Entrevista com o pesquisador de política externa brasileira Rogério de Souza Farias

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Transcrição:

Entrevista com o pesquisador de política externa brasileira Rogério de Souza Farias Introdução Luis Fernando Silva Sandes 1 Rogério de Souza Farias, o entrevistado, fez sua carreira acadêmica, da graduação ao primeiro pós-doutorado, em Relações Internacionais na Universidade de Brasília (UnB). Atualmente é pesquisador do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI) da Fundação Alexandre de Gusmão (Funag), que é vinculada ao Ministério das Relações Exteriores. A Funag tem duas vertentes de atuação: divulgação de assuntos de política externa brasileira e promoção de debates sobre tópicos ligados às relações exteriores. Já o IPRI, entre outras tarefas, sistematiza documentação pertinente e desenvolve estudos sobre temas internacionais. Seu objetivo é aprofundar o diálogo entre a academia e o ministério. Os interesses acadêmicos de Rogério Farias são, sobretudo, política externa brasileira, negociações de comércio internacional e história do serviço diplomático brasileiro. Ele tem longa lista de publicações em periódicos acadêmicos nacionais e estrangeiros. Publicou três livros, sendo que o mais recente livro é Edmundo P. Barbosa da Silva e a Construção da Diplomacia Econômica no Brasil 2. Mesmo não sendo historiador de formação, o pesquisador tem estudado eventos no passado, para o que vem adquirindo ferramentas teóricas e práticas tanto nos estudos acadêmicos como na prática do trabalho. Uma abordagem metodológica que vem utilizando em seus empreendimentos é o método prosopográfico, ou método da biografia coletiva, o qual 1 Mestrando em Ciências Sociais e graduado em Relações Internacionais, ambos pela PUC-SP. No mestrado pesquisa, com base, entre outras ferramentas, no método da biografia coletiva, um movimento de arte de vanguarda na cidade de São Paulo na década de 1950: o concretismo. 2 FARIAS, Rogério de Souza. Edmundo P. Barbosa da Silva e a construção da diplomacia econômica brasileira. Brasília: Funag, 2017.

Aedos, Porto Alegre, v. 10, n. 22, p. 347-351, Ago. 2018 348 conheceu no CPDOC/FGV. Os resultados se chamam prosopografia e biografia coletiva, respectivamente. O método prosopográfico inicialmente se restringia às Histórias Antiga e Medieval. Nas últimas décadas passou a ser aplicado para outras áreas do conhecimento. É uma forma de praticar sociologia no passado. Em artigo já clássico, o historiador Lawrence Stone afirmou que A prosopografia é a investigação das características comuns de um grupo de atores na história por meio de um estudo coletivo de suas vidas 3. Os grupos pesquisados geralmente são da elite (no sentido instrumental do termo) dada a frequente abundância de fontes e materiais. Uma vez delimitado o universo da pesquisa, são formulados questionários a respeito da vida das pessoas e da interação entre elas, em determinado campo da vida (política, artes, etc.). O objetivo é obter uma fotografia, ou um conjunto de fotografias, de um grupo em dado momento, na qual se mostrem as dinâmicas sociais e geracionais. No Brasil, a biografia coletiva vem sendo introduzida e praticada apenas nos últimos anos, sendo seu principal incentivador o professor da Universidade Federal do Paraná Flavio M. Heinz, que organizou livro com abordagens prosopográficas de diferentes elites no Brasil desde 1850: militar, cultural (cinema de vanguarda), jurídica, política e empresarial 4. Já que se trata de método adequado para lidar com grande número de indivíduos, Farias tem se servido dele para suas pesquisas sobre a formulação de políticas de assuntos internacionais (principalmente econômicos e comerciais) e sobre diplomatas. Confira abaixo a entrevista, que foi concedida por e-mail em outubro de 2017 e janeiro de 2018. *** Autor: Sua formação, desde a graduação até o doutorado, foi realizada na Universidade de Brasília (UnB). Depois de seu primeiro pós-doutorado, na UnB, o senhor foi à Universidade de Chicago realizar outro. O que o levou até lá? RSF: Razões familiares. Minha esposa foi trabalhar na cidade. Autor: Houve uma grande diferença entre a Universidade de Chicago e a de Brasília? Qual foi o maior impacto sobre o senhor? 3 STONE, Lawrence. Prosopografia. Rev. Sociol. Polit., Curitiba, v.19, n.39, pp.115-137, jun. 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s0104-44782011000200009&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 2 dez. 2017. 4 HEINZ, Flavio M. História social de elites. São Leopoldo: Oikos, 2011.

Aedos, Porto Alegre, v. 10, n. 22, p. 347-351, Ago. 2018 349 RSF: São muito distintas as duas instituições, mais particularmente no tipo de centro ao qual estava vinculado. O Centro de Estudos Latino-Americanos é uma instância interdisciplinar, que possibilita acesso a todos os Departamentos, promovendo eventos temáticos de alta importância. A Universidade de Chicago, por sua vez, conta com muitos recursos, o que possibilita acesso a material do mundo todo, além de promover eventos com os melhores pesquisadores do mundo. Há, também, a diferença de cultura acadêmica, pois em Chicago é recorrente a utilização de pequenos seminários de discussão de trabalhos um importante pelotão de fuzilamento que ajuda sensivelmente a melhora da atividade acadêmica. Autor: Durante sua graduação em Relações Internacionais, o senhor fez duas iniciações científicas. Em quais sentidos elas são importantes para seu trabalho hoje? RSF: Ensinaram-me a ter foco e capacidade para planejar uma pesquisa. Autor: Parte da sua pesquisa trata da formação de processos decisórios de tópicos da política externa brasileira. Em que medida o método prosopográfico o auxilia nesses estudos? RSF: O método prosopográfico ajuda-me principalmente na questão da amostragem e como trabalhar a consistência das conclusões na elevação da escala de inferências de casos individuais. Autor: Quais são os países com os estudos prosopográficos mais avançados atualmente? RSF: Não sou familiarizado com outras comunidades acadêmicas, mas diria que os Estados Unidos e a França são os países mais relevantes no uso da técnica. Autor: Como o senhor tomou conhecimento da biografia coletiva e de seu método? RSF: Por intermédio de um seminário no CPDOC/FGV. Iniciei-me utilizando como exemplo a trajetória de história de elites. Autor: Como o senhor definiria biografia coletiva? RSF: A definição mais tradicional seria o conjunto de biografias no modelo criado por Giorgio Vasari no Renascimento. Um volume com conjunto específico de biografias, no entanto, não é

Aedos, Porto Alegre, v. 10, n. 22, p. 347-351, Ago. 2018 350 hoje considerado, por si só, como método adequado. Hoje o termo biografia coletiva é utilizado como sinônimo de prosopografia. Autor: Notei que, em diversos trabalhos, o senhor contou com outras pessoas para pesquisar. Qual a importância do trabalho em equipe? RSF: Infelizmente, na área de humanas, a colaboração ainda é um pouco de tabu. Isso é uma infelicidade. O trabalho em equipe melhora consideravelmente a qualidade do produto final, principalmente pelo debate de ideias e a crítica livre. Autor: No seu caso, como as universidades e as agências de fomento vêm lidando com o trabalho em equipe? RSF: Não conseguiria dizer. Nunca tive sucesso com financiamento em equipe. Autor: O senhor banca os seus auxiliares de pesquisa com dinheiro próprio? RSF: Utilizo recursos de chamadas públicas para financiar esses auxiliares. Autor: De modo geral, o que o senhor toma em consideração para escolher as fontes da pesquisa? RSF: Depende do objeto de estudo. Como trabalho com política externa, sempre tento compreender o processo decisório e identificar quais foram as fontes que registraram a dinâmica decisória. Autor: O senhor desenvolve sua carreira acadêmica em paralelo à carreira de funcionário público. Como se cruzam as carreiras? Em quais aspectos uma favorece a outra? Em que uma complica a outra? RSF: Sim. Esse é um caso muito atípico. Considero ser um "círculo virtuoso". A experiência de como o governo funciona é essencial para poder estudar qualquer política pública. A complicação vem com o óbvio cerceamento da liberdade e, mais importante, do tempo diminuto para pesquisa e, mais importante, inflexibilidade para lidar com agendas externas. Autor: A que cerceamento da liberdade o senhor se refere? RSF: Estar inserido no contexto estatal dificulta uma compreensão adequada dessa mesma realidade. Estou consciente que há um processo de autocensura que impede o estudo de temas muito contemporâneos e que afetem o meu cotidiano profissional.

Aedos, Porto Alegre, v. 10, n. 22, p. 347-351, Ago. 2018 351 Autor: Em qual momento da sua produção acadêmica o senhor passou a se deparar com dados de grande monta? Como lidou inicialmente com eles? RSF: No doutorado, quando lidei com ofertas tarifárias brasileiras. Inicialmente lidei utilizando o Excel. Autor: Quais ferramentas metodológicas e analíticas vêm sendo importantes para seu trabalho com grandes séries e grandes volumes de dados? RSF: Atualmente sou grande fã do Tableau, um software de big data. Autor: No que consiste esse software? É livre? RSF: Este é um software de big data. Sua versão livre é denominada de Tableau Public. Mais informações podem ser encontradas no site da empresa. Autor: "Geração" é tanto um conceito corrente, de sentidos múltiplos utilizados pelos diferentes atores, como matéria de estudos aprofundados sociológicos. Algum comentário sobre como inter-relacionar ambos? RSF: Há, como tudo nas ciências sociais, realmente multiplicidade de conceitos. O importante é fazer uma revisão da literatura e selecionar o que seja mais preciso e ofereça a melhor delimitação conceitual (cohort, em inglês). Autor: Qual seu projeto atual de pesquisa? Algum artigo ou livro em andamento? RSF: Estou concluindo um volume com uma análise geracional de diplomatas brasileiros 5. Esse grupo reformador teve grande impacto na política externa brasileira. 5 O título provisório é Os inconformistas disciplinados: Gerações, alianças e reforma na política externa brasileira (1930-1964). Encontra-se disponível em: <https://brasilia.academia.edu/rog%c3%a9riodesouzafarias>. Acesso em 30 out. 2017.