1. REB Volume 4 (2): 1-9, 2011 ISSN 1983-7682 Revista Eletrônica de Biologia Quantidade de Carbono Incorporado em uma Área Verde do Parque Natural Chico Mendes, Sorocaba-SP Rafael Casagrande 1 1.Graduação em Ciências. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, PUC-SP, Campus Sorocaba, SP. e-mail contato: rca800@hotmail.com Resumo O presente trabalho tem por objetivo quantificar a quantidade de carbono seqüestrado por ano em uma área reflorestada de 16.500 m² localizada no Parque Natural Chico Mendes em Sorocaba-SP, através da utilização das medidas de altura da árvore e dap (diâmetro a altura do peito) do tronco, onde o resultado obtido foi de 53,37 kgc, insuficiente para seqüestrar por exemplo a emissão de um carro popular que emite em média 85 kgc por ano. Palavras-chave: Reflorestada, carbono seqüestrado, emissão. Abstract The objective of the present research is to quantify the amount of carbon kidnapped per year in a reforested area of 16.500 m² located at Natural Park Chico Mendes in Sorocaba-SP, through the measures of height of the trees and dap (diameter the height of the chest) of the trunks, where the obtained result was of 53,37kgC, insufficient to kidnap for example the emission of a popular car that emits 85kgC per year. Key Words: Reforested, kidnapped carbon, emission. 1. Introdução O gás carbônico (CO2) é um gás de suma importância para os vegetais, pois eles retiram-no da atmosfera através do processo de fotossíntese, convertendo-o em compostos orgânicos que serão usados no metabolismo e no processo de crescimento do vegetal. Esses seqüestros de carbonos da
2 atmosfera são armazenados na partes lenhosas e tecidos das plantas, onde permanecerão até seu falecimento. (RAVEN 2001; COSTA et al.1997). As florestas são uma das maiores contribuidoras em relação à retirada do gás carbônico da atmosfera, porém atividades antrópicas tais como, queimadas, desmatamentos, agriculturas, faz com que todo o CO2 capturado seja devolvido a atmosfera, aumentando assim sua concentração (COOPER, 1983 apud SOARES; LEITE; GÖRGENS, 2005; SALOMÃO, 1994; MENDONÇA, 2007; PRIMAVESI, ARZABE, PEDREIRA, 2007). Além do fato do gás carbônico ser devolvido para a atmosfera, também existem outros gases perigosos que podem ser expelidos ou incorporados ao substrato na forma de matéria orgânica, como o metano e monóxido de carbono (COSTA et al.,1997). A elevação da concentração de CO2 na atmosfera causa muita preocupação, pois o mesmo é responsável pelo aquecimento global, o qual causou e causará ainda mais elevação na temperatura do planeta, sendo que segundo Townsend (2006) a temperatura média no período de 1990 a 2100 deve aumentar entre 1,4 e 5,8 C e mudanças no clima, modificando a intensidade das chuvas e o regime dos ventos (SOARES e OLIVEIRA, 2002). Com essa elevação rápida da concentração de CO2 na atmosfera, criose uma preocupação surgindo assim vários interesses pela quantificação da incorporação do carbono pelas florestas e oceanos, visando controlar a emissão e a remoção desse gás da atmosfera (SCHROEDER, 1992). Segundo Cooper (1983 apud SOARES; LEITE; GÖRGENS, 2005), estimativas sobre a quantificação de carbono presente nas florestas são incertas, pois os métodos utilizados são pouco precisos. O dióxido de carbono (CO2) foi um gás indispensável para o surgimento da vida primitiva, pois é um substrato utilizado na fotossíntese. Com o advento da revolução industrial, muitas fábricas foram criadas, com isso a emissão de CO2 na atmosfera se elevou, sendo colaborado também pelo desmatamento e queima das florestas. Essa elevação da emissão acabou causando o fenômeno chamado efeito estufa (GOLDEMBERG e VILLANUEVA, 1998; MENDONÇA, 2007). O efeito estufa faz com que os raios provenientes do sol que são refletidos pela Terra sejam absorvidos pelos gases contidos na atmosfera,
3 ficando retido o calor, não sendo liberado assim para o espaço. Essa retenção vem aumentando aos poucos a média térmica do planeta, causando muitas modificações prejudiciais, tais como, mudanças nas correntes marinhas, o derretimento das calotas polares, a migração de mosquitos transmissores de doenças para as regiões temperadas, entre outras (MENDONÇA, 2003; GATTO, 2005; MORAES, 2008). Uma das soluções encontradas para a diminuição desse gás na atmosfera foi à utilização do reflorestamento, pois assim as árvores por meio do seqüestro de carbono realizariam a fotossíntese, promovendo a diminuição da sua concentração na atmosfera, concomitantemente o benefício do planeta (GATTO, 2005; SILVEIRA et al., 2008). O trabalho teve como objetivo quantificar a quantidade de carbono estocado por ano em uma área reflorestada do Parque Natural Chico Mendes. 2. Materiais e Métodos 2.1 Área de estudo O estudo foi realizado numa área de 16.500m² escolhida dentro do Parque Natural Chico Mendes, onde a mesma se localiza na latitude e longitude (S 23º28 e W 0.47 24 ) com altitude de 5 99m no município de Sorocaba-SP. Segundo a classificação de Köppen citado por PELL et al., (2007) Sorocaba está inserida no tipo climático Cwa, onde o inverno é seco com temperatura máxima de 18 C e o verão é chuvoso e úmido com temperaturas acima de 22 C. O Parque Natural Chico Mendes apresenta uma grande área verde de mata ciliar em estado de preservação, como também áreas representadas predominantemente por eucaliptos. Possui um lago e áreas para realização de piqueniques e recreação (PORTAL SOROCABANO, 2009). 2.2 Métodos O método escolhido para o cálculo da quantidade de carbono estocado foi similar ao usado por Koehler; Watzlawick; Kirchner (2002). Para essa determinação em cada árvore, foi medido a altura total (m) e o dap maior que 5 cm (diâmetro a altura do peito) em metros.
4 Os materiais utilizados foram a suta para a medição do diâmetro, o GPS para as coordenadas e altitude do local e o inclinômetro para medição da altura, sendo que as saídas a campo foram realizadas duas vezes por semana, todas as terças e sextas das 08h00min até 11h00min (duração de 3 horas por dia). A análise dos dados foi realizada primeiramente calculando o volume (m³) de madeira do tronco de cada árvore através da fórmula V = (dap/2)² x π x h, onde dap (m) é o diâmetro a altura do peito do tronco, π é o pi, o qual vale 3,14 e h (m) é a altura da árvore. Posteriormente foi encontrado a quantidade de carbono estocado (C.E) no tronco de cada árvore ao longo de toda sua vida através da fórmula V x 249 = kgc na árvore, onde V (m³) é o volume de madeira na árvore e 249 (kgc/m³) é uma constante da massa de carbono por unidade de volume de madeira. Também foi encontrado a quantidade de carbono estocado por ano em cada árvore através da fórmula C.E / Idade (sendo que cada 1 metro de altura corresponde a 1 ano de idade) e o volume médio de carbono absorvido por ano pela área através da fórmula V.M.A / I.M ( sendo V.M.A = volume médio de carbono na área e I.M = idade média das árvores). Todos os resultados devidamente realizados através das respectivas fórmulas foram colocados em uma tabela. 3. Resultados e Discussões Foram amostradas 76 árvores da área reflorestada no Parque Natural Chico Mendes, sendo que as maiores quantidades de carbono estocadas foram das árvores que possuiam maior dap, como era de se esperar (Tabela 1). Tabela 1: Tabela com as respectivas medidas para o cálculo da quantidade de carbono estocado em cada árvore (Legenda: dap= diâmetro a altura do peito; h= altura; V= volume de madeira da árvore; C.E.= carbono estocado na árvore; V.M.A= volume médio de carbono na área; C.E/I = carbono estocado pelas árvores por ano; V.M.C/I.M. = volume médio de carbono estocado por ano pela área).
5 Árvores dap (> 5 cm) h (altura) V m³ ( (dap/2)² x π x h) C. E. kgc (V x 249) V.M.A kgc (soma dos C.E/76) C.E/I (kgc / ano) V.M.C/I.M. ( kgc / ano) 1 0,19 8 0,23 57,27 726,40 7,16 53,37 2 0,32 7 0,56 139,44 19,92 3 0,26 11 0,58 144,42 13,13 4 0,38 20 2,26 562,74 28,14 5 0,38 18 2,04 507,96 28,22 6 0,26 8 0,42 104,58 13,07 7 0,24 10 0,45 112,05 11,21 8 0,74 16,5 7,09 1765,41 106,99 9 0,68 13 4,71 1172,79 90,21 10 0,23 7,5 0,31 77,19 10,29 11 0,79 14 6,86 1708,14 122,01 12 0,47 11 1,90 473,01 43,00 13 0,37 15 1,61 400,89 26,73 14 0,59 14 3,83 953,67 68,12 15 0,39 12 1,43 356,07 29,67 16 0,26 06 0,31 77,19 12,86 17 0,34 9,5 0,86 214,14 22,54 18 0,58 17 4,49 1118,01 65,76 19 0,49 11 2,07 515,43 46,86 20 0,37 10 1,07 266,43 26,64 21 0,52 18 3,82 951,18 52,84 22 0,32 11 0,88 219,12 19,92 23 0,17 06 0,14 34,86 5,81 24 0,50 12 2,36 587,64 48,97 25 0,64 14 4,50 1120,05 80,00 26 0,31 8,5 0,64 159,36 18,75 27 0,48 16 2,89 719,61 44,97 28 0,84 19 10,52 2619,48 137,87 29 0,47 4,5 0,84 209,16 46,48 30 0,085 05 0,03 7,47 1,49 31 0,63 19 5,92 1474,08 77,58 32 0,13 06 0,08 19,92 3,32 33 0,07 06 0,02 4,98 0,83 34 0,14 07 0,11 27,39 3,91 35 0,13 4,5 0,06 14,94 3,32 36 0,48 18 3,25 809,25 44,96 37 0,24 08 0,36 89,64 11,21 38 0,47 16,5 2,86 712,14 43,16 39 0,13 06 0,08 19,92 3,32 40 0,30 08 0,56 139,44 17,43 41 0,07 04 0,02 4,98 1,25 42 0,41 10 1,32 328,68 32,87 43 0,72 20 8,13 2024,37 202,44
6 44 0,77 23 10,70 2664,03 115,82 45 0,64 20 6,43 1601,70 80,09 46 0,48 21 3,80 946,20 45,06 47 0,19 07 0,20 49,80 7,11 48 0,14 5,5 0,08 19,92 3,62 49 0,39 17 2,03 505,47 29,73 50 0,395 18 2,20 547,80 30,43 51 0,43 20 2,90 722,10 36,10 52 0,54 21 4,80 1195,20 56,91 53 0,54 20,5 4,69 1165,32 56,84 54 0,48 19 3,44 856,56 45,08 55 0,445 20 3,11 774,39 38,72 56 0,145 06 0,10 24,90 4,15 57 0,10 06 0,05 12,45 2,07 58 0,10 5,5 0,04 9,96 1,81 59 0,19 07 0,20 49,80 7,11 60 0,60 18 5,09 1267,41 70,41 61 0,54 18,5 4,23 1053,27 56,93 62 0,50 22 4,32 1075,68 48,89 63 0,91 24 15,60 3884,40 161,85 64 0,74 25 10,74 2674,26 106,97 65 0,20 6,5 0,20 49,80 7,66 66 0,60 21 5,93 1476,57 70,31 67 0,48 20 3,62 901,38 45,07 68 0,63 19,5 6,07 1511,43 77,50 69 0,53 22 4,85 1207,65 54,89 70 0,57 19 4,84 1205,16 63,42 71 0,43 21 3,05 759,45 36,16 72 0,66 23 7,86 1957,14 85,09 73 0,30 12 0,88 219,12 18,26 74 0,54 18 4,12 1025,88 56,93 75 0,48 16 2,89 719,61 44,98 76 0,19 07 0,20 49,80 7,11 Essa diferença de estocagem de carbono em reação ao dap da árvore também é descrito por Soares e Oliveira (2002), como também existe diferença na quantidade de carbono estocado por cada parte da árvore. Segundo Paixão (2006) o tronco é a parte aérea que mais estoca carbono, seguido por galhos e depois folhas. Segundo Azuaga (2000), os veículos automotores produzem mais poluição atmosférica que atividades antrópicas, e como esse mercado vem crescendo, a emissão de poluentes só tendem a aumentar, necessitando cada vez mais de áreas reflorestadas para seqüestrar os carbonos emitidos.
7 Sabendo que um carro popular emite em média mais ou menos 85 kgc (isso varia de carro para carro) por ano, e a área reflorestada pode seqüestrar 53,37 kgc por ano, essa área não seria suficiente para seqüestrar carbono de nenhum carro popular, tornando-se assim necessário mais áreas para que esse seqüestro seja eficaz. 4. Conclusão kgc por ano. O presente trabalho mostrou que a área reflorestada sequestra 53,37 5. Agradecimento Gostaria de agradecer primeiramente a Deus, como também aos colegas de faculdade Natalie Mascarenhas, Paulo Henrique Santos Araújo Camargo e Filipe Feitosa de Carvalho pela ajuda concebida durante a realização do projeto e aos funcionários do laboratório de informatica da PUC SP campus Sorocaba. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AZUAGA, D. Danos ambientais causados por veículos leves no Brasil. 2000, p. 193. Dissertação de pós-graduação UFRJ, Rio de Janeiro, 2000. COOPER, C. F. Carbon storage in managed forest. Canadian Journal of Forest Research, v.13, n.1, p.155-165, 1983. GATTO, A. Estoques de carbono no solo e na biomassa de plantações de Eucalipto na região Centro-Leste do estado de Minas Gerais. 2005, p.88. Dissertação de pós-graduação UFV, Minas Gerais, 2005. GOLDEMBERG, J.; VILLANUEVA, L. D. Energia, Meio Ambiente e Desenvolvimento. Callegari Arquitetura, 1998. 33 p. Disponível em: <http://www.callegariarquitetura.com.br/textos/callegari_energia_meio_a mbiente%20_e_desenvolvimento.pdf>. Acesso em: 09 jun.2009.
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