Grupo Parlamentar PROJETO DE LEI N.º 434/XIII/2.ª GARANTE O DIREITO DE DECLARAÇÃO CONJUNTA DAS DESPESAS COM DEPENDENTES PARA EFEITOS DE IRS Exposição de motivos O exercício das responsabilidades parentais não é, necessariamente, decorrente de relações de filiação ou de relações biológicas. O Código Civil, já desde a sua redação original de 1966, permite a regulação das responsabilidades parentais no sentido de as atribuir a quem não tenha uma relação de filiação com as crianças, nos casos de suprimento por via da tutela, e até mesmo, como no caso da adoção, a quem não tenha qualquer relação biológica com quem é adotado. Ao longo dos anos decorridos da vigência do Código Civil, o Direito da Família sofreu diversas evoluções decorrentes da alteração dos modos e opções de vida das portuguesas e dos portugueses, acolhendo sucessivas alterações ao regime da dissolução do casamento ou à sua extensão a casais do mesmo sexo, alargando a figura da união de facto e equiparando-a em muitos aspetos ao casamento ou alterando o regime da adoção e introduzindo a figura do apadrinhamento civil. A lei fiscal, contudo, não acompanhou de forma suficiente esta alteração da realidade social, tratando ainda hoje de forma iníqua e injusta diversas formas de regulação das 1
responsabilidades parentais, que permanecem ainda amarradas ao estado civil ou à forma de organização de vida presente ou pretérita de um casal. Há que sublinhar, mais uma vez, que a regulação de responsabilidades parentais não está necessariamente associada às relações de filiação ou às relações biológicas entre aqueles a quem é atribuído o exercício das responsabilidades parentais e aqueles que são protegidos por esse instituto jurídico. A partir de 2015, com a entrada em vigor da Lei n.º 82-E/2014, de 31 de dezembro, os casais divorciados ou separados judicialmente de pessoas e bens passaram a poder partilhar, na declaração anual do imposto sobre o rendimento das pessoas singulares, as despesas com os filhos dependentes, em caso de exercício em comum das responsabilidades parentais. Com efeito, a atual redação do artigo 13.º, n.º 9, do Código do Imposto sobre Rendimentos das Pessoas Singulares (CIRS), atribui aos pais divorciados, separados judicialmente de pessoas e bens, bem como àqueles cujos casamentos tenham sido declarados nulos ou anulados, a faculdade de partilharem as despesas de educação, saúde e outras com os filhos/as dependentes em sede de IRS, quando as responsabilidades parentais são exercidas em conjunto. No entanto, tal faculdade encontra-se vedada em todas as demais circunstâncias em que aquelas responsabilidades parentais também são exercidas em conjunto, como sejam os casos, por exemplo, de dissolução da união de facto ou das situações em que os progenitores nunca viveram juntos, não tendo, portanto, qualquer vínculo jurídico entre si. De igual forma, não se encontra tal possibilidade prevista para todos aqueles que, exercendo responsabilidades parentais conjuntamente, o fazem ao abrigo de um regime de tutela ou de apadrinhamento civil, não tendo por isso relações de filiação com os menores. Numa altura em que se promove ativamente a partilha das responsabilidades parentais, nelas se englobando a formação e educação das crianças e jovens, a partilha de experiências familiares, o fortalecimento de vínculos, mas também a capacidade para prover à sua integridade física, à sua saúde, assim como a provisão da sua alimentação e de todos os meios e condições ao seu pleno e saudável desenvolvimento, deve igualmente ser promovida a possibilidade de partilha equitativa das despesas 2
decorrentes assim como a possibilidade da dedução partilhada destas despesas em sede de IRS. O foco da regulação do Estado em matéria de declaração de rendimentos, e especificamente de dedução de despesas com filhos dependentes, deve ser o do efetivo exercício e efeitos das responsabilidades parentais, decorram elas dos vínculos de filiação biológica ou legal ou da atribuição de tutela e não o do tipo de relação, presente ou passada, entre os sujeitos passivos detentores das responsabilidades parentais. A lei fiscal não pode, nem deve fazer depender um efeito fiscal favorável do exercício de responsabilidades parentais da existência prévia de uma relação formal ou material casamento ou união de facto. Antes, deve a lei fiscal ter o máximo de abertura a todas as soluções legais possíveis na lei civil e que sejam relativas ao exercício das responsabilidades parentais ou relativas ao seu suprimento. Assim, nos termos constitucionais e regimentais aplicáveis, as Deputadas e os Deputados do Bloco de Esquerda, apresentam o seguinte Projeto de Lei: Artigo 1.º Objeto A presente lei procede à alteração do Código do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 442-A/88, de 30 de novembro, garantindo o direito de declaração conjunta de menores para efeitos de IRS. Artigo 2.º Alteração ao Código do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares São alterados os artigos 13.º, 63.º e 78.º do Código do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 442-A/88, de 30 de novembro, os quais passam a ter a seguinte redação: 3
«Artigo 13.º [ ] 1 - [ ]. 2 - [ ]. 3 - [ ]. 4 - [ ]. 5 - [ ]. 6 - [ ]. 7- Sem prejuízo do disposto no n.º 1 do artigo 59.º, no n.º 4 do artigo 63.º e nos n.ºs 9 e 10 do artigo 78.º, as pessoas referidas nos números anteriores não podem, simultaneamente, fazer parte de mais de um agregado familiar nem, integrando um agregado familiar, ser consideradas sujeitos passivos autónomos. 8- [ ]. 9- Quando as responsabilidades parentais sejam exercidas em comum por mais que um sujeito passivo, sem que estes estejam integrados no mesmo agregado familiar, nos termos do disposto no n.º 4, os dependentes previstos no n.º 5 são considerados como integrando: a) O agregado do sujeito passivo a que corresponder a residência determinada no âmbito da regulação do exercício das responsabilidades parentais; b) O agregado do sujeito passivo com o qual o dependente tenha identidade de domicílio fiscal no último dia do ano a que o imposto respeite, quando, no âmbito da regulação do exercício das responsabilidades parentais, não tiver sido determinada a sua residência ou não seja possível apurar a sua residência habitual; c) Os agregados de cada um dos sujeitos passivos que exercem conjuntamente as responsabilidades parentais quando a residência dos dependentes lhes for atribuída. 10- [ ]. 11- [ ]. 12- [ ]. 13- [ ]. 4
Artigo 63.º [ ] 1- [ ]. 2- [ ]. 3- [ ]. 4- Sem prejuízo do disposto nos n.ºs 2 e 3, nos casos previstos na alínea c) do número 9 do artigo 13.º, os rendimentos dos dependentes constam da declaração dos sujeitos passivos que exercem conjuntamente as responsabilidades parentais na respetiva proporção. Artigo 78.º [ ] 1- [ ]. 2- [ ]. 3- [ ]. 4- [ ]. 5- [ ]. 6- [ ]. 7- [ ]. 8- [ ]. 9- [ ]. 10- Sem prejuízo do disposto no número anterior, nos casos previstos na alínea c) do número 9 do artigo 13.º, o valor das deduções à coleta prevista no presente Código por referência a dependentes é considerado na respetiva proporção. 11- [anterior n.º 10]. 12- [anterior n.º 11].» Artigo 3.º Entrada em vigor A presente lei entra em vigor com o Orçamento de Estado subsequente à sua publicação. 5
Assembleia da República, 3 de março de 2017. As Deputadas e os Deputados do Bloco de Esquerda, 6