Poetisa de Saturno Amanda Rêgo
FRAGMENTO Digo, grito e repito: o infinito é finito. 7
DIGA-ME O QUE É ISTO Sou teu cais ou meu caos? Vivo por ti ou morro em mim? Grito por você ou trilho para vencer? Desisto ou insisto? É recíproco ou um desperdício? O que é tudo isto afinal? 8
NADA É PARA SEMPRE Deixe ir. Não prenda. Nada sobrevive com sufoco. Absolutamente nada. Se ela se tornou seu pássaro deixe-a ir mesmo que ela esteja com o seu coração. Ela irá e você se tornará vazio, perdido, solitário. Mas você irá se acostumar. Nada é para sempre, por mais que pareça. Nada dói eternamente, por mais que acreditemos nisso. Respire! Cate seus pedaços! 9
Observe seu pássaro voando. Observe como ele está. E por um momento, um único momento, sinta-se feliz por ele por mais que doa em suas entranhas. Mas fique feliz por ele. Nada é para sempre. Dores. Amores. Nada é para sempre. 10
TANTO QUANTO TODOS NÓS Berro e as paredes sacodem. Berro, choro, esperneio. As coisas continuam da mesma forma: frias, monótonas, vazias. Nada muda, por mais que eu tente. Absolutamente nada. Vagueio, corro, rastejo. Já nem sei por qual rumo estou seguindo. O que está acontecendo?, pergunto para mim mesma. 11
Olhe para direita!, eles ordenam. E eu vejo o caos: a moça morre e os meninos morrem. Olhe para frente!, mandam mais uma vez. E novamente eu vejo o caos: o casal que ama morre nas mãos daqueles que não conhecem o amor e a garota não pode ser quem realmente gostaria de ser. E mais uma vez eles exigem: Agora olhe para a esquerda! E de novo, infelizmente, eu vejo o caos: há sangue inocente no chão e há bandeiras do nosso orgulho sujas com o nosso sangue. E então todas as noites: as frias, as chuvosas, 12
e as tristes, pergunto até quando esse caos irá durar. Não suporto. Minha alma não suporta. Onde está a morfina para o mundo?, eu questiono. Nem mesmo ele aguenta. E sabe por quê? Porque ele está sofrendo tanto quanto eu. Tanto quanto você. Tanto quanto todos nós. 13
CRISE A crise chega para todos. Tanto a econômica quanta a psicológica. Tento, reinvento, desespero. Não consigo revertê-la. Será porque sou um proletário e porque sou um condenado? Sustento o burguês como sustento a minha mente caótica: com agonia, com desesperança, com migalhas. Por que será que tudo é tão difícil? Será porque sou um proletário e porque sou um condenado? 14
Onde está a nossa velha amiga para nos tirar das fábricas, das ruas, da vida? Por onde está a nossa amiga? Será que a morte também há de morrer? Se há, também hei de ir. Ninguém aguenta carregar fardos maiores que si mesmo. Por que tanto sofrimento? Será porque sou um proletário e um condenado? 15
EU E ELE Meu peito sangra, meu peito grita e, consequentemente, ele morre. Enquanto ele se vai, pergunta-se onde está o fio que o ligava ao amor e a vida. Onde está?, ele pergunta. E eu respondo: Perdoe-me. Também não sei. E então ele vomita. Vomita até que minhas entranhas possam sentir sua dor. Meu coração sacode dentro do meu peito fazendo com que tudo doa mais. E meu peito pede: Salve-me dessa dor dilacerante. Salve-me de tudo isso. Eu imploro! Salve-me da dor. E eu respondo: Não posso salvá-lo se também estou perdida. Não posso salvá-lo se o seu assassino também é o meu assassino. E então, eu e meu peito, sofremos juntos até que tudo finalmente acabe. 16
ELA Ela me tem de uma forma inexplicável, imensurável. Tem-me como nenhuma outra coisa jamais me teve. Não se sabe ao certo o motivo e nem mesmo como, mas ela me tem como o céu possui as estrelas. Meu peito, sem ela, é vazio, escuro. Quando ela chega, e amo quando ela chega, meu peito se ilumina. As estrelas brilham em mim feito pontos de felicidade. Servem de guia para todas as 17
trevas, desesperanças que habitam no peito. Ela me tem de uma forma inexplicável, imensurável. E quando ela vem, e eu amo quando ela vem, as constelações da minha alma brilham. E a cada vez que ela sorri uma estrela nasce. Repito: ela me tem de uma forma inexplicável, imensurável. E eu amo quando ela vem. E amo ainda mais quando ela fica e faz morada no meu universo. 18