CONFLITOS NO PONTAL DO PARANAPANEMA: IMAGENS E DISCURSOS DA REPRESSÃO NO CAMPO Autora: Barbara Giovanna Ortiz 1 barbara.ortiz@live.

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Transcrição:

CONFLITOS NO PONTAL DO PARANAPANEMA: IMAGENS E DISCURSOS DA REPRESSÃO NO CAMPO Autora: Barbara Giovanna Ortiz 1 barbara.ortiz@live.com Resumo Este trabalho faz parte das reflexões iniciais uma pesquisa em desenvolvimento que visa compreender a história e a contemporaneidade das diferentes formas de repressões sofridas no Pontal do Paranapanema, área que é caracterizada por intensos conflitos e irregularidades fundiárias. Para isso, tomamos como referência o discurso do Estado, a representação midiática e o DATALUTA Banco de Dados da Luta pela Terra. Também serão apresentados os fatores determinantes que corroboraram para a atual conjuntura agrária brasileira e seus reflexos na região. Palavras-chave: questão agrária; repressão no campo; mídia Questão Agrária no Pontal do Paranapanema O Pontal do Paranapanema é uma região formada por 32 municípios, localizada no oeste do Estado de São Paulo, tendo como limite a oeste o rio Paraná e ao sul o rio Paranapanema, conforme prancha 1. O destaque do Pontal do Paranapanema na história dos movimentos socioterritoriais camponeses do Brasil tem suas origens no processo de ocupação territorial ilegal na região a partir da segunda metade do século XIX. A grilagem foi uma prática comum e determinante não só na conformação de uma região com grande concentração de terras, mas também como motivador para a luta dos movimentos, visto que haviam grandes latifúndios em terras públicas. 1 Estudante de Graduação da Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade Estadual Paulista, FCT-UNESP, campus, de Presidente Prudente SP. Membro do Núcleo de Estudos, Pesquisa e Projetos de Reforma Agrária NERA, sob a orientação do Prof. Dr. Ricardo Pires de Paula.

De acordo com Feliciano (2006), a região do Pontal do Paranapanema possui aproximadamente 321 mil hectares de áreas devolutas, das quais grande parte está ocupada de forma irregular por fazendeiros. Até o ano de 2011, conforme Sobreiro Filho (2013), a estrutura agrária da região ainda se encontrava muito concentrada nas mãos de grandes e médias propriedades. A grilagem de terras é fundamental para compreendermos a conflitualidade da qual se insere esta região. Os latifúndios originados a partir de terras griladas manifestam vários aspectos da questão agrária, dentre eles:

a concentração, a desigualdade, a exclusão e a improdutividade. A ocupação de terra tem sido nos últimos anos no Brasil, a principal forma de contestar este modelo de propriedade, combatendo a desigualdade pelo avanço do capitalismo no campo, gerando, segundo Fernandes (2008), um processo de conflitualidade, da qual é alimentada pelas contradições e desigualdades do próprio sistema. É diante deste cenário de acirrada concentração fundiária e de lutas pela terra que se construíram condições favoráveis para a criação e recriação do campesinato. Na década de 1990, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) dá início às suas ações na região, (THOMAZ JUNIOR, 2009) que através das ocupações de terras e organização de acampamentos questionam a legitimidade da posse da terra. O surgimento do MST foi considerado um marco na história da região por dar início a um intenso processo de contestação do latifúndio e promover a organização de trabalhadores para lutar pelas terras públicas do Pontal do Paranapanema. Desta maneira, o MST foi o principal protagonista da luta pela terra na região. Foi desta conjuntura que emergiu a marcante conflitualidade da região, destacando-se pelo nítido embate entre movimentos socioterritoriais e grandes proprietários de terras e elevados números de ocupações de terras e famílias em ocupações. Conforme Sobreiro Filho (2013), a conflitualidade era nítida e a imprensa foi um dos espaços mais utilizados para veicular ameaças e trazer à tona o contexto de violência da região. Ações violentas como tiroteios, destruição de acampamentos e diversos outros tipos de ameaça são fatos reincidentes na história do Pontal do Paranapanema e compuseram o universo de manchetes dos jornais no período de 1994 até 2002 (CUBAS, 2012; SOBREIRO FILHO, 2013). As ocupações de terras, segundo Cubas, são momentos privilegiados que iluminam aspectos centrais da relação campesinato-ruralista e da questão agrária no Brasil. São eventos com intensa conflitualidade que atraem a cobertura da imprensa, os comentários dos camponeses e ruralistas (CUBAS,

p. 37, 2012). Ainda para o autor, é a partir desta forma de luta que a mídia desenvolve sua narrativa da relação camponês-ruralista, desenhando a opinião pública e indicando quais são os protagonistas e antagonistas da história. Desde os processos de ocupação do Pontal do Paranapanema a relação entre camponeses e proprietários de terra tem se dado de forma violenta. Com a bandeira da luta pela reforma agrária levantada pelos movimentos socioterritoriais do campo, essa forma de repressão ao acesso à terra manteve seu caráter truculento. A violência não partia somente dos proprietários de terras, mas também da mídia em forma de repressão, que agia criminalizando as ações dos movimentos com o intuito de deslegitimar a luta. Governo Collor, FHC e a Luta pela Terra A década de 1990 assinalou, no Brasil, a partir do governo de Fernando Collor, a introdução de medidas que resultaram na abertura econômica do país para o mercado global. A despeito do desdobramento de seu curto período na presidência, essa abertura desenfreada às mercadorias e capitais estrangeiros, aliada à reestruturação produtiva, desencadearam uma série de consequências negativas ao mercado de trabalho, dentre as quais, o fechamento de muitas indústrias e o aumento do desemprego. Mas, essas medidas estavam inseridas em um conjunto amplo de reforma com um viés neoliberal, que viriam a ser inaugurados no país, como a redução do papel do Estado, afetando diretamente a relação entre o Estado e trabalhador, sendo esses da cidade ou do campo. Ao analisar o gráfico 1 e o contexto histórico do país, inferimos que o aumento da miséria no campo, consequência da abertura da economia brasileira ao exterior e da política de apoio do Estado aos latifundiários, se constituiu em um dos principais elementos para ocorrer o aumento de ocupações terra no Brasil e em particular no Pontal do Paranapanema.

GRÁFICO 1 - PONTAL DO PARANAPANEMA - NÚMERO DE OCUPAÇÕES - 1988-2012 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 87 70 63 50 51 50 45 46 38 40 42 37 32 27 21 23 17 15 12 12 8 5 1 0 1 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 Fonte: DATALUTA - Banco de Dados da Luta pela Terra, 2013. www.fct.unesp.br/nera Nesse sentido, não se pode desprezar a experiência no processo de violência e resistência da população camponesa que, no despontar dos anos 1990, torna-se figura central na luta pela Reforma Agrária. Caracterizar as diversas formas de violência que se abateram sobre os movimentos sociais no Pontal do Paranapanema busca rever os ditames que tem regido as relações sociais no campo brasileiro, em um contexto de grande acirramento envolvendo, de um lado, os camponeses e, de outro, grandes proprietários de terra, a mídia e o Estado. Discurso e imagens da repressão midiática Os principais jornais da região do oeste paulista, O Imparcial e Oeste Notícia, demonstram em seus discursos o interesse de classes, favorecendo, então a elite agrária da região, transmitindo uma visão criminalizada dos movimentos, a fim de contribuir/legitimar a repressão em meio à luta pela terra. Um exemplo disso é o discurso adotado quando noticiam as ações dos movimentos, tratando as ocupações de terra como Invasões e atos de vandalismo, deixando uma visão distorcida da real causa dos movimentos

socioterritoriais. Conforme relata Souza (2005) ao analisar os jornais O imparcial e Folha de São Paulo: Nos dias 20 e 21/07, os jornais OI e FSP, publicam a desocupação da fazenda determinada pela justiça através da ação judicial. Desse episódio, segundo o jornal, a polícia indiciou Josmar Chamption, um dos líderes dos Sem-Terra, no inquérito aberto para apurar as responsabilidades pela invasão e por cárcere privado (FSP, 21/07/90.p.A8). Essas famílias saíram da fazenda e, segundo o jornal, a maioria voltou para suas cidades de origem, ficaram acampadas (sic) às margem da rodovia SP-613. A ação de despejo foi realizada por 900 policiais civis e militares, além de cachorros e jagunços (FERNANDES, 1996, p.163). E assim, o jornal relatou, fim pacífico da invasão da fazenda (OI, 21/07/90, p 01). (SOUZA, p.27, 2005). Assim como os discursos, as imagens tem um grande poder de influência não objetiva sobre a opinião pública da sociedade. De instrumento para a reconstrução e reconhecimento da realidade à arma poderosa da manipulação, a imagem sempre assumiu durante a história do homem facetas diversas. De fato, antes de mais nada, a fotografia é como uma imagem, um termo que possui definições unificadas e complementares. Compreendemos que indica algo que embora nem sempre remeta ao visível, toma alguns traços emprestados do visual e, de qualquer modo, depende da produção de um sujeito: imaginária ou concreta a imagem passa por alguém que a reproduz ou reconhece. (MANCUZO,2009) Considerações finais Com base nos pressupostos aqui apresentados, vemos que o histórico da luta pela terra no Brasil, com enfoque na região do Pontal do Paranapanema é constituída de conflitos permanentes e inerentes às contradições da estrutura fundiária do Brasil. Essa conflitualidade é representada no discurso da mídia, na sua promoção do agronegócio e na cobertura estereotipada da luta pela terra. Olhando para as disputas físicas e representativas do campo, o Pontal do Paranapanema se torna um território interessante para análise dos conflitos no campo sobre o olhar da repressão através da mídia e conformada/efetivada pelo Estado. Dessa forma, faz parte de nossa proposta compreender as diferentes formas de repressão no campo a

partir do discurso midiático e do Estado, construindo, assim, uma tipologia de repressão a partir dos conflitos agrários. Referências CUBAS, T. E. São Paulo Agrário: Representação da Disputa Territorial entre Camponeses e Ruralistas de 1988 a 2009. Dissertação de Mestrado, 2012. FERNANDES, B. M. Questão Agrária: conflitualidade e desenvolvimento territorial. In: Luta pela Terra: Reforma Agrária e Gestão de Conflitos no Brasil. Antônio Márcio Buainain (Editor). Editora Unicamp. Campinas, 2008. FELICIANO, C. A. A Geografia dos Assentamentos Rurais no Brasil: O MST e MAST no Pontal do Paranapanema/SP. 131 f. Monografia (curso de Geografia) Universidade de São Paulo, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo. MANCUZO, R.A. O MST desterritorializado: Um novo olhar sobre a criminalização do movimento a partir do fotojornalismo e do hiperespetáculo. Dissertação de mestrado, 2009. OLIVEIRA, N. T. Banco de dados da luta pela terra: registro, confrontação e análise das ocupações de terras no estado de São Paulo, com ênfase à região do Paranapanema para o período 1990-2010. Faculdade de Ciências e Tecnologia. Universidade Estadual Paulista Júlio Mesquita Filho, Presidente Prudente. Relatório final CNPQ 2011. SOBREIRO FILHO, J. Os MST s do Pontal do Paranapanema: dissensão na formação dos movimentos camponeses. 2011. Relatório de pesquisa FAPESP. http://www4.fct.unesp.br/nera/projetos/relatorio_nino2.pdf SOBREIRO FILHO, J. O Movimento em Pedaços em Movimento: da ocupação do Pontal do Paranapanema à fragmentação dos movimentos socioterritoriais camponeses. Dissertação de Mestrado, 2013. SOUZA, S.R. Discursos em confronto no território da luta pela terra no/do Pontal do Paranapanema: MST e Imprensa. Universidade Estadual Paulista Júlio Mesquita Filho, Presidente Prudente. Dissertação de Mestrado. 2005 THOMAZ JUNIOR, A. Agronegócio Alcoolizado e Culturas em Expansão no Pontal do Paranapanema! Legitimação das Terras Devolutas/Improdutivas e Neutralização dos Movimentos Sociais. São Paulo: 2007.

WELCH, C. A. A semente foi plantada: raízes paulistas do movimento sindical camponês no Brasil, 1924-1964. São Paulo: Editora Expressão Popular, 2010