ACÓRDÃO Registro: 2016.0000791737 Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº 1014094-71.2016.8.26.0002, da Comarca de, em que é apelante TABOÃO EMPREENDIMENTO IMOBILIÁRIO SPE S.A, são apelados DORALICE ALVES DOS SANTOS e UELINGTON GUTEMBERG DOS SANTOS. ACORDAM, em 5ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores MOREIRA VIEGAS (Presidente sem voto), ERICKSON GAVAZZA MARQUES E J.L. MÔNACO DA SILVA., 26 de outubro de 2016. A.C.MATHIAS COLTRO RELATOR Assinatura Eletrônica fls. 353
Apelação nº 1014094-71.2016.8.26.0002 Apelante: TABOÃO EMPREENDIMENTO IMOBILIÁRIO SPE S.A Apelados: Doralice Alves dos Santos e Uelington Gutemberg dos Santos Comarca: Voto nº 31171 Ementa: Compromisso de compra e venda de imóvel Resolução do contrato por dificuldades financeiras da compradora Possibilidade ilegalidade de cláusulas contratuais Devolução dos valores pagos, com a retenção de 20% em favor da vendedora Necessidade apelo desprovido. Ação: rescisão contratual. Imóvel: unidade 64, Torre F, do Condomínio Jardins da Cidade, localizado na Estrada São Francisco, nº 2008, Jardim Wanda Taboão da Serra/SP. Argumentos da autora: em fevereiro de 2011, firmou Contrato de Compromisso de Compra e Venda, para aquisição do imóvel supra, mas por problemas financeiros, achou por bem rescindir o contrato, solicitando o distrato. Aduz que ao tentar uma solução amigável, foi informada que a incorporadora restituiria somente 30% dos valores pagos, sem correção monetária e de forma parcelada. Assim, pleiteou seja declarada a rescisão contratual e a ré condenada a restituir, em parcela única, o equivalente a 90% dos valores pagos. Apelação nº 1014094-71.2016.8.26.0002 -Voto nº 31171 2 fls. 354
Defesa (pp. 149/157): alega que não se opõe à rescisão contratual, porém a devolução deve ser feita nos termos do contrato, devendo ser declaradas legais as cláusulas contratuais, requerendo a improcedência da ação. Sentença (pp. 316/319): julgou parcialmente procedente a pretensão da autora, para condenar a ré a devolver de uma só vez os valores pagos, corrigidos pelo mesmo índice previsto em contrato desde os respectivos pagamentos até o ajuizamento da ação, e a partir de então, pela Tabela Prática do TJSP, subtraídos 20% a título de perdas e danos e taxa administrativa, com incidência de juros de mora de 1% ao mês a partir da citação e ainda ao pagamento das despesas processuais e honorários advocatícios arbitrados em 10% sobre o valor da condenação. Recurso (pp. 323/333): pede a reforma da r. sentença, alegando que a rescisão foi requerida pela autora, devendo sujeitarse às condições e obrigações descritas no contrato, requerendo ainda a liberação imediata da unidade para venda a terceiros. Tempestivo o recurso, foram apresentadas as contrarrazões (pp. 336/346), verificando-se presentes os requisitos de admissibilidade, recebendo-o em seus ulteriores efeitos. É o relatório, ao qual se acresce o da sentença. Apelação nº 1014094-71.2016.8.26.0002 -Voto nº 31171 3 fls. 355
Em que pesem as argumentações expendidas, o recurso não merece acolhida. Segundo se verifica, a autora, em razão de dificuldades financeiras, entrou em contato com a requerida a fim de solicitar a rescisão do contrato, sendo informado que seriam retidos 30% dos valores pagos e de forma parcelada. Dos elementos coligidos tem-se a existência e validade do contrato firmado, visto não haver nenhuma irregularidade, tratando-se apenas de pedido de rescisão, à qual não se opõe a ré. Conquanto alegue a apelante a legalidade da cláusula contratual que prevê as normas para a devolução das quantias pagas em caso de rescisão, o certo é que há clara abusividade, devendo ser devolvidos os valores pagos pelos requerentes, na proporção determinada na r. sentença recorrida. Em relação à retenção de 20% dos valores pagos, bem andou o juiz de primeiro grau, pois a vendedora deve ter ressarcidas as despesas administrativas e fiscais realizadas com a celebração do contrato. Nesse sentido: Apelação Cível Compromisso de compra e venda ação de rescisão contratual desistência dos compromissários compradores possibilidade de rescisão da avença, com devolução parcial dos valores pagos retenção de 10% que se mostra adequada para o Apelação nº 1014094-71.2016.8.26.0002 -Voto nº 31171 4 fls. 356
caso concreto imóvel sequer entregue aos compradores. Despesas com a personalização do imóvel que reverteram em seu favor, já que as melhorias foram incorporadas ao bem impossibilidade de desconto destes valores pela vendedora. Despesas condominiais indevidas antes da efetiva entrega do bem precedentes. Sentença mantida Recurso desprovido (TJ/SP Apelação nº 1022049-14.2015.8.26.0577 Rel. Des. José Carlos Moreira Alves 2ª Câmara de Direito Privado J. 05/04/2016 Reg. 05/04/2016). Apelação Cível Contrato de promessa de compra e venda de imóvel desistência pelos promitentes compradores razoabilidade da retenção de 15% dos valores pagos pelo consumidor que manifesta arrependimento e requer a rescisão contratual. 2. Se as arras integraram o valor total do imóvel, a sua retenção, além da multa penal, incidente sobre os valores até então pagos, implica bis in idem. 3. Os juros moratórios incidem desde a citação (CC 405 e CPC 219), ainda que a rescisão do contrato tenha ocorrido por desistência dos promitentes compradores, tendo em vista que, com a citação as rés foram interpeladas a rescindirem o contrato. 4. Deuse parcial provimento ao apelo da ré. (TJ/DF APC 20140110661827 Rel. Des. Sérgio Rocha Quarta Turma Cível J. 24/02/2016 DJE 09/03/2016 p. 222). Assim, a sentença não merece qualquer alteração, ficando o bem liberado para a venda somente após a efetiva devolução dos valores pagos pela autora, nos termos enunciados na r. decisão recorrida. A devolução deverá ocorrer em parcela única, segundo o previsto na Súmula nº 2, deste E. Tribunal, cujo enunciado segue e bem ressaltado pelo juízo a quo: Apelação nº 1014094-71.2016.8.26.0002 -Voto nº 31171 5 fls. 357
A devolução das quantias pagas em contrato de compromisso de compra e venda de imóvel deve ser feita de uma só vez, não se sujeitando à forma de parcelamento prevista para a aquisição. Essas as razões pelas quais se entende não ser possível acolher o recurso, manifestando-se aqui o quanto se tem como necessário e suficiente à solução da causa, dentro da moldura em que apresentada e segundo o espectro da lide e legislação incidente na espécie, sem ensejo a disposição diversa e conducente a outra conclusão, inclusive no tocante a eventual prequestionamento de questão federal, anotando-se, por fim, haver-se decidido a matéria consoante o que a turma julgadora teve como preciso a tanto, na formação de sua convicção, sem ensejo a que se afirme sobre eventual desconsideração ao que quer que seja, no âmbito do debate travado entre os litigantes. enunciados. Ante o exposto, nega-se provimento ao apelo, nos termos A.C.Mathias Coltro Relator Apelação nº 1014094-71.2016.8.26.0002 -Voto nº 31171 6 fls. 358