SOFIA CASTRO FERNANDES
Ao Martim. Por ser o Recomeço mais bonito da minha vida. E aquele que me ensina a acreditar que é urgente amar mais um bocadinho. Todos os dias.
FICHA TÉCNICA: facebook.com/manuscritoeditora 2019 Direitos reservados para Letras & Diálogos, uma empresa Editorial Presença, Estrada das Palmeiras, 59 Queluz de Baixo 2730-132 Barcarena Título original: Recomeça Autora: Sofia Castro Fernandes Copyright Sofia Castro Fernandes, 2019 Copyright Letras & Diálogos, 2019 Capa e ilustrações: We Blog You Paginação: Catarina Sequeira Gaeiras Fotografia da autora: Pedro Sadio Impressão e acabamento: Multitipo - Artes Gráficas, Lda. ISBN: 978-989-8871-97-8 Depósito legal n.º 453004/19 1.ª edição, Lisboa, Abril, 2019 A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.
ÍNDICE 1. Uma espécie de mapa: o que vais encontrar neste livro.... 11 2. A pergunta que todos fazemos: porque temos tanto medo de recomeçar?... 21 3. Mas como é que se faz? Por onde é que se (re)começa? E como sabemos se vai correr bem?... 29 4. Dou-te 21 dias para mudar. E apoio-te nesta mudança.... 55 5. Leva este plano de acção.... 63 6. Ultrapassar medos e bloqueios.... 101 7. O que de verdade importa no verbo Recomeçar?... 111 8. O P de Propósito: como sei qual é o meu?... 119 9. Uma promessa: o que este livro vai fazer na tua vida.... 147 9
1.Uma espécie de mapa: o que vais encontrar neste livro.
Começa com um desconforto. Uma espécie de formigueiro. Um grito mudo que te vai despertando para sair da roda do hámster. Um beliscão que te pede para largar a farda que vestes todos os dias: sempre-lá-para-os-outros. 13
SOFIA CASTRO FERNANDES Devagarinho, e muito baixinho, vais ouvindo dentro de ti: tens de fazer alguma coisa. Ignoras. O primeiro impulso é ignorar. O segundo impulso é deixar andar. É logo se vê. É depois penso nisto. É não-me-apetece-nada- -ver-o-que-se-passa-dentro-de-mim. É aprendi que a vida é isto e isto está bom. Até que, um dia, essa mesma vida dá-te um soco. Sim, um soco. Um soco forte no estômago. E tu cais. Ficas ali, no chão. Tudo a doer. O coração confuso, a razão sem saber o que fazer. Pensas em tudo o que fizeste, em tudo o que não fizeste, em tudo o que disseste, em tudo o que não disseste. E sabes porque sabemos sempre que chegou o dia. Que o mundo girou, que a fila andou, que tens mesmo de fazer alguma coisa por ti, para ti. É o melhor a acontecer quando menos esperas. Sim, pode não parecer agora, mas é o melhor que te pode acontecer. E tu ergues-te. Com mais ou menos força, ergues-te. Voltas a ouvir a tal voz: a tua, do lado de dentro. E é desse lugar, de pé e sem perder a fé, que repetes para ti mesmo: Respira fundo, acalma o coração, dá um passo em frente. Ainda vem muita coisa boa por aí. Para ti. É tempo de recomeçar. Uma e outra vez. Porque vais sempre a tempo de respirar fundo e de ser feliz. Mais uma vez. Recuperei este texto que escrevi em 2009. Faz todo o sentido serem estas as letras do começo deste livro. Estava grávida do meu filho Martim. Vivia uma das fases mais bonitas da minha vida. Adorei estar grávida. Ao mesmo tempo, vivi durante nove meses um dos recomeços mais difíceis da minha vida. Não tinha um trabalho «certo», um ordenado «certo» e as únicas duas certezas da minha vida tinham os 14
RECOMEÇA nomes dos amores da minha vida: Pedro e Martim. Agarrei-me a estas certezas com toda a força da vida. A elas e à rede de apoio que é, no meu peito, o oxigénio que me permite respirar fundo todos os dias: a minha família, a minha incrível irmã e os meus queridos pais. Eu sei que alguns de vocês vão dizer que tudo acabou por correr bem porque tive sorte. Porque tenho sorte. E eu confirmo: tive sorte. Tenho mesmo muita sorte. Mais à frente, neste mesmo livro, vais encontrar muito daquilo que é para mim «isto» que todos chamamos de sorte. Afinal, «ela» dá tanto trabalho a construir e dá ainda mais trabalho a manter. É preciso falar sobre isto «da sorte». Lá chegaremos. Dizia-te, então, que vivia uma espécie de paradoxo: a felicidade máxima de ser mãe e a ansiedade máxima do incerto. Tinha o maior recomeço prestes a ter início e a maior das incertezas na minha vida profissional bem ali à minha frente. Gosto de brincar e dizer que nasci sob o signo do optimismo. Acredito que não há nada nesta vida que venha para me derrubar. Nada! Levanto-me sempre, por mais vezes que vá ao tapete, e já fui muitas, muitas vezes. Sou de arriscar apesar de todo o medo que sinto. E eu sinto tanto medo quanto tu. Não acreditas? É verdade. É mesmo verdade. Talvez a única coisa que nos separe (ainda) é que eu treinei muito, mesmo muito, para saber «mandar calar» todos os medos que sinto. E lembrar-me todos os dias de que não vim a esta vida para ficar a ver. Sou ansiosa, sou agitada, vivo dentro de um poço de energia. Tenho muitos medos, muitas dúvidas, muitos dias maus, neuras e fobias. Encontrei no autoconhecimento um conjunto de estratégias que chegaram à minha vida no momento certo para me provar que sou capaz de tudo, mesmo tudo o que eu quiser. Só preciso de ser verdadeira comigo mesma, de seguir o meu coração, de não desistir desta mania de ir atrás de algo maior e correr o risco de fracassar: ser feliz. Vivo um dia de cada vez. O melhor possível, a fazer-me feliz e a tentar fazer feliz quem está à minha volta. 15
SOFIA CASTRO FERNANDES Todos conhecemos pessoas que preferem agarrar-se às suas histórias de sofrimento do que tentar ir atrás do que querem. A primeira opção parece mais fácil. Contudo, o preço a pagar é tão, mas tão alto Muitas vezes ficamos retidos mais pela ignorância do que vem a seguir do que pelo medo de tentar. Naquela fase de dualidade, entre a ignorância do que vem a seguir e o medo de tentar, fiz várias escolhas. Errei várias vezes. Magoei e fui magoada. Vivi uma gravidez linda e segura, e tentei com todas as forças que tinha ser a mãe mais serena do mundo. Mas não fui. Falhei redondamente. Fui ansiosa até ao dia do parto. E no dia do parto voltei a falhar. E na amamentação voltei a falhar. E no primeiro dia do Martim ir para a creche voltei a falhar. E no primeiro dia do primeiro ano, em que jurei que ia ser tão forte, voltei a falhar. E continuo a falhar todos os dias. Como mulher, como mãe, como filha, como amiga, como irmã, como ser humano falho. Falho, falho e falho. E aprendo. E recomeço, recomeço, recomeço. E falho de novo. Todos os dias falho. Não há um dia em que não falhe. E agradeço-me por isso. Agradeço-me por falhar. Cada vez que falho, sei que estou a tentar. Sei que ainda não desisti. Sei que quem tenta não desiste. De si. Dos outros. Da vida. Tenho-me como uma pessoa feliz. Feliz, sem tretas. Sou segura. Sou confiante. Sou honesta comigo mesma. Sei o que tenho de luz e o que tenho de sombra. Conheço-me no melhor e no pior. Do direito e do avesso. E sei-o porque fiz um longo caminho (um caminho que continua, que nunca termina) para me afirmar em autenticidade, aconteça o que acontecer. Para viver na minha verdade, no amor e pelo amor. Sempre. Neste caminho que trilho, estou profundamente agradecida às minhas duas avós pela infância que tive e que fez de mim a pessoa forte e segura que sou. E aos meus pais pela adolescência que tive, que fez de mim a pessoa 16
RECOMEÇA focada, determinada e independente que sou. E à minha irmã, que fez de mim a pessoa-mãe, a pessoa-abraço, a pessoa-amor, a pessoa-coração, a pessoa-luz, a pessoa-abrigo, a pessoa-farol que sou. Devo-lhe, para sempre, uma parte indizível da pessoa equilibrada e serena que sou. Aos meus professores das orais todas (pareceram infinitas!) do curso de Direito da Universidade Lusíada de Lisboa, aos que me passaram, mas sobretudo aos que me chumbaram, pela força que me deram para persistir sempre. Às pessoas-anjos que na vida estiveram sempre lá para mim: gratidão eterna. Aos que me disseram «nunca irás conseguir»: amor e luz. Às pessoas que sem me conhecer desejam-me o melhor: o dobro do Amor na vossa vida. Às pessoas que sem me conhecer desejam-me o pior: o Bem na vossa vida. Aos meus colegas dos trabalhos todos que tive que foram sempre os Recomeços que precisei de fazer para ter a força certa para seguir em frente, fosse numa caixa de supermercado, num prédio a lavar escadas, num hotel a arrumar quartos, num café a servir à mesa, numa loja a dobrar roupa, numa empresa a atender telefones, num escritório a preencher impressos, num banco a introduzir dados, num atendimento a recuperar crédito, numa linha telefónica a vender cartões ou a vender seguros, retirei sempre, sempre, sempre as melhores lições e trouxe sempre comigo o melhor de tudo: as pessoas que conheci e o conhecimento que aprendi. Por cada Recomeço que me permitiu seguir em frente e alcançar os meus objectivos: Obrigada, Vida, obrigada a todos! O que vem a seguir, o que escrevi com o meu coração inteiro para ti, prepara- -te para o que acredito que precisas de saber sobre o verbo Recomeçar. Todas as etapas. Todos os riscos. Todas as pessoas a manter e a afastar. Todos os medos, todos os «ses», todos os mas. Todas as estratégias. Todas as causas. Tudo o que move e tudo o que demove. Precisas de estar preparado. Do lado de dentro. Precisas de querer arriscar. Mesmo 17
SOFIA CASTRO FERNANDES que tenhas medo. Eu também tenho. Lembras-te? Remove essas camadas do medo. Uma a uma. Devagar. No teu tempo. Não te compares com o tempo dos outros. É a tua vida, não é a dos outros. Pára o tempo que precisares. Respira fundo. Começa de novo. Dá passos pequeninos. Passos que te deixem orgulhoso de ti. E se caíres? Qual é o problema? É sinal que deste um salto! Que tentaste! Não tenhas vergonha. Não te agarres ao que não te leva para a frente. Levanta-te. Vá lá. Precisas de ajuda? Pede. Fraqueza é não pedir ajuda. Aprende. Erraste? Corrige. Vais sempre a tempo. Não desistas do que queres, aconteça o que acontecer. Assume este compromisso contigo mesmo. Faz o que for preciso fazer alinhado com a tua verdade. Vai onde for preciso ir. Constrói o que for preciso construir. Faz bonito. Mesmo que mais ninguém repare. Faz por ti. Faz sempre por ti. Sai do modo opcional. Tu és a tua prioridade. Hoje e sempre. Não existe? Cria. Quer muito. Mas muito é mesmo muito. Quer com aquela força de quem se apaixona e não pensa em mais nada. Estás a ver essa força? Não é mais ou menos. Não é assim-assim. É muito! Diz a verdade. Primeiro. Sempre! Dizer o teu EU sem retoques. Arrisca ser maior. Não tenhas medo do que os outros vão dizer. Só tem de fazer sentido a ti. A ti! Larga os porquês e substitui por «o que posso aprender com isto?» Pela primeira vez na tua vida põe-te em primeiro lugar. E repete comigo: Na vida, vou perder muito mais por ter medo do que por tentar. 18
RECOMEÇA Vamos? Levanta a cabeça, respira fundo, deixa a coragem (e a luz) entrar. A tua vida está (sempre) a postos para te ajudar a recomeçar. 19