amassona (destruidor de barco), que designava as ondas que se formam no curso inferior do Amazonas. Por sua vez, o rio deu nome à bacia e à região amazônica. A onda do Amazonas atualmente conhecida como pororoca (estrondo) é uma maré viva que se ergue em vagalhões e acontece durante a lua cheia (às vezes, também na lua nova), quando grandes quantidades de água do Atlântico são empurradas para dentro da foz do rio. Com isso, a água rola em grande velocidade rio acima, na direção contrária ao fluxo natural, inundando as regiões ribeirinhas em até 100 m terra adentro. Os animais percebem o perigo instintivamente. Muito antes de os ouvidos humanos ouvirem o estrondo, os animais se afastam do rio e se abrigam na floresta. A onda impede o assoreamento do Amazonas. Com sua força, ela varre literalmente o fundo do Amazonas, transportando rio acima os sedimentos fluviais. A pororoca*** carrega consigo uma enorme quantidade de materiais flutuantes e lama fértil, rica em adubo. **O termo índios (para comunidades indígenas da América) surgiu da falsa suposição de Cristóvão Colombo, em 1492, de que teria descoberto a Índia: índio (em espanhol) indígena. Embora Américo Vespúcio tenha esclarecido definitivamente o erro de Colombo, a designação índios foi mantida. 4. Amazonas: o maior rio da Terra O Amazonas é, de longe, o maior, o mais extenso e o mais largo rio da Terra: a Suíça, por exemplo, seria apenas uma ilha do Amazonas. Ele é o rio com a maior bacia hidrográfica do mundo, cobrindo uma área de mais de 6 milhões de km 2, e tem quase 6.500 km de extensão (compare-se com o Nilo). O Amazonas tem cerca de 5 km de largura, porém, na época das cheias, ele chega a alcançar 120 km de largura. A título de comparação, o Lago de Constança tem apenas 14 km de extensão em sua parte mais larga! Em profundidade, o Amazonas tem, em média, 30 a 40 metros, chegando, em certas partes, a 100 m de profundidade, de modo que navios de alto mar podem navegálo rio acima até Iquitos, no Peru. A bacia amazônica é formada por uma imensa rede de incontáveis afluentes (entre 1.000 e 100.000). A bacia tem uma inclinação muito leve e, por isso, seus rios correm bem lentamente. O Amazonas nasce no alto da Cordilheira dos Andes, no Peru, e deságua no Oceano Atlântico. Aproximadamente um quinto de toda a água doce da Terra corre na bacia amazônica. Lá também vive o maior peixe de água doce o pirarucu e mais outras 3.000 espécies de peixes. Profundamente fincado nos mitos e nas lendas dos habitantes da Amazônia é o boto rosa, um símbolo único para rios intactos. Mas também os tubarões, as arraias e os linguados se adaptaram à água doce do Amazonas e são parte integrante dessa maravilha da natureza. Para sobreviver, as plantas da floresta Amazônica têm de

se adaptar às épocas de inundações. As árvores nas margens pantanosas, por exemplo, crescem sobre raízes que se erguem como estacas e pontes sobre a superfície da água. Suas raízes secundárias se esparramam para longe, para manter o equilíbrio sobre o terreno inseguro. 5. Significado da Amazônia como espaço vital Em torno do Rio Amazonas, a maior região de florestas tropicais da Terra se estende por nove países: Brasil, Suriname, Guiana, Guiana Francesa, Venezuela, Peru, Bolívia, Equador e Colômbia. Esses países abrigam a mais rica vida selvagem da Terra. Lá vivem mais de 40.000 espécies de plantas, das quais 30.000 não podem ser encontradas em nenhuma outra parte do planeta. Na região amazônica vive, em média, uma pessoa por quilômetro quadrado (km 2 ) na Alemanha, a densidade demográfica é de aproximadamente 230 habitantes por km 2. O maior e mais importante ecossistema florestal do mundo preserva e renova uma grande parte da água doce da Terra. Essa reserva se torna cada vez mais importante, pois dois terços da humanidade já não dispõem agora de água suficiente, ou sequer de água potável. O clima mundial também é diretamente influenciado pela floresta amazônica. As florestas limpam a atmosfera de emissões de gases nocivos ao clima, como o dióxido de carbono CO2, por exemplo. Os efeitos do desmatamento das florestas sobre o clima mundial já são bem perceptíveis. A proteção da floresta tropical é necessária, para garantir de forma duradoura as bases naturais de vida em todo o planeta: clima saudável, água suficiente e, consequentemente, alimento suficiente. Porém a devastação**** continua: ano após ano são destruídos milhões de hectares da floresta, principalmente, através de queimadas e desmatamentos para construção de estradas e monoculturas. Um outro perigo constitui atualmente o mercúrio, usado para a lavagem de ouro: para cada grama do valioso metal, precisa-se da mesma quantidade de mercúrio. Funcionários da Organização Mundial da Saúde (OMS) comprovaram a existência de altas concentrações de mercúrio nos arredores de acampamentos dos garimpeiros. É grande o risco de contaminação do solo e da água. ****http://www.youtube.com/watch?v=iq2pvsc1-kg&feature=player_embedded# (Greenpeace 2005)

A floresta amazônica desaparece na região próxima ao Rio Jaciparana (afluente do Amazonas) Serie da NASA