Revista de Saúde Pública

Documentos relacionados
Revista de Saúde Pública

Revista de Saúde Pública

Gênero Leishmania. século XIX a febre negra ou Kala-azar era temida na Índia. doença semelhante matava crianças no Mediterrâneo

ALGUNS ASPECTOS DO COMPORTAMENTO DE CEPAS SILVESTRES DE TRYPANOSOMA CRUZI EM CAMUNDONGOS E CALOMYS CALLOSUS (RODENTIA)*

ASPECTOS HISTOQUÍMICOS DO PLEXO MIENTÉRICO NA DOENÇA DE CHAGAS EXPERIMENTAL

Palavras- chave: Leishmaniose; qpcr; cães. Keywords: Leishmaniases; qpcr; dogs.

Médico Veterinário, PhD, Professor Titular, Departamento de Patologia UFSM;

Complexo Leishmania donovani Forte tendência a visceralização (baço, fígado, medula óssea e órgãos linfóides).

RESUMOS COM RESULTADOS ARTIGOS COMPLETOS (RESUMOS)

Eficiência da PCR convencional na detecção de Leishmania spp em sangue, pele e tecidos linfoides

NOTA SOBRE LEISHMANIOSE TEGUMENTAR NO LITORAL SUL DO ESTADO DE SÃO PAULO, BRASIL *

Artigo Científico/Scientific Article

4- RESULTADOS Avaliação Macroscópica da Bolsa Algal e Coxim Plantar. inoculados na bolsa jugal, a lesão do local de inoculação era evidente e se

Omar dos Santos Carvalho** Roberto Milward-de-Andrade *** Cecília Pereira de Souza**

Heterologous antibodies to evaluate the kinetics of the humoral immune response in dogs experimentally infected with Toxoplasma gondii RH strain

LEISHMANIOSE VISCERAL CANINA: AVALIAÇÃO DA METODOLOGIA SOROLÓGICA UTILIZADA EM INQUÉRITOS EPIDEMIOLÓGICOS

ESTUDO DO PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DA LEISHMANIOSE VISCERAL NA REGIÃO NORDESTE

Leishmaniose. Família: Trypanosomatidae (da mesma família que o Trypanosoma cruzi, causador de Chagas).

SUSCETIBILIDADE DE BIOMPHALARIA STRAMINEA (DUNKER, 1848) DE PIRIPIRI (PIAUÍ, BRASIL) A DUAS CEPAS DE SCHISTOSOMA MANSONI SAMBON, 1907*

PLANILHA GERAL - BASES BIOLÓGICAS DA PRÁTICA MÉDICA III 2º 2018

ESTUDO MORFOLÓGICO DE SCHISTOSOMA MANSONI PERTENCENTES A LINHAGENS DE BELO HORIZONTE (MG) E DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS (SP)

Cerca de 6000 espécies conhecidas - ~10000 são parasitas. Eucariotos unicelulares

ASSOCIAÇÃO DA CARGA PARASITÁRIA NO EXAME CITOLÓGICO DE PUNÇÃO BIÓPSIA ASPIRATIVA DE LINFONODO COM O PERFIL CLÍNICO DE CÃES COM LEISHMANIOSE VISCERAL.

OBSERVAÇÕES SOBRE CALAZAR EM JACOBINA, BAHIA. VI - INVESTIGAÇÕES SOBRE RESERVATÓRIOS SILVESTRES E COMENSAIS.

MALÁRIA. Agentes etiológicos (Protozoários) Plasmodium vivax Plasmodium falciparum Plasmodium malariae Plasmodium ovale

Efeito do medicamento Canova sobre a infecção experimental em camundongos pela cepa Y de Trypanosoma cruzi

LEISHMANIOSE TEGUMENTAR EM PORQUINHO-DA-ÍNDIA (Cavia porcellus): Relato de Caso RESUMO INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA

LEISHMANIOSE VISCERAL

OBSERVAÇÕES SOBRE OS NÍVEIS GLICÊMICOS DE HOLOCHILUS BRASILIENSIS NANUS THOMAS, 1897, HOSPEDEIRO NATURAL DO SCHISTOSOMA MANSONI NA PRÉ-AMAZÔNIA*

PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia. Leishmaniose visceral canina no município de São Vicente Férrer, Estado de Pernambuco, Brasil

PLANILHA GERAL - BASES BIOLÓGICAS DA PRÁTICA MÉDICA III - 2º 2014

AULA PRÁTICA 3-02/06/2015. Roteiro de aula prática. Infecção de macrófagos por Leishmania (Leishmania) amazonensis

PLANILHA GERAL - BASES BIOLÓGICAS DA PRÁTICA MÉDICA III - 1º 2018

Raimundo Carlos Lemos Neto ** Luiz Augusto Magalhães*** Aquiles Eugênico Piedrabuena ***

11 a 14 de dezembro de 2012 Campus de Palmas

RESUMOS DE PROJETOS

UNITERMOS: Trypanosoma cruzi. Camundongos, infecção experimental. Macrófagos, parasitologia, infecções subcutâneas. Injeções intraperitoneais.

PLANILHA GERAL - BASES BIOLÓGICAS DA PRÁTICA MÉDICA III - 2º 2015

PLANILHA GERAL - BASES BIOLÓGICAS DA PRÁTICA MÉDICA III - 1º 2016

Módulo: Nível Superior Dezembro/2014 GVDATA

Aula Prática II: Protozoários - Família Trypanosomatidae.

SITUAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA DA LEISHMANIOSE VISCERAL NA PARAÍBA: UMA QUESTÃO DE SAÚDE PÚBLICA

LOCALIZAÇÃO DE SCHISTOSOMA MANSONI NO PLEXO PORTA DE MUS MUSCULUS EXPERIMENTALMENTE INFECTADOS POR UM SÓ SEXO DO TREMATÓDEO *

MORFOLOGIA E DESENVOLVIMENTO DE SCHISTOSOMA MANSONI SAMBON, 1907 EM INFECÇÕES UNISSEXUAIS EXPERIMENTALMENTE PRODUZIDAS NO CAMUNDONGO *

Acta Scientiarum. Health Sciences ISSN: Universidade Estadual de Maringá Brasil

Palavras-chave: Leishmaniose, canino, sistema nervoso central.

ESTUDO EXPERIMENTAL SOBRE POSSÍVEL ATIVIDADE DA VIOLETA DE GENCIANA NA PROFILAXIA DA TRANSMISSÃO DA TOXOPLASMOSE POR TRANSFUSÃO DE SANGUE

AVALIAÇÃO DA RESPOSTA IMUNE CELULAR INTRAEPITELIAL NO INTESTINO DE FRANGOS DE CORTE (Gallus gallus domesticus) INFECTADOS EXPERIMENTALMENTE

INFECÇÕES NATURAIS DE MAMÍFEROS SILVESTRES EM ÁREA ENDÊMICA DE LEISHMANIOSE TEGUMENTAR DO ESTADO DE SÃO PAULO, BRASIL *

LUIZ CLAUDIO FERREIRA

Vestibular1 A melhor ajuda ao vestibulando na Internet Acesse Agora! Leishmaniose

Agente etiológico. Leishmania brasiliensis

IMPORTÂNCIA DOS ANIMAIS SINANTRÓPICOS NO CONTROLE DA ENDEMIA CHAGÁSICA *

Leishmaniose em cães domésticos: aspectos epidemiológicos. Leishmaniasis in domestic dogs: epidemiological aspects. Introdução.

BIOLOGIA DO Triatoma costalimai (VERANO & GALVÃO, 1959) (HEMIPTERA, REDUVUDAE)

Eliana Maria Zanotti-Magalhães, Luiz Augusto Magalhães, José Ferreira de Carvalho

SCHISTOSOMA MANSONI: EVOLUÇÃO DE VERMES ORIUNDOS DE CERCÁRIAS IRRADIADAS A NÍVEL DE SISTEMA PORTA, NO CAM UNDONGO.

EXTRATOS VEGETAIS DE PLANTAS MEDICINAIS DO CERRADO NO ALTO PARANAÍBA - MG

Despopulação neuronal cardíaca em hamsters (Mesocricetus auratus) cronicamente infectados com o Trypanosoma cruzi

PROJETO TURMINHA DA SAÚDE. Ronaldo Kroeff Daghlawi. São Luís-MA

PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia. Importância dos corpúsculos calcários na epidemiologia da cisticercose bovina

PLANILHA GERAL - BASES BIOLÓGICAS DA PRÁTICA MÉDICA III - 1º 2015

TÍTULO: OCORRÊNCIA DE LEISHMANIA SP DETECTADA POR PCR EM LABORATÓRIO DE PATOLOGIA CLÍNICA PARTICULAR DE SP

MÉTODOS DE DIAGNÓSTICO DA LEISHMANIOSE VISCERAL CANINA

Leishmanioses. Silvia Reni B. Uliana ICB - USP

Disciplina de Parasitologia

Semi-Árido (UFERSA). 2 Farmacêutico bioquímico, Mestre em Ciência Animal. UFERSA 3

Arquivos de Neuro-Psiquiatria

Suscetibilidade de populações de Lymnaea columella à infecção por Fasciola hepatica

Sistemática e biogeografia família planorbidae: espécies hospedeiras de schistosoma mansoni no Brasil

SITUAÇÃO ATUAL DA LEISHMANIOSE VISCERAL NO ESTADO DO CEARÁ

Leishmaniose Tegumentar Americana

TÍTULO: ATIVIDADE IN VITRO DE ALGUNS ANÁLAGOS DE CURCUMINA CONTRA LEISHMANIA AMAZONENSIS

TÍTULO: AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE TRIPANOCIDA IN VIVO DA (-)-HINOQUININA, OBTIDA PELA OXIDAÇÃO CATALÍTICA DE (-)-CUBEBINA

FAMÍLIA TRYPANOSOMATIDAE

Ciências Biológicas Bacharel

A. J. A. BARBOSA (1), H. GOBBI (1), B. T. UNO (1), E. LAGES-SILVA (2), L. E. RAMIREZ (3), V. P. A. TEIXEIRA (4) e H. O. ALMEIDA (4) RESUMO

PARASITOLOGIA CLÍNICA

PLANILHA GERAL - BASES BIOLÓGICAS DA PRÁTICA MÉDICA III - 1º 2015

Mamíferos silvestres e domésticos envolvidos na manutenção do Trypanosoma evansi no Pantanal Brasileiro

INVESTIGAÇÃO DA ATIVIDADE ANTI-LEISHMANIA DO ÓLEO DA RAIZ DA PLANTA DO CERRADO BRASILEIRO Jatropha ribifolia.

INVESTIGAÇÃO DE FOCO, UMA DAS ATIVIDADES DAS CAMPANHAS DE CONTROLE DOS TRANSMISSORES DA TRIPANOSSOMÍASE AMERICANA

1890 Zur Kasuistik des Rhinoskleroms

INFECÇÃO SIMULTÂNEA POR Leishmania chagasi E Ehrlichia canis EM CÃES NATURALMENTE INFECTADOS EM SÃO LUÍS, MARANHÃO, BRASIL

HISTOPATHOLOGY OF Holochilus brasiliensis (RODENTIA: CRICETIDAE) INFECTED WITH Schistosoma mansoni (SCHISTOSOMATIDA: SCHISTOSOMATIDAE)

AVALIAÇÃO DA PATOGENICIDADE DECORRENTE DA INFECÇÃO PELO SCHISTOSOMA MANSONI SAMBON, 1907, AGENTE DE INFECÇÕES UNISSEXUAIS EM MUS MUSCULUS*

Unir forças para não expandir

Front Matter / Elementos Pré-textuais / Páginas Iniciales

Leishmaniose Visceral

AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ESQUISTOSSOMICIDA DO CARVACROL EM EXPERIMENTOS IN VITRO E IN VIVO

hepatócitos, com provável localização em canalículos biliares (Fig. 06- C). Visualmente, houve um aumento no número de infiltrados

Parasitologia - BMP 0215 Ciências Biomédicas- 2016

ALTERAÇÕES NO SISTEMA RENINA ANGIOTENSINA E DE PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS INDUZIDAS PELA OVARIECTOMIA E ENVELHECIMENTO EM RATAS WISTAR

Palavras-chave: citologia, diagnóstico parasitológico, punção aspirativa. Keywords: cytology, parasitological diagnosis, puncture aspiration.

14/06/12. Esta palestra não poderá ser reproduzida sem a referência do autor

Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro Instituto de Veterinária Departamento de Epidemiologia e Saúde Pública

NOTAS E INFORMAÇÕES/NOTES AND INFORMATION CALAZAR EM CLINICA ESPECIALIZADA, NA CIDADE DE SÃO PAULO, BRASIL

Transcrição:

Revista de Saúde Pública All the contents of this journal, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons Attribution License (CC BY NC 4.0). Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s0034-89101984000400009&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 14 nov. 2017. REFERÊNCIA MELLO, Dalva A.; TEIXEIRA, Maria Lucia. Infecção experimental de Calomys callosus (Rodentia- Cricetidae) com Leishmania donovani chagasi (Laison, 1982). Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 18, n. 4, p. 337-341, ago.1984. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s0034-89101984000400009&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 14 nov. 2017. doi: http://dx.doi.org/10.1590/s0034-89101984000400009.

INFECÇÃO EXPERIMENTAL DE CALOMYS CALLOSUS (RODENTIA-CRICETIDAE) COM LEISHMANIA DONOVANI CHAGASI (LAISON, 1982)* Dalva A. Mello** Maria Lucia Teixeira*** MELLO, D. A. & TEIXEIRA, M. L. Infecção experimental de Calomys callosus (Rodentia- -Cricetidae) com Leishmania donovani chagasi (Laison, 1982). Rev. Saúde públ., S. Paulo, 18: 337-41, 1984. RESUMO: Foi descrita a infecção experimental em Calomys callosus com uma cepa de Leishmania donovani chagasi de caso humano. Um grupo de 22 roedores foi inoculado por via intraperitoneal com 0,1 ml de um macerado de baço em salina, rico em amastigotas. Esses animais foram sacrificados três meses após as inoculações, tendo sido realizado: cultura "in vitro" em meio acelular (LIT e NNN) e esfregaços, corados pelo Giemsa, de fígado, baço, medula óssea e sangue; cortes histológicos corados com hematoxilina-eosina de fígado e baço. Os resultados para fígado e baço foram: 67% de positividade nas culturas "in vitro"; esfregaços ricos em amastigotas intra e extra celular (inclui medula óssea); reações teciduais traduzidas por hepatomegalia com proliferação das células de Kupffer; reação granulomatosa das áreas portais, esplenomegalia com reações granulomatosas, abundância de formas amastigotas. Os resultados para o sangue foram negativos em todas as investigações. UNITERMOS: Calomys callosus. Leishamania donovani. Infecção experimental. INTRODUÇÃO Calomys callosu s é um roedor silvestre de ampla distribuição geográfica no Brasil. (Moojen 16, 1952 e Mello e Moojen 13, 1979) tendo se adaptado com sucesso ao cativeiro (Mello 8, 9, 11, 1977, 1978, 1981). Estudos experimentais em C. callosus, nascidos no cativeiro, com microorganismos patogênicos, foram realizados por Justines e Johnson 6 (1969), Borba 2 (1972), Mello e col. 15 (1979),Mello 10 (1979/80), Mello e Borges 14 (1981), Borges e Mello 3 (1980) e Borges e Kloetzel 4 (1982), Esses autores trabalharam com vírus da febre hemorrágica, Schistosoma mansoni, Leishmania mexicana, Plasmodium berghei e Trypanosoma cruzi. Os resultados das suas pesquisas mostraram a potencialidade desse roedor como modelo experimental com microorganismos de interesse médico. Embora L. donovani, agente do calazar tenha como modelos experimentais em laboratório, camundongo e hamster, procurou-se no trabalho aqui apresentado, estudar a capacidade de C. callosus em se infectar com este parasita. A pesquisa foi justificada no sentido de ampliar os conhecimentos sobre esse roedor e como uma alternativa de outro modelo experimental para essa parasitose. * Trabalho apresentado no Congresso Integrado de Parasitologia, São Paulo, 4-8 setembro de 1983. * * Do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de São Carlos Via Washington Luiz Km 235-13560 - São Carlos, SP - Brasil. *** Da Universidade de Brasília - Caixa Postal 15.3031-70000 - Brasília, DF - Brasil

MATERIAL E MÉTODOS 1. Seleção dos Animais Vinte e dois C. callosas, 7 machos e 15 fêmeas, com 2 meses de idade e peso médio de 26,5 g. (± 2,3), originados de um plantei adaptado ao cativeiro desde 1975 (Mello 12, 1983), foram utilizados na pesquisa. 2. Procedência da Amostra de L. d. chagasi, utilizada na pesquisa. A amostra de L. d. chagasi foi isolada de um paciente com 51 anos, residente no município de Imperatriz, Estado do Maranhão. Esta amostra vinha sendo mantida no laboratório através de inoculações em hamster. Antes de se iniciar os experimentos a amostra de L. d. chagasi foi adaptada ao C. callosus, após duas passagens sucessivas de inocules de "pool" de baço de hamster. 3. Procedimento do Experimento Os C. callosas foram inoculados com 0,1 ml de um homogeneizado em salina estéril, de baço de animal homólogo, rico em formas amastigotas. Esses animais foram guardados e observados no laboratório, sendo sacrificados após três meses de inoculados, quando estavam então com 5 meses de idade e pesando em média 29,7 g. (± 2,9). Foram retirados fígado e baço, pesados e comparados àqueles de animais sadios. Fragmentos desses órgãos foram fixados em formol 10% para confecção de cortes histológicos, corados com hematoxilina-eosina. Foram realizados esfregaços por aposição de fígado, baço e medula óssea e estiramento de sangue, corados pela Giemsa. Cultivo "in vitro", em meio acelular (LIT e NNN), foi realizado para sangue, fígado e baço. RESULTADOS E COMENTÁRIOS Todos os animais inoculados foram positivos à infecção por L. d. chagasi. Os pesos de fígado e baço dos animais infectados, comparados com animais normais, estão incisos na Tabela. Observa-se que o aumento de fígado e baço, traduzido em grama, foi bastante acentuado, caracterizando hepato e esplenomegalias. Foi diagnosticada a presença de numerosas formas amastigotas, intra e extracelular, em todos os esfregaços de medula óssea, fígado e baço. Houve positividade nas culturas de baço e fígado em 67% dos animais. Os resultados foram negativos para o sangue, quer no que se refere a cultura quer no que se refere aos esfregaços. Os achados histológicos foram os seguintes: Baço a estrutura deste órgão está representada por uma distribuição difusa e compacta de células mononucleares. O grau de parasitismo celular varia de moderado a severo; há presença de inúmeros macro fagos

vacuolados contendo formas amastigotas no citoplasma, observando-se ocasionalmente a formação de reação granulomatosa (Fig. 1); fígado neste órgão foram encontrados extensos infiltrados mononucleares com proliferação de células de Kupffer parasitadas, a formação de reação granulomatosa com células gigantes multinucleadas, principalmente ao nível dos espaços porta; nesses infiltrados, que penetram e destroem o parênquima hepático, notam-se hepatócitos com sinais degenerativos e inúmeras figuras de mitose (Fig. 2 e 3). O primeiro trabalho sobre roedores silvestres e infecção experimental por L. d. chagasi foi realizado por Adler e Theodor 1 (1931). Esses autores estudaram Microtus guntheri que se mostrou espécie bastante suscetível apresentando baço hipertrofiado e altamente rico em formas amastigotas. Grun 5 (1958) apresentou resultados promissores com Meriones unguícula t us. Stauber e col. 18 (1966), trabalhando com Arvicanthis niloticus niloticus, mostraram ser essa espécie de roedor tão suscetível quanto o hamster. Observaram hepato e esplenomegalia sendo esses órgãos altamente parasitados. No entanto, para o sangue, os resultados sempre foram negativos. Ranque e col. 17 (1974) mostraram que Arvicanthis niloticus, espécie encontrada naturalmente infectada por L. donovani, também se presta a estudos experimentais com esse protozoário. O parasita invade as vísceras, sendo a medula e o baço, locais em que se encontra maior quantidade de formas mastigotas. Esses autores mostraram também que os jovens eram mais suscetíveis do que os adultos. Krampitz e col 7. (1977) estudaram Clethrionomys glareolus, o qual se mostrou bom hospedeito experimental para L. donovani.

As experiências que aqui foram conduzidas indicam que a exemplo dos trabalhos acima mencionados, C. callosus poderia também se prestar a estudos experimentais com L. donovani. Acrescenta-se ainda que esse cricetídeo é um animal que se adapta bem às condições de cativeiro, seu manejo não apresenta dificuldade e atinge boa produtividade (Mello 12, 1983). MELLO, D. A. & TEIXEIRA, M, L. [Experimental infection of Calomys callosus (Rodentia- -Cricetidae) with Leishmania donovani]. Rev. Saúde públ., São Paulo, 18:337-41, 1984. ABSTRACT: In the current paper experimental infection of Calomys callosus with Leishmania donovani is reported for the first time. A group of 22 C. callosus aged 20 months and weighing 25 g were inoculated with 0.1 of a homogeneous saline preparation of infected spleens of homologous animals. The L. donovani strain used in the experiments was isolated from a case of human visceral leishmaniasis from the state of Maranhão, Brazil. The animals infected were weighed and killed 3 months after the experimental infection. Spleens and livers were also weighed and pieces from them were fixed in 10% formaline and stained with hematoxilin-eosin for histological studies. Impression smears stained with Giemsa were made and cultivation "in vitro" (NNN and LIT) was done, with material from blood, spleen, liver and bone marrow. At the end of the experiments the animals showed low of body weight. Splenomegaly was observed in all the inoculated animals. The "in vitro" cultures were positive from liver and spleen in 67% of the animals. Many extracellular and intracellular amastigote forms were seen in the smears of spleen, liver and bone marrow. Blood showed negative results. Histological studies of the liver showed proliferation of Kupffer cells and granulomatous reaction in the portal areas with multinucleated cells and amastigote forms of the parasites. Loss of folicular pattern with parasitism in great numbers of cells around which there were granulomatous reactions were observed in the spleen. UNITERMS: Calomys callosus. Leishmania donovani. Experimental infection. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. ADLER, S. & THEODOR, O. Investigations on Mediterranean kala-azar. II Leishmania infantum. Proc. roy. Soc. London, 108: 453- -502, 1931. 2. BORBA, C. E. Infecção natural e experimental de alguns roedores pelo Schistosoma mansoni Sambon, 1907. Belo Horizonte, 1972. [Dissertação de Mestrado Departamento de Parasitologia do ICB da UFMG] 3. BORGES, M. M. & MELLO, D. A. Infectividade de cepas silvestres de Trypanosoma cruzi mantidas em culturas, para Calomys callosus (Rodentia) e camundongos albinos. Rev. Patol trop., 9: 145-51, 1980. 4. BORGES, M. M. & KLOETZEL, J. Course of Trypanosoma cruzi infection in irradiated Calomys callosus (Rodentia-Cricetidae). In: Reunião Anual de Pesquisas Básicas em Doenças de Chagas, Caxambu, MG, 1982. Resumos. Caxambu, MG, 1982. p. 46. 5. GRUN, J. A study of experimental leishmaniasis in the mouse mongolian gerbil, hamster, white rat, cotton rat and chinchilla, 1958. PhD Thesis, Rutgers - The state University. Apud Stauber, L. A. 18 6. JUSTINES, G. & JOHNSON, K. M. Immune tolerance in Calomys callosus infected with machupo virus. Nature, 222: 1090-1, 1969. 7. KRAMPITZ, H. E.; WEBER, B. & SCHEFFER, K. Zum Vertalten von Leishmanien aus Hautulzera des Manschen in Kleinen Labortieren. Acta Trop., 34: 293-311, 1977. 8. MELLO, D. A. Note on breeding of Calomys callosus, Lund, 1841 (Rodentia, Cricetidae) under laboratory conditions. Rev. bras. Pesq. med. biol., 10: 107, 1977. 9. MELLO, D. A. Biology of Calomys callosus (Rengger, 1830) under laboratory conditions

(Rodentia, Cricetidae). Rev, bras. Biol, 38: 807-11, 1978. 10. MELLO, D. A. Infecção experimental de Calomys callosus (Rengger, 1830) (Cricetidae-Rodentia) a quatro espécies de parasitas. Rev. Soc. bras. Med. trop., 13: 101-5, 1979/80. 11. MELLO, D. A. Studies on reproduction and longevity of Calomys callosus under laboratory conditions (Rodentia, Cricetidae). Rev. bras. Biol, 41:841-3, 1981. 12. MELLO, D. A. Calomys callosus Rengger, 1830 (Rodentia-Cricetidae): sua caracterização, distribuição, biologia, criação e manejo de uma cepa em laboratório. Mem. Inst. Oswaldo Cruz, 79:37-44, 1984. 13. MELLO, D. A. & MOOJEN, L. E. Nota sobre uma coleção de roedores e marsupiais de algumas regiões do cerrado do Brasil Central. Rev. bras. Pesq. med. biol., 12: 287-91, 1979. 14. MELLO, D. A. & BORGES, M. M. Primeiro encontro do Triatoma costalimai naturalmente infectado pelo Trypanosoma cruzi: estudo de aspectos biológicos da amostra isolada. Mem. Inst. Oswaldo Cruz, 76: 61-9, 1981. 15. MELLO, D. A.; VALIN, E. & TEIXEIRA, M. L. Alguns aspectos do comportamento de cepas silvestres de Trypanosoma cruzi em camundongos e Calomys callosus. Rev. Saúde públ, S. Paulo, 13: 314-25, 1979. 16. MOOJEN, J. Os roedores do Brasil. Rio de Janeiro. Ministério de Educação e Saúde, 1952. (Biblioteca Científica Brasileira Série A II 1-A). 17. RANQUE, P.; QUILICI, M. & CAMERLYNCK, P. Arvicanthis niloticus (Rongeur, Muridé), reservoir de virus de base de Leishmaniose au Senegal. Bull Soc. Path, exot., 67: 167-75, 1974. 18. STAUBER, L. A.; McCONNELL, E. & HOOG- STRAAL, H. Leishmaniasis in the Sudan Republic, 25. Experimental visceral leishmaniasis in the Nile Grass Rat, Arvicanthis niloticus niloticus Dollman. Exper. Parasit., 18: 35-40, 1966. Recebido para publicação em 08/11/1983 Reapresentado em 09/05/1984 Aprovado para publicação em 18/05/1984