Limiares térmicos para a germinação de conídios de Exserohilum turcicum 1

Documentos relacionados
SEVERIDADE DA QUEIMA DAS PONTAS (Botrytis squamosa) DA CEBOLA EM DIFERENTES TEMPERATURA E HORAS DE MOLHAMENTO FOLIAR

DETERMINAÇÃO DA TAXA DE CRESCIMENTO MICELlAL DE Bipolaris sorokiniana. Resumo

XXIX CONGRESSO NACIONAL DE MILHO E SORGO - Águas de Lindóia - 26 a 30 de Agosto de 2012

EFEITO DA TEMPERATURA E DO FOTOPERÍODO NA GERMINAÇÃO in vitro DE CONÍDIOS DE Aspergillus niger, AGENTE ETIOLÓGICO DO MOFO PRETO DA CEBOLA

INFLUÊNCIA DA IDADE DA FOLHA NA SUSCETIBILIDADE DE PLANTAS DE SOJA À INFECÇÃO POR PHAKOPSORA PACHYRHIZI

EFEITO DA TEMPERATURA E DO FOTOPERÍODO NO DESENVOLVIMENTO in vitro E in vivo DE Aspergillus niger EM CEBOLA

I SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA EMBRAPA ACRE CLADOSPORIUM MUSAE EM BANANA COMPRIDA NO ACRE

Avaliação do controle químico da mancha foliar causada por Exserohilum turcicum em sorgo 1. Introdução. Material e Métodos

Especialização fisiológica de Exserohilum turcicum para o milho e sorgo

OCORRÊNCIA DE DOENÇAS EM GIRASSOL EM DECORRÊNCIA DA CHUVA E TEMPERATURA DO AR 1 RESUMO

REAÇÃO À BRUSONE DE GENÓTIPOS DE TRIGO NO ESTÁDIO DE PLÂNTULA


XXIX CONGRESSO NACIONAL DE MILHO E SORGO - Águas de Lindóia - 26 a 30 de Agosto de 2012

COMUNICAÇÕES / COMMUNICATIONS. Ricardo T. Casa 1, Erlei M. Reis 2, Laércio Zambolim 3 & Éder N. Moreira 1

Epidemias Severas da Ferrugem Polissora do Milho na Região Sul do Brasil na. safra 2009/2010

Embrapa Milho e Sorgo. 3 Universidade Estadual de Londrina/Depto de Biologia Geral/CCB CP 6001 CEP

REAÇÃO DE GENÓTIPOS DE MILHO Bt E NÃO Bt A INOCULAÇÃO ARTIFICIAL DE Fusarium sp. RESUMO

GERMINAÇÃO IN VITRO DE Coffea arabica e Coffea canephora

EFEITO DE TEMPERATURAS E HORAS DE MOLHAMENTO FOLIAR NA SEVERIDADE DA CERCOSPORIOSE (Cercospora beticola) DA BETERRABA

UNIDADE II Patogênese e especificidade do hospedeiro X bactérias fitopatogênicas

Crescimento e esporulação de Fusarium oxysporum f. sp. tracheiphilum sob diferentes temperaturas

Frequência De Patótipos De Colletotrichum lindemuthianum Nos Estados Brasileiros Produtores De Feijoeiro Comum

Prospecção de comunidade bacteriana para biocontrole de Colletotrichum sublienolum, agente causal da antracnose do sorgo

1ª. Prova Prática 25, 26 e 27 de abril de 2018

IMPACTO DE ALTERAÇÕES DA TEMPERATURA SOBRE A SEVERIDADE DO MÍLDIO DA VIDEIRA *

Morfologia de conídios e patogenicidade de isolados de Exserohilum turcicum da Argentina e do Brasil em milho

CONTROLE INTERNO DE QUALIDADE - QUALIDADE SANITÁRIA DE SEMENTES DE ABÓBORA (Cucurbita pepo) ARMAZENADAS DURANTE 12 MESES 1.

EFEITO DE FATORES CLIMÁTICOS NA OCORRÊNCIA E NO DESENVOLVIMENTO DA FERRUGEM DO CAFEEIRO 1

XXIX CONGRESSO NACIONAL DE MILHO E SORGO - Águas de Lindóia - 26 a 30 de Agosto de 2012

SELEÇÃO DE PLANTAS DE ROMÃ PARA RESISTÊNCIA À ANTRACNOSE

TÍTULO: EFICÁCIA DO BIOLÓGICO BACILLUS SUBTILIS QST-713 NO CONTROLE DE NEMATÓIDE- DE- GALHAS NA CULTURA DO ALFACE

INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA E PROCEDÊNCIA SOBRE A GERMINAÇÃO DE UREDINIÓSPOROS DE Puccinia psidii

SEVERIDADE DA CERCOSPORIOSE (Cercospora beticola) DA BETERRABA EM FUNÇÃO DE DIFERENTES TEMPERATURAS E HORAS DE MOLHAMENTO FOLIAR

Efeito fungicida da própolis sobre o Pythium sp. na cultura do manjericão (Ocimum basilicum L.)

Revista Ceres ISSN: X Universidade Federal de Viçosa Brasil

FUNGOS ASSOCIADOS COM A MORTALIDADE DE MINIESTACAS DE Eucalyptus benthamii Maiden et Cambage

XIX CONGRESSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFLA 27 de setembro a 01 de outubro de 2010

Efeito da palha, da umidade e da esterilização do solo na produção de esclerócios de Sclerotium ro!fsü Sacc.

ANÁLISE DA FAVORABILIDADE DAS CONDIÇÕES CLIMÁTICAS À OCORRÊNCIA DE MÍLDIO DA VIDEIRA NO VALE DO SÃO FRANCISCO NO PERÍODO DE 2003 A 2007

XXIX CONGRESSO NACIONAL DE MILHO E SORGO - Águas de Lindóia - 26 a 30 de Agosto de 2012

USO DE TRICHODERMA ASPERELLUM NA PROMOÇÃO DO CRESCIMENTO DE PLÂNTULAS DE ALFACE (Lactuca sativa L.)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS CURSO DE AGRONOMIA

EFEITO DE FUNGICIDAS NO CONTROLE DE PATÓGENOS EM SEMENTES DE ALGODÃO *

Isolamento e identificação de colônias do fungo Alternaria dauci obtidas de lesões de Requeima da cultura da cenoura

Germinação de sementes de imbiruçú em diferentes condições de luz.

CULTIVO in vitro DE EMBRIÕES DE CAFEEIRO: concentrações de meio MS e polpa de banana RESUMO

INFLUÊNCIA DE FATORES ABIÓTICOS NA OCORRÊNCIA DE PRAGAS E DOENÇAS. Programa da aula

INFLUÊNCIA DE FATORES ABIÓTICOS NA OCORRÊNCIA DE PRAGAS E DOENÇAS. Renato Bassanezi Marcelo Miranda

SEVERIDADE DE Puccinia polysora Underw. EM MILHO NO ESTADO DE SÃO PAULO, NA SAFRA 2015/2016 INTRODUÇÃO

Eficiência de fungicidas no controle de fungos patogênicos veiculados à semente de trigo

Óleos essenciais de Alecrim pimenta e Capim citronela na germinação de sementes de beterraba (Early Wonder)

Severidade do Míldio em Cultivares de Videira em Função do Aumento da Temperatura do Ar

Programa Analítico de Disciplina FIP302 Patologia Florestal

COMPLEXO DE DOENÇAS FOLIARES NA CULTURA DO AMENDOIM, NAS REGIÕES PRODUTORAS DO ESTADO DE SÃO PAULO, NA SAFRA 2015/2016

Avaliação da Severidade da Ferrugem Asiática em Diferentes Arranjos da População de Plantas de Soja

Transmissão de um Isolado do Maize rayado fino virus por Daubulus maidis

AGRESSIVIDADE DE ESPÉCIES DE Lasiodiplodia EM FRUTOS DE ACEROLA COM OU SEM FERIMENTO

Isolamento de patógenos fúngicos e bacterianos

AVALIAÇÃO FITOSSANITÁRIA DE LINHAGENS PARCIALMENTE ENDOGÂMICAS DE MILHO

TEOR DE UMIDADE NA GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE PITANGUEIRA EM DOIS AMBIENTES

Circular. Técnica ISSN AVALIAÇÃO DE SEMENTES DE MILHETO NO CULTIVO DE TRICHODERMA SPP. Resumo

INFLUÊNCIA DO ESTÁDIO FENOLÓGICO DE SOJA NA INFECÇÃO À Phakopsora pachyrhizi

TRATAMENTOS PARA SUPERAÇÃO DE DORMÊNCIA DE SEMENTES DE AROEIRA PIRIQUITA (Schinus molle L.) E AROEIRA BRANCA (Lithraea molleioides (Vell.

Universidade Federal do Ceará Centro de Ciências Agrárias Curso de Agronomia

DOENÇAS FOLIARES DA PUPUNHEIRA (Bactris gasipaes) NO ESTADO DO PARANÁ

Resistência Dilatória de Introduções de Sorgo a Colletotrichum Graminicola, Agente Causal da Antracnose

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Amazônia Oriental Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

GERMINAÇÃO DE GRÃO DE PÓLEN DE TRÊS VARIEDADES DE CITROS EM DIFERENTES PERÍODOS DE TEMPO E EMISSÃO DO TUBO POLÍNICO RESUMO

Efeito do estresse hídrico e térmico na germinação e crescimento de plântulas de cenoura

Influência da Adubação Orgânica e com NPK, em Solo de Resíduo de Mineração, na Germinação de Sementes de Amendoim.

Controle alternativo da mancha fuliginosa do tomateiro com óleo essencial de Xylopia aromatica

Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2010)

Influência da Temperatura nos Sintomas Causados pelo Enfezamento Pálido do Milho

SEVERIDADE DE DOENÇAS EM VARIEDADES DE MILHO CRIOULO

Epidemiologia Vegetal. Etiologia é o estudo da doença, que envolve a relação ciclo patógeno-hospedeiro-ambiente

ADEQUAÇÃO DO PROTOCOLO DE PROPAGAÇÃO RÁPIDA PARA CULTIVARES TRADICIONAIS DE MANDIOCA DO ALTO JACUÍ

CARACTERÍSTICAS AGRONÔMICAS DE VARIEDADES E HÍBRIDOS DE SORGO FORRAGEIRO NO OESTE DA BAHIA

B688 Boletim técnico cultura da mandioca/ Jana Koefender... [et al.]. - Cruz Alta/RS: Unicruz, p.

LONGEVIDADE DE SEMENTES DE Crotalaria juncea L. e Crotalaria spectabilis Roth EM CONDIÇÕES NATURAIS DE ARMAZENAMENTO

Recomendação para o Controle Químico da Helmintosporiose do Sorgo (Exserohilum turcicum)

INFLUÊNCIA DA DENSIDADE DE INÓCULO DE Rhizoctonia Solani NA EFICIÊNCIA DO TRATAMENTO DE SEMENTES DE ALGODÃO COM FUNGICIDAS NO CONTROLE DO TOMBAMENTO *

Impacto potencial das mudanças climáticas sobre as doenças do sorgo no Brasil

Resistência de genótipos de sorgo a mancha foliar causada por Ramulispora sorghi 1

ISOLAMENTO E IDENTIFICAÇÃO DE FUNGOS EM SEMENTES DE MURICI

XXIX CONGRESSO NACIONAL DE MILHO E SORGO - Águas de Lindóia - 26 a 30 de Agosto de 2012

ATIVIDADE ANTIFÚNGICA DO ÓLEO DE Carapa guianensis EM SEMENTES DE Bauhinia variegata

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Amazônia Oriental Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

A1-422 Bioatividade de extratos vegetais sobre Plasmopara viticola.

ESTABELECIMENTO IN VITRO

Em teste preliminar Silva (2004) avaliou diferentes meios de cultura para Diplodia maydis e D. macrospora, incubados à 20 o C ± 2 na câmara de crescim

OCORRÊNCIA DE MÍLDIO EM VIDEIRA NIAGARA ROSADA EM FUNÇÃO DAS CONDIÇÕES METEOROLÓGICAS E FENOLÓGICAS NA REGIÃO DE JUNDIAÍ, SP RESUMO

Tombamento de mudas Caciara Gonzatto Maciel Marília Lazarotto Graziela Piveta Marlove Fátima Brião Muniz

Antracnose em Bastão do Imperador

Atraso na Colheita e Incidência de Grãos Ardidos em Cultivares de Milho 1

GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE MELANCIA EM DIFERENTES TEMPERATURAS 1. INTRODUÇÃO

143 - QUALIDADE DE SEMENTES DE CEBOLA CULTIVAR BAIA PRODUZIDAS SOB SISTEMA AGROECOLÓGICO E AVALIAÇÃO DAS MUDAS RESULTANTES

Germinação de Sementes de Cebola em Diferentes Temperaturas. Germination of Onion in Different Temperatures. Abstract. Introdução

IMPACTO DE ALTERAÇÕES DE TEMPERATURA NO CRESCIMENTO E ESPORULAÇÃO DE Fusarium oxysporum f. sp. tracheiphilum *

EFEITO DE DIFERENTES MEIOS DE CULTURA E DA LUZ NO CRESCIMENTO E NA ESPORULAÇÃO DE Verticillium lecanii 1

Transcrição:

138 Juliane Nicolodi Camera & Carolina Cardoso Deuner Limiares térmicos para a germinação de conídios de Exserohilum turcicum 1 Juliane Nicolodi Camera 2*, Carolina Cardoso Deuner 2 10.1590/0034-737X201764020005 RESUMO O milho (Zea mays L.) é cultivado em todo o Brasil e apresenta grande importância econômica, dentre as doenças que causam redução na produtividade está a helmintosporiose. O objetivo deste trabalho foi avaliar a germinação de conídios do agente causal da helmintosporiose, Exserohilum turcicum, em diferentes temperaturas e diferentes regimes luminosos, para determinar os limiares térmicos inferior e superior e a temperatura ótima para a germinação. As temperaturas avaliadas foram 0; 5; 10; 15; 20; 25; 30; 35 e 40 C, com tempos de exposição de 3, 6, 9 e 12 horas. Após cada tempo de exposição, determinou-se o número de conídios germinados e o comprimento do tubo germinativo. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, com quatro repetições, e os dados obtidos foram submetidos à análise de variância. Para os conídios de E. turcicum, submetidos à luz contínua, verificou-se que a maior taxa de germinação ocorreu na temperatura de 23,3 C, para o tempo de exposição de três horas; na de 22,3 C, para seis horas; na de 21,8 C, para nove horas e, na de 21,7 C, para 12 horas. Para o escuro contínuo, a maior taxa de germinação foi verificada na temperatura de 24,0 C, para o tempo de exposição de três horas, na de 22,5 C, para seis horas; na de 21,8 C para nove horas e, na de 21,7 C, para 12 horas. Os esporos de E. turcicum germinaram numa faixa de temperatura de 0 a 40 C, sendo a temperatura ótima de 23 C. O escuro favoreceu a germinação dos esporos de E. turcicum. Palavras-chave: helmintosporiose; processo germinativo; temperatura. ABSTRACT Thermal thresholds for the germination of conidia of Exserohilum turcicum Corn (Zea mays L.) is cultivated throughout Brazil and presents great economic importance. Among the diseases that cause reduction in its productivity is helmintosporiosis. The objective of this study was to evaluate the conidial germination of the pathogen that causes helmintosporiosis, Exserohilum turcicum, in different temperatures and under different light regimes, to determine lower and upper temperature thresholds and optimum temperature for germination. The temperatures evaluated were 0, 5, 10, 15, 20, 25, 30, 35, and 40 C, with exposure times of 3, 6, 9, and 12 h. After each exposure time, the number of germinated conidia and germinative tube length were determined. The experimental design was completely randomized with four replications and the data were subjected to analysis of variance and regression. For conidia of E. turcicum subjected to continuous light, it was found that most conidia germination occurred at the temperature of 23.3 C for 3-h exposure; at 22.3 C for 6 h; at 21.8 C for 9 h; and at 21.7 C for 12 h. For continuous darkness, the higher germination was observed in the temperature 24.0 C for an exposure time of 3 h; at 22.5 C for 6 h, at 21.8 C for 9 h; in 21 7 C for 12 h. Exserohilum turcicum spores germinated in a temperature range of 0 to 40 C, the optimum temperature being 23 C. The dark regime favored the germination of E. turcicum spores. Key words: helminthosporium; germination process; temperature. Submetido em 08/04/2015 e aprovado em 08/02/2017. 1 Este trabalho é parte da tese de doutorado da primeira autora. 2 Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, Rio Grande do Sul, Brasil. ju_camera@yahoo.com.br; carolinadeuner@upf.br *Autora para correspondência: ju_camera@yahoo.com.br

Limiares térmicos para a germinação de conídios de Exserohilum turcicum 139 INTRODUÇÃO A cultura do milho (Zea mays L.) tem grande importância mundialmente, tanto para a alimentação humana como para a animal. Diversos patógenos podem infectar a cultura, sendo que mais de 20 doenças já foram identificadas, algumas de importância econômica por causa da frequência e da intensidade com que ocorrem (Fernandes & Balmer, 1990). Entre elas, as doenças fúngicas são as que acarretam maiores danos à cultura, destacando-se a helmintosporiose que tem como agente causal Exserohilum turcicum (Pass.) K. J. Leonard & E. G. Suggs. A temperatura interfere nos processos biológicos, razão pela qual tanto as plantas como os patógenos requerem uma temperatura mínima para crescer e desenvolver normalmente suas atividades. Em certas faixas de temperatura, geralmente as mais altas, os patógenos tornam-se ativos e, quando a umidade é favorável, podem infectar as plantas e, consequentemente, causar doença (Reis & Bresolin, 2004). A infecção causada por E. turcicum é favorecida por temperaturas que variam de 18 C a 27 C (Juliatti & Souza, 2005). Porém, é de fundamental importância para o desenvolvimento de trabalhos com fungos, conhecer os limiares térmicos superior e inferior, assim como a temperatura ótima que permita o crescimento e desenvolvimento dos fungos. Este trabalho teve como objetivo avaliar a germinação de conídios de E. turcicum em diferentes temperaturas e diferentes regimes luminosos, para determinar os limiares térmicos inferior e superior e a temperatura ótima para germinação. MATERIAL E MÉTODOS Este trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Fitopatologia da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária, da Universidade de Passo Fundo, em estufas tipo BOD. As temperaturas testadas foram 0, 5, 10, 15, 20, 25, 30, 35 e 40 C, com tempos de exposição de 3, 6, 9 e 12 horas à luz contínua e ao escuro contínuo. O fungo foi isolado de folhas de milho com sintomas da doença, procedentes do município de Passo Fundo, RS. Fragmentos de 5 mm do tecido doente foram cortados e desinfestados em solução aquosa de hipoclorito de sódio (1%) por três minutos; em seguida, lavados três vezes com água destilada, distribuídos em caixas de acrílico, tipo gerbox, contendo uma espuma de nylon e duas folhas sobrepostas de papel filtro umedecidas com água destilada e esterilizada, formando uma câmara úmida. As caixas foram mantidas em ambiente com temperatura de 25 ± 2 ºC e fotoperíodo de 12 horas. Após cinco dias, com agulha histológica flambada, estruturas do patógeno foram transferidas para placas de Petri com o meio LCH (Lactose Caseína Hidrolisada) (Tuite, 1969) e incubadas a 25 + 2 ºC, no escuro, durante 30 dias, até obter-se esporulação abundante. Em seguida, procedeuse ao isolamento monospórico (Alfenas & Mafia, 2007). A partir da cultura pura, preparou-se uma suspensão de conídios, da qual 600 µl foram depositados em placas de Petri esterilizadas, com o substrato ágar-água 1%, para cada uma das temperaturas testadas. As placas foram mantidas em câmara DBO durante 3, 6, 9 e 12 horas, com luz contínua e no escuro contínuo. Decorrido o tempo desejado, as placas foram retiradas e foram adicionados 2 ml de uma solução de acetona com a finalidade de paralisar o crescimento do fungo. Este procedimento foi realizado para cada temperatura, regime luminoso e tempo de exposição. A germinação de 100 conídios foi determinada pela mensuração do tubo germinativo, sendo considerado germinado o conídio com o tubo germinativo maior do que sua largura (Zadoks & Schein, 1979). Procedeu-se também à medição do comprimento do tubo germinativo de 100 conídios, com a régua da lente ocular de um microscópico óptico. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, com quatro repetições e os dados foram submetidos à análise de variância e de regressão. A temperatura ótima para a germinação dos conídios foi calculada pela derivada da curva de regressão obtida em cada um dos tempos testados. Os limiares térmicos inferior e superior foram as temperaturas nas quais não se observou a germinação dos conídios de E. turcicum. RESULTADOS E DISCUSSÃO Para placas incubadas sob luz contínua, a maior percentagem de germinação dos conídios de E. turcicum ocorreu, na temperatura de 23,3 C, para o tempo de exposição de três horas (Figura 1A); na de 22,3 C, para seis horas (Figura 1B); na de 21,8 C, para nove horas (Figura 1C) e, na de 21,7 C, para 12 horas (Figura 1D). A média da temperatura para a germinação dos conídios em luz contínua, nos quatro tempos de exposição, foi de 22,2 C e a temperatura ótima foi de 22 C. Quando as placas foram submetidas ao escuro contínuo, a maior taxa de germinação foi verificada na temperatura de 24,0 C, para o tempo de exposição de três horas (Figura 2A); na de 22,5 C, para seis horas (Figura 2B); na de 21,8 C, para nove horas (Figura 2C) e, na de 21,7 C, para 12 horas (Figura 2D). A média da temperatura para a germinação dos conídios no escuro, nos quatro tempos de exposição, foi de 22,5 C e a temperatura ótima, 23 C. Observou-se que os conídios de E. turcicum, quando submetidos às temperaturas de 0 C, não apresentaram

140 Juliane Nicolodi Camera & Carolina Cardoso Deuner Figura 1: Efeito da temperatura e do tempo de exposição na germinação de conídios de Exserohilum turcicum sob luz contínua. germinação, independentemente do regime luminoso, sendo que a 40 C a germinação foi próxima de 0%. Portanto, o limiar térmico inferior foi de 0 o C e o limiar térmico superior foi acima de 40 C (Figura 1 e 2). Na temperatura de 25 C, foi observado o maior comprimento do tubo germinativo de E. turcicum, independentemente do regime luminoso, sendo de 684 µm para a luz contínua (Figura 3B) e de 768 µm para o escuro contínuo (Figura 3A), portanto, foi favorecido pela ausência de luz. Nas temperaturas de 0 C, 5 C e 40 C, não foi possível fazer a mensuração dessa variável, por causa da baixa percentagem de germinação dos conídios. As condições ambientais ideais para a ocorrência de E. turcicum são obtidas com temperaturas de 20 ºC e molhamento foliar de aproximadamente 8 h (Vitti et al., 1995). Em folhas de milho a 25 o C, duas horas após a inoculação do fungo, Levy & Cohen (1983) observaram percentagem de germinação de 87%, em ambiente com escuro contínuo, enquanto, sob luz contínua, a germinação foi de apenas 17%. Os autores registraram que as melhores temperaturas estão entre 20 e 25 C, sendo que abaixo de 15 C e acima de 30 C inibe-se a germinação do patógeno. O fungo E. turcicum pode-se desenvolver em temperaturas que variam de 17 a 28 C e alta umidade, podendo tolerar condições climáticas adversas (White, 1999). De acordo com Khatri (1993), as condições mais favoráveis para o desenvolvimento da helmintosporiose do milho foram de 22 a 25 C de temperatura e de 75 a 90% de umidade relativa. Em condições de campo, o patógeno é favorecido por temperatura média diária superior a 25 C (Pelmus et al., 1986), embora outros autores tenham relatado 21,1 C como a temperatura ótima (Sharma & Mishra, 1988). A temperatura tem maior influência nas atividades do patógeno do que o teor de água no substrato e a umidade relativa do ar. Todas as fases do ciclo das relações patógeno-hospedeiro são influenciadas pela temperatura. No processo de reprodução, a temperatura pode alterar tanto a velocidade de produção de esporos quanto o nú-

Limiares térmicos para a germinação de conídios de Exserohilum turcicum 141 mero de propágulos formados (Amorin & Bedendo, 1995). Dessa forma, para o cultivo in vitro, é importante que as exigências térmicas do patógeno sejam determinadas, em trabalhos de pesquisa, visando a definir o menor tempo necessário para a produção do inóculo (Alfenas & Mafia, 2007). Figura 2: Efeito da temperatura e do tempo de exposição na germinação de conídios de Exserohilum turcicum no escuro. Figura 3: Efeito da temperatura e regime luminoso no comprimento do tubo germinativo de Exserohilum turcicum no escuro contínuo e luz contínua, no tempo de 12 horas.

142 Juliane Nicolodi Camera & Carolina Cardoso Deuner CONCLUSÃO Os esporos de E. turcicum germinam numa faixa de temperatura de 0 a 40 C, sendo a temperatura ótima de 23 C. O escuro favorece a germinação dos esporos de E. turcicum. REFERÊNCIAS Alfenas AC & Mafia RG (2007) Métodos em Fitopatologia. Viçosa, Editora UFV. 382p. Amorin L & Bedendo IP (1995) Ambiente e doença. In: Bergamin Filho A (Ed.) Manual de fitopatologia. 3ª ed. São Paulo, Agronômica Ceres. p.331-341. Fernandes FT & Balmer E (1990) Situação das doenças de milho no Brasil. Informe Agropecuário, 14:165:35-37. Juliatti FC & Souza RM (2005) Efeito de épocas de plantio na severidade de doenças foliares e produtividade de híbridos de milho. Bioscience Journal, 21:103-112. Khatri NK (1993) Influence of temperature and relative humidity on the development of Helminthosporium turcicum on maize in western Georgia. Indian Journal of Mycology and Plant Pathology, 23:35-37. Levy Y & Cohen Y (1983) Biotic and environmental factors affecting infection of sweet corn with Exserohilum turcicum. Phytopathology, 73:722-725. Pelmus V, Crain D & Craciud M (1986) Effect of some ecological factors on Helminthosporium turcicum on successive maize crop problem. Protectia-Pkntelor, 14:119-132. Reis EM & Bresolin ACR (2004) Sistemas de previsão de doenças de plantas. In: Reis EM (Ed.) Previsão de doenças de plantas. Passo Fundo, UPF. p.155-287. Sharma JP & Mishra B (1988) Effect of spray schedule of mancozeb on turcicum leaf blight and impact on grain yield in maize. Indian Journal of Plant Protection, 16:189-193. Tuite JF (1969) Plant Pathological Methods Fungi and Bacteria. 5ª ed. Minneapolis, Burgess Publishing Company. 239p. Vitti AJ, Bergamin Filho A, Amorim L & Fergies NC (1995) Epidemiologia comparativa entre a ferrugem comum e a queima de turcicum do milho: I. Efeito de variáveis climáticas sobre os parâmetros monocíclicos. Summa Phytopathologica, 21:127-130. White DG (1999) Compendium of corn diseases. 3 rd ed. St Paul, The American Phytopathological Press. 78p.