6. Tratamento das mobílias atacadas por Cryptotermes brevis com calor, fumigantes sólidos e gases inertes

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6. Tratamento das mobílias atacadas por Cryptotermes brevis com calor, fumigantes sólidos e gases inertes 6. Treatment of Cryptotermes brevis infestations in furniture with heat, solid fumigants and inert gases Annabella Borges 1, Orlando Guerreiro 1, Maria Ferreira 1 Tim Myles 2 & Paulo A. V. Borges 1 1 Universidade dos Açores, Dep. Ciências Agrárias, CITA-A, Terra-Chã, 9700-851 Angra do Heroísmo, Terceira, Açores, Portugal. 2 Director, Urban Entomology Program, Centre for Urban and Community Studies, 455 Spadina Ave., Suite 400, University of Toronto, Toronto, Ontario M5S 2G8 (416) 978-5755; t.myles@utoronto.ca Borges, A., Guerreiro, O., Ferreira, M., Myles, T.G. & Borges, P.A.V. (2006). Tratamento das mobílias atacadas por Cryptotermes brevis com calor, fumigantes sólidos e gases inertes. In: P.A.V. Borges & T. Myles (eds.), WORKSHOP: Medidas para a Gestão e Combate das Térmitas nos Açores - Livro de Resumos. Universidade dos Açores, Dep. de Ciências Agrárias CITA-A, Angra do Heroísmo, pp. 63-72. Resumo: A Cryptotermis brevis é uma térmita extraordinária na sua capacidade única de atacar madeira extremamente seca. É igualmente extraordinária na capacidade de atacar uma grande variedade de tipos de madeira, o que nos leva a concluir como sendo a única espécie de térmitas que é facilmente encontrada em mobílias. Como tal, é muito fácil a sua dispersão aquando do transporte de mobílias infestadas de lugar para lugar, e esta é uma das principais razões pela qual esta térmita consegue ter uma distribuição tão ampla em áreas urbanas, em praticamente todo mundo. É muito provável que a sua introdução nos Açores tenha sido através de mobília infestada e que a dispersão contínua que se tem verificado de cidade para cidade seja devido a essa razão. Ou seja, o tratamento de mobílias é uma componente importante de um programa integrado para lidar com o controle e contenção desta espécie de térmita. O objectivo deste trabalho é apresentar os resultados obtidos de três tipos de experiências para tratamento de mobílias infestadas com Cryptotermis brevis. A primeira experiência consistiu num método muito simples envolvendo o selar de um objecto infestado dentro de um saco de plástico preto, sendo este colocado num local fora do laboratório afim de se encontrar em plena exposição solar durante o mês de Agosto. O método seguinte consistiu em selar um objecto infestado num recipiente com um de três tipos de fumigantes sólidos: bolas de naftalina, para-dichlorobenzeno ou dichlorvos (Vapona ). O último método envolveu um teste de anóxia em que um de três tipos de gases inertes, azoto (N 2 ), dióxido de carbono (CO 2 ) ou árgon (Ar) foram usados para substituir o ar existente dentro de um saco plástico (bolha) selado, contendo um objecto infestado. Abstract: Cryptotermis brevis is an extraordinary termite in its unique ability to attack extremely dry wood. It is also unique in its ability to attack a wide variety of wood species. This leads to it being one of the only termites of the world which is commonly found attacking furniture. As such, it is easily moved when people move their furniture from place to place and this is one of the reasons why this termite has become widely dispersed to urban areas around the world. It is very likely it was first introduced into the Azores with furniture and that its continued dispersal from island to island and town 63

to town will be by the further movement of infested furniture. Therefore furniture treatment is an important component of an integrated program for dealing with the control and containment of this pest species. The objective of this presentation is to explain the results of three types of experimental furniture treatment that we conducted. The first of these was a simple method involving the sealing of an infested item inside a black plastic bag which was then placed in full sun exposure outdoors during the month of August. The next method involved sealing an infested item in a container with one of three solid fumigants: naphthalene (moth balls), para-dichlorobenzene (PDB moth balls), or dichlorvos (Vapona ). The final method involved anoxia test in which one of three inert gases, either nitrogen (N 2 ), carbon dioxide (CO 2 ), or argon (Ar) gases were used to displace the air in a sealed bag holding an infested item. 1. Introdução A Cryptotermis brevis é uma térmita extraordinária na sua capacidade única de atacar madeira extremamente seca. É igualmente extraordinária na capacidade de atacar uma grande variedade de tipos de madeira, o que nos leva a concluir como sendo a única espécie de térmitas que é facilmente encontrada em mobílias. Como tal, é muito fácil a sua dispersão aquando do transporte de mobílias infestadas de lugar para lugar, e esta é uma das principais razões pela qual esta térmita consegue ter uma distribuição tão ampla em áreas urbanas, em praticamente todo mundo. É muito provável que a sua introdução nos Açores tenha sido através de mobília infestada e que a dispersão contínua que se tem verificado de cidade para cidade seja devido a essa razão. Ou seja, o tratamento de mobílias é uma componente importante de um programa integrado para lidar com o controle e contenção desta espécie de térmita. O objectivo deste trabalho é apresentar os resultados obtidos de três tipos de experiências para tratamento de mobílias infestadas com Cryptotermis brevis. 2. Tratamento com calor (luz solar) 2.1. Métodos Pesquisas anteriormente realizadas de estudos sobre a tolerância ao calor por parte da Cryptotermes brevis foram conduzidas a fim de determinar tempos de calor para controlar estruturas infestadas. A mortalidade total da C. brevis foi obtida seguindo-se tempos de exposição de 4 e 10 minutos a 50 C and 48ºC, respectivamente (Scheffrahn, Wheeler & Su, 1997). Com base nestes estudos e afim de encontrar um método simples que as pessoas pudessem elas próprias aplicar, foi realizado em laboratório uma experiência usando diferentes tipos de 64

madeira infestada com C. brevis, um simples saco de plástico preto e exposição à luz solar (Figs. 1, 2 e 3). Esta experiência decorreu durante o mês de Agosto. Pedaços de madeira infestados foram cortados com 15 cm de comprimento e marcados alternadamente com "A" para tratamento e "B" para os controles. Os sacos de plástico pretos foram entretanto cortados com o tamanho suficiente para conter 4 pedaços de madeira infestada e posteriormente selados com a pinça de selar eléctrica. De seguida os sacos de tratamento foram colocados na varanda do laboratório expostos à luz solar. Foram realizadas 4 réplicas para cada um de quatro tempos diferentes de exposição (1, 2, 3 e 4 semanas), num total de 16 sacos de plástico com madeira infestada. Dezasseis outros sacos de plástico, igualmente com madeira infestada, serviram de controle e foram montados de igual modo e colocados dentro do laboratório num local à sombra e afastado das janelas. Figura 1. Montagem dos sacos de plástico. Figura 2. Sacos de plástico selados.. Figura 3. Sacos de plástico expostos à luz solar e fixos com blocos para evitar o impacto do vento. 65

2.2. Resultados e Conclusões A Figura 4 mostra os resultados do desmantelamento dos sacos de plástico com tratamento com calor (luz solar) e os respectivos controles. Como pudemos observar, no tratamento com calor a mortalidade foi de 30% na primeira semana não havendo diferença em relação ao controle. Na segunda e restantes semanas a mortalidade foi de 100% nos sacos expostos ao sol e 40% ou menos para os do controle. A mortalidade no controle tem a ver com o processo de desmantelamento. Concluímos que este método pode ser viável para o tratamento de mobílias infestadas e que pode ser feito por qualquer pessoa utilizando materiais simples e sem o uso de pesticidas químicos. Contudo, é importante continuar com mais investigações neste campo para ver se este tipo de experiência resultaria durante os outros meses de Verão e usando peças de mobília. Em futuras experiências seria também desejável usar um registador de temperatura para determinar as temperaturas dentro dos sacos de plástico. 1.2 1 0.8 Mortalidade 0.6 0.4 Trat. Control 0.2 0 1ª 2ª 3ª 4ª Semanas Figura 4. Percentagem de mortalidade observada nos sacos de plástico expostos ao sol e nos de controle. 66

3. Método envolvendo fumigantes sólidos 3.1. Métodos A experiência seguinte consistiu em colocar numa caixa de Petri um filtro de papel com dez térmitas, dentro de caixas de plástico (capacidade de 0.5 ou 30 litros) com (ca. 10 gramas) de um dos três fumigantes sólidos: naftalina; para-dichlorobenzene ou Vapona. Foram feitas três réplicas para cada tratamento e controle. Nos recipientes de plástico de 0.5 L as experiências foram observadas de hora em hora e para os recipientes de 30 L, foram feitas observações diárias. Nesta experiência o objectivo era determinar o tempo letal para matar 100% das térmitas (LT 100 ). Os materiais usadas nesta experiência foram 12 caixas de plástico, 12 caixas de Petri, papel de filtro e térmitas. Foi colocado uma bola de naftalina numa caixa de plástico (Fig. 5) juntamente com a caixa de Petri, o papel de filtro e 10 térmitas. O mesmo foi feito para o paradiclorobenzeno, mas neste caso foram usadas 2 bolas em cada caixa e o mesmo se sucedeu com o fumigante sólido Vapona em que se usou uma tira. Foram realizadas três réplicas para cada um dos tratamentos. Figura 5. Experiência com para-diclorobenzeno em recipiente de 30 L. 3.1. Resultados e conclusões Nos recipientes de 0.5 L o LT 100 foi de 9, 7 e 2 horas para a naftalina, para-diclorobenzeno e Vapona (dichlorvos), respectivamente. Nos recipientes de 30 L o LT 100 foi de 8, 2 e 1 dia para a naftalina, para-diclorobenzeno e Vapona (dichlorvos), respectivamente. Como cautela estes materiais deverão ser usados apenas em recipientes fechados, ou dentro de sacos de plástico 67

fechados a fim de evitar a inalação. Serão necessários futuros testes práticos em laboratório para determinar a eficácia deste método sobre as térmitas que se encontram dentro das suas galerias em madeira infestada. 4. Método das Bolhas de Gás 4.1. Métodos A fumigação é um importante meio de controle para madeira infestada com térmitas ou caruncho. Térmitas de madeira seca como a Cryptotermes brevis são o alvo principal de fumigações na América do Norte e Havai. Um breve estudo com C. brevis sugeriu que esta térmita de madeira seca é susceptível à fumigação por dióxido de carbono (Delate, Grace, Armstrong & Tome, 1995). Baseado em vários estudos e tendo o conhecimento de uma empresa sedeada em Portugal Continental e que realiza fumigação em diferentes espécies de insectos que atacam celulose, foi realizado uma experiência usando o mesmo método usado por essa empresa, mas em térmitas. A empresa PAESMAMED foi contactada para vir ao Departamento de Ciências Agrárias para nos ajudar a realizar uma experiência usando madeira infestada com C. brevis. Este método envolveu testes com anóxia no qual um de três tipos de gases, azoto, dióxido de carbono ou árgon foi usado para substituir o ar existente numa bolha de plástico selada contendo uma peça de madeira ou mobília infestada por térmitas. Figura 6. Sequência de montagem de uma Bolha de Gás : a) cortando a madeira infestada; b) colocando fita-cola nas extremidades, c, d) selando e cortando as extremidades do plástico; e) reforço com fita cola; f) aplicando silicone; g) assegurando que o passa-painés está bem colocado; h) bolha pronta a ser usada; i) colocando os peças de madeira dentro da bolha; j) selando a bolha com a pinça; k, l) adaptação das válvulas nos passa-painés; m) medidor de humidade e pressão; n) registador de gases; o) enchendo a bolha com gás; p) bolha com dióxido de carbono; q) bolhas dispostas numa prateleira; r) bolhas sem gás; s) bolha com uma cadeira e uma gaveta. 68

a b c d e f g h i j k l m n o p q r s 63

Começamos por cortar peças de madeira infestada (Fig. 6a) identificando-os com a letra A para tratamento e B para o controle. As extremidades das peças foram cobertas com fita-cola para evitar a entrada fácil do gás (Fig. 6b). Depois de cortar o plástico com o tamanho das peças a tratar, selou-se os lados usando uma pinça de selar eléctrica deixando apenas uma abertura de um lado (Figs. 6c e 6d). O plástico usado é chamado de poliskin. É feito a partir de outros tipos de plástico e é específico para receber este tipo de gases. Foi feito um reforço com fita-cola (Fig. 6e) em duas extremidades da bolha e de seguida, nesse mesmo reforço foi cortado um buraco com o tamanho do passa-painés. Após colocar o passapainés através do buraco, foi selado com silicone (Figs. 6f e 6g) afim de evitar qualquer fuga de gás. Depois da bolha estar pronta (Fig. 6h) colocamos dentro da mesma, a madeira infestada juntamente com a caixa de Petri com o papel de filtro e 10 térmitas. Depois de colocar as peças de madeira juntamente com a caixa de Petri com térmitas, a bolha foi selada com a pinça de selar eléctrica (Figs. 6i e 6j). As figuras 6k e 6l mostram o adaptar das válvulas nos passa-painés preparados previamente. A partir desta altura a bolha está pronta para receber o gás. Para esta experiência usámos 3 gases: dióxido de carbono, azoto e árgon. Enchemos três bolhas com cada gás. Foi ligado à garrafa de gás um medidor que regulava a humidade a pressão (Fig. 6m). À medida que o gás fluía para dentro da bolha, o registador de gás mostrado na figura 6n permitia-nos ver o decréscimo da concentração de oxigénio dentro da bolha e o aumento do gás utilizado. Uma vez que a concentração de oxigénio dentro da bolha atingiu 0,05% e a concentração do gás usado 99,95%, fecharam-se as duas válvulas, deixando as bolhas totalmente cheias de gás como mostram as figuras 6o e 6p. Quando as três bolhas para cada tratamento estavam cheias com o respectivo gás, foram ligadas entre si por meio de tubos plásticos adaptados às válvulas e colocados numa prateleira dentro do laboratório (Fig. 6q). As bolhas estando ligadas umas às outras permitiam uma maior eficácia no caso de ser necessário fazer fluir mais gás para dentro das bolhas. Foram feitas três réplicas para cada tipo de gás. Uma bolha de cada tipo de gás foi desmantelada ao fim de uma semana, a segunda ao fim de duas semanas e a terceira ao fim de três semanas. Atingido o limite requerido para cada gás, abriram-se as válvulas a fim de permitir a saída de todo o gás cortando a bolha apenas numa das extremidades (Fig. 6r). Após o tratamento cada peça de madeira foi cuidadosamente partida com um martelo e escopro e com a ajuda de uma pinça foram retiradas todas as térmitas encontradas vivas ou mortas. Usando o mesmo procedimento mas apenas usando o dióxido de carbono, foi feito a mesma experiência mas usando neste caso duas peças de mobília infestada, uma cadeira e uma gaveta (Fig. 6s). 63

4.2. Resultados e conclusões Os resultados obtidos a partir destas experiências foram uma mortalidade total em todas as bolhas, para os três tipos de gases logo na primeira semana. As réplicas desmanteladas ao fim da segunda e terceira semana também mostraram uma mortalidade de 100%. Podemos assim concluir que este método poderá ser um importante meio para resolver os problemas relacionados com mobílias infestadas com térmitas. Possui vários aspectos positivos: - Pode ser efectuado em qualquer altura do ano; - As pessoas não necessitam de deslocarem as mobílias infestadas das suas casas, o que é muito importante visto que previne a dispersão dos alados e a consequente colonização das térmitas em novos espaços; - As condições em que são usados os gases inertes permitem não ser tóxico para as pessoas; - Como estes gases não são tóxicos não necessitam de ter um registo governamental como acontece com os pesticidas; - As térmitas são mortas logo após uma semana, o que é relativamente curto em comparação ao tempo que é necessário para matar certas espécies de larvas de caruncho que levam cerca de um mês e, - Deverão ser feitas experiências para determinar a possibilidade mortalidade das térmitas em períodos de tempo ainda mais curtos. Embora tenhamos usado três tipos de gases para testar a eficácia de cada um, os resultados mostraram que todos foram latamente eficazes. Outro aspecto positivo desta metodologia é que o método é bastante eficaz com o gás mais barato, ou seja, o dióxido de carbono. Um factor importante é que a empresa que pode realizar este tipo de método, é portuguesa. Contudo, neste momento não há nenhuma empresa local que possa fazer este tipo de teste com bolhas com anóxia. Consequentemente haveria a necessidade de recorrer a uma empresa em Portugal Continental para realizar este trabalho. No entanto, através de subcontratação estes tratamentos poderão ser mais económicos. Neste momento este método que é usado em Portugal Continental em algumas espécies custa cerca de 170 euros por metro cúbico. Existe nos Açores uma grande quantidade de mobílias antigas e artefactos históricos em madeira e espera-se que este tipo de método com anóxia não tóxico, possa de alguma forma preservar estes aspectos da nossa cultura do impacto destrutivo das térmitas. 64

5. Agradecimentos - Empresa PAESMAMEDE pela cedência de materiais e ajuda nas experiências efectuadas com a colaboração do técnico Duarte Moura. - Sr. Pedro Leal pela sua disponibilidade em ceder madeiras e alguns móveis infestados por térmitas. 6. Referências Scheffrahn, R. H., G. S. Wheeler & N-Y. Su. 1997. Heat tolerance of structure-infesting drywood termites (Isoptera: Kalotermitidae) of Florida. Sociobiology, 29: 237-245 Delate, K. M., J. K. Grace, J. W. Armstrong & C. H. M. Tome. 1995. Carbon dioxide as a potential fumigant for termite control. Pesticide Science, 44: 357-361 65