ANÁLISE DO TIPO DE PRECIPITAÇÃO NO INÍCIO E FIM DA ESTAÇÃO CHUVOSA SOBRE A BACIA AMAZÔNICA CENTRAL EM 2007/2008

Documentos relacionados
INÍCIO E FIM DA ESTAÇÃO CHUVOSA NA BACIA AMAZÔNICA CENTRAL: MONITORAMENTO COM DADOS DE PRECIPITAÇÃO ESTIMADA PELO SATÉLITE TRMM

TERMOS RESIDUAIS DOS BALANÇOS DE UMIDADE E CALOR EM REGIÕES DO SISTEMA DE MONÇÃO DA AMÉRICA DO SUL Sâmia Regina Garcia 1, Mary Toshie Kayano 2

POSIÇÕES DO CAVADO EQUATORIAL E DA FAIXA DE MÁXIMA TSM NO ATLÂNTICO TROPICAL.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ INSTITUTO DE RECURSOS NATURAIS PROGRAMA DE GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS ATMOSFÉRICAS

ANÁLISE DOS ASPECTOS CLIMATOLÓGICOS DA REGIÃO SUL DE MINAS GERAIS E SEUS IMPACTOS NO CULTIVO DE OLIVEIRAS - PARTE I: RELAÇÕES COM A PDO

ANÁLISE DOS ASPECTOS CLIMATOLÓGICOS DA REGIÃO SUL DE MINAS GERAIS E SEUS IMPACTOS NO CULTIVO DE OLIVEIRAS - PARTE II: DADOS DA FAZENDA EXPERIMENTAL

Início e Fim da Estação Chuvosa no Estado de Minas Gerais: Comparação de Duas Metodologias Diferentes

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO DIRETORIA DE PESQUISA

VARIABILIDADE INTERANUAL E SAZONAL DA ATIVIDADE CONVECTIVA SOBRE A AMÉRICA DO SUL UTILIZANDO DADOS DIGITAIS DE IMAGENS DE SATÉLITE

Os sistemas convectivos, principalmente a convecção de cúmulos, são os principais

ESTIMATIVA DO CONTEÚDO DE HIDROMETEROS E DAS FONTES DE CALOR NA AMÉRICA DO SUL USANDO O RADAR DE PRECIPITAÇÃO DO TRMM. Marcelo Barbio Rosa 1 RESUMO

ANÁLISE ESPACIAL DE CHUVA ACUMULADA DIARIAMENTE PARA IDENTIFICAÇÃO DE CARACTERÍSTICAS LOCAIS

A PRÉ-ESTAÇÃO CHUVOSA NO BRASIL E SUA RELAÇÃO COM O DIPOLO DO OCEANO ÍNDICO. Anita Rodrigues de Moraes Drumond 1 e Tércio Ambrizzi 1

Estimativa do conteúdo de hidrometeoros a partir dos dados médios globais de refletividade obtidos pelo TRMM-PR

COMO UM MODELO CLIMÁTICO REPRODUZ A CLIMATOLOGIA DA PRECIPITAÇÃO E O IMPACTO DE EL NIÑO E LA NIÑA NO SUL DA AMÉRICA DO SUL?

Aline Bilhalva da Silva 1 2, Manoel Alonso Gan 1. 2

Variabilidade Intrasazonal da Precipitação da América do sul

Variabilidade da Precipitação Pluviométrica no Estado do Amapá

PADRÕES DE TELECONEXÃO ASSOCIADOS A ATIVIDADES CONVECTIVAS NA REGIÃO TROPICAL

MODOS DE VARIABILIDADE NA PRECIPITAÇÃO PARA A REGIÃO SUL DO BRASIL NO CLIMA PRESENTE E FUTURO

UM ESTUDO PRELIMINAR SOBRE A PRECIPITAÇÃO EM ALAGOAS E SUA RELAÇÃO COM O SISTEMA DE BRISAS MARINHA / TERRESTRE

POSICIONAMENTO DA ZONA DE CONVERGÊNCIA INTERTROPICAL EM ANOS DE EL NIÑO E LA NIÑA

DETERMINAÇÃO DAS DATAS DO INÍCIO E FIM DAS ESTAÇÕES QUENTE E FRIA NO ESTADO DE SÃO PAULO

XV Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto SBSR. Gleyciano Mendes Teixeira 1 Daniela dos Santos Ananias 1 Felipe Freire Monteiro 1

INFLUÊNCIA DE LA NIÑA SOBRE A CHUVA NO NORDESTE BRASILEIRO. Alice M. Grimm (1); Simone E. T. Ferraz; Andrea de O. Cardoso

VARIABILIDADE CLIMÁTICA DA PRECIPITAÇÃO NO ESTADO DE SÃO PAULO

Sistema de Monção da América do Sul: Variabilidade Intrassazonal e Interanual. Manoel Alonso Gan

XII Congresso Brasileiro de Meteorologia, Foz de Iguaçu-PR, 2002

O INÍCIO DA ESTAÇÃO CHUVOSA NO SUDESTE DO BRASIL PELO MCGA CPTEC/COLA

MONITORAMENTO DA ZONA DE CONVERGÊNCIA INTERTROPICAL (ZCIT) ATRAVÉS DE DADOS DE TEMPERATURA DE BRILHO (TB) E RADIAÇÃO DE ONDA LONGA (ROL)

ASPECTOS CLIMÁTICOS DA ATMOSFERA SOBRE A ÁREA DO OCEANO ATLÂNTICO SUL

VARIABILIDADE DO REGIME DE MONÇÕES SOBRE A REGIÃO DO CERRADO: O CLIMA PRESENTE E PROJEÇÕES PARA UM CENÁRIO COM 2XCO2 USANDO O MODELO MIROC.

Convecção Amazônica e Alta da Bolívia. Introdução

Análise preliminar dos parâmetros convectivos nos eventos de trovoadas sobre o CLA

XII Congresso Brasileiro de Meteorologia, Foz de Iguaçu-PR, 2002

SINAIS DE EL NIÑO NA PRECIPITAÇÃO DA AMAZÔNIA. Alice M. Grimm (1); Paulo Zaratini; José Marengo

William B. Rossow Goddard Institute for Space Studies - GISS/NASA Broadway Avenue, 2880, New York-NY,

Mecanismos físicos associados à formação da Baixa do Chaco

INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS ESPACIAIS

ESTUDO DO CICLO ANUAL E DIURNO DA PRECIPITAÇÃO TROPICAL E SUBTROPICAL USANDO DADOS DE TRMM

Características da estação chuvosa em Moçambique e probabilidade de ocorrência de períodos secos

Variabilidade na velocidade do vento na região próxima a Alta da Bolívia e sua relação com a temperatura máxima e mínima no Sul do Brasil

Modulação espacial de episódios de ZCAS durante o verão austral

Variabilidade temporal da precipitação associada a mecanismos atmosféricos de múltiplas escalas de tempo

AVALIAÇÃO DA PRÉ-ESTAÇÃO CHUVOSA DE 1997/98 PARTE I: DISTRIBUIÇÃO PLUVIOMÉTRICA NO ESTADO DO CEARÁ

DESTREZA DO MODELO GLOBAL DE PREVISÃO DO TEMPO CPTEC/INPE NA DETERMINAÇÃO DA POSIÇÃO DA ZCIT

Classificação Termodinâmica das Radiossondagens em Belém durante o experimento BARCA

ANÁLISE DO BALANÇO DE RADIAÇÃO EM SUPERFÍCIE DO EXPERIMENTO CHUVA VALE DO PARAÍBA PARA DIAS SECOS E CHUVOSOS. Thomas KAUFMANN 1, Gilberto FISCH 2

CARACTERIZAÇÃO DA ZONA DE CONVERGÊNCIA DO ATLÂNTICO SUL (ZCAS) EM DADOS DE PRECIPITAÇÃO. Simone Erotildes Teleginski Ferraz 1 Tércio Ambrizzi 2

PRECIPITAÇÃO CLIMATOLÓGICA NO GCM DO CPTEC/COLA RESOLUÇÃO T42 L18. Iracema F. A. Cavalcanti CPTEC/INPE ABSTRACT

ANÁLISE DAS ANOMALIAS DA PRECIPITAÇÃO EM MINAS GERAIS

Fluxos de Calor Sensível e Calor Latente: Análise Comparativa. dos Períodos Climatológicos de e

CARACTERÍSTICAS DA PRECIPITAÇÃO SOBRE O BRASIL NO VERÃO E OUTONO DE 1998.

MATERIAL E MÉTODOS RESULTADO E DISCUSSÃO

PREENCHIMENTO DE FALHAS DE DADOS MENSAIS DE PRECIPITAÇÃO: COMPARAÇÃO BÁSICA PONTUAL PARA PELOTAS-RS

VARIABILIDADE DA CHUVA NA REGIÃO CENTRAL DO AMAZONAS: O USO DO SATÉLITE TRMM

Influência dos valores extremos da TSM do Atlântico Norte nos anos de 1974 e 2005 sobre o regime de precipitação das cidades do Estado do Amazonas

HÁ IMPACTO SIGNIFICATIVO DE EVENTOS EL NIÑO E LA NIÑA NO CENTRO-OESTE DO BRASIL?

XII Congresso Brasileiro de Meteorologia, Foz de Iguaçu-PR, 2002

Relação da precipitação no Rio Grande do Sul no bimestre janeiro-fevereiro com a TSM de áreas do Pacifico Central e Atlântico Sudoeste

XII Congresso Brasileiro de Meteorologia, Foz de Iguaçu-PR, 2002

Massas de Ar e Frentes. Capítulo 10 Leslie Musk

Relação entre a precipitação pluvial no Rio Grande do Sul e a Temperatura da Superfície do Mar do Oceano Atlântico

Extremos de precipitação mensal sobre a Bacia La Plata e Bacia Amazônica

1 Universidade Federal de Itajubá

Balanço Energético Observado

DETERMINAÇÃO DA ALTURA DA CAMADA LIMITE PLANETÁRIA EM CASOS DE TRANSIÇÃO DE CONVECÇÃO RASA PARA PROFUNDA DURANTE O EXPERIMENTO GOAMAZON

Este trabalho apresenta os padrões atmosféricos e oceânicos dominantes no início da

UNIFEI Universidade Federal de Itajubá, Av. BPS 1303 Itajubá, MG Brasil.

EVENTOS EXTREMOS DE PRECIPITAÇÃO SOBRE O SUL DO NORDESTE

A ZONA DE CONVERGÊNCIA INTERTROPICAL SOBRE O OCEANO ATLÂNTICO: CLIMATOLOGIA

XII Congresso Brasileiro de Meteorologia, Foz de Iguaçu-PR, 2002

AVALIAÇÃO DOS DADOS DE PRECIPITAÇÃO SOBRE O BRASIL PROVENIENTES DE DIFERENTES FONTES DE DADOS RESUMO

Modulações da ZCAS pelas temperaturas da superfície do mar no Atlântico Sudoeste

Estudo de Caso de Chuvas Intensas em Minas Gerais ocorrido durante período de atuação da Zona de Convergência do Atlântico Sul

CICLONES EXTRATROPICAIS E EVENTOS EXTREMOS CHUVOSOS SOBRE A BACIA DO RIO DA PRATA

MODELOS DE CIRCULAÇÃO. Teorias sobre a circulação geral da atmosfera

Análise do aquecimento anômalo sobre a América do sul no verão 2009/2010

fields is more appropriate, since intervals of 3 and especially 6 hours preclude the ForTraCC to track CSs that do not have overlapping area.

INFLUÊNCIA DE EL NIÑO SOBRE A CHUVA NO NORDESTE BRASILEIRO. Alice M. Grimm (1); Simone E. T. Ferraz; Andrea de O. Cardoso

PRECIPITAÇÃO ME SAL O RIO GRA DE DO SUL E O Í DICE DE OSCILAÇÃO A TÁRTICA.

VARIABILIDADE DA PRECIPITAÇÃO SOBRE O SUL DO NORDESTE BRASILEIRO ( ) PARTE 1 ANÁLISE ESPACIAL RESUMO

Variabilidade Diurna dos Fluxos Turbulentos de Calor no Atlântico Equatorial Noele F. Leonardo 12, Marcelo S. Dourado 1

FREQUÊNCIA DE LINHAS DE INSTABILIDADE E CONVECÇÃO SOBRE A COSTA NORTE DO BRASIL

INFORMATIVO CLIMÁTICO

ANÁLISE DO ALGORITMO HIDROESTIMADOR NA CLIMATOLOGIA DE CHUVAS DA REGIÃO NORDESTE DO BRASIL

COMPARAÇÃO ENTRE DIFERENTES AMOSTRAGENS DE EVENTOS DE ZCAS Flávia Venturini Rosso 1, Nathalie Tissot Boiaski 2 e Simone Erotildes Teleginski Ferraz 2

Estudo de Sistemas Convectivos de Mesoescala no Sul da América do Sul utilizando o Modelo WRF

IMPACTOS DA OSCILAÇÃO DE MADDEN-JULIAN NA AMÉRICA DO SUL E SUAS TELECONEXÕES PARA A ÁFRICA

Introdução. Vento Movimento do ar atmosférico em relação à superfície terrestre. Gerado por:

Interannual analysis of the influence of SACZ on the Subsluent Natural Energy of Subsystems in hydrographic basins of the Brazilian Southeast region

Resumo. Abstract. Palavras chave: complexo convectivo de mesoescala, análises transversais, movimento vertical, células convectivas. 1.

CLIMATOLOGIA ENERGÉTICA DA REGIÃO PREFERENCIAL DOS VÓRTICES CICLÔNICOS DE ALTOS NÍVEIS (VCAN) E DA ZONA DE CONVERGÊNCIA INTERTROPICAL (ZCIT)

CICLOGÊNESE EM SUPERFÍCIE SOBRE A AMÉRICA DO SUL POR MANOEL ALONSO GAN VADLAMUDI BRAHMANANDA RAO CPTEC - INSTITUTO DE PESQUISAS ESPACIAIS- S.J.

AS ESTIAGENS NO OESTE DE SANTA CATARINA ENTRE

ESTUDO CLIMATOLÓGICO DA POSIÇÃO DA ZCIT NO ATLÂNTICO EQUATORIAL E SUA INFLUÊNCIA SOBRE O NORDESTE DO BRASIL

PROJEÇÕES DE PRECIPITAÇÃO PARA O ESTADO DE SÃO PAULO E MODOS DE VARIABILIDADE NA ESTAÇÃO DE VERÃO EM RESULTADOS DO MODELO REGIONAL ETA

VARIABILIDADE DA PRECIPITAÇÃO EM CAMPO GRANDE, MATO GROSSO DO SUL

Transcrição:

ANÁLISE DO TIPO DE PRECIPITAÇÃO NO INÍCIO E FIM DA ESTAÇÃO CHUVOSA SOBRE A BACIA AMAZÔNICA CENTRAL EM 2007/2008 Alan James Peixoto Calheiros 1, Sâmia Regina Garcia 2, Mary Toshie Kayano 3, Luiz Augusto Toledo Machado 4 1,2, 3,4 Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, Avenida dos Astronautas 1758 São José dos Campos, SP - Brasil alan.calheiros; samia.garcia; mary.kayano; luiz.machado @cptec.inpe.br RESUMO: O Início e o Fim da Estação Chuvosa (IEC e FEC) de 2007 e 2008, respectivamente, são investigados na região da Bacia Amazônica Central (BAC) utilizando os dados de Radiação de Onda Longa () e dados do Tropical Rainfall Measuring Mission (TRMM) Precipitation Radar (PR). A determinação das datas de IEC e FEC foi baseada no campo de i-simétrico em relação ao equador. O campo de médio na BAC para o período de IEC de 2007 fornece uma boa indicação de quando a estação chuvosa é estabelecida na região. Entreto, a data de FEC de 2008 estimada da série de é uma ou duas pêntadas es da data quando a precipitação é ausente na região da BAC. Com os dados do TRMM/PR foi possível analisar o tipo de precipitação associado ao IEC e FEC sobre a região e avaliar o período de transição. Notou-se, assim, que a precipitação estratiforme tem grande influência no FEC. ABSTRACT: ANALYSIS OF THE PRECIPITATION TYPE ON THE ONSET AND DEMISE OF THE RAINY SEASON OVER CENTRAL AMAZON BASIN OF 2007/2008 Onset and demise of the rainy season (ONR and DER) of 2007 and 2008, respectively, are investigated over the Central Amazon Basin (CAM) using outgoing longwave radiation (OLR) data and TRMM/PR (Tropical Rainfall Measuring Mission Precipitation Radar). The determination of these dates was based on the isymmetric in relation to the equator outgoing longwave radiation AOLR. The spatial average of AOLR over the CAM for the ONR of 2007 gives a reasonable indication of when the rainy season is established in the region. However, the DER date estimated from the AOLR time series for 2008 is one to two pentads before the date when rainfall is absent in the CAM region. With the TRMM/PR data, it was possible to analyze the type of precipitation associated to ONR and DER over the area and to assess the transition period. Thus, it was noted that the stratiform precipitation has influence on the FEC. Palavras-Chave: Estação Chuvosa, precipitação, TRMM 1. INTRODUÇÃO A determinação das datas de Início e Fim da Estação Chuvosa (IEC e FEC, respectivamente) é de grande importância para a sociedade em geral e tem sido o foco de vários estudos. Tal importância justificase, pois, quando se tem o conhecimento dessas datas, faz-se possível um planejamento das atividades que dependem de tal informação, tais como a agricultura, a defesa civil e a geração de energia. No que concerne à região da América tropical, esse aspecto torna-se ainda mais releve, visto que a mesma é um dos três centros convectivos mais ativos e intensos do globo. Em adição a essa característica, pode-se observar ainda a existência do Sistema de Monção da América do Sul (SMAS), o maior componente dos regimes de precipitação de verão deste continente. Vários trabalhos têm desenvolvido metodologias para encontrar as datas de IEC e FEC relacionadas ao SMAS (p.e., Kousky, 1988; Marengo et al., 2001; Gan et al., 2004). Garcia e Kayano (2009a) desenvolveram um novo método de detecção do IEC para a região da Bacia Amazônica Central (BAC), limitada por 2,5ºS, 10ºS, 62,5ºW e 55ºW. Como Murakami e Nakazawa (1985) observaram que os sistemas monçônicos do globo, incluindo o SMAS, podem ser encontrados no campo de i-simétrico em relação ao equador, Garcia e Kayano (2009a) estabeleceram como critério de IEC a mudança de sinal de positivo (ausência de convecção) para negativo (presença de convecção) do médio na região da BAC. Compostos de algumas variáveis foram feitos e os mesmos apresentaram aspectos evolutivos fisicamente consistentes para o período de IEC. Em um trabalho submetido para o III SIC, Garcia e Kayano (2009b) encontraram as datas de IEC e FEC para a região da BAC para os anos de 2006 e 2007, respectivamente, utilizando a mesma metodologia. Cabe ressaltar que, para o FEC, a mudança de sinal é de negativo para

positivo. Elas observaram que a data de IEC fornece uma boa indicação de quando a estação chuvosa é estabelecida na região da BAC, enquo a data de FEC estimada pelo método é uma ou duas pêntadas es da data quando a precipitação estimada pelo satélite TRMM é ausente na região. Logo, o intuito do trabalho é o de analisar os períodos de transição em função do tipo de precipitação sobre a BAC e examinar a influência de precipitação estratiforme na provável falha de identificação da data de FEC pelo método acima, visto que este mede a atividade convectiva. Assim, analisar a freqüência de precipitação estratiforme sobre a região de monção é de suma importância. Houze (1982) estudou os movimentos verticais em grande escala e os efeitos de grandes aglomerados de nuvens, que nos trópicos representam a maior fração de precipitação observada. Ele observou que tais aglomerados de nuvens foram caracterizados pela presença de grandes torres de cumulonimbos envolvidas por uma densa e ampla camada de nuvens estratiformes (cloud desk) que as conectam. Dentro desta cloud desk existem uma suave corrente ascendente associada ao aquecimento pela liberação de calor latente de condensação e uma corrente descendente na baixa troposfera relacionada ao derretimento e evaporação da precipitação estratiforme. Ele mostrou que o aquecimento radiativo e o calor latente liberado por cloud desks é similar em magnitude ao aquecimento associado a torres cúmulos. Schumacher e Houze (2003a) também verificaram os efeitos da precipitação estratiforme sobre a região tropical e observaram que esta representa 73 % da área coberta de chuva e 40 % do total acumulado. 2. DADOS E METODOLOGIA Nesse trabalho, foram utilizados dados diários de obtidos de um satélite de órbita polar da National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), os quais foram interpolados por Liebmann e Smith (1996). Os dados de são encontrados no site http://www.cdc.noaa.gov e estão disponíveis em uma grade com espaçamento de 2,5º de latitude por longitude. Os dados foram selecionados para o período de 25 de julho a 26 de novembro de 2007 e de 6 de abril e 8 de agosto de 2008. Inicialmente, foram calculadas pêntadas nos dados de com o intuito de se evitar efeitos de transientes de mais alta freqüência nas análises. Os períodos de análise correspondem às pêntadas de 42 a 66 de 2007 e 20 a 44 de 2008. Assim, o campo de é calculado para cada pêntada, assim como proposto por Murakami e Nakazawa (1985). Tal divisão, em relação ao equador geofísico (y=0), é feita da seguinte maneira: x, y x, y x, y (1) em que x é a longitude e y é a distância latitudinal em relação ao equador (y=0). O se refere à diferença de do Hemisfério Sul (HS) menos do Hemisfério Norte (HN). Assim valores negativos (positivos) de numa área ao sul do equador indicam presença (ausência) de convecção nesta área. 2 Em seguida, médias espaciais do campo de foram obtidas para a região da BAC utilizada por Garcia e Kayano (2009a, 2009b) para cada pêntada dos períodos selecionados. Os produtos 2A25 e 2A23 derivados do Tropical Rainfall Measuring Mission (TRMM) Precipitation Radar (PR) foram utilizados no período de IEC e FEC sobre a BAC. O produto 2A23 foi utilizado para a classificação estratiforme-convectiva da precipitação atue sobre a região (Awaka, 1997). Baseado nos perfis verticais e horizontais produzidos pelo TRMM/PR, o algoritmo determina o tipo de precipitação em função da altura do topo do echo, da banda brilhe, da máxima refletividade e da variabilidade horizontal. Para analisar a precipitação próxima à superfície, foi utilizada a refletividade medida pelo TRMM/PR, usando o produto 2A25 (Iguchi et al., 2000). Contudo, a refletividade (dbz) medida foi transformada em taxa de precipitação (mm/h) estratiforme e convectiva pela relações descritas abaixo e, em seguida, acumulada para cada pêntada. Com o intuito de diminuir e/ou filtrar o erro associado à freqüência de passagens do satélite, foi utilizada a média móvel. 1.49 Z 276R (Estratiforme) (2) 1.55 Z 148R (Convectiva) (3)

3. RESULTADOS A série temporal do entre as pêntadas 42 e 66 de 2007 mostra que o IEC ocorreu na pêntada 57, quando a mudança do sinal positivo para negativo indica a presença de atividade convectiva na região da BAC (Figura 1a). Quo ao FEC, o mesmo pode ser inferido da série do entre as pêntadas 20 e 44 de 2008, a qual indica que o estabelecimento das condições secas na região da BAC deu-se na pêntada 29 (Figura 1b). Assim, campos de precipitação estimada pelo satélite TRMM para esses períodos de transição foram calculados, como em Garcia e Kayano (2009b). Esses mapas não são mostrados em virtude de espaço do trabalho. Para o IEC, tem-se que a pêntada encontrada pelo método é consistente com o início das condições úmidas sobre a região da BAC, enquo que, para o FEC, a pêntada estimada é uma ou duas pêntadas es da ausência da precipitação na região. Esses resultados para a estação chuvosa de 2007-2008 são baste consistentes com os de Garcia e Kayano (2009b), que fizeram os cálculos para a estação chuvosa de 2006-2007. Assim, o método é baste eficiente no que concerne ao IEC (Garcia e Kayano, 2009a, 2009b), porém, ele ecipa a data de FEC (Garcia e Kayano, 2009b). Figura 1 sobre a BAC para IEC de 2007 e FEC de 2008. As unidades do eixo das 2 ordenadas são W / m. Assim, uma análise para identificar o tipo de precipitação no período de IEC e FEC para a região da BAC foi feita com os dados do TRMM/PR. A Figura 2 mostra a freqüência absoluta por pêntada de precipitação convectiva e estratiforme para IEC e FEC sobre a área de análise na BAC. Pode-se notar que, até a pêntada 54, os valores de ambas as freqüências são similares no período de IEC (Figura 2a). A partir dessa pêntada, a freqüência absoluta de precipitação estratiforme aumenta, enquo a freqüência absoluta de precipitação convectiva diminui ligeiramente na pêntada 55, e aumenta a partir da pêntada 56. Esse comportamento de aumento da freqüência absoluta de precipitação, to estratiforme quo convectiva, é consistente com a data de IEC encontrada pelo método do, que foi a 57. Esse rápido aumento das freqüências da precipitação logo após IEC é esperado, além disso, o número de eventos classificados como estratiformes é superior ao convectivos o que fisicamente é coerente, visto que to podem ocorrer chuvas estratiformes isoladas como as associadas a sistemas convectivos (Houze, 1982; Houze, 1993). Além dessas classificações existe outro conjunto chamado de others, que se aplica quando nenhum dos critérios de convectiva ou estratiforme for atendido. Essa classificação também foi considerada neste estudo, contudo sua freqüência foi desprezível. Nota-se ainda, que no que se refere ao período de FEC, pode-se observar uma diferença relativamente maior entre as freqüências absolutas de precipitações estratiforme e convectiva quando

comparado ao IEC, principalmente nas pêntadas eriores à pêntada de FEC, que é a 29 (Figura 2b). Cabe ressaltar a acentuada diminuição da freqüência absoluta de precipitação estratiforme da pêntada 26 à pêntada 29, consistente com o estabelecimento de condições secas sobre a região. Assim, pode-se inferir que o atraso na data de FEC indicada pelo índice de é justificado pela dominância de freqüência absoluta de precipitação estratiforme nesse período, visto que tal índice representa, principalmente, de atividade convectiva. Contudo, deve se levar em consideração o fato da presença de subsidência sobre a região dure o FEC que pode inibir o desenvolvimento de nuvens convectivas, o que provavelmente acarretaria uma classificação errônea do tipo de precipitação, visto que precipitações de nuvens rasas são freqüentemente classificadas como estratiforme (Schumacher e Houze, 2003b). O aumento relativo das freqüências da precipitação sobre a região após o início da estação seca se deve possivelmente à ocorrência da penetração de sistemas transientes e convecção local. Quando analisada a precipitação média acumulada, to no IEC como no FEC, observa-se que os valores da precipitação convectiva são maiores quando comparada à estratiforme (Figura 3a e b). Ou seja, mesmo com uma freqüência menor, a precipitação convectiva é superior à estratiforme e os valores médios no fim da estação são menores que aqueles estimados no início da estação, o que vem a ser coerente. Figura 2 Freqüência absoluta do tipo de precipitação estimada pelo TRMM/PR para a) IEC de 2007 e b) FEC de 2008 sobre a BAC. Figura 3 Precipitação média estratiforme e convectiva estimada pelo TRMM/PR para a) IEC de 2007 e b) FEC de 2008 sobre a BAC. 4. CONCLUSÕES Através dos resultados obtidos, tem-se que o campo de para o período de IEC é um bom indicativo de quando a EC é estabelecida na região da BAC. Entreto, a data de FEC estimada da série de é

uma ou duas pêntadas es da data quando a precipitação estimada pelo satélite TRMM é ausente na região da BAC. Esse fato pode ser justificado pela maior freqüência absoluta de precipitação estratiforme, principalmente dure o FEC. Logo, esse trabalho vem confirmar que o método é mais apropriado para determinar o IEC que o FEC, em virtude de sua característica convectiva, e que a precipitação estratiforme é de grande importância e deve ser considerada para um melhor entendimento sobre os processos de determinação das datas de IEC e FEC sobre a região tropical. AGRADECIMENTOS: Os autores agradecem ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo fornecimento do auxílio financeiro. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AWAKA, J., T. IGUCHI, H. KUMAGAI, and K. OKAMOTO.Rain type classification algorithm for TRMM precipitation radar. Proc. 1997 Int. Geoscience and Remote Sensing Symp., Singapore, IEEE, 1633 1635, 1997. GAN, M. A., KOUSKY, V. E.; ROPELEWSKI, C. F. The South America monsoon circulation and its relationship to rainfall over West-Central Brazil. J. Climate, 17, 47-66, 2004. GARCIA, S. R.; KAYANO, M. T. Determination of the onset dates of the rainy season in the Central Amazon with the equatorially isymmetric Outgoing Longwave Radiation. Theor. Appl. Climatol., 97, 361-372, 2009a. GARCIA, S. R., KAYANO, M. T. Início e fim da estação chuvosa na Bacia Amazônica Central: monitoramento com dados de precipitação estimada pelo satélite TRMM. III Simpósio Internacional de Climatologia, 18-21 outubro, Canela, RS, 2009b. HOUZE, R. A.: Cloud clusters and large-scale vertical motions in the tropics. Journal Meteor. Soc. Japan, 60, 396 410, 1982. HOUZE, R. A., Jr. Cloud Dynamics. Academic Press, 573 pp, 1993. IGUCHI, T., T. KOZU, R. MENEGHINI, J. AWAKA, and K. OKAMOTO. Rain-profiling algorithm for the TRMM Precipitation Radar. J. Appl. Meteor., 39, 2038 2052, 2000. KOUSKY, V. E. Pentad outgoing longwave radiation climatology for the South American sector. Rev. Bras. Meteor., 3, 217-231, 1988. LIEBMANN, B.; SMITH, C. A. Description of complete (interpolated) outgoing longwave radiation data set. Bull. Amer. Meteor. Soc., 77, 1275-1277, 1996. MARENGO, J.; LIEBMANN, B.; KOUSKY, V. E.; FILIZOLA, N.; WAINER, I. On the onset and end of the rainy season in the Brazilian Amazon Basin. J. Climate, 14, 833-852, 2001. MURAKAMI, T.; NAKAZAWA, T. Transition from the southern to northern hemisphere summer monsoon. Mon. Wea. Rev., 113, 1470-1486, 1985. SCHUMACHER, C., and HOUZE, R. A.: Stratiform Rain in the Tropics as Seen by the TRMM Precipitation Radar. J. Climate, 16, 1739 1756, 2003a SCHUMACHER, C., and HOUZE, R. A.: The TRMM precipitation radar s view of shallow, isolated rain. J. Appl. Meteor., 42, 1519 1524, 2003b.