COLETA E CARACTERIZAÇÃO IN SITU DE POPULAÇÕES DE ESPÉCIES DO GÊNERO GOSSYPIUM, NATIVAS OU NATURALIZADAS NO ESTADO DE ALAGOAS Francisco das Chagas Vidal Neto (Embrapa Algodão / Vidal@cnpa.embrapa.br), Joaquim Nunes da Costa (Embrapa Algodão), Paulo Augusto Vianna Barroso (Embrapa Algodão), Francisca Robevania Medeiros Borges (CENTEC), Cícero Bueno dos Santos (CENTEC), Gildo Pereira de Araújo (Embrapa Algodão). RESUMO - O Levantamento, mapeamento, coleta e caracterização das populações de Gossypium ocorrentes no Brasil são instrumentos para o conhecimento da sua diversidade, importantes para o desenvolvimento de políticas de preservação da variabilidade existente no país. Como parte de um projeto nacional, foi conduzida uma expedição às principais áreas com presença de Gossypium no estado de Alagoas, para realizar um estudo sobre a ocorrência de populações de espécies nativas ou naturalizadas deste gênero. Foram realizadas 37 coletas, em 37 propriedades de 20 municípios, onde eram preenchidos questionários visando caracterizar as populações encontradas. A presença de G. barbadense verificou-se nas mesorregiões do Leste alagoano e Agreste, do estado de Alagoas, na forma de populações de fundo-de-quintal e de uso, predominante, para a confecção de pavio de lamparina. As condições em que são mantidas as populações denotam a vulnerabilidade da preservação in situ. Palavras-chave: diversidade genética; Gossypium hirsutum; Gossypium barbadense INTRODUÇÃO O estudo da diversidade genética de uma espécie é de grande importância para sua preservação e utilização em programas de melhoramento genético. Nos últimos anos tem-se observado uma significativa perda de variabilidade genética das espécies vegetais, decorrente de fatores como: perda do habitat natural (desmatamento, desertificação, expansão urbana, modernização da agricultura), distúrbios no habitat (construção de rodovias e outras ações do homem), desastres naturais (seca, enchente), substituição de variedades locais ou tradicionais por novas variedades melhoradas, mudanças nas práticas culturais, etc (FALEIRO, 2005). Com o gênero Gossypium, não foi diferente e pode até ser mais drástico, para o algodoeiro Mocó, que já chegou a ocupar mais de 2,5 milhões de hectares, na região Nordeste e hoje está em extinção (FREIRE et al., 1999). No Brasil são encontradas três espécies do gênero Gossypium, nas formas silvestres ou asselvajadas: Gossypium mustelinum, Gossypium barbadense e Gossypium hirsutum L.r. marie galante Hutch (Freire, 2000). A espécie G. mustelinum só ocorre, atualmente, nos estados do Rio Grande do Norte e Bahia. A G. hirsutum L.r. marie galante Hutch (Algodão mocó) é de ocorrência comum em grande parte do Nordeste, onde foi amplamente cultivada até meados da década de 1980. A G. barbadense, que ocorre nas formas varietais semi-domesticadas rim-de-boi e quebradinho, é comum em regiões litorâneas e, citada como ausente no semi-árido nordestino, devido à pluviosidade insuficiente para o seu desenvolvimento. O objetivo do trabalho foi realizar a coleta e caracterização in situ, e sistematizar informações, sobre a ocorrência de populações de espécies do gênero Gossypium, nativas ou naturalizadas, no
estado de Alagoas, visando atualizar a base de conhecimentos sobre sua evolução e oferecer subsídios a futuras ações de preservação. MATERIAL E MÉTODOS Este trabalho é parte do projeto Prospecção e caracterização de populações das espécies do gênero Gossypium nativas ou naturalizadas do Brasil e foi realizado no estado de Alagoas. A caracterização in situ e coleta de plantas de G. barbadense e G. hirsutum var. marie galante foi realizada com base em levantamentos conduzidos por uma expedição abrangendo todas as regiões do Estado, e realizada em conformidade com a legislação vigente, mediante o documento de AUTORIZAÇÃO DE ACESSO DE AMOSTRA DE COMPONENTE GENÉTICO N o 034/2004, expedido pelo IBAMA em 14/09/2004 e, com validade prorrogada até 09/01/2007. A expedição durou 5 dias e foram realizadas 37 coletas, em 20 municípios. As coletas foram realizadas no mes de dezembro de 2006. Para cada ponto de coleta das populações foi preenchido um questionário com quesitos sobre a localização geográfica, dados do proprietário/mantenedor, da estrutura da população e do ambiente em que a população está localizada. RESULTADOS E DISCUSSÃO As coletas foram realizadas em 10 das 13 microrregiões geográficas do estado de Alagoas, com maior concentração na mesorregião do Leste Alagoano, onde foram coletados materiais em todas as microrregiões (Tab. 1). Tabela 1. Distribuição das coletas realizadas por município, no Estado de Alagoas segundo as meso e microrregiões geográficas. Mesorregiões geográficas Microrregiões geográficas Municípios Coletas Plantas Leste Alagoano Litoral Norte Alagoano Passo de Camaragibe 02 02 Porto de Pedras 02 02 São Miguel dos Milagress 02 02 Maceió Maceió 04 04 Marechal Deodoro 02 02 Paripueira 01 01 Mata Alagoana São Luis do Quitunde 01 01 Joaquim Gomes 02 02 Penedo Feliz Deserto 01 01 Penedo 03 03 Piaçabuçu 01 01 São Miguel dos Campos Coruripe 04 04 São Miguel dos Milagres 03 03 Serrana dos Quilombos Viçosa 01 01 Agreste Arapiraca Arapiraca 01 01 Palmeira dos Índios Igaci 01 01 Palmeira dos Índios 01 01
Sertão Alagoano Alagoana do Sertão do São Francisco Delmiro Gouveia 02 02 Piranhas 01 01 Batalha Batalha 02 02 Total 37 37 A mesorregião do Leste alagoano, respondeu por 78,38% das coletas realizadas, vindo em seguida o Sertão alagoano, com 13,51% e, finalmente, o Agreste, com 8,11%. Observou-se que 81,00 % das coletas foram da espécie G. barbadense, 16,00% de G. hirsutum L.r. marie galante Hutch. e 3,00% foram classificados como espécie desconhecida, pois as características morfológicas intermediárias entre as raças de G. hirsutum Latifolium e Marie galante sugerem um provável híbrido entre estas (Fig. 1). 16% 3% G. barbadense G. hirsutum Não identificado 81% Figura 1. Distribuição percentual das coletas, de acordo com a espécie. A predominância de G. barbadense no Leste alagoano e Agreste e sua ausência no Sertão Alagoano, caracterizam bem a preferência por habitat, referida por Freire (2000), que o cita como de ocorrência comum em regiões litorâneas e ausente no semi-árido nordestino, devido à pluviosidade insuficiente para o seu desenvolvimento. Quanto à natureza da propriedade, contatou-se que 46% das coletas foram realizadas em residências rurais e 41% em residências urbanas, representando bem a maneira como são mantidas as populações de G. barbadense, que constituiu a maioria das coletas (Fig. 2). Mesmo os 8% referentes às pequenas propriedades, são oriundos de populações de fundo-de-quintal. As populações de beira-de-estrada (8%) são, geralmente, oriundas de sementes dispersas durante o transporte.
8% 8% 43% Res. urbana Res. rural Peq. Prop. Beira-de-estrada 41% Figura 2. Distribuição percentual das populações coletadas, por tipo de propriedade. O tipo de população predominante foi de fundo-de-quintal (86,00 %), que é característico das populações de G. barbadense, no Nordeste (Fig. 3). As plantas de beira-de-estrada vieram em seguida, com 8,00 %. 3% 3% 8% Fundo-de-quintal Variedade local Expontânea Beira-de-estrada 86% Figura 3. Distribuição percentual das coletadas, por tipo de população. Os tipos de usos declarados denotam a vulnerabilidade das populações coletadas, por serem, em sua maioria, facilmente substituíveis e não estarem atrelados a atividades econômicas (Fig. 4).
80 70 73 60 Pocentagens (%) 50 40 30 20 22 35 14 14 10 8 0 Medicinal Lamparina Ornamental Algodão de farmácia Nenhum Desconhecido Figura 4. Tipos de usos atribuídos à pluma ou partes da planta. O maior percentual de utilização foi na forma de algodão-de-farmácia (73,00 %), usado para a limpeza de ferimentos e retirada de esmalte de unhas. O uso para a confecção de lamparina (35,00 %), que vem em segundo lugar, é apenas eventual, se considerarmos que a energia elétrica está presente em todas as propriedades.com finalidade medicinal (22,00 %), as sementes ou outras partes da planta são usados como antiinflamatórios e antibiótico, principalmente. CONCLUSÃO A presença de G. barbadense verificou-se nas mesorregiões do Leste alagoano e Agreste, do estado de Alagoas, na forma de populações de fundo-de-quntal e de uso, predominante, para a confecção de pavio de lamparina. A ocorrência de G. hirsutum L.r. marie galante foi constatada apenas na mesorregião do Sertão alagoano. As condições em que são mantidas as populações denotam a vulnerabilidade da preservação in situ. CONTRIBUIÇÃO PRÁTICA E CIENTÍFICA DO TRABALHO Este trabalho vem contribuir para o conhecimento e preservação da variabilidade genética do gênero Gossypium no Brasil e oferecer subsídios para programas de melhoramento e políticas de preservação da diversidade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FALEIRO, F.G. Preservação da variabilidade genética de plantas: um grande desafio. Boletim Agropecuário- 2005. Disponível em:
<http://www.boletimpecuario.com.br/artigos/showartigo.php?arquivo=artigo350.txt&tudo=sim>. Acesso em: 11 dezembro 2006. FREIRE, E.C. Distribuição, coleta, uso e preservação das espécies silvestres de algodão no Brasil. Campina Grande: Embrapa Algodão, 2000. 22p (EMBRAPA-CNPA. Documentos, 78). FREIRE, E.C.; MEDEIROS, J. da C.; SILVA, C.A.D. da; AZEVEDO, D.M.P. de; ANDRADE, F.P. de; VIEIRA, D.J. Cultura dos algodoeiros mocó precoce e algodão 7MH. Campina Grande: Embrapa Algodão, 1999. 65p (EMBRAPA-CNPA. Circular Técnica, 78).