Nota Técnica Número 195 Julho de A alta dos preços do gás de cozinha e o impacto para os trabalhadores

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Transcrição:

Nota Técnica Número 195 Julho de 2018 A alta dos preços do gás de cozinha e o impacto para os trabalhadores

A alta dos preços do gás de cozinha e o impacto para os trabalhadores Introdução A alta no preço do gás de cozinha e dos combustíveis tornou-se um grande problema para os brasileiros, pois o produto tem grande impacto no orçamento das famílias, sobretudo das mais pobres. O aumento afeta diretamente a taxa de inflação, elevando o custo de vida e depreciando o valor dos salários. A direção da Petrobras, em outubro de 2016, mudou a política de preços dos derivados de petróleo, em especial da gasolina e do diesel. Em julho de 2017, alterou também a política de reajustes do preço do gás de cozinha, o que tornou os aumentos mais frequentes, com o objetivo de estabelecer cotações mais próximas às do mercado global. O gás de cozinha é envasado em botijões de 13 kg e vendido nas refinarias da Petrobras para as distribuidoras. É chamado tecnicamente de gás liquefeito de petróleo (GLP). É o principal combustível de uso doméstico. O valor do botijão de GLP residencial (13 kg) ficou congelado em R$ 13,51 nas refinarias da Petrobras, entre janeiro de 2003 e agosto de 2015. Em julho de 2017, estava em R$ 17,81 e, em dezembro desse mesmo ano, chegou a R$ 24,38, salto de 37%. A nova política de preços adotada pela direção da Petrobras para o GLP de 13 kg não leva em consideração a resolução 4/2005 do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), que reconhece como de interesse para a política energética nacional a prática de preços diferenciados, por produtor ou importador, de gás liquefeito de petróleo (GLP), destinado exclusivamente a uso doméstico em recipientes transportáveis de capacidade de até 13kg, pois tem elevado impacto social, posto que seu custo de aquisição afeta a parcela da população brasileira com menor poder aquisitivo (ver em http://www.mme.gov.br/documents/10584/1139147/resolucao04.pdf/d5729b28-d19c- 4e69-8e03-0af65e599eb1). 2

O objetivo desta Nota Técnica é mostrar os impactos do aumento do preço do gás para as famílias de baixa renda e no custo de vida da população, além de apresentar a política de preços adotada pela atual gestão da Petrobras. Os aumentos no valor do GLP com a nova política de preços adotada pela direção da Petrobras Segundo os dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), que realiza levantamento semanal do preço do gás GLP, os reajustes médios para o consumidor, nas principais unidades da Federação, variaram entre 26,29%, no Maranhão, a 6,70%, no Amapá (Tabela 1). TABELA 1 Variação do preço médio do GLP de 13 kg, por unidade da Federação Brasil - junho de 2017 a maio de 2018 UF Maio de 2018 Junho de 2017 Variação (em R$) (em R$) (%) Acre 78,16 64,81 20,60 Alagoas 64,02 52,5 21,94 Amapá 75,18 70,46 6,70 Amazonas 70,32 57,33 22,66 Bahia 57,60 52,91 8,86 Ceará 70,64 61,4 15,05 Distrito Federal 68,85 59,95 14,85 Espirito Santo 62,27 54,82 13,59 Goiás 73,46 58,21 26,20 Maranhão 69,02 54,65 26,29 Mato Grosso 95,38 80,82 18,02 Mato Grosso do Sul 73,28 65,25 12,31 Minas Gerais 68,97 60,8 13,44 Pará 72,04 62,57 15,14 Paraíba 63,68 52,53 21,23 Paraná 68,21 58,87 15,87 Pernambuco 62,78 50,31 24,79 Piauí 67,56 58,73 15,03 Rio de Janeiro 62,31 54,21 14,94 Rio Grande do Norte 63,02 57,00 10,56 Rio Grande do Sul 67,29 59,14 13,78 Rondônia 76,61 65,06 17,75 Roraima 80,05 67,31 18,93 Santa Catarina 68,77 56,42 21,89 São Paulo 65,07 55,92 16,36 Sergipe 75,11 62,16 20,83 Tocantins 84,47 71,82 17,61 Fonte: ANP. Elaboração: DIEESE 3

No município de São Paulo, conforme coleta de dados do Índice do Custo de Vida do DIEESE, realizada em três das principais distribuidoras da cidade, entre julho e dezembro de 2017, houve aumento em quase todos os meses (exceto em agosto), acumulando alta de 20,35%. Com os reajustes de 2018, até junho, a elevação acumulada é de 26,91%. GRÁFICO 1 Variação acumulada do preço médio do GLP de 13 kg Município de São Paulo junho de 2017 a junho de 2018 (em %) (base junho de 217 =100) 130 125 26,91% 120 115 110 105 100 95 90 Fonte: ICV-DIEESE Quem paga a conta da política de preços adotada pela direção da estatal? Quem sente a mudança da política da Petrobras e o aumento do preço do botijão é o consumidor. O gás de cozinha é um item essencial para as famílias brasileiras. 4

Na taxa geral do ICV-DIEESE, no município de São Paulo, segundo dados de junho, o gás de cozinha pesa 1,46%. Para as famílias com menor renda, pertencentes ao estrato 1, o peso é de 3,23%. A inflação acumulada entre julho de 2017 e junho de 2018, para as famílias do estrato 1, foi de 3,49%. Só o gás de cozinha contribuiu com 0,74 p.p. da taxa acumulada para essas famílias nesse período. Já no índice geral, o aumento do gás representou 0,33 p.p. da taxa total de 4,24%. Uma família com renda média de R$ 1.500,00 (estrato 1) gastava cerca de R$ 71,00 por botijão, em junho de 2017, e passou a dispender em torno de R$ 86,00 em junho de 2018, ou seja, R$ 15,00 a mais, em média. No Índice Nacional de Preços ao Consumidor, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (INPC/IBGE), que calcula a inflação das famílias brasileiras que vivem com 1 a 5 salários mínimos, o gás de cozinha pesou 2,13%, em junho de 2018. Um exercício importante para entender o tamanho do impacto do aumento do preço do gás para as famílias brasileiras e, principalmente, para aquelas de menor renda, é observar os dados da Pnad Contínua, realizada pelo IBGE, com a divisão dos rendimentos familiares em decis. Os dados indicam que, em 2017, os rendimentos médios das famílias no 1º decil de renda, ou seja, das 10% mais pobres, variaram de R$ 117,04, no Maranhão, a R$ 773,97, em Santa Catarina. No caso do segundo decil, os valores oscilaram entre R$ 418,58, no Maranhão, e R$ 1.634,50, em Santa Catarina. Considerando que uma família usa, em média, um botijão por mês, e sabendo o preço em junho de 2018, é possível ver o quanto este item pesa para ela (Tabela 2). 5

UF TABELA 2 Rendimento efetivo médio familiar anual1 do 1º e 2º decil de renda, preço médio do GLP de 13 kg e peso do gás no orçamento das famílias de baixa renda - Brasil Renda Média 1º decil (em R$) Renda Média 2º decil (em R$) Preço Médio do gás GLP (em R$ - maio de 2018) Peso do gás no orçamento das famílias do 1º decil (%) Peso do gás no orçamento das famílias do 2º decil (%) Acre 151,81 554,43 78,16 51,5 14,1 Alagoas 177,80 648,45 64,02 36,0 9,9 Amapá 234,69 815,84 75,18 32,0 9,2 Amazonas 170,20 664,38 70,32 41,3 10,6 Bahia 118,15 490,19 57,6 48,8 11,8 Ceará 181,06 589,72 70,64 39,0 12,0 Distrito Federal 681,24 1.326,34 68,85 10,1 5,2 Espírito Santo 392,83 983,74 62,27 15,9 6,3 Goiás 502,39 1.009,02 73,46 14,6 7,3 Maranhão 117,04 418,58 69,02 59,0 16,5 Mato Grosso 590,02 1.091,90 95,38 16,2 8,7 Mato Grosso do Sul 585,90 1.123,55 73,28 12,5 6,5 Minas Gerais 446,70 984,43 68,97 15,4 7,0 Pará 217,80 670,87 72,04 33,1 10,7 Paraíba 247,48 701,69 63,68 25,7 9,1 Paraná 606,68 1.171,88 68,21 11,2 5,8 Pernambuco 187,33 633,12 62,78 33,5 9,9 Piauí 172,51 508,97 67,56 39,2 13,3 Rio de Janeiro 520,44 1.004,60 62,31 12,0 6,2 Rio Grande do Norte 194,54 707,46 63,02 32,4 8,9 Rio Grande do Sul 578,57 1.198,09 67,29 11,6 5,6 Rondônia 378,65 939,17 76,61 20,2 8,2 Roraima 229,68 888,80 80,05 34,9 9,0 Santa Catarina 773,97 1.634,50 68,77 8,9 4,2 São Paulo 601,39 1.266,45 65,07 10,8 5,1 Sergipe 148,10 577,71 75,11 50,7 13,0 Tocantins 315,36 906,69 84,47 26,8 9,3 Fonte: IBGE (PNAD-Continua) e ANP (Agencia Nacional do Petróleo, Gás natural e biocombustíveis) Elaboração: DIEESE Nota: 1) rendimento médio mensal incluindo recebimentos em cartão/ tíquete transporte e alimentação. O valor refere-se à média dos 12 meses de 2017 Entre as famílias do 1º decil, ou seja, as 10% mais pobres, o preço do gás pesou mais no orçamento daquelas que viviam no Maranhão (59,0%), Acre (51,5%) e em Sergipe (50,7%) - acima de 50%. Os menores percentuais foram registrados em São Paulo (10,8%), Distrito Federal (10,1%) e Santa Catarina (8,9%). Já entre as famílias do 2º decil, o gás pesou mais no Maranhão (16,5%), Acre (14,1%), Piauí (13,3%) e em Sergipe (13,0%). E menos no Distrito Federal (5,2%), em São Paulo (5,1%) e Santa Catarina (4,2%). 6

Cabe considerar que famílias do estrato 1 têm demandas maiores do que a renda que recebem e tendem a estar endividadas. Além disso, cerca de 13,7 milhões de famílias participantes do programa Bolsa Família, que recebem benefício médio de R$ 178,04, comprometem cerca de 40% do valor que ganham na compra do botijão de 13 kg. Muitas matérias veiculadas na imprensa têm mostrado o drama dessas famílias que, diante da alta do gás, cozinham com lenha e álcool, porque, com a renda que possuem, precisam escolher entre comida e gás. 1 A composição do preço do GLP (13kg) e a variação de valores nas refinarias, nos distribuidores e revendedores finais A comercialização do GLP começa com a venda a granel pelo produtor (refinarias) ou importador para as empresas distribuidoras. Estas podem comercializar o produto para indústrias (geralmente a granel, utilizando caminhões tanques), pontos de revenda ou diretamente aos consumidores finais. Na composição de preços ao consumidor final de GLP, a Petrobras responde por 32% do valor final, outros 18% são tributos (15%, ICMS, e 3%, PIS/Pasep e Cofins) e o restante, 50%, é composto por distribuição e revenda. Em relação à variação do preço do GLP, a Tabela 3 apresenta um histórico dos preços praticados: nas refinarias da Petrobras, ainda sem os tributos; pelas empresas de distribuição; e revendoras finais, direto ao consumidor. Como mostram os dados, entre janeiro de 2003 e agosto de 2015, o preço médio do GLP ficou congelado em R$ 13,51 nas refinarias. Em setembro de 2015, apresentou reajuste de 13%. Já o preço médio das distribuidoras, nesse mesmo período, cresceu 42%, passando de R$ 24,74 a R$ 35,22. Para a revenda, o preço subiu 80% nesse mesmo período. Outro período importante na análise é de julho de 2017 para cá, quando a Petrobras adotou a política da paridade internacional. Em dezembro de 2017, quando o preço na refinaria chegava ao maior valor até o momento, R$ 24,38, a alta em relação a julho de 2017 era de 37%. Em maio de 2018, mesmo com queda no preço das refinarias, o aumento, desde julho de 2017, é de 24%. 1 https://www.bbc.com/portuguese/brasil-44488761 7

TABELA 3 Preços médios do GLP 13kg praticados nas refinarias (sem tributos), na distribuição e revenda janeiro de 2003 a maio de 2018 Período Refinaria Variação Variação Variação Distribuição Revenda (sem tributos) % % % jan/03 13,51-24,74-29,35 - set/15 15,27 13% 35,22 42% 52,92 80% jul/17 17,81 17% 41,01 16% 57,53 9% dez/17 24,38 37% 48,07 17% 66,53 16% mai/18 22,13-9% 50,31 5% 66,96 1% Fonte: Petrobras e ANP Outro aspecto que merece ser analisado é a composição do preço do GLP no Brasil e regiões. Aproximadamente 33% do preço final é apropriado pelo produtor do GLP; 24,7% do preço gás se refere à margem bruta de revenda; 24,2%, à margem bruta de distribuição e custos de transporte; e 17,5% são tributos estaduais e federais (Tabela 4). O que chama a atenção é o patamar da participação e a homogeneidade das margens entre produtor, distribuidor e revenda. Sobretudo, destaca-se o caráter regressivo da tributação, ou seja, os 17,5% cobrados pelo GLP 13 kg têm impacto muito maior nas faixas de renda menores, enquanto para as famílias com rendimentos mais elevados (10º decil), o gás de cozinha representa entre 0,3% e 0,8% da renda média. 8

Brasil e Grandes Regiões maio de 2018 Ref.: 25/03/2018 a 31/03/2018 Preço do Produtor de GLP (P13) Tributos Federais 1 Tributos Estaduais 2 Margem Bruta de Distribuição 3 + Custos Transporte Margem Bruta de Revenda 3 Preço ao Consumidor (P13) Valor (R$/13 Kg) TABELA 4 Composição dos preços dos combustíveis (Brasil e regiões) maio de 2018 Brasil Sudeste Sul Centro-Oeste Norte Nordeste Partici pação Valor R$/13 Kg) Partici Pação Valor (R$/13 Kg) Partici pação Valor (R$/ 13Kg) Partici pação Valor (R$/13 Kg) Partici pação Valor (R$/13 Kg) Partici pação 22,34 33,3% 22,41 34,4% 22,18 32,5% 22,41 28,8% 22,35 30,1% 22,10 34,4% 2,18 3,3% 2,18 3,3% 2,18 3,2% 2,18 2,8% 2,18 2,9% 2,18 3,4% 9,55 14,2% 9,18 14,1% 9,30 13,6% 9,22 11,8% 10,10 13,6% 10,38 16,2% 16,20 24,2% 14,76 22,7% 15,08 22,1% 26,08 33,5% 24,82 33,4% 13,85 21,6% 16,75 25,0% 16,61 25,5% 19,54 28,6% 18,01 23,1% 14,77 19,9% 15,70 24,5% 67,02-65,14-68,28-77,90-74,21-64,22 - Fonte: ANP. Disponível em http://www.anp.gov.br/precos-e-defesa-da-concorrencia/precos/levantamento-deprecos/estruturas-de formacao-dos-precos Acesso em 27/06/18 Nota: (1) Pis/Pasep, Cofins e Cide; (2) ICMS; (3) Margens brutas incluem demais custos não identificados nesta tabela e margem líquida de lucro Obs.: valores calculados a partir de dados ANP A necessidade crescente de importação de GLP no Brasil O Brasil consome, em média, 1,11 milhão de m³ de GLP por mês, quantidade que se mantém há anos. A capacidade de produção do país, entretanto, tem se reduzido, como mostra o Gráfico 2. Nos primeiros meses de 2018, houve queda na produção nacional de cerca de 800 mil m³/mês para 670 mil m³/mês. A redução acontece por conta da recente decisão da direção da Petrobras de reduzir a participação da estatal no abastecimento nacional e, consequentemente, a produção em refinarias. Por outro lado, cresce a importação de GLP. 9

GRÁFICO 2 Produção e Consumo aparente de GLP no Brasil Média anual e valores mensais maio/2016 a abril de 2018 Fonte: MME. Relatório do Mercado de Derivados de Petróleo, nº149, maio de 2018. Disponível em (http://www.mme.gov.br/documents/1138769/0/relat%c3%b3rio+mensal+de+mercado+mai- 18+149.pdf/0193d17e-f4dc-4257-87b4-feb454c9e857) As importações de GLP, nos primeiros quatro meses de 2018, cresceram 67,9% em relação ao mesmo período do ano passado (Tabela 5). Assim, a dependência brasileira em relação à importação de GLP para abastecimento do consumo interno saltou de 24%, nos quatro primeiros meses de 2017, para 40%, no mesmo período de 2018. 10

TABELA 5 Importação Mensal de GLP (em m³) Brasil - 2014 a abril de 2018 Meses 2014 2015 2016 2017 2018 Janeiro 467.875 258.366 78.871 206.082 498.527 Fevereiro 269.659 184.303 670.226 538.887 524.368 Março 290.845 271.595 194.665 161.847 372.419 Abril 226.170 360.833 517.140 101.289 297.146 Maio 235.263 97.438 431.046 151.226 Junho 183.104 238.092 447.145 462.271 Julho 836.612 194.314 370.570 400.210 Agosto 362.371 159.147 437.877 478.119 Setembro 141.783 247.350 371.831 451.947 Outubro 183.152 226.845 240.067 203.754 Novembro 409.809 653.776 223.033 112.757 Dezembro 256.278 299.111 167.100 24.365 Total do Ano 3.862.921 3.191.171 4.149.569 3.292.754 1.692.460 Fonte: Secretaria de Comércio Exterior (Secex) - Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior Considerações finais A análise dos impactos da alta do preço do gás de botijão mostra a perversidade da política de preços adotada pela atual gestão da Petrobras. O trabalhador mais pobre e sua família consomem boa parte da renda para adquirir o botijão de 13 kg. Para piorar, a tributação regressiva penaliza ainda mais os que ganham menos. Além de contribuir para arrochar os salários, a atual política piora a qualidade de vida de muitas famílias e ainda coloca em risco outras tantas, quando as obriga, por falta de recursos para adquirir o gás, a voltar a usar lenha e álcool para cozinhar. Vários acidentes têm acontecido em função dessa mudança. A atual direção da Petrobras, uma estatal, que pertence ao estado brasileiro, optou por uma rota que vai na contramão daquilo que é feito por muitas empresas estrangeiras produtoras de petróleo. Ou seja, aqueles que gerem a estatal, nesse momento, escolheram um caminho que estrangula o consumidor brasileiro, sobretudo, aqueles de mais baixa renda, ao adotar uma política de preços cujo principal objetivo é satisfazer aos interesses dos acionistas em detrimento do bem-estar da população, fornecendo um produto cujo custo não cabe no bolso de quem precisa do produto. Além disso, importa algo que o país 11

produzia e pode produzir, contribuindo para gerar empregos em outros países e desemprego no Brasil. Países produtores de petróleo (México, Colômbia, Equador, Angola, Argélia, Indonésia, Rússia, Irã, Noruega) praticam preços internos abaixo do mercado internacional e também não acompanham, imediatamente, as flutuações do mercado. A quem deveria servir a Petrobras? Aos acionistas ou à população brasileira? Essa é a pergunta que precisa ser feita à atual direção da estatal, gestão que anunciou há pouco, em 5 de julho, reajuste de 4,40% no GLP, em média, nas refinarias. 12

Rua Aurora, 957 1º andar CEP 05001-900 São Paulo, SP Telefone (11) 3874-5366 / fax (11) 3874-5394 E-mail: en@dieese.org.br www.dieese.org.br Presidente: Bernardino Jesus de Brito Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Energia Elétrica de São Paulo - SP Vice-presidente: Raquel Kacelnikas Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos Bancários de São Paulo Osasco e Região SP Secretário Nacional: Nelsi Rodrigues da Silva Sindicato dos Metalúrgicos do ABC - SP Diretor Executivo: Alex Sandro Ferreira da Silva Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas Mecânicas e de Material Elétrico de Osasco e Região SP Diretor Executivo: Antonio Francisco Da Silva Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas Mecânicas e de Materiais Elétricos de Guarulhos Arujá Mairiporã e Santa Isabel SP Diretor Executivo: Carlos Donizeti França de Oliveira Federação dos Trabalhadores em Serviços de Asseio e Conservação Ambiental Urbana e Áreas Verdes do Estado de São Paulo SP Diretora Executiva: Cibele Granito Santana Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Energia Elétrica de Campinas SP Diretora Executiva: Elna Maria de Barros Melo Sindicato dos Servidores Públicos Federais do Estado de Pernambuco PE Diretora Executiva: Mara Luzia Feltes Sindicato dos Empregados em Empresas de Assessoramentos Perícias Informações Pesquisas e de Fundações Estaduais do Rio Grande do Sul RS Diretor Executivo: Paulo Roberto dos Santos Pissinini Junior Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas de Máquinas Mecânicas de Material Elétrico de Veículos e Peças Automotivas da Grande Curitiba PR Diretor Executivo: Paulo de Tarso Guedes de Brito Costa Sindicato dos Eletricitários da Bahia BA Diretor Executivo: Sales José da Silva Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas Mecânicas e de Material Elétrico de São Paulo Mogi das Cruzes e Região SP Diretora Executiva: Zenaide Honório Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo - SP Direção Técnica Clemente Ganz Lúcio Diretor Técnico Fausto Augusto Júnior Coordenador de Educação José Silvestre Prado de Oliveira Coordenador de Relações Sindicais Patrícia Pelatieri Coordenadora de Pesquisas e Tecnologia Rosana de Freitas Coordenadora Administrativa e Financeira Equipe Técnica Patrícia Lino Costa Cloviomar Cararine Altair Garcia 13