ENSAIO NACIONAL DE COMPETIÇÃO DE CULTIVARES DE GOIAS SAFRA 2001/2002 * Eleusio Curvelo Freire 1, Camilo de Lelis Morello 2, Francisco Pereira de Andrade 3, José Wellinton dos Santos 4, Washington Bezerra 5, José Henrique de Assunção 6, Junior Inácio Fernandes 7. (1) Embrapa Algodão, Rua Osvaldo Cruz, 1143, Centenário, 58107-720 Campina Grande, PB, e-mail: eleusio@cnpa.embrapa.br, (2) Embrapa Algodão- Núcleo de Goiás, cmorello@cnpa.embrapa.br, (3) Embrapa Algodão, e-mail: chico@cnpa.embrapa.br, (4) Embrapa Algodão, e-mail: jwsantos@cnpa.embrapa.br, (5) Embrapa Algodão, e-mail: tonzinho@cnpa.embrapa.br, (6) Embrapa Algodão, e-mail: henrique@cnpa.embrapa.br, (7) Fundação GO. RESUMO A condução de ensaios nacionais de competição de cultivares vem sendo efetuada desde a década de oitenta, numa parceria da Embrapa, Instituto Agronômico de Campinas, Instituto Agronômico do Paraná, Empresas Estaduais de pesquisa agropecuária, Universidades e empresas privadas obtentoras de cultivares. O objetivo desses ensaios é a avaliação por cada instituição do nível tecnológico e produtivo de suas cultivares, quando comparadas com as cultivares das outras instituições obtentoras. Nesse trabalho são apresentados os resultados obtidos nos ensaios nacionais conduzidos no Estado de Goiás na safra 2001/2002. Os tratamentos foram arranjados segundo o delineamento em blocos ao acaso, com 4 repetições. Os ensaios foram instalados e conduzidos em 9 locais (Santa Helena, Cristalina, Montividiu, Indiara, Goiatuba, Mineiros, Chapadão do Céu, Mineiros e Acreuna). Os ensaios nacionais de Goiás possibilitaram a identificação de 11 cultivares com potencial para cultivo em condição de cerrado no Estado de Goiás, com exceção da EPAMIG PRECOCE 1 que não esteve entre as de melhor desempenho na maioria dos locais. Destacaram-se, na maioria dos locais as cultivares IPR 94 227 918, BRS AROEIRA, IPR 94 e CNPA ITA 90. Em local com infestação por fusarium associado a nematóide, as cultivares IPR 94 227 918, IAC 24, IPR 99, IPR 94, BRS AROEIRA e IAC 23, foram as de melhor adaptação INTRODUÇÃO A condução de ensaios nacionais de competição de cultivares vem sendo efetuada desde a década de oitenta, numa parceria da Embrapa, Instituto Agronômico de Campinas, Instituto Agronômico do Paraná, Empresas Estaduais de pesquisa agropecuária, Universidades e empresas privadas obtentoras de cultivares. O objetivo desses ensaios é a avaliação por cada instituição do nível tecnológico e produtivo de suas cultivares, quando comparadas com as cultivares das outras instituições obtentoras. Nesse trabalho são apresentados os resultados obtidos nos ensaios nacionais conduzidos no Estado de Goiás na safra 2001/2002. MATERIAL E METODOS Na safra 2001/2002, o ensaio nacional foi constituído por um conjunto de 12 cultivares com procedência Na safra 2001/2002 participaram do ensaio com materiais a Embrapa, IAC, IAPAR, EPAMIG, U.F. Uberlândia e a empresa MDM-Maeda Deltapine Monsanto, tendo-se como objetivo a avaliação em diversos ecossistemas, verificando-se a adaptação em nível mais abrangente. Os tratamentos foram arranjados segundo o delineamento em blocos ao acaso, com 4 repetições, empregando-se parcelas experimentais de com 3 linhas de 5 m lineares, espaçadas em 0,9m, tendo-se * Trabalho desenvolvido em parceria com a Fundação Goiás, IAC e com apoio financeiro do FIALGO
como área útil as duas últimas linhas, perfazendo 9 m 2. Os ensaios foram instalados e conduzidos em 9 locais (Santa Helena, Cristalina, Montividiu, Indiara, Goiatuba, Mineiros, Chapadão do Céu, Mineiros e Acreuna) adotando-se na condução dos mesmos, o sistema de produção empregado em nível de lavoura pelo produtor colaborador, buscando-se maior proximidade com a condição de cultivo local. Foram coletados dados referentes as avaliações de doenças (ramularia, alternaria, bacteriose, ramulose e virose), em torno dos 60 d.a.e. e 110 d.a.e., empregando-se escala de notas variando e 1 resistente a 5 altamente susceptivel, altura de plantas em cm, estande final (plantas vivas/parcela) e produtividade de capulhos (kg/parcela). Foram realizadas avaliações visuais quanto a uniformidade, porte, tombamento e produtividade. De cada parcela foram retiradas AP de 20 capulhos, empregados na análise das características tecnológicas de fibra. Todos os dados foram submetidos a análises da variância em nível conjunta de locais e em nível de local, com posterior teste de comparação múltipla de médias. RESULTADOS E DISCUSSÃO Em análises da variância conjuntas de locais (Tabela 1), o efeito de genótipos (cultivares) foi significativo para todas as variáveis estudadas, tendo-se, portanto, distinção quanto ao potencial genético dos mesmos, havendo a possibilidade de discriminação. A variação entre locais também foi significativa para todas as variáveis, indicando que as diferenças ambientais proporcionaram diferentes manifestações dos caracteres, possibilitando discriminar os melhores e piores locais para o cultivo. A interação genótipo x local foi significativa apenas para PAC, AP, PCAP e MIC, tendo-se, portanto, para estas características, um comportamento diferencial dos genótipos frente as variações de locais (ambientes). Considerando-se, a priori, o efeito de locais como fixo no modelo de análise, faz-se necessário verificar os desempenhos em nível de local, sendo esta a informação mais apropriada para a tomada de decisão. Em médias conjuntas de locais (Tabela 2), destacaram-se como cultivares mais produtivas a BRS AROEIRA, IPR 94 227 918, IPR 94, CNPA ITA 90, DELTA OPAL, BRS IPÊ e BRS SUCUPIRA, com médias de PAC acima de 4350 kg/ha (290 @) e médias de PAF acima de 1830 kg/ha (122 @). A PF variou entre 40,6 % (IPR 94) a 43,5 % (DELTA OPAL, MG/UFU/91/2002). O CF ocorreu com valores referentes a fibras de comprimento médio, com valores entre 28,6 mm a 30,7 mm. Com exceção as cultivares MG/UFU/91/2002 e EPAMIG PRECOCE 1, com valores de STR muito baixos, as cultivares apresentaram fibras resistentes, acima de 27 gf/tex. O MIC variou entre 4 a 4,6, tendo-se portanto fibras de finura intermediária. Entre os locais de avaliação (Tabela 3), as maiores produtividades foram obtidas em Palmeiras, seguido por Chapadão do Céu, Indiara, Santa Helena e Mineiros, com médias superiores a 4500 kg/ha (300 @) de PAC e 1850 kg/há (123 @) de PAF. A maior PF foi obtida em Mineiros, com 46,8 %, porém super-estimada, como já mencionada. Os demais locais apresentaram médias de PF superior a 40 %, sendo que Cristalina, Montividiu e Chapadão do Céu apresentaram médias superiores a 42 %, sendo um indicativo de maiores PF em ambientes mais altos. O CF variou entre 28,7 mm em Mineiros a 30,5 mm em Montividiu. Mineiros obteve a menor STR com 25,3 gf/tex, sendo a maior resistência em Santa Helena de Goiás com 29,9 gf/tex. O ensaio nacional em Goiás também possibilitou constatar cultivares de potencial para cultivo em condição de cerrado no Estado de Goiás. Entre as 12 cultivares avaliadas, apenas a EPAMIG PRECOCE I não esteve entre as de melhor desempenho em algum dos locais. Considerando-se os nove locais de avaliação, a cultivar IPR 94 227 918 esteve entre as mais produtivas em todos. Também destacaram-se as cultivares BRS AROEIRA, IPR 94 e CNPA ITA 90, com boas performances em oito dos nove locais. Em condição de maior altitude, acima de 800 m de altitude (Chapadão do Céu, Mineiros e Montividiu), apresentaram bons desempenhos as cultivares CNPA ITA 90, IPR 94 e IPR 94 227 918, seguidos pelas cultivares BRS AROEIRA, DELTA OPAL e IPR 99, com desempenhos
acima da média em dois locais. Em ambientes de baixa e média altitude (Santa Helena de Goiás, Palmeiras, Indiara E Goiatuba), destacaram-se as cultivares BRS AROEIRA e IPR 94 227 918, com desempenhos acima da média nos quatro locais, seguidas das cultivares IPR 94, CNPA ITA 90 e DELTA OPAL, com bons desempenhos em três dos quatro locais. Em Acreúna, local com infestação por fusarium associado a nematóide, as cultivares IPR 94 227 918, IAC 24, IPR 99, IPR 94 BRS AROEIRA e IAC 23, foram as de melhor adaptação. Além da boa adaptação da cultivar BRS AROEIRA a maioria dos ambientes, deve-se ressaltar os excelentes resultados verificados em suas características de fibra, mantendo um padrão de fibra com comprimento médio, uniformidade de comprimento, elevada resistência e fiabilidade, mesmo em condições onde ocorreram fatores de estresse, como a falta de precipitação. Adicionalmente essa cultivar apresentou os menores valores de severidade de doença causada por Ramularia areola e adaptação a condição de solo com infestação por Fusarium sp associado a nematóide. CONCLUSÕES O ensaio nacional em Goiás possibilitou a identificação de 11 cultivares com potencial para cultivo em condição de cerrado no Estado de Goiás, com exceção da EPAMIG PRECOCE I que não esteve entre as de melhor desempenho na maioria dos locais. Destacaram-se, na maioria dos locais as cultivares IPR 94 227 918 BRS AROEIRA, IPR 94 e CNPA ITA 90; Em local com infestação por fusarium associado a nematóide, as cultivares IPR 94 227 918, IAC 24, IPR 99, IPR 94 BRS AROEIRA e IAC 23, foram as de melhor adaptação.
Tabela 1. Resumo das análises de variância conjuntas para as variáveis produtividade de algodão em caroço (PAC), percentagem de fibra (PF), altura da planta (AP), peso de capulho (PCAP), comprimento de fibra (CF), resistência de (STR), uniformidade (UNIF), finura (MIC) e fiabilidade (CSP), referentes ao Ensaio Nacional, nos municípios de Santa Helena de Goiás, Montividiu, Goiatuba, Palmeiras, Indiara, Mineiros, Acreúna, Cristalina e Chapadão do Céu, 2001/02. Quadrados médios Fonte de variação G.L. PAC PF AP PCAP CF STR UNIF MIC CSP Kg/ha % cm g mm gf/tex % mic GENÓTIPO ( G ) 11 2848975,71** 41,39** 1326,34** 12,44** 15,58** 105,19** 5,78** 1,10** 93760,71** LOCAL ( L ) 8 48399616,61** 209,64** 66522,83** 7,05** 18,66** 143,53** 16,34** 1,64** 76323,38** G x L 88 928613,98** 2,24nf 100,82** 0,20** 0,65nf 3,22nf 0,73nf 0,10** 3283,01nf BLOCO/LOCAL 27 1145097,99 1,46 163,09 0,17 0,44 2,33 0,40 0,07 4519,79 ERRO 297 431966,05 1,75 58,96 0,12 0,50 3,11 0,74 0,06 2817,30 n.s, * e **: não significativos, significativos ao nível de 5 % e 1 % de probabilidade, respectivamente, pelo teste F.
Tabela 2. Médias conjuntas de locais para as variáveis produtividade de algodão em caroço (PAC), produtividade de algodão em fibra (PAF), percentagem de fibra (PF), altura da planta (AP), aparecimento da 1 a flor (APF), peso de capulho (PCAP), comprimento de fibra (CF), resistência de (STR), uniformidade (UNIF), finura (MIC) e fiabilidade (CSP), em cultivares no Ensaio Nacional, 2001/02. Cultivares PAC PAF PF AP APF I PCAP CF STR UNI MIC CSP kg/ha kg/ha % cm dias g mm gf/tex % mic BRS IPÊ 4401 a 1879 42,7 ab 99,1 bcd 62,1 a 6,0 de 29,1 de 27,1 ed 85,1 bcd 4,6 a 2145,1 d IPR 94 4528 a 1838 40,6 e 97,5 cd 62,1 a 7,0 bc 29,9 bc 28,3 cd 85,2 abc 4,4 bc 2231,5 ab EPAMIG PRECOCE 1 3431 b 1413 41,2 dce 84,2 e 59,4 b 6,3 d 29,6 dc 25,8 e 84,5 d 4,0 d 2216,8 bc IAC 24 4365 ab 1833 42,0 dbc 98,9 bcd 60,9 ab 7,4 ab 29,4 dc 28,1 cd 85,0 bcd 4,5 abc 2175,2 bc BRS AROEIRA 4735 a 1932 40,8 de 106,2 ab 62,9 a 6,7 c 30,7 a 29,9 a 85,8 a 4,5 abc 2229,5 ab IPR 99 65 4350 ab 1831 42,1 bc 100,2 abcd 61,8 ab 7,0 bc 30,6 a 27,4 d 85,3 abc 4,3 bc 2246,3 ab MG/UFU/91/2002 4156 ab 1808 43,5 a 93,4 d 61,2 ab 7,5 a 28,6 e 24,1 f 84,7 cd 4,6 ab 2080,8 e BRS SUCUPIRA 4352 ab 1876 43,1 ab 108,1 a 63,4 a 6,1 de 30,7 a 29,9 ab 85,8 a 4,3 c 2267,2 a IPR 94 227 918 4688 a 1974 42,1 bc 100,0 bcd 62,2 a 6,7 c 30,3 ab 27,5 d 85,3 abc 4,5 ab 2228,4 ab CNPA ITA 90 4499 a 1944 43,2 ab 102,3 abc 61,9 a 5,8 e 29,7 dbc 29,2 abc 85,2 abc 4,3 bc 2231,3 ab DELTA OPAL 4408 a 1918 43,5 a 99,3 bcd 62,3 a 6,1 de 29,7 dbc 29,4 abc 85,4 ab 4,4 abc 2228,3 ab IAC 23 4348 ab 1778 40,9 dce 101,2 abcd 61,6 ab 7,3 ab 29,6 dbc 28,4 bcd 85,2 abc 4,4 abc 2205,9 bc Média 4355 1835 42,1 99,2 61,8 6,6 29,8 27,9 85,2 4,4 2207,2 Médias seguidas pelas mesmas letras nas colunas não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. I Médias de cinco locais.
Tabela 3. Médias conjuntas de cultivares para as variáveis produtividade de algodão em caroço (PAC), produtividade de algodão em fibra (PAF), percentagem de fibra (PF), altura da planta (AP), aparecimento da 1 a flor (APF), peso de capulho (PCAP), comprimento de fibra (CF), resistência de (STR), uniformidade (UNIF), finura (MIC) e fiabilidade (CSP), em cada local de Goiás, no Ensaio Nacional, 2001/02. Locais PAC PAF PF AP APF PCAP CF STR UNI MIC CSP kg/ha kg/ha % cm dias g mm gf/tex % mic MINEIROS 4509 b 2110 46,8 a 112,1 cb ---- 6,3 d 28,8 e 25,3 d 84,6 c 4,4 bc 2168,6 ef MONTIVIDIU 3677 c 1577 42,9 b 110,0 e 75,0 a 6,8 abc 30,5 ab 27,6 cb 86,1 a 4,3 dc 218,8 cbd CHAPADÃO DO CÉU 5553 a 2360 42,5 cb 113,4 b 64,7 b 7,0 a 30,1 bc 26,9 c 85,3 b 4,3 dc 2287,2 a PALMEIRAS 5873 a 2355 40,1 e 116,6 b 54,0 e 7,0 a 30,9 a 28,0 cb 86,3 a 4,6 ab 2224,7 cb SANTA HELENA DE GO 4573 b 1866 40,8 ed 115,6 b 56,1 d 6,6 dc 29,7 dc 29,9 a 85,0 cb 4,1 d 2235,5 b GOIATUBA 3777 c 1533 40,6 e 106,5 bc 59,2 c 7,0 ab 29,5 d 29,7 a 84,7 c 4,7 a 2187,4 cdef ACRÉUNA 2510 d 1047 41,7 cd 76,0 f ---- 5,9 e 29,5 d 29,8 a 85,1 cb 4,4 bc 2202,2 cbde INDIARA 4590 b 1859 40,5 e 141,2 a ---- 6,9 ab 29,9 dc 28,4 b 84,9 cb 4,4 bc 2155,5 f CRISTALINA 4277 cb 1843 43,1 b 100,4 d ---- 6,7 bc 29,6dc 25,7 d 84,9 cb 4,2 d 2184,8 def Médias seguidas pelas mesmas letras nas colunas não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.