Direito Eleitoral Bruno Gaspar

Documentos relacionados
Informativo comentado: Informativo 907-STF (RESUMIDO)

Direito Eleitoral Bruno Gaspar

DIREITO ELEITORAL. Prof. Roberto Moreira de Almeida

DIREITO ELEITORAL. Lei das Eleições Lei 9.504/97 Propaganda Eleitoral Parte IV Rádio, TV e Internet. Prof. Rodrigo Cavalheiro Rodrigues

DIREITO ELEITORAL. Propaganda Política Parte 2. Prof. Karina Jaques

LEGISLAÇÃO DO MPU. Perfil Constitucional. Conceito. Prof. Karina Jaques

A propaganda eleitoral no rádio e na televisão restringe-se ao horário gratuito definido na Lei 9.504/97, vedada a veiculação de propaganda paga.

CALENDÁRIO ELEITORAL ELEIÇÕES 2018

Direito Constitucional

Eleitoral. Informativos STF e STJ (setembro/2017)

AULA 1: ORGANIZAÇÃO DOS PODERES

Informativo janeiro/2018

TEMA 1: PODER EXECUTIVO

DIREITO ELEITORAL. Abuso de poder, captação ilícita de sufrágios e condutas vedadas Parte 2. Prof. Roberto Moreira de Almeida

SÚMULA VINCULANTE. Sessão da tarde Professora Bruna Vieira

PROVA OBJETIVA DA POLÍCIA FEDERAL DELEGADO DE POLÍCIA QUESTÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Mídia e Comunicação Cenário e desafios para a democracia e a liberdade de expressão. Veridiana Alimonti, integrante do Intervozes

DIREITO CONSTITUCIONAL

DIREITO CONSTITUCIONAL

DIREITO CONSTITUCIONAL

Aula 20. Propaganda eleitoral em bens particulares

DIREITO ELEITORAL. Lei das Eleições Lei 9.504/97 Propaganda Eleitoral Parte III. Prof. Rodrigo Cavalheiro Rodrigues

Mídia e Comunicação Cenário e desafios para a democracia e a liberdade de expressão. Veridiana Alimonti, integrante do Intervozes

: MIN. ALEXANDRE DE MORAES

DIREITO ELEITORAL BRUNO GASPAR DE OLIVEIRA CORRÊA. Janeiro. Professor de Direito Eleitoral

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 3ª REGIÃO

Supremo Tribunal Federal

STF - Entidades beneficentes de assistência social e imunidade. Entidades beneficentes de assistência social e imunidade 6

REGULAMENTO SOBRE O SORTEIO DE DISTRIBUIÇÃO. Artigo 1.º (Objecto) TEMPOS DE ANTENA NA RÁDIO E NA TELEVISÃO

DIREITO ELEITORAL. Partidos Políticos Parte 3

A CASA DO SIMULADO DESAFIO QUESTÕES MINISSIMULADO 5/360

VEDAÇÕES RELATIVAS A PUBLICIDADE E INAUGURAÇÕES

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA

Direito Administrativo Luiz Jungstedt

Direito do Trabalho Leandro Antunes

DIREITO CONSTITUCIONAL

Número:

11/04/2013 PLENÁRIO : MIN. DIAS TOFFOLI SUL GRANDE DO SUL EMENTA

Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais

a) V, F, V, V. b) F, V, V, V. c) V, V, F, F. d) V, V, F, V. Dica: Aula 01 e Apostila 01 FIXAÇÃO

TEMA 14: CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

DIREITO ELEITORAL. Propaganda Política Campanha Eleitoral Parte I. Prof. Rodrigo Cavalheiro Rodrigues

Quesito avaliado. 5. Fundamentos: Cabimento do recurso: art. 102, III, a e foi interposto tempestivamente (art. 508 do CPC) (0,30);

Supremo Tribunal Federal

RECOMENDAÇÃO ADMINISTRATIVA N 03/2014

TEMA 16: CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

DIREITO CONSTITUCIONAL

1 Introdução. 1 MENDEL, Toby; SALOMON, Eve.O Ambiente Regulatório para a Radiodifusão: Uma Pesquisa

Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO

ESTADO DO RIO DE JANEIRO PODER JUDICIÁRIO

QUESTÕES OAB SEGUNDA FASE CONSTITUCIONAL BLOCO I CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

I RELATÓRIO. Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de medida cautelar, proposta pelo Procurador-Geral da República,

TEMA 10: PODER JUDICIÁRIO

Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Federal Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Federal

Sumário. Proposta da Coleção Leis Especiais para Concursos Capítulo I

Constitucional. Informativos STF e STJ (novembro/2017)

ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO

CONTROLE ABSTRATO Parte II. Jurisdição Constitucional Profª Marianne Rios Martins

Curso Resultado. Jurisprudência ordenada por matérias e assuntos Juizados

do Comércio do Estado do Rio de Janeiro FECOMÉR-

EXCELENTÍSSIMA SENHORA MINISTRA CARMEM LÚCIA, PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE

A ATRIBUIÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO PARA ATUAR NOS PROCESSOS COM LIDES ENVOLVENDO SINDICATOS E SERVIDORES PÚBLICOS

Sumário PROPOSTA DA COLEÇÃO LEIS ESPECIAIS PARA CONCURSOS... 15

INSTRUÇÃO PGE N 05, de 11 de outubro de 2018.

TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE MINAS GERAIS

Supremo Tribunal Federal

Controle da Constitucionalidade

Direito Administrativo. Informativos STF e STJ (julho/2017)

ELEIÇÕES 2010 RÁDIO E NA TELEVISÃO IMPLICAÇÕES NO RODOLFO MACHADO MOURA

DIREITO CONSTITUCIONAL

Supremo Tribunal Federal

CENTRO UNIVERSITÁRIO CAMPOS DE ANDRADE - UNIANDRADE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE CURSO DE EXTENSÃO Professor: José Henrique Cesário Pereira.

Quintos seguem na pauta do STF, que tem quilombolas, terceirização e reservas

Vistos, relatados e discutidos os autos do processo acima identificado, ACORDAM os Juízes do Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais, em

TEMA 1: ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO ESTADO BRASILEIRO

AULA 13: FUNÇÕES ESSENCIAIS À JUSTIÇA

Número:

CONDUTAS VEDADAS AOS AGENTES PÚBLICOS

Direito Constitucional Procurador Legislativo 1ª fase

FRACION SANTOS DIREITO CONSTITUCIONAL

CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

Ordem dos Advogados do Brasil Seção do Estado do Rio de Janeiro Procuradoria

DIREITO CONSTITUCIONAL

EXCELENTÍSSIMO JUIZ AUXILIAR DO TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DO ESTADO DE MATO GROSSO

Controle da Constitucionalidade

Sumário. Parte 1 Teorias e doutrinas relacionadas ao estudo da Constituição

DIREITO ADMINISTRATIVO

RESOLUÇÃO N PROCESSO ADMINISTRATIVO N CLASSE 26 - BRASÍLIA - DISTRITO FEDERAL

Direito do Trabalho Leandro Antunes

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO ÓRGÃO ESPECIAL AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE Nº

Aula 05. Parte Geral. I Pessoas (continuação)

Número:

: MIN. MARCO AURÉLIO DECISÃO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Transcrição:

Direito Eleitoral Bruno Gaspar

Supremo Tribunal Federal

TEMA: ELEIÇÕES PROCESSO: ADI 4451/DF, rel. Min. Alexandre de Moraes, julgamento em 20 e 21.6.2018. (ADI-4451) DESTAQUE: Período eleitoral e liberdade de expressão

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR: O Plenário confirmou os termos da medida cautelar (Informativo 598) e julgou procedente pedido formulado em ação direta para declarar a inconstitucionalidade do inciso II, da segunda parte do inciso III e, por arrastamento, dos 4º e 5º, todos do art. 45 da Lei 9.504/1997. Os dispositivos impugnados da Lei das Eleições estabeleceram ser vedado às emissoras de rádio e televisão, em sua programação normal e noticiário, a partir de 1º de julho do ano da eleição: a) usar trucagem, montagem ou outro recurso de áudio ou vídeo que, de qualquer forma, degradem ou ridicularizem candidato, partido ou coligação, ou produzir ou veicular programa com esse efeito (inciso II) e b) difundir opinião favorável ou contrária a candidato, partido, coligação, a seus órgãos ou representantes (segunda parte do inciso III). Os 4º e 5º explicam o que se entende, respectivamente, por trucagem e por montagem. Prevaleceu o voto do ministro Alexandre de Moraes (relator). De início, esclareceu que o constituinte, ao tratar da comunicação social, optou por atribuí-la a agentes econômicos privados. Para impedir direcionamentos específicos dos meios de comunicação, a Constituição Federal (CF) prevê princípios na produção e difusão de conteúdo informativo pelas emissoras de rádio e televisão (art. 221), proíbe a formação de monopólios e oligopólios (art. 220, 5º) e limita aspectos da atividade a brasileiros natos e a empresas de determinado perfil (art. 222). No caput do art. 220, define que a manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição. Em seguida, reforça a garantia fundamental lato sensu da liberdade de expressão no cenário da comunicação social [CF, art. 5º, IV, V, X, XIII e XIV (1)].

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR: A Constituição protege a liberdade de expressão no seu duplo aspecto: positivo e negativo. O positivo é a livre possibilidade de manifestação de qualquer pessoa e permite a responsabilização nos termos constitucionais. É a liberdade com responsabilidade. O negativo proíbe a ilegítima intervenção do Estado por meio de censura prévia. Não existe permissivo constitucional para limitar preventivamente o conteúdo do debate público em razão de conjectura sobre o efeito que alguns conteúdos possam vir a ter junto ao público. O exercício do direito à liberdade de expressão não pode ser cerceado pelo Estado ou por particular. O traço marcante da censura prévia, com seu caráter preventivo e abstrato, está presente em ambas as normas questionadas. São inconstitucionais porque consistem na restrição, subordinação e forçosa adequação programática da liberdade de expressão a mandamentos normativos cerceadores durante o período eleitoral, pretendendo diminuir a liberdade de opinião e de criação artística e a livre multiplicidade de ideias, com a nítida finalidade de controlar ou mesmo aniquilar a força do pensamento crítico, indispensável ao regime democrático. Deste modo, está configurado a ilegítima interferência estatal no direito individual de criticar. Não se ignora a possibilidade de riscos impostos pela comunicação de massa ao processo eleitoral como o fenômeno das fake news, porém se revela constitucionalmente inidôneo e realisticamente falso assumir que o debate eleitoral, ao perder em liberdade e pluralidade de opiniões, ganharia em lisura ou legitimidade. Ao contrário, o combate às fake news dá-se pelos meios legais e pela boa imprensa, que rapidamente podem levar a correta notícia à população. A censura prévia desrespeita diretamente o princípio democrático, pois a liberdade política termina e o poder público tende a se tornar mais corrupto e arbitrário quando pode usar seus poderes para silenciar e

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR: Todas as opiniões são possíveis em discussões livres, uma vez que faz parte do princípio democrático debater assuntos públicos de forma irrestrita, robusta e aberta. O direito fundamental à liberdade de expressão não se direciona somente a proteger as opiniões supostamente verdadeiras, admiráveis ou convencionais, mas também as duvidosas, exageradas, condenáveis, satíricas, humorísticas, bem como aquelas não compartilhadas pelas maiorias. Não cabe ao Poder Público previamente escolher ou ter ingerência nas fontes de informação, nas ideias ou nos métodos de divulgação de notícias ou no controle do juízo de valor das opiniões dos meios de comunicação e na formatação de programas humorísticos a que tenham acesso os indivíduos. O funcionamento eficaz da democracia representativa exige absoluto respeito à ampla liberdade de expressão, proporcionando a liberdade de opinião, de criação artística, a proliferação de informações, a circulação de ideias, de modo a garantir os diversos e antagônicos discursos. A liberdade de expressão autoriza que os meios de comunicação optem por determinados posicionamentos e exteriorizem seu juízo de valor, bem como autoriza programas humorísticos, charges e sátiras realizados a partir de trucagem, montagem ou outro recurso de áudio e vídeo, como costumeiramente se realiza, não havendo nenhuma justificativa constitucional razoável para a interrupção durante o período eleitoral. A plena proteção constitucional da exteriorização da opinião não significa a impossibilidade posterior de análise e de responsabilização por eventuais informações mentirosas, injuriosas, difamantes. Por fim, o relator assinalou serem inconstitucionais quaisquer leis ou atos normativos tendentes a constranger ou inibir a liberdade de expressão a partir de mecanismos de censura prévia, como na presente hipótese, em que os dispositivos interferem prévia e diretamente na liberdade artística e na liberdade