Epidemiologia das lesões na mucosa oral encontradas na clínica da Funorte

Documentos relacionados
Prevalência de lesões bucais diagnosticadas pelo laboratório de patologia bucal da Faculdade de Odontologia da Funorte no período de 2005 a 2008

Artigo Original TUMORES DO PALATO DURO: ANÁLISE DE 130 CASOS HARD PALATE TUMORS: ANALISYS OF 130 CASES ANTONIO AZOUBEL ANTUNES 2

LESÕES ORAIS DIAGNOSTICADAS NA CLÍNICA DE ESTOMATOLOGIA DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS/UNIMONTES

Lesões e Condições Pré-neoplásicas da Cavidade Oral

CÂNCER ORAL E OS DESAFIOS DO DIAGNÓSTICO PRECOCE: REVISÃO DE LITERATURA.

RESUMO ABSTRACT 2. MATERIAL E MÉTODOS 1. INTRODUÇÃO

Prevalence of oral lesions diagnosed at the ULBRA Canoas of Dental Diagnosis Service

Inclusão do Cirurgião Dentista na Equipe Multiprofissional no Tratamento de Pacientes de Álcool e Drogas

AVALIAÇÃO DO AUTOCONHECIMENTO SOBRE O CÂNCER DE BOCA DOS IDOSOS NO MUNICÍPIO DE QUIXADÁ: PROJETO DE PESQUISA

ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO DE BIÓPSIAS REALIZADAS EM UMA CLÍNICA ODONTOLÓGICA UNIVERSITÁRIA NO PERÍODO ENTRE 2011 E 2018

LEVANTAMENTO EPIDEMIOLÓGICO DOS DIAGNÓSTICOS HISTOPATOLÓGICOS DE UM CENTRO DE REFERÊNCIA EM PATOLOGIA BUCOMAXILOFACIAL EM UM PERÍODO DE 10 ANOS

PREVALÊNCIA DE LESÕES ORAIS EM ESCOLARES DO SUDOESTE DA BAHIA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CIRURGIA DE CABEÇA E PESCOÇO LESÕES CANCERIZÁVEIS DA BOCA

PERFIL DO PACIENTE ATENDIDO NO PROJETO DE EXTENSÃO:

GUSTAVO LUIZ OLIVEIRA RAFAEL PIECZYKOLAN CORDEIRO

FACULDADES INTEGRADAS DE PATOS VI JORNADA ACADÊMICA DE ODONTOLOGIA (JOAO) PAINEIS ÁREA 1: DENTÍSTICA, PRÓTESE DENTÁRIA E DISFUNÇÃO TEMPORO-MANDIBULAR

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JÚLIO DE MESQUITA FILHO CÂMPUS DE ARAÇATUBA - FACULDADE DE ODONTOLOGIA CURSO DE GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA

CISTO DO DUCTO NASOPALATINO: RELATO DE CASO

DIAGNÓSTICO CLÍNICO E HISTOPATOLÓGICO DE NEOPLASMAS CUTÂNEOS EM CÃES E GATOS ATENDIDOS NA ROTINA CLÍNICA DO HOSPITAL VETERINÁRIO DA UNIVIÇOSA 1

VIGILÂNCIA EM SAÚDE BUCAL AÇÃO COMUNITÁRIA DE PREVENÇÃO E DIAGNÓSTICO PRECOCE DO CÂNCER BUCAL

Levantamento epidemiológico das lesões bucais nos pacientes atendidos nas clínicas da Faculdade de Odontologia da Universidade de Passo Fundo

Faculdade Independente do Nordeste Credenciada pela Portaria MEC 1.393, de 04/07/2001 publicada no D.O.U. de 09/07/2001.

Estilo de vida e fatores de risco para lesões bucais em pacientes atendidos em um ambulatório público.

Concordância entre diagnóstico clínico e histopatológico de lesões bucais

CARACTERIZAÇAO SOCIODEMOGRÁFICA DE IDOSOS COM NEOPLASIA DE PULMAO EM UM HOSPITAL DE REFERENCIA EM ONCOLOGIA DO CEARA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS FACULDADE DE ODONTOLOGIA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

Título do Trabalho Apresentador Instituição

Características epidemiológicas de pacientes portadores de neoplasias de cabeça e pescoço submetidos à radioterapia em Juiz de Fora MG.

PERFIL EPIDEMIOLÓGICO E CLÍNICO DE PACIENTES ONCOLÓGICOS, CABEÇA E PESCOÇO, NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE NO PERÍODO DE 2005 A 2015.

TÍTULO: PERFIL SÓCIO-DEMOGRÁFICO DOS PACIENTES COM CÂNCER DE BOCA ATENDIDOS NO HOSPITAL DE CÂNCER DE MATO GROSSO (HCMT)

Rio de Janeiro, Brasil

Análise retrospectiva das lesões da região bucomaxilofacial do serviço de anatomia patológica bucal Odontologia / UFES

Levantamento Epidemiológico das Doenças de Boca: Casuística de Dez Anos

Atendimento odontológico aos idosos no centro de saúde Waldomiro lobo. Lázaro Cassiano Pereira Filho Turma 3

ESTUDO DE CASO CLÍNICO

A IMPORTÂNCIA DO CIRURGIÃO-DENTISTA NA PREVENÇÃO E DIAGNÓSTICO PRECOCE DO CÂNCER DE BOCA

Estudo retrospectivo sobre as lesões bucais na população atendida em um Centro de Especialidades Odontológicas

ESTUDO DE CASO CLÍNICO

Levantamento retrospectivo dos resultados dos exames anatomopatológicos da disciplina de cirurgia da FOUSP - SP

Levantamento epidemiológico dos casos de carcinoma epidermóide da cavidade bucal registrados no serviço de ARTIGO CIENTÍFICO

Alterações bucais na terceira idade: uma realidade clínica do futuro cirurgião-dentista breves considerações1

ENUCLEAÇÃO DE CISTO RADICULAR MAXILAR DE GRANDE EXTENSÃO: RELATO DE CASO

ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO DOS TRAUMATISMOS BUCOMAXILOFACIAIS NA REGIÃO METROPOLITANA DE MARINGÁ-PR ENTRE OS ANOS DE 1997 E 2003

No periodonto, os crescimentos teciduais são relativamente

UNIVERSIDADE PAULISTA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE ODONTOLOGIA BÁRBARA TUANE DE AZEVEDO LIMA

QUEILITE ACTÍNICA: prevalência na clínica estomatológica da PUCPR, Curitiba, Brasil

FLÁVIA SIROTHEAU CORRÊA PONTES*, HELDER ANTÔNIO REBELO PONTES*, CRISTIANE GUEDES FEITOSA**, NATHÁLIA RIBEIRO CUNHA**, LARISSA HABER JEHA** INTRODUÇÃO

Assessoria ao Cirurgião Dentista papaizassociados.com.br. Publicação mensal interna da Papaiz edição XIII Novembro de 2015

Melanoma maligno cutâneo primário: estudo retrospectivo de 1963 a 1997 no Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo

MORTALIDADE POR DE CÂNCER DE MAMA NO ESTADO DA PARAÍBA ENTRE 2006 E 2011

Estudo epidemiológico do carcinoma epidermóide de boca no estado de Sergipe

Patologia Buco Dental Prof. Dr. Renato Rossi Jr.

OCORRÊNCIA DE TRAUMA NA REGIÃO BUCOMAXILOFACIAL NO INSTITUTO MÉDICO LEGAL DE PELOTAS/RS UM ESTUDO RETROSPECTIVO

Caso Clínico. Paciente do sexo masculino, 41 anos. Clínica: Dor em FID e região lombar direita. HPP: Nefrolitíase. Solicitado TC de abdome.

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA "JÚLIO DE MESQUITA FILHO - Unesp Campus de Araçatuba CENTRO DE ONCOLOGIA BUCAL AULA DE ONCOLOGIA

Universidade Federal do Ceará Módulo em Cirurgia de Cabeça e Pescoço. Tumores das Glândulas Salivares. Ubiranei Oliveira Silva

Nevo/nevus pigmentado (Nevo/nevus melanocítico):

PREVALÊNCIA DAS LESÕES BUCAIS EM AÇÕES COMUNITÁRIAS ODONTOLÓGICAS

Levantamento Epidemiológico do Câncer Bucal: casuística de 30 anos Epidemiological Profile of Oral Cancer: casuistry of 30 years

Cisto Dentígero: Relação entre Imagem Radiográfica do Espaço Pericoronário e Laudo Histopatológico em Terceiros Molares Inclusos

EFEITOS COLATERAIS BUCAIS DA RADIOTERAPIA NAS REGIÕES DE CABEÇA E PESCOÇO E A ATUAÇÃO DO CIRURGIÃO-DENTISTA: REVISÃO DE LITERATURA

Estudo Clínico-Patológico de Odontomas Diagnosticados no Laboratório de Patologia Bucal da Faculdade de Odontologia de Pernambuco-FOP

Sala 02 TEMA LIVRE Odontologia Social e Preventiva e Saúde Coletiva

PROJETO DE LEI DO SENADO Nº, DE 2009

PREVALÊNCIA DE LESÕES BUCAIS EM CRIANÇAS DE 6 A 12 ANOS

CONHECIMENTO DE INDIVÍDUOS ACIMA DE 50 ANOS SOBRE FATORES DE RISCO DO CÂNCER BUCAL

DISTRIBUIÇÃO, CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E EPIDEMIOLÓGICAS DO CÂNCER BUCAL NO ESTADO DA BAHIA,

REDE CREDENCIADA ATHUS BRASIL TABELA ODONTOLÓGICA - V

Hemangioma cavernoso:

TÍTULO AUTORES: INSTITUIÇÃO ÁREA TEMÁTICA OBJETIVOS Objetivo Geral: Objetivos Específicos:

Protocolo de encaminhamento para estomatologia adulto

Análise de hábitos nocivos à saúde entre pacientes com lesões bucais

TÍTULO: CONHECIMENTO DE GRADUANDOS EM ODONTOLOGIA SOBRE O CÂNCER BUCAL.

Os autores analisaram 450 ortopantomografias (radiografias panorâmicas), onde foram observados um total de

PLANO DE CURSO. Faculdade Independente do Nordeste Credenciada pela Portaria MEC 1.393, de 04/07/2001 publicada no D.O.U. de 09/07/2001.

ESTUDO RETROSPECTIVO DE NEOPLASMAS FELINOS DIAGNOSTICADOS DURANTE O PERÍODO DE 1980 A INTRODUÇÃO

CÂNCER DE BOCA E OROFARINGE

DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DE MUCOCELE LABIAL: RELATO DE CASO

Assessoria ao Cirurgião Dentista Publicação mensal interna da Papaiz edição XXVII Setembro de 2017

AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO DOS CIRURGIÕES-DENTISTAS SOBRE CÂNCER BUCAL

P L A N O D E E N S I N O

GRANULOMA PIOGÊNICO ORAL: UM ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO EM NITERÓI, RJ

Câncer de boca: Avaliação do autoconhecimento de pacientes da atenção primária à saúde. RESUMO

RELATO DE CASO CLÍNICO DE HIPERPLASIA FIBROSA INFLAMATÓRIA

Anais do 38º CBA, p.1751

ESTUDO DE CASO CLÍNICO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA DEPARTAMENTO DE ODONTOLOGIA PROGRAMA DE ENSINO

DISSERTAÇÃO DE INVESTIGAÇÃO

AUTOPERCEPÇÃO EM SAÚDE BUCAL DE IDOSOS EM USF DO DISTRITO SANITÁRIO III

42º Congresso Bras. de Medicina Veterinária e 1º Congresso Sul-Brasileiro da ANCLIVEPA - 31/10 a 02/11 de Curitiba - PR

EFEITOS BIOLÓGICOS DA RADIOTERAPIA NO TRATAMENTO DO CÂNCER DE CABEÇA E PESCOÇO.

PREVALÊNCIA DAS LESÕES BUCAIS DIAGNOSTICADAS NOS PESCADORES DA COLÔNIA DE PESCADORES DO BAIRRO DA BARRA DE BALNEÁRIO CAMBORIÚ (SC)

Revista da Graduação

Correlação entre a classificação TNM, gradação histológica e localização anatômica em carcinoma epidermóide oral

TÍTULO: REMOÇÃO DE ODONTOMA COMPOSTO E COMPLEXO, RELATO DE CASO CLÍNICO.

FREQUÊNCIA DE NEOPLASIA EM CÃES NA CIDADE DO RECIFE NO ANO DE 2008.

Estudo retrospectivo de melanomas cutâneos e mucosos na população do estado do Rio Grande do Norte, Brasil

&CONDIÇÕES DE HIGIENE BUCAL E HÁBITOS

Transcrição:

Epidemiologia das lesões na mucosa oral encontradas na clínica da Funorte Epidemiology of oral mucosa injuries in found in clinic Funorte Danianne Santos Dantas COSTA I Sabrina Ariely CAMPOS II Francielle Vieira de SOUZA III Correspondência para/correspondence to: Francielle Vieira de SOUZA francy.fisio@hotmail.com RESUMO Os levantamentos epidemiológicos são importantes para o conhecimento da prevalência e tipologia das doenças de uma determinada população, contribuindo para que o cirurgião dentista se torne mais apto a desenvolver métodos preventivos de saúde. Esse estudo teve como objetivo realizar um levantamento epidemiológico, das lesões bucais mais prevalentes em uma população atendidas em um setor Odontológico. O estudo apresentou caráter retrospectivo, descritivo, documental e quantitativo. Foram analisados 300 prontuários de pacientes atendidos na clínica de diagnóstico bucal da Funorte, para verificar a prevalência de cada lesão e a frequência em relação às variáveis de interesse: gênero, idade, raça, procedência, profissão, escolaridade, higiene bucal, hábitos parafuncionais, região anatômica acometida e lesões diagnosticadas. A lesão mais frequente foi a hiperplasia fibrosa inflamatória e a área anatômica mais acometida foi a mucosa lábio inferior, com predomínio do gênero feminino e idade média de 46 anos. Palavras-chave: Epidemiologia. Lesões na mucosa oral. Patologia. Diagnóstico. ABSTRACT Epidemiological surveys are important for understanding the prevalence and types of illnesses in a given population, contributing to the dentist becomes more apt to develop preventive health methods. This study aimed to carry out an epidemiological survey, the most prevalent oral lesions in a population treated at a Dental industry. The study presented retrospective, descriptive, documentary and quantitativo.foram analyzed 300 medical records of patients seen in the clinic of oral diagnosis of Funorte to verify the prevalence of each injury and the frequency with respect to the variables of interest: gender, age, race, origin, profession, education, oral hygiene, parafunctional habits, affected anatomical region and diagnosed lesions. The most frequent injury was inflammatory fibrous hyperplasia and the most affected anatomical area was the lower lip mucosa, predominantly female and average age of 46 years. Keywords: Epidemiology. Lesions in the oral mucosa. Pathology. Diagnosis. I Acadêmica Odontologia. Faculdades Unidas do Norte de Minas. Departamento de odontologia. II Acadêmica Odontologia. Faculdades Unidas do Norte de Minas. Departamento de odontologia. III Professora Mestre Faculdades Unidas do Norte de Minas e Professora Mestre Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros. Departamento de Odontologia, Fisioterapia e Educação Física. 27

INTRODUÇÃO Algumas anormalidades encontradas na mucosa oral, podem ter características indispensáveis para descobrir determinadas patologias. Fatores sistêmicos ou locais, como o trauma, podem ser responsáveis por tais alterações 1. Anatomicamente as regiões mais afetadas são os lábios, assoalho bucal, rebordo alveolar,língua, palato, região tonsilar e faringe posterior. 2 Algumas lesões como a leucoplasia, eritroplasia, queilite actínica apresentam risco maior de transformação maligna comparada ao tecido normal são chamadas lesões cancerizáveis 3 e exigem uma maior atenção uma vez que a incidência do câncer de boca no Brasil e a taxa de mortalidade causada por essa patologia vêm aumentando de forma significativa. A estimativa para o ano 2014 é de 11.280 novos casos de câncer da cavidade oral em homens e 4.010 em mulheres. 4 Em alguns casos de caráter maligno, não se obtém sucesso em relação à cura do paciente, por diagnosticar a doença tardiamente. Isso acontece, sobremaneira, por negligência do profissional, que deixa passar despercebidas as alterações encontradas na mucosa oral, muitas vezes por falta de conhecimento. 3 Dessa forma, investigações epidemiológicas auxiliam para estimular estudos aprofundados sobre tais lesões. Os levantamentos epidemiológicos são importantes para o conhecimento da prevalência e tipologia das doenças de uma determinada população, não restringindo apenas à causa da doença, mas também fatores que a provocam. Dessa forma, o cirurgião dentista se torna mais apto a desenvolver métodos preventivos de saúde, o que consequentemente diminui a incidência de determinadas doenças. 5-7 Alguns estudos epidemiológicos abordam as lesões na mucosa oral mais prevalentes, apresentando dados como diferenças de gêneros, faixa etária, hábitos parafuncionais, condições socioeconômicas, regionais, culturais e climáticas e que podem interferir na manifestação dessas enfermidades. 8 Em um artigo publicado no ano de 2008, a lesão na mucosa oral mais frequente encontrada na clínica de Odontologia da Funorte no período de 2005 a 2008, foi a Hiperplasia fibrosa.¹ Além da Hiperplasia fibrosa, também encontrada em outros estudos epidemiológicos como sendo a lesão mais frequente, destáca-se também a candidose, fibroma, mucocele, ulceras traumáticas, hemangioma e cisto periapicais. 9-11 Tendo como base essas informações, é de suma importância pesquisar diversas regiões, para que a partir desses levantamentos, sejam tomadas as decisões no que dizem respeito a uma população específica. 12 Diante do exposto, esse estudo teve como objetivo realizar um levantamento epidemiológico das lesões na mucosa oral em uma população atendida na Clínica escola de Odontologia da Faculdade Funorte, com o intuito de contribuir com a prevenção e o diagnóstico precoce das patologias bucais. MATERIAIS E MÉTODOS Trata-se de um estudo descritivo, documental e retrospectivo. Foram analisados 300 prontuários no período de 2009 a 2014, da clínica de Odontologia da Funorte. Os prontuários que não estavam completamente preenchidos e/ou sem diagnóstico final foram excluídos da pesquisa. Foram selecionadas nas fichas clínicas dos pacientes, as variáveis gênero, idade, raça, procedência, profissão, escolaridade, higiene bucal, hábitos parafuncionais, região anatômica acometida e diagnóstica. Foram realizadas análises descritivas utilizando o software SPSS 18.0. O presente trabalho foi submetido ao comitê de Ética de Pesquisa da Funorte, e aprovado sob o parecer de número 804.952. RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram avaliados 300 prontuários de pacientes atendidos na clínica de diagnóstico bucal da Faculdade unida do Norte de Minas Funorte. Encontrou-se um número maior de pacientes na faixa etária entre 30 e 39 anos e entre 70 e 79 anos, sendo que a idade média desses pacientes foi de 46 anos (GRÁFICO 1). 28

O nível de escolaridade dos pacientes era baixo, sendo que 207 (69%) não haviam concluído o ensino médio. Gráfico 1 Faixa etária dos pacientes Em relação ao gênero, 166 (55,33%) era do sexo feminino e 134 (44,67%) do sexo masculino, uma mudança comparada aos anos de 2005 a 2008, em que o sexo masculino foi predominante em uma pesquisa realizada nessa mesma instituição. Dos 325 prontuários avaliados, 188 eram do sexo masculino e 137 do sexo feminino. 3 Outro estudo corrobora com o presente estudo, em que o sexo feminino foi o mais acometido por lesões na mucosa oral. 13 Observou-se durante esse estudo, um número maior de pacientes leucoderma, com 155 portadores (51,66%), seguidos por 87(29%) faioderma e 55(18,34%) melanoderma. Nenhuma raça xantoderma foi encontrada. Quanto à procedência desses pacientes, 272(90,66%) eram da cidade de Montes Claros e 28(9,44%) eram de outros municípios da região, como Bocaiúva, Varzelândia, São Francisco, Gameleira, Salinas, Mirabela, Olhos d água, Janaúba, São João da Ponte e Coronel Murta. tinham higiene satisfatória e 133 (44,34%) não. Poucos hábitos parafuncionais foram encontrados, em que 17% foi o de mordiscar a mucosa, tanto labial quanto jugal e desses pacientes, 84% apresentavam-se com mucocele. Essa é uma lesão muito comum da mucosa oral, e ocorre quando há uma ruptura de um ducto de glândula salivar, derramando mucina para o interior dos tecidos moles, que muitas vezes ocorre devido um trauma local, o que explica a relação do hábito de mordiscar com essa patologia. 14 Dos 300 pacientes estudados, 26 (8,66%) eram só fumantes, 6 (2%) eram etilistas e 16 (5,33%) possuíam os dois vícios. Desses 48, 31 (64,58%) foram diagnosticados com câncer bucal (Carcinoma de Células escamosas). A causa do câncer bucal é multifatorial. Tanto fatores extrínsecos, como fumo, álcool, sífilis, raios solares sem proteção,quanto os intrínsecos, como por exemplo alterações em genes reguladores, podem ser fatores para produzir a malignidade. 14 Em relação à localização das lesões, as cinco regiões anatômicas mais frequentes foram: mucosa do lábio inferior, mucosa jugal, gengiva, língua, palato duro, rebordo alveolar, ápice radicular, assoalho bucal, comissura labial, mandíbula, palato mole, fundo de sulco e outros. A quantidade e porcentagem dessas lesões são mostradas na tabela a seguir (TABELA 1). Tabela 1 Prevalência das lesões diagnosticadas nos pacientes avaliados de acordo com sua localização. Em relação à profissão, 65% do sexo feminino era dona de casa, e a 47% do sexo masculino encontrava-se desempregado. Algumas profissões influenciavam no aparecimento de determinadas lesões, como por exemplo, pacientes trabalhadores rurais (agricultores, lavradores), 38% desses foram diagnosticados com lesões que tem como um fator predisponente, a exposição solar sem proteção adequada. É o caso da queilite actínica, em que todos (100%) eram trabalhadores rurais. Em relação à higiene bucal dos pacientes, 167 (55,66%) 29

Comparando a outros estudos, esses dados não são uniformes. Alguns sítios como mucosa jugal, palato, mucosa labial, língua, mucosa do rebordo alveolar, foram 5, 6,11 os mais encontrados. Em artigo publicado pela Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes, no ano de 2010, foi relatado que as lesões encontradas foram mais frequentes na mucosa jugal, gengiva e lábios. Foram avaliados 200 prontuários clínicos de pacientes diagnosticados, aferindo a concordância entre o diagnóstico clínico e o histopatológico. Houve um predomínio de indivíduos com idade entre 31 e 60 anos. 8 São necessários alguns fatores para se obter um diagnóstico final, dentre eles, conhecimento clínico da lesão, exames complementares quando necessário, como os procedimentos imaginológicos em geral (periapicais, oclusais, panorâmicas e tomografias computadorizadas), exames histopatológicos, incluindo de biópsias. Dos prontuários pesquisados, 244 pacientes se submeteram a biópsia. Das biopsias realizadas 183 (75%) foram excisionais e 61 (25%) incisionais. Quanto à natureza das lesões, 244(79,67%) eram benignas, prevalecendo as decorrentes de traumas e processos reacionais, 61(25%) eram lesões malignas ou com predisposição a malignidade. Em relação às neoplasias malignas, após o diagnóstico, confirmado por meio do exame histopatológico, o paciente foi encaminhado para o oncologista. A lesão mais frequente foi a Hiperplasia fibrosa inflamatória, totalizando 63 (21%) casos. A hiperplasia fibrosa inflamatória é um crescimento tecidual reacional, seu desenvolvimento ocorre devido amá adaptação de uma prótese dentária e/ou má higienização da prótese e/ ou até mesmo o uso diário de 24 horas sem a sua remoção. É uma lesão assintomática e seu tratamentoexige uma excisão cirúrgica, e após a remoção desse tecido, esse é encaminhado para laboratório histopatológico onde se realiza exame através de uma biópsia excisional.10 Dos pacientes estudados 64 (21,33%) usavam prótese dentária total ou parcial, e desse número 59 (92,18%) apresentaram hiperplasia fibrosa inflamatória. Funorte, a lesão de maior ocorrência foi a Hiperplasia Fibrosa Inflamatória (17,85%), o que foi mantido neste levantamento. A Leucoplasia foi à segunda lesão mais encontrada 7, o que difere do estudo atual, em que a segunda lesão foi a mucocele, no total de 33 (11%) casos. A hiperplasia Fibrosa, também tem sido considerada a lesão de maior acometimento em outros trabalhos já publicados 7, como demonstra as pesquisas realizadas na Universidade de Tiradentes entre os anos de 2002 a 2010 e na clínica de Estomatologia da Universidade Paulista (UNIP). 5,6 Contrapondo os achados citados acima, em Uberaba- MG, a lesão de maior prevalência foi a Gengivite, seguida de Candidose. Isso devido aos hábitos de higiene do paciente. A maioria dos casos ocorreu em pacientes idosos, o que poderia ser justificado pela idade, pois com o passar dos anos os idosos tendem a ficarem menos cuidadosos com sua higiene bucal e outros fatores como o uso de tratamentos e restaurações antigas e inadequadas. 11 A candidose também foi citada como a de maior prevalência na cidade de Tubarão SC. Foram 18 casos de candidose bucal (14,3%), 16(12,6%) de hiperplasia fibrosa inflamatória, 12(9,5%) de mucocele e sete (5,5%) de fibroma 13. Em relação a esse estudo, a candidose foi a terceira lesão mais frequente, sendo um total de24 (8%) casos. Tabela 2 Prevalência das lesões diagnosticadas nos pacientes avaliados. Entre 2005 a 2008, na Clínica de Diagnóstico Bucal da 30

As lesões mais prevalentes encontradas no Laboratório de Patologia Bucal da Faculdade de Odontologia de Pernambuco, além da hiperplasia fibrosa inflamatória, foram mucocele, fibroma, processo inflamatório inespecífico, granuloma piogênico, cisto odontogênico, cisto radicular, ameloblastoma, folículo pericoronário, carcinoma de células escamosas, queratocisto. Foram avaliados 3.549 laudos presentes no livro de entrada e saída do Laboratório de Patologia Bucal FOP-UPE, por um período de 10 anos, entres os anos 1999 a 2009. 15 Jones e Franklin 16 (2006) analisaram a frequência de lesões orais diagnosticadas em um Laboratório de Patologia Oral e Maxilofacial no Reino Unido em um período de 30 anos em 44.000 diagnósticos em pacientes com idades acima de 17 anos de idade. Os autores observaram que as doenças da mucosa representaram 36% dos diagnósticos emitidos e, dentre estas doenças, as hiperplasias fibrosas inflamatórias eram as condições mais frequentes, representando 40,8% dos casos. malignas, o que aumenta ainda mais a importância do conhecimento do cirurgião dentista em relação às patologias que acometem a mucosa oral, propiciando ao paciente um diagnóstico seguro e precoce, aumentando a chance de um bom prognóstico. Os resultados do presente estudo nos permitiu um perfil apresentado pelos pacientes estudados, trazendo maior conhecimento na população pesquisada, e espera-se que possa possibilitar ações de saúde em benefício aos pacientes. Sem conflitos de interesse. Financiamento próprio. Bertoja et al. 11 (2007) realizaram um estudo retrospectivo das lesões bucomaxilofaciais diagnosticadas pelo Laboratório de Histopatologia da Faculdade de Odontologia do UnicenP/PR no período de 2003 a 2006, e observaram que as hiperplasias fibrosas inflamatórias e fibromas (51%), os cistos radiculares (5%) e os mucoceles (5%) foram as doenças mais comumente diagnosticadas. Simões et al. 17 (2007) realizaram um levantamento das principais lesões diagnosticadas no Laboratório de Patologia Oral da Universidade Federal de Pernambuco no período entre 1991 a 2007, observando que os processos proliferativos não neoplásicos representaram 33% dos diagnósticos emitidos e que as hiperplasias fibrosas inflamatórias representavam 73% deste total, estudos que corroboram os resultados deste trabalho. CONCLUSÃO A lesão na mucosa oral encontrada com maior frequência na Clínica de Diagnóstico Bucal da Faculdade Funorte, foi à hiperplasia fibrosa inflamatória, seguido de mucocele e candidose. Além dessas lesões benignas, foi considerado um número de pacientes diagnosticados com neoplasias 31

REFERÊNCIAS 1. Pereira TTM, Jardim ECG, Castilho KA, Paes GB, Barros RMG. Levantamento epidemiológico das doenças de boca: casuística de dez anos. Arch Health Invest. 2013; 2(3):15-20. 2. Oliveira LR, Silva AR, Zucoloto, S. Perfil da incidência e da sobrevida de pacientes com carcinoma epidermóide oral em uma população brasileira. J. Bras. Patol. Med. Lab. 2006;42(5):385-92. 3. Santos MMMC, Santos PSS, Souza RS, Marques MAC, Dib LL. Estudo retrospectivo das lesões bucais na clínica de estomatologia da Universidade Paulista (UNIP). J Health Sci Inst. 2013;31(3):248-53. 4. Instituto Nacional do Câncer INCA. Estimativa 2014: incidência do câncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA; 2014.p.41. [acesso 16 de Maio de 2014]. Disponível em http://www.inca.gov.br/estimativa/2014/estimativa-24042014.pdf 5. Aquino SN, Martelli DRB, Borges SP, Bonan PRF, Martelli Júnior H. Concordância entre diagnóstico clínico e histopatológico de lesões bucais. RGO - Rev Gaúcha Odontol. 2010; 58(3):345-49. 6. Cortês JA. Epidemiologia: conceitos e princípios fundamentais. São Paulo: Livraria Varela; 1993. p.41. 7. Verli FD, Marinho SA, Souza SC, Figueiredo MAZ, Yurgel LS. Perfil clínico- epidemiológico dos pacientes de Paraccodioidomicose no serviço de Estomatologia do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande Do Sul. Rev. Soc. Bras. Med. Trop. 2005; 38(3): 234-37. 8. Melo AR, Pires SMS, Ribeiro CF, Albuquerque Júnior RLC, Melo AUC. Prevalência de lesões bucais diagnosticada no laboratório de patologia bucal da Universidade Tiradentes (2002-2010). Rev. Cir. Traumatol. Buco-Maxilo-Fac. 2013;13(2):109-14. 9. Santos OS, Bonan PRF, Freitas DA, Moura AS, Moreira G. Prevalência das lesões bucais diagnosticadas pelo laboratório de patologia da Faculdade de Odontologia Funorte no período de 2005 a 2008. Unimontes Científica. 2011; 13(1/2): 30-6. 10. Silva TFA, Souza RB, Rochal RD, Araújo FAC, Morais HHA. Levantamento das biópsias realizadas no Serviçode Cirurgia Buco-Maxilo-Facial do curso de Odontologia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Rev. Cir. Traumatol. Buco-Maxilo-Fac. 2011; 11(2): 91-100. 11. Bertoja IC, Tomazini G, Braosi APR, Reis LFG, Giovanini AFR. Prevalência de lesões bucais diagnosticadas pelo laboratório de Histopatologia do UnicenP. RSBO. 2007; 4(2): 41-6. 12. Oliveira AGRC, Unfer B, Costa ICC, Arcieri RM, Guimarães LOC, Saliba NA. Levantamentos epidemiológicos em saúde bucal: análise da metodologia proposta pela Organização Mundial da Saúde. Rev. Bras. Epidemiol. 1998:1(2): p.177-89. 13. Kniest G, Stramandinoli RT, Ávila LFC, Izidoro ACAS. Frequência das lesões bucais diagnosticadas no centro de especialidades odontológicas de Tubarão (SC). RevSocBrasOdonto. 2011:8(1):13-18. 14. NEVILLE BW, DAMM DD, ALLEN CM, BOUQUOT JE. Patologia Oral & MaxiloFacial. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2004. 32

REFERÊNCIAS 15. Vaz DA, Valença DL, Lopes RBM, Silva AVC, Pereira JRD. Concordância entre os diagnósticos clínicos e histopatológicos do Laboratório de Patologia Bucal da Faculdade de Odontologia de Pernambuco. RPG Rev Pós Grad. 2011; 18(4):236-43. 16. Jones AV, Franklin CD. An analysis of oral and maxillofacial pathology found in adults over a 30-year period. J Oral Pathol Med. 2006; 35(7): 392-401. 17. Simões CA, Lins RC, Henriques ACG, Cazal C, Castro JFL. Prevalência das lesões diagnosticadas na região maxilofacial no laboratório de patologia oral da Universidade Federal de Pernambuco. Int J Dent. 2007; 6(2): 35-8. 33