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Transcrição:

ISSN 1983-0505 Foto: Eniel David Cruz COMUNICADO TÉCNICO 306 Belém, PA Fevereiro, 2019 Germinação de sementes de espécies amazônicas: faveira-preta (Parkia platycephala Benth.) Eniel David Cruz Rafaela Josemara Barbosa Queiroz

2 Germinação de sementes de espécies amazônicas: faveira-preta (Parkia platycephala Benth.) 1 1 Eniel David Cruz, engenheiro-agrônomo, doutor em Fitotecnia, pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental, Belém, PA. Rafaela Josemara Barbosa Queiroz, engenheira-agrônoma, doutora em Produção Vegetal, Belém, PA. Nomes populares A faveira-preta, que pertence à família Fabaceae, é também conhecida como badoqueiro, fava-de-boi, fava- -de-bolota, faveira, faveira-beloco, visgueiro (Hopkins, 1986), faveira- -de-berloque, pracarí (Corrêa, 1952), faveira-de-bolota (Mesquita; Castro, 2007), faveira-arara (Paula; Costa, 2011), visgueira (Costa et al., 2013) e angelim-pedra (Pelissari, 2013). Ocorrência É uma espécie endêmica do Brasil, sendo encontrada nos estados da Bahia, Ceará, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Tocantins e Distrito Federal, em vegetação de caatinga, cerrado, floresta estacional e floresta ombrófila (Oliveira; Hopkins, 2018). Importância e característica da madeira Pode atingir 18 m de altura e 45 cm de diâmetro (Hopkins, 1986). É considerada de uso múltiplo, podendo ser explorada como madeireira ou ornamental (Lorenzi, 2002; Machado et al., 2006; Aquino et al., 2007), apresenta boa produção de massa fresca em sistema alley cropping (Ramos et al., 2007) e tem potencial para conservação do solo e sistemas silvipastoris (Machado et al., 2012). Suas vagens são utilizadas na alimentação de ruminantes (Braga, 1960; Hopkins, 1986; Alves et al., 2007; Silva et al., 2012; Costa et al., 2013), principalmente na época seca (Cavalcanti; Resende, 2004; Sousa Neto et al., 2012), porém, se consumidas em excesso, são tóxicas (Sousa et al., 2015). Uma planta produz cerca de 24 kg de frutos/ano (Silva et al., 2005), com estimativa anual de 1.208 kg

3 de vagens/ha/ano (Alves et al., 2007). A composição bromatológica dos frutos é de 9,3% de proteína, 12,8% de fibra em detergente ácido, 10,4% de fibra em detergente neutro (Silva et al., 2005), 69,6% de digestibilidade in situ (Machado et al., 1999), 12,4% de fibra bruta, 0,24% de cálcio e 0,06% de fósforo (Ramos, 1998). Testes in vitro revelam atividade anti-helmíntica de extratos de folhas e sementes de faveira-preta contra Haemonchus contortus, indicando o potencial dessa espécie no tratamento de infecções causadas por esse nematoide em pequenos ruminantes (Oliveira et al., 2017). Das sementes, quando fermentadas, se extrai álcool (Corrêa, 1952). Sua madeira, cuja densidade é de 0,65 g/cm 3 a 0,85 g/cm 3 (Braga, 1960; Lorenzi, 2002; Paula; Costa, 2011; Silva et al., 2015), tem sido explorada pelo setor madeireiro do estado do Pará (Extração..., 2016), tem boa durabilidade (Lorenzi, 2002), e é utilizada como energia tanto na forma de carvão como lenha (Lorenzi, 2002; Paula, 2005; Sousa et al., 2015; Cavalcanti et al., 2015), para caixotaria, divisões internas, brinquedos e forros (Lorenzi, 2002). Dispersão, coleta e beneficiamento A polinização é realizada por morcegos e a dispersão das sementes por herbívoros, incluindo bovinos (Hopkins, 1986). No nordeste do Maranhão, a floração ocorre em junho e julho e a dispersão das sementes em agosto e setembro, época seca na região (Bulhão; Figueiredo, 2002). Os frutos são indeiscentes, quando maduros caem no solo (Hopkins, 1986). Por ocasião da dispersão, os frutos apresentam epicarpo (casca) marrom-claro ou marrom-escuro (Figura 1) e devem ser colhidos na árvore quando iniciarem a queda espontânea ou recolhidos do solo logo após a queda, em seguida, devem ser abertos manualmente para a retirada das sementes (Lorenzi, 2002). Figura 1. Frutos maduros de faveira-preta. Se as sementes não forem utilizadas de imediato devem ser expurgadas para evitar o ataque de insetos. Figueiredo et al. (2008) citam que sementes de faveira-preta são predadas pelo coleóptero Acanthoscelides imitator Kingsolver, cujo dano pode variar de 12% a 28%. Foto: Eniel David Cruz

4 Biometria da semente Os frutos têm de 28 a 38 sementes (Hopkins, 1986; Lorenzi, 2002), distribuídas em duas fileiras, cujo comprimento, largura e espessura são de 6,5 mm a 9,0 mm (Hopkins, 1986), de 5,0 mm a 8,6 mm e de 2,5 mm a 5,9 mm, respectivamente (Hopkins, 1986; Pinto et al., 2016). A massa de mil sementes é de 111,8 g e em 1 kg de sementes tem 8.944 unidades com 7,4% de água (Silva, 2015). Em substrato constituído de areia e serragem de madeira (1:1), mantido em ambiente de laboratório, sem controle de temperatura e umidade relativa do ar, com irrigação a cada dois dias, a germinação (aparecimento da parte aérea acima do substrato) de sementes sem tratamentos para superar a dormência inicia por volta do quinto dia após a semeadura e alcança 96,5% por volta do 95º dia (Figura 3). Germinação Foto: Eniel David Cruz Sementes de faveira-preta são dormentes em razão da baixa permeabilidade do tegumento à absorção de água, que provoca uma germinação lenta (Figueiredo et al., 2008). A germinação é hipógea, ficando os cotilédones na superfície do solo ou imediatamente abaixo (Figura 2). Figura 2. Plântulas de faveira-preta durante a germinação. Figura 3. Germinação de sementes de faveira-preta com 9,2% de água sem tratamento para quebrar dormência. Vários tratamentos são propostos para quebrar a dormência em sementes de faveira-preta, como imersão em água aquecida e ácido sulfúrico e escarificação em superfície abrasiva (Nascimento et al., 2009; Pelissari, 2013). Na Tabela 1, são apresentadas as porcentagens de germinações de sementes de faveira-preta submetidas a tratamentos para superar a dormência. Ao usar o ácido sulfúrico, é necessário efetuar a lavagem das sementes por 10 minutos após a remoção do ácido.

5 Tabela 1. Germinação (G), sementes duras (SD) e sementes mortas (SM), em faveira-preta com 13,2% de água, submetidas a tratamentos para quebrar a dormência. Tratamento G SD SM Testemunha 63,0 26,3 2,5 Imersão em água a 80 C por 5 minutos 65,5 11,4 10,5 Imersão em água a 100 C por 5 minutos 0,5 7,4 86,5 Escarificação em esmeril na região oposta ao hilo 96,0 0,1 1,5 Escarificação em ácido sulfúrico por 1 minuto 74,0 2,5 19,0 Escarificação em ácido sulfúrico por 2 minutos 82,0 0,7 13,5 Escarificação em ácido sulfúrico por 4 minutos 80,0 0,0 17,0 Escarificação em ácido sulfúrico por 6 minutos 92,5 0,0 6,0 Escarificação em ácido sulfúrico por 9 minutos 95,0 0,0 3,5 Escarificação em ácido sulfúrico por 12 minutos 94,5 0,0 5,0 Escarificação em ácido sulfúrico por 15 minutos 93,5 0,0 3,5 Escarificação em ácido sulfúrico por 20 minutos 90,0 0,0 9,5 Escarificação em ácido sulfúrico por 30 minutos 90,0 0,0 8,0 (%) As maiores porcentagens de germinação ocorrem em sementes escarificadas com esmeril elétrico (96%) e imersão em ácido sulfúrico por 9 minutos (95%). Embora o ácido sulfúrico seja eficiente para quebrar a dormência de sementes de várias espécies (Cruz et al., 2001, 2007; Pereira et al., 2016), é necessário ter cuidado para manuseálo, sendo recomendado o uso de equipamento de proteção individual (EPI), e devendo ser manuseado por pessoa qualificada, visto que pode causar queimaduras graves se entrar em contato com a pele ou com os olhos (Cruz; Pereira, 2014). Outra limitação ao uso desse ácido é a dificuldade de adquiri-lo, visto que sua comercialização é controlada. As sementes escarificadas em esmeril germinam mais rapidamente que as sementes escarificadas em ácido sulfúrico (Figura 4), pois, no oitavo dia após a semeadura, sementes escarificadas em esmeril apresentam 92% de germinação enquanto as sementes escarificadas em ácido apresentam 78,5%. As temperaturas recomendadas para germinação de sementes de faveira-preta são as alternadas de 25 C-35 C (Silva, 2015) e 20 C-30 C (Gonçalves et al., 2015) e as constantes de 25 C (Gonçalves et al., 2015) e de 30 C (Nascimento et al., 2003; Gonçalves et al., 2015).

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