REGULAMENTAÇÃO RELATIVA A INTERMEDIAÇÃO FINANCEIRA CONSULTA PÚBLICA DA CMVM N.º 7/2007 1.º ENQUADRAMENTO O presente documento condensa um conjunto de propostas normativas referentes à regulamentação do exercício de actividades de intermediação financeira, na sequência da transposição da Directiva relativa aos Mercados de Instrumentos Financeiros (Directiva n.º 2004/39/CE1, abreviadamente designada por DMIF), complementada por dois diplomas comunitários: a Directiva 2006/73/CE no que diz respeito aos requisitos em matéria de organização e às condições de exercício da actividade das empresas de investimento e o Regulamento (CE) n.º 1287/2006 no que diz respeito às obrigações de manutenção de registos das empresas de investimento, à informação sobre transacções, à transparência dos mercados e à admissão à negociação dos instrumentos financeiros. A iniciativa regulamentar ora apresentada tem na sua base o projecto de alteração ao Código dos Valores Mobiliários remetido ao Ministério das Finanças e visa proceder à alteração (i) dos actuais Regulamentos da CMVM nrs.º 12/2000, 21/2000 e 6/2006, relativos, respectivamente, à intermediação financeira, à recepção de ordens pela Internet e às recomendações de investimento. 1 Directiva 2004/39/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 21 de Abril de 2004, relativa aos mercados de instrumentos financeiros, que altera as Directivas 85/611/CEE e 93/6/CEE do Conselho e a Directiva 2000/12/CE do Parlamento Europeu e do Conselho e que revoga a Directiva 93/22/CEE do Conselho, publicada no JOCE L 145, 30.4.2004. 1/7
A DMIF introduz alterações relevantes em matéria do exercício de actividades de intermediação financeira, procedendo, designadamente, à actualização do elenco das actividades de intermediação financeira e à introdução de um maior desenvolvimento das normas aplicáveis relativamente aos requisitos de organização, normas de conduta e do cumprimento de deveres de informação pelos intermediários financeiros, em particular, na relação contratual estabelecida com investidores não qualificados. A natureza e grau subjacentes a uma intervenção como esta teve como efeito gerar um up grade hierárquico de várias normas que deixaram de estar vertidas em regulamentação da CMVM e passaram a reunir natureza legal. Neste sentido, cumprirá fazer a reorganização do Regulamento que serve de base ao exercício de actividades de intermediação financeira. Sendo introduzidas pelo quadro comunitário novas figuras do ponto de vista do exercício da intermediação financeira cumprirá, igualmente, acomodar regulamentarmente o respectivo regime jurídico. Adicionalmente, no respeito pelos limites impostos pela DMIF e demais legislação comunitária relevante, os projectos de regulamentos objecto da presente consulta pública acolhem um conjunto de medidas de simplificação dos registos e outros actos da CMVM no domínio em causa. Disso são exemplo, ao nível da intermediação financeira em geral, a eliminação do registo dos colaboradores responsáveis, a supressão do registo autónomo junto da CMVM de uma série de elementos relativos aos intermediários financeiros (v.g., capital social, sede, órgãos sociais e titulares de participações qualificadas), nos casos em que as entidades em causa estejam também registadas no Banco de Portugal, e, bem assim, a revogação da necessidade de a CMVM aprovar previamente os projectos de sítios para a comercialização de unidades de participação em organismos de investimento colectivo através da internet. Deste modo, alivia-se, por um lado, a carga regulatória sobre os intermediários financeiros e, por outro, criam-se condições para que estes coloquem em prática políticas e canais de comercialização sem dependência de actos prévios da CMVM. A conjugação destes aspectos constituirá mais um contributo para o reforço do dinamismo e da competitividade dos intermediários financeiros nacionais ou estabelecidos em território nacional. Aproveitando a revisão dos diplomas regulamentares supra identificados, é realizada a concentração num único diploma de matérias que se encontravam dispersas por outros dois regulamentos; a recepção de ordens pela Internet e a elaboração ou difusão de recomendações de investimento por outras entidades que não reúnam a natureza de intermediário financeiro. 2/7
As respostas a esta consulta devem ser remetidas para a CMVM, preferencialmente, para os endereços de correio electrónico cmvm@cmvm.pt ou dmif@cmvm.pt ou enviadas por correio para a morada da CMVM: Avenida da Liberdade, n.º 252, 1056-801 Lisboa ou por fax para o n.º 21 353 70 77/78. Atendendo a razões de transparência, a CMVM pretende publicar os contributos recebidos no âmbito desta consulta. Assim, caso se oponha à referida publicação deve comunicá-lo expressamente. Qualquer dúvida ou pedido de esclarecimento adicional sobre a presente consulta pública poderá ser enviado para dmif@cmvm.pt. 2.º PRINCIPAIS ALTERAÇÕES PROPOSTAS Ao Regulamento da Intermediação Financeira 2.1. Registo de responsáveis junto da CMVM A DMIF prevê um conjunto denso de regras comportamentais que devem pautar a actuação dos intermediários financeiros, mas também dos seus agentes vinculados, das pessoas que efectivamente dirigem ou fiscalizam cada uma das actividades de intermediação e ainda os colaboradores do intermediário financeiro, do agente vinculado ou de entidades subcontratadas. Paralelamente, impõe um dever de compliance e de auditoria interna garantes do cumprimento do quadro normativo ora introduzido. Neste sentido e numa óptica de simplificação dos processos junto da CMVM, considera-se dispensável todo um conjunto de normas que impunha o registo na CMVM das pessoas responsáveis por cada uma das actividades de intermediação financeira, bastando-se a mera nomeação e identificação interna junto do intermediário financeiro das pessoas que representam e das que efectivamente dirigem ou fiscalizam cada uma das actividades de intermediação, interlocutores importantes do ponto de vista da supervisão. Afastado que se encontra o registo dessas pessoas junto da CMVM, impõe-se, não obstante, a obrigação de comunicação à CMVM do responsável pela supervisão e controlo das actividades de intermediação financeira. 3/7
2.2. Sociedades de consultoria para investimento Tendo presente a nova qualificação operada pela DMIF do serviço de consultoria para investimento, elevando-o a serviço de investimento, e a consagração de uma nova figura prestadora deste serviço sociedades de consultoria para investimento foi necessário dar corpo normativo às habilitações regulamentares conferidas pelo legislador em matéria de registo de constituição destas sociedades, bem como dos elementos exigíveis para efeitos de apreciação da idoneidade dos membros dos órgãos sociais e dos titulares de participações qualificadas. Da mesma forma, abrindo-se a possibilidade dos consultores para investimento em valores mobiliários poderem reunir a natureza de pessoa colectiva, impôs-se realizar alguns ajustamentos no quadro regulamentar já previsto para o registo desta figura. Do ponto de vista do exercício da actividade, procurou-se consagrar e manter, de forma uniformizada, um regime regulamentar aplicável às pessoas jurídicas habilitadas a prestar o serviço de investimento em apreço, independentemente da forma e da natureza que revistam. 2.3. Consultores para investimento em valores mobiliários Mantendo-se a figura de cariz meramente nacional do consultor autónomo, com uma nova designação, as grandes alterações que são instituídas prendem-se, por um lado com o reconhecimento expresso da possibilidade de se organizarem enquanto pessoa colectiva e, por outro lado, com a aferição da qualificação profissional destas entidades, deixando-se fazer depender da necessidade de frequência de um curso de especialização, passando a mesma a poder ser aferida com base nas habilitações académicas e experiência profissional do consultor. Do ponto de vista do registo, circunscreve-se o mesmo às actividades que vise prosseguir, impondo-se sobre a pessoa apenas um dever de comunicação e de não oposição da CMVM. 2.4. O recurso aos agentes vinculados Procurando acomodar o desenvolvimento da oferta dos serviços transfronteiriços prestados por agentes vinculados, a DMIF inclui um conjunto de normas que regem a actividade destes agentes, e que são transpostas, em regra, para o projecto de alteração ao Código dos Valores Mobiliários. 4/7
Na intervenção regulamentar prevista para os agentes vinculados destaca-se a concretização da prestação de serviços fora do estabelecimento do intermediário financeiro em nome e por conta do qual actua, bem como a delimitação das situações em que mediante convenção celebrada entre o agente vinculado e o intermediário financeiro seja legítimo àqueles receberem ou entregarem dinheiro de clientes. 2.5. Internalizadores sistemáticos Por forma a que a CMVM, a todo o momento, tenha conhecimento da lista actualizada de internalizadores sistemáticos a actuarem em Portugal, delimita-se, no projecto de alteração ao Regulamento da intermediação financeira, os termos da comunicação imposta pelo projecto de alteração ao Código dos Valores Mobiliários, bem como o respectivo conteúdo. Atenta a faculdade reconhecida pela DMIF quanto ao alargamento, pelos diferentes Estados membros, dos deveres de informação pré negociação a outros instrumentos financeiros que não acções, para as quais exista um mercado líquido vocacionados para o investimento, estabelece-se o conteúdo desse dever, designadamente para warrants autónomos e certificados. 2.6. Tratamento das ordens de clientes A DMIF exige que os intermediários financeiros disponham de procedimentos que permitam um tratamento tempestivo, equitativo e expedito das ordens dos seus clientes. O regime até à data previsto no Regulamento da CMVM n.º 12/2000 é objecto de um up grade do ponto de vista da hierarquia dos diplomas normativos, passando a estar consagrado no Código dos Valores Mobiliários e no Regulamento (CE) n.º 1287/2006, de 10 de Agosto. Aproveitando-se, não obstante, o ensejo da intervenção regulamentar imposta pelos ajustamentos que cumprem ser realizados por força da acomodação do quadro comunitário introduzido pela DMIF, procura-se integrar no âmbito do projecto de regulamento em apreço a questão da temática da recepção de ordens através de meios electrónicos como seja a Internet, tratada, até à data, em diploma regulamentar autónomo Regulamento da CMVM n.º 21/2000. 5/7
2.7. Compilação de políticas e de procedimentos A exigência de registo do regulamento interno do intermediário financeiro foi afastada no projecto de alteração ao Código dos Valores Mobiliários, impondo-se, em alternativa, a necessidade de estabelecer todo um conjunto de políticas e de procedimentos internos pelo intermediário financeiro. Não obstante, atento o conjunto alargado de políticas e de procedimentos impostos pelo quadro legal e regulamentar, o elenco de pessoas subordinado a essa políticas e procedimentos, bem como exigências de supervisão que possam determinar a necessidade de requerer com urgência a disponibilização dessa informação, impõe-se no projecto de alteração em anexo que o intermediário financeiro deva ter permanentemente compilado e disponível para consulta os documentos legal e regulamentarmente previstos. 2.8. Recepção de ordens por meios electrónicos Decorridos aproximadamente seis anos da publicação e entrada em vigor do Regulamento da CMVM n.º 21/2000, importava acomodar normativamente os desenvolvimentos entretanto ocorridos durante esse período, tendo também por base a experiência de supervisão. As alterações ora introduzidas continuam a orientar-se pelo princípio da neutralidade do canal da prestação do serviço de recepção e transmissão de ordens por conta de outrem e ponderam os regimes jurídicos em vigor nas jurisdições consideradas mais relevantes. Entre as principais alterações conta-se (i) a possibilidade de extensão do regime constante do presente regulamento para o meio electrónico Internet a outros meios de transmissão de ordens à distância, (ii) a simplificação do procedimento para introdução de alterações no meio electrónico internet de transmissão de ordens, (iii) o aumento do nível de exigência em matéria de informação a prestar aos investidores já resultante dos padrões de supervisão implementados -, e (iv) o estabelecimento exclusivo de relações de clientela através de canais electrónicos. 6/7
2.9. Recomendações de Investimento Também nesta sede a intenção do projecto de alteração regulamentar em anexo é a de concentrar num único diploma regulamentar o relativo ao exercício de actividades de intermediação financeira o regime jurídico aplicável a analistas independentes e instituições que, não reunindo a natureza de intermediário financeiro, enformam no âmbito da sua actividade principal a elaboração ou difusão de recomendações de investimento ou que no quadro dessa actividade emitam ou difundam recomendações de investimento. Nesta perspectiva, é importado para o seio do projecto em apreço o conteúdo do actual Regulamento da CMVM n.º 6/2006. 2.10. Eliminação de impedimentos legais ou regulamentares à comercialização de determinados produtos A DMIF consagra expressamente o princípio segundo o qual o intermediário deve não apenas conhecer o seu cliente mas também averiguar do carácter adequado dos serviços, operações e instrumentos financeiros em causa às circunstâncias pessoais daquele. Este dever, aliado aos relativos à categorização de clientes, conduzem a que o juízo sobre a adequação de um determinado instrumento financeiro aos clientes seja assumido pelo próprio intermediário financeiro. Assim, propõe-se a eliminação de restrições regulamentares baseadas num juízo prévio, do legislador, do grau de sofisticação de certos produtos e da sua adequação investidores não qualificados. 7/7