Revista de. História

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Copyright 1999 by Nildes Pitombo. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Concedo o imprimatur solicitado para a obra SÉRIE: CATEQUESE DE PERSEVERANÇA - Livro 1: Perseverando. Rio de Janeiro, 31 de outubro de 2017.

Número 22 Ano 11 Vol

polifonia 25 anos Estudos Linguísticos Dossiê Diversidades em Linguística NÚMERO eissn

Transcrição:

Revista de História

Copyright 2018, Bruno César Nascimento. Copyright 2018, Editora Milfontes. Rua Santa Catarina, 282, Serra - ES, 29160-104. Compra direta e fale conosco: https://editoramilfontes.com.br Distribuição nacional em: www.amazon.com.br editor@editoramilfontes.com.br Brasil Editor Chefe Bruno César Nascimento Conselho Editorial Prof. Dr. Alexandre de Sá Avelar (UFU) Prof. Dr. Arnaldo Pinto Júnior (UNICAMP) Prof. Dr. Arthur Lima de Ávila (UFRGS) Prof. Dr. Cristiano P. Alencar Arrais (UFG) Prof. Dr. Diogo da Silva Roiz (UEMS) Prof. Dr. Eurico José Gomes Dias (Universidade do Porto) Prof. Dr. Hans Urich Gumbrecht (Stanford University) Profª. Drª. Helena Miranda Mollo (UFOP) Prof. Dr. Josemar Machado de Oliveira (UFES) Prof. Dr. Júlio Bentivoglio (UFES) Prof. Dr. Jurandir Malerba (UFRGS) Profª. Drª. Karina Anhezini (UNESP - Franca) Profª. Drª. Maria Beatriz Nader (UFES) Prof. Dr. Marcelo de Mello Rangel (UFOP) Profª. Drª. Rebeca Gontijo (UFRRJ) Prof. Dr. Ricardo Marques de Mello (UNESPAR) Prof. Dr. Thiago Lima Nicodemo (UERJ) Prof. Dr. Valdei Lopes de Araújo (UFOP) Profª. Drª Verónica Tozzi (Univerdidad de Buenos Aires)

Bruno César Nascimento Revista de História Trajetórias historiográficas na Universidade de São Paulo Editora Milfontes

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação digital) sem a permissão prévia da editora. Revisão De responsabilidade exclusiva dos organizadores Capa Imagem da capa: Autor: não citado, logo, tenho declarado que não existe intenção de violação de propriedade intelectual Bruno César Nascimento - Aspectos Projeto Gráfico e Editoração Bruno César Nascimento Impressão e Acabamento GM Gráfica e Editora Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) N244r NASCIMENTO, Bruno César Revista de História: trajetórias historiográficas na Universidade de São Paulo/ Bruno César Nascimento. Serra: Editora Milfontes, 2018. 146 p. : 20 cm Inclui Bibliografia. ISBN: 978-85-94353-23-8 1. Historiografia 2. Revistas de História 3. USP I. Nascimento, Bruno César II. Título. CDD 981.0072

Sumário Prefácio...7 Introdução...13 Capítulo I: historiador, uma prática. A expansão e estruturação de um campo...33 O campo como agente mediador de uma prática... 35 Fazer História como um ofício... 38 Algumas considerações sobre o ofício do historiador no Brasil... 59 Capítulo II: o lugar social como elemento gerador do habitus: o primeiro curso de graduação em história no Brasil...63 Por um ensino superior ao molde paulista. A Universidade de São Paulo - USP... 65 A estruturação da Universidade de São Paulo... 69 As Missões Estrangeiras na USP: elementos divulgadores da alta cultura (1934-1953)... 71 A graduação em História da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo. Aspectos da constituição (1934-1977)... 78 Capítulo III: Revista de História: a escrita como poder simbólico...89 A Revista de História em perspectiva... 94 Por dentro da Revista de História: edição, divulgação e números... 110 Considerações Finais...133 Referências...139

Bruno César Nascimento Prefácio L histoire de l histoire n est pas seulement un domaine nouveau annexé au territoire de l historien. C est aussi un terrain de réflexions susceptible de nous aider, sinon à mieux vivre, du moins à mener nos activités de manière plus lucide. Gérard Noiriel Revistas científicas e acadêmicas são parte constitutiva da paisagem intelectual do mundo moderno. Desde o século XIX, pelo menos, elas desempenham papel fundamental tanto para a divulgação do conhecimento, em suas várias formas, quanto para abrigar e potencializar inovações que muitas vezes tiveram, e têm, profundo impacto sobre seus respectivos campos disciplinares, inclusive por transgredir barreiras institucionais, ultrapassar limites geográficos e reformular fronteiras do saber. Realização necessariamente coletiva e plural, de periodicidade regular e dirigida a um público específico que, além de leitores, comporta também seus potenciais autores, o sucesso desse tipo de publicação reside, em larga medida, em sua capacidade de congregar em um único espaço a expressão mais significativa, supõese, da produção de um determinado grupo, rede ou comunidade de pesquisadores. É a sua característica talvez mais marcante e vital, contudo, que explica a sua força: ser, como bem definiu Jacqueline Pluet-Despatin, uma obra em movimento, um canteiro aberto, um lugar de experimentação, no qual a escrita de novatos e de 7

Revista de História consagrados toma forma, se oferece à discussão, se testa. Graças a tais traços, as revistas, à diferença dos livros, podem responder rápida e sensivelmente às questões de seu tempo. Por meio da circulação de textos e, por extensão, de autores, temas e ideias que promovem, elas estabelecem pontos de contato entre diferentes cenários e contextos, em um fluxo que permite perceber quais são os tópicos consagrados em seu campo, as tradições estabelecidas, seus principais debates, as tendências em cena, as inovações buscadas. Não parece exagero afirmar, assim, que os periódicos científicos e acadêmicos podem ser considerados, ao menos teoricamente, um bom sismógrafo das oscilações de uma área ao longo do tempo, seja ele curto ou longo. No território do historiador, em particular, sabemos bem que algumas das principais transformações da disciplina no correr do século XX se desenvolveram e/ou foram potencializadas a partir de revistas como Annales, Past & Present, Quaderni Storici. Tais títulos transcenderam suas respectivas origens, bem específicas, para converter-se em autoridade dentro do nosso campo, isto é, em referência incontornável para quem acompanha a produção da área e em lugar de reconhecimento e notoriedade para aqueles que nelas publicam. Independentemente de seu alcance, porém, a nossa própria prática nos permite reconhecer com facilidade como os periódicos são peça-chave na dinâmica da historiografia e para a difusão de certas escritas da História. Quando se pensa em tais aspectos nos quadros do Brasil, é inevitável apontar, de saída, que o vínculo estreito entre a produção do conhecimento histórico e sua difusão impressa remonta ao momento inicial de uma historiografia propriamente nacional, uma vez que a fundação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), em 1838, fez-se acompanhar do lançamento de seu órgão oficial, já no ano seguinte. Publicada ininterruptamente até hoje, a Revista do IHGB atravessou o século XIX e avançou pelo XX como o principal periódico dedicado à veiculação das discussões sobre o nosso passado, posto que ocupou até o momento em que novos títulos, agora ligados à também nova historiografia universitária, começaram a surgir o principal deles, a Revista de História, fundada em 1950 na Universidade de São Paulo por Eurípedes Simões de Paula. 8

Bruno César Nascimento Pois é a Revista de História, o leitor e a leitora já sabem, o tema deste livro de Bruno César Nascimento. Nascido da dissertação de Mestrado que defendeu em 2016 na Universidade Federal do Espírito Santo sob a orientação do Professor Julio Bentivoglio, seu escopo é o exame minucioso dessa publicação em um largo recorte, do número 1 ao 174, de 2016. Se a própria escolha do objeto de estudo já merece destaque, à medida que propõe compreender nada menos que o periódico mais tradicional da nossa historiografia universitária, é também relevante enfatizar o quão árdua e intensa foi a pesquisa realizada por Bruno para percorrer e dar conta de uma trajetória de mais de sessenta anos e sessenta mil páginas (!). Uma trajetória nada linear, evidentemente, a qual não apenas variou conforme os rumos da Universidade, da historiografia e, mais recentemente, da pósgraduação no Brasil como também em função da identidade com seu fundador e, depois de sua trágica perda, dos desafios de reestruturá-la e mantê-la no Departamento de História da USP. Atenta a essas e outras dimensões, a dedicação de Bruno foi também muito bem-sucedida, como confirmarão as páginas que se seguem. Para não antecipar descobertas nem estragar o prazer da leitura, gostaria apenas de ressaltar três aspectos estruturantes do texto que, a meu ver, demonstram à perfeição sua solidez e densidade a começar, mais uma vez, do objeto. Ao dissecar a Revista de História, a análise aponta caminhos que levam para muito além dessa publicação, mostrando o quão promissor para a historiografia é o trabalho com os periódicos; ao mesmo tempo, delineia com muita clareza preciosos procedimentos para abordá-los (ilustrados pelas figuras apresentadas no terceiro capítulo), procedimentos esses reveladores da complexidade que, em qualquer situação, envolve esse produto. Os fundamentos teóricos que norteiam a abordagem são o segundo ponto a se pôr em relevo. Por meio da articulação entre os elementos da operação historiográfica, tal como descrita por Michel de Certeau, e a perspectiva da formação do campo científico próprio à historiografia brasileira, seguindo Pierre Bourdieu, Bruno conseguiu ir para além do texto, expressão de Julio Bentivoglio que, aqui, adquire concretude e significado pleno. Práticas historiográficas 9

Revista de História e capital intelectual, lugar social e habitus, escrita e poder simbólico constituem, assim, os pares que inteligentemente organizam os capítulos deste livro, os quais permitem ao autor apresentar a revista em meio a instituições, personagens, temporalidades diversas. Ao fazê-lo, expõe também, como pano de fundo, qual é, efetivamente, o público que dá sentido ao publicar da Revista de História. Por fim, o terceiro aspecto que ressalto é, de certa forma, decorrência dos anteriores: a desnaturalização do lugar que a Revista de História ocupa na historiografia brasileira. Para todos os que temos a História como ofício, ela é referência de um exitoso empreendimento intelectual, espelhado, antes de mais nada, em sua própria longevidade; no entanto, como Bruno bem mostra, nada podia garantir esse sucesso quando de seu lançamento, justamente porque a revista expressava demandas de um campo ainda em configuração, ao mesmo tempo em que ajudava a configurá-lo. Aliás, nem mesmo o reconhecimento e a consagração que obteve no correr das décadas de 1950 e 1960 foram suficientes para evitar a interrupção, por anos, de sua publicação, após a morte do Professor Eurípedes período no qual a possibilidade de seu fim foi algo muito presente. Dito de outra maneira, nada esteve dado de antemão na história da Revista de História (e na história de qualquer revista, poderia dizer): tudo é construção permanente. Para encerrar, uma breve reminiscência. A Revista de História passou a fazer parte de minha vida na passagem da década de 1980 para a de 1990. Iniciava então a graduação na USP, e lembro perfeitamente do impacto que me causou o volume que vi pela primeira vez: de pronto, um impacto estético, graças à sua capa branca com o título destacado em maiúsculas letras vermelhas; depois, intelectual, provocado pelos nomes que constavam de seu índice, impresso também na própria capa. Mesmo sem conhecer todos eles, mesmo sem ter condições de discernir com clareza e precisão as perspectivas teóricas e debates historiográficos encerrados em seus artigos, mesmo sendo incapaz até de alcançá-los de modo satisfatório, uma sensação me foi muito clara naquele momento, a qual guardo até hoje: estava diante de algo importante. 10 Se o passar do tempo e, sobretudo, a prática do ofício me

Bruno César Nascimento levaram a compreender o sentido dessa percepção, este livro de Bruno César Nascimento a ilumina com novas luzes e por outros ângulos. Luzes e ângulos que, por sua vez, corroboram o que diz Gérard Noiriel: graças a pesquisas como esta, podemos realizar o nosso trabalho de maneira mais lúcida. Fábio Franzini Professor de Teoria da História Universidade Federal de São Paulo Unifesp 11