Passa Passarinho Passarinho! Não passe voando... Abraça-me! Em cores Sua graça Que a vida passa Como rumores De breves asas Rumores de asas Não passa Passarinho Pelo meu mundo sozinho Deixa tuas asas Formarem um ninho De breve cor Breve carinho Que a vida são rumores de asas De dores. Logo passa Logo passa. Logo passa
A Caçadora Aranha Vejo do outro lado do túnel uma chama Os caminhos por onde ando são vacilantes meios pelos quais procuro chegar Com suas vozes inconstantes a vida me chama Fico parado no meio sem conseguir avançar Por certos os medos que construímos são teias de aranhas Prontas no meio da trama para nos apanhar Às vezes somos nós mesmos a própria aranha Caçadora voraz, dispostas a nos devorar As muralhas dos homens-meninos Entre as muralhas que construímos com o nosso ser Fica o homem forte e inatingível do lado de fora Do lado de dentro fica o menino que muitas vezes chora O homem às vezes ouve o seu soluçar Quer buscar o menino Porém, não encontra os portões por onde entrar
Afogada Dorme enquanto espera Que o sonho possa acordá-la A viagem em braços estranhos Não te levam a nada Peça que o desespero não seja O teu parceiro de jornada E o teu companheiro constante E que a tua alma lavada Nesse oceano de prantos Não morra afogada Vãs Fantasias Os atributos que dispomos são espelhos falantes Dispostos sempre longe das verdadeiras imagens As figuras que vemos são todas indumentárias de nossas falsas magias Vaidades vestindo as nossas ilusórias vontades Nos escuro das noites, porém, das nossas almas vazias Mostram-se as reais alegorias Repousadas na cabeceira da cama as nossas vãs fantasias
Flor de Hiroshima Acordei assustado com o dedo no botão Somos todos culpados pela insana explosão A flor atômica com o cheio da extinção Nem nos deu tempo de olhar nos olhos da morte O bafo vento veloz esfacelou nossas roupas Arrancou as nossas carnes, Fez pó aos nossos ossos e espalhou nossas cinzas Pelo mundo Qual o sentido da vida? Se as armas são o adubo da morte? Se a Rosa Atômica floresce nos jardins do extermínio Vivemos nas nossas fingidas e egoísticas vidas Fingindo nada ver Mas os anúncios da morte nos apresentam os destroços da Torres-Gêmeas Sobre os corpos de Hiroshima e Nagazaki, Todas as vezes que ligamos a teve
Morrer de amor O primeiro amor que eu tive deixou o meu coração tão machucado Que pensei... se de fato for assim ter amar muitas vezes Acho que morrei muito jovem de infarto Mas amei de novo e de novo, E mais uma vez, e mais e mais E ainda estou vivo, O coração sadio e muito ativo Acho que os que dizem que morrem de amor Estão redondamente enganados Eles morrem sim é de saudade Ou por nunca ter amado Morte do amor Quem diz que morre de amor Não sabe o real conceito do sentimento Morre a obra antes da criação, Naufraga o naufrago antes da embarcação Não morram por mim aqueles que me amam Porque se não ficam as asas e vão-se os anjos
Aprendendo a sonhar Dormia serena, sem culpas, sem dor sem penas Dormia como quem dorme um sonho apenas Doce seu semblante, suave seu respirar Dormia independente de o mundo girar Dormia menina aprendendo como sonhar Pobres Sonhadores Lembro da tua alma branca Que minha alma já tocara Nunca fora a tua brancura que me comoveu Derramado o tempo Sonhos antigos voltaram O gozo derramado como o vinho Tingem a mesa e a alma Com ânsias de não deixar o sonho partir O que mal acabou de acontecer Pode nada ser amanhã, Ou ser de novo um sonho Quiséramos que os amores se compadecessem de nós
Ausência Agora que não tenho minha outra metade A minha me falta Parte do que fui voou Foi embora A outra que ficou não se importa como o que sou O tempo me antecipa as horas Das dores que sentirei agora Talvez me fale o teu retrato No teu sorriso emoldurado Do que restou Neste leito de insônia Sem fim e sem começo Há dois de mim que choram a tua ausência Onde me esqueço Entre a solidão e o silêncio Há dois de mim Um que chora E eu que esqueço
Atribulada No domingo pôs margaridas na janela mal pintada Na segunda quem perfuma as ruas fétidas por onde ela passa? Na terça, raros traços de pinturas disfarçam a cara da vida dura e amargurada O meio-fio, da quarta, determina os limites entre a vida e o norte A rotina das seis, na quinta, mistura tintas, buzinas, faróis e gente apressada O corpo olhando o sul e a mente seguindo para a morte Por sorte continua viva na sexta Porque a pressa de chagar ao nada? O arroz com feijão, a carne mal passada A farinha bolorenta do sábado O estomago preenchido sem espaço à reflexão Deita cansada pelo descanso de hoje, Colesterol alto, muita gordura nas veias, Taquicardia, alta pressão, faringite O domingo passa surrado Mas com esperanças ela Deita, adormece e sonha com o dia seguinte
Aroma Não te aflijas com a sôfrega pétala que murchou lembra que ela já foi bela, Um dia ela volta Outras rosas virão, Olha tua testa franzida As espinhas e cravos nos teu rosto Os espinhos nas costas Hoje moldo o meu rosto de margarida, Dizem-me fingida, por que tenho uma cara nova a cada dia Moro num conjugado Sou eu mesma o meu jardim Amanha terei as pétalas perdidas, Também sou ser, também sou flor, Aroma exalando, o vento me levando ao encontro de alguém Deixa-me ser assim como estou Desfolha-me, entende- como eu sou Virando lembrança de mim Deixa-me assim como eu sou
Secreto amar Persevero noite alta Na quietude do meu canto O ócio é arte perversa de labutar no nada Largos encantos vão se formando Arte versante de imaginar Em seu oficio a lua chega Perfeita perola brilhante Chegam braços compulsivos O peito teu me perverte, me consome É da natureza do amor consumir-se A noite arde e a dor se expande Outros amantes Outros amores se estreitando O amor é contagiante Não ambiciono nada neste instante Nem palcos, nem salários Artifícios desnecessários Apenas o secreto amar sem tu saberes O vento mexe os seus cabelos Mexe constante, intenso, sem parar O que me causa um ciúme imenso Fico tenso, propenso a aprender ventar