RENDIMENTO E PRODUTIVIDADE DE CULTIVARES DE CAFÉ ARÁBICA EM BAIXA ALTITUDE Danilo da Silva Nascimento 1, Marcos Oliveira de Paula 2, Bruna Tomaz Sant'Ana 3, Lucas Rosa Pereira 4, Maria Christina Junger Delôgo Dardengo 5 1,2,4 Graduandos em Tecnologia em Cafeicultura, IFES, Campus de Alegre-ES, danilosilna@yahoo.com 3 Graduanda em Ciências Biológicas, IFES, Campus de Alegre-ES, brunabiologiaifes@gmail.com 5 Doutoranda em Produção Vegetal, UENF-RJ, Pesquisadora do IFES-ES, mcjunger@ifes.edu.br Resumo- Com o objetivo de avaliar o rendimento e a produtividade de cultivares de café arábica em baixa altitude, foi instalado um experimento no Setor de Cafeicultura, IFES, Campus de Alegre-ES. Foram avaliadas plantas de Coffea. arabica L. cv Topázio MG-1190, Obatã IAC 1669-20, Catuaí Amarelo UFV 2161 e Catuaí Vermelho L81. A colheita foi realizada de forma não seletiva, derriça manual em peneira. Foi determinado o peso e o volume dos grãos de café em cada fase de secagem e a partir desses dados, foi calculado a produtividade e o rendimento das plantas. Os frutos do cafeeiro arábica colhidos no estádio cereja apresentam maior rendimento. A produtividade média das cultivares avaliadas foi de 74,08 sc ha-¹, o que corresponde a 4,52 vezes a mais da média do Estado do Espírito Santo. É viável o cultivo de café arábica irrigado em baixa altitude. Palavras-chave: Café arábica, rendimento, frutos, maturação, produtividade. Área do Conhecimento: Ciências Agrárias Introdução A segunda estimativa de produção de café (arábica e conilon) para a safra 2012 indica que o País deverá colher 50,45 milhões de sacas de 60 quilos do produto beneficiado. Em termos de volume, a produção do café arábica apresenta crescimento de 5.944,2 mil sacas. A produção da espécie arábica, estimada em 2.860,0 mil sacas, representa uma redução de 7,1% em relação à produção colhida na safra passada, que foi de 3.079 mil sacas (CONAB, 2012). A produtividade é o parâmetro avaliado na maioria dos trabalhos, por ser uma característica que oferece maior impacto junto aos cafeicultores quando se pretende demonstrar o resultado de algum trabalho científico ou não, pois reflete o ganho a ser obtido na produção da lavoura cafeeira (KARASAWA et al. 2005). Assim, a produtividade expressa à produção de uma lavoura ou talhão em número de sacas por hectare, que está diretamente relacionada com a nutrição das plantas, potencial genético das cultivares, manejo e condução das plantas, fatores climáticos, dentre outros aspectos. O fruto ideal para ser colhido é aquele que tenha completado o estádio de maturação fisiológica, que corresponde, no caso do café, ao denominado fruto cereja. Entretanto, o cafeeiro apresenta, na época da colheita, frutos em diferentes estádios de maturação (verdes, cerejas, passas e secos), devido à característica desta espécie de produzir várias florações (BARTHOLO & GUIMARÃES, 1997). Contudo, quanto maior a proporção de café cereja em detrimento aos frutos verdes e defeituosos, maior a massa de café beneficiado (MEDINA FILHO; BORDIGNON, 2003). Com isso, é preconizado que a percentagem aceitável de frutos maduros no ponto ótimo de colheita é de 80 a 85% de frutos no estádio cereja (NOGUEIRA et al., 2005). O rendimento pode ser expresso pela relação de volume ou peso do café da roça para quilos de café beneficiado, ou ainda, pelo rendimento de pila, que vem a ser a relação entre a quantidade de café em coco por quilo de café beneficiado. Silva et al. (2010), realizando um estudo espacial do rendimento de grãos e porcentagem de casca de duas variedades de Coffea arábica L. visando obter a produção de café de qualidade, encontraram resultados para o café arábica cultivar Catuaí com valores de 100 a 130 sc ha-¹. De acordo com Ferrão et al. (2007), existe grande variabilidade entre os materiais genéticos de café arábica quando cultivados em condição de baixa altitude e elevada temperatura no Estado do Espírito Santo. Contudo, ressalta-se o resultado expressivo da cultivar Obatã IAC 1669-20, cuja produtividade média de grãos foi de 46,8 sc beneficiadas de 60 kg ha-¹. Assim, o presente trabalho, teve por objetivo avaliar o rendimento e a produtividade de cultivares de café arábica, em baixa altitude no sul do Estado do Espírito Santo. 1
Metodologia O experimento foi instalado no Setor de Cafeicultura do Instituto Federal do Espírito Santo - IFES, Campus Alegre-ES, Fazenda Caixa D Água, distrito de Rive, localizado na latitude de 20º 25 51,61 S e longitude de 41º 27 24,51 W e altitude de 136,82 m. A precipitação média anual é de 1.250 mm e o clima é classificado por Köpenn como sendo do tipo Aw, com temperatura média anual de 26 C. Foram avaliadas plantas de Coffea. arabica L. cv Topázio MG-1190, Obatã IAC 1669-20, Catuaí Amarelo UFV 2161 e Catuaí Vermelho L81. O plantio se deu em novembro de 2000, adotando-se o espaçamento de 2x1 m. A partir de 2007 foi instalado um sistema de irrigação por aspersão convencional fixo, adotando-se turno de rega de uma vez por semana, com manejo via clima. O período de avaliação foi de agosto de 2011 a abril de 2012. O delineamento experimental adotado foi em blocos casualizados com três repetições e oito plantas por parcela. Foi realizada a colheita individual de cada planta da parcela, de forma não seletiva, derriça manual em peneira, sendo contabilizado o volume e o peso de café da roça por planta/cultivar. Do total de café da roça colhido, foi retirada uma amostra de 2 kg, sendo essa acondicionada em sacola telada, destinada a secagem em terreiro até ± 12% de umidade, caracterizando-se o café em coco. A amostra de café em coco foi beneficiada e pesada, transformando-se os dados obtidos em gramas de café beneficiado por planta e ajustados em sacas beneficiadas de 60 kg ha-¹. A partir da produção por planta/cultivar, foi determinada a relação peso/volume em cada fase de secagem (café da roça- CR, café em coco- CC e café beneficiado- CB) e rendimento. A densidade nas etapas de secagem foi obtida pela relação entre o peso e volume das amostras. Para determinação da porcentagem de frutos cereja, verde-cana, verde, passa e seco foi amostrado 100 gramas da mistura homogeneizada de cada cultivar do café colhido da lavoura em estudo. Após a separação, os frutos do cafeeiro arábica em estádio de maturação foram pesados, sendo obtido o valor percentual correspondente. Resultados Na Figura 1 são apresentados os valores médios dos frutos de cultivares do cafeeiro arábica em diferentes estádios de maturação. Figura 1- Valores médios da maturação dos frutos em cultivares do café arábica. IFES, 2012. Na Tabela 1 são apresentados os resultados da produção por planta, em peso e volume, assim como a densidade dos frutos de café arábica nas etapas de secagem, sendo essas: café da roça (CR), café em coco (CC) e café beneficiado (CB). Tabela 1- Valores médios da produção e densidade dos frutos de cultivares de café arábica nas etapas de secagem (CR: CC: CB), em baixa altitude no sul do Estado do Espírito Santo. IFES, 2012. Cultivar Café da Roça Café em Coco Café Beneficiado Peso Vol. ds Peso Vol. ds Peso Vol. Ds (kg) (L) (kg L-¹) (kg) (L) (kg L-¹) (kg) (L) (kg L-¹) Topázio 3,98 6,78 0,59 1,16 3,59 0,32 0,61 0,88 0,70 Obatã 7,24 12,18 0,59 2,18 7,02 0,31 1,05 0,87 1,21 Catuaí A. 7,35 10,42 0,70 2,09 5,82 0,35 1,09 0, 66 1,66 Catuaí V. 5,06 6,95 0,72 1,45 3,73 0,38 0,79 0,88 0,90 2
Na Tabela 2 são apresentados os resultados de rendimento café da roça (CR), café em coco (CC) e café beneficiado (CB); produção (litros de CR por planta e quilos de CR por planta); quebra (número de balaios de 80 litros por saca de 60 kg de CB) e produtividade de cultivares de café arábica em baixa altitude (sc 60 kg CB ha-¹). Tabela 2- Rendimento, produção, quebra e produtividade de cultivares de café arábica, em baixa altitude no sul do Estado do Espírito Santo. IFES, 2012. Cultivar Rendimento Produção Quebra Produtividade KgCR: KgCB KgCC: KgCB L CR pl-¹ kg CR pl-¹ Nº B (80 L sc-¹) Topázio 6,5 :1 1,9 :1 6, 78 3, 97 8,3 :1 51,0 Obatã 6,9 :1 2,1 :1 7, 58 4, 55 8,7: 1 87,6 Catuaí A. 6,7 :1 1,9 :1 4, 15 3, 29 7,1: 1 91,4 Catuaí V. 6,4 :1 1,8: 1 4, 61 2, 87 6,6: 1 66,3 (sc ha-¹) Discussão Na Figura 1, nota-se a cultivar Obatã apresenta maior percentual de frutos verdes, com cerca de 60%, enquanto que as demais cultivares, os valores foram próximos a 30%. Isso compromete o rendimento e qualidade da bebida, visto que frutos verdes são imaturos e, portanto, não apresentam o máximo acúmulo possível de matéria seca, bem como, não possuem ainda o desejado equilíbrio entre seus componentes. Desse modo, além de se constituírem em defeitos que depreciam o tipo de café, os frutos quando colhidos ainda verdes, pesam menos que os cerejas, o que poderá atingir um índice de até 20% de perdas em relação ao rendimento final (FREIRE & MIGUEL, 1985). De acordo com o Documento nº 184 (FERRÃO et al., 2010), os frutos de café arábica colhidos verdes resultam em perdas de 20,49%, o que corresponde a cerca de 13 sacas de café beneficiado de 60 kg. Tais afirmações vem de encontro aos resultados obtidos nesta pesquisa, em que verifica-se o mais baixo rendimento da cultivar Obatã (Tabela 2, Figura1). De acordo com Silva (1999) para se alcançar boa qualidade, a colheita deve ser iniciada quando, no mínimo, 80% dos frutos estiverem maduros. Tal fato justifica o maior rendimento das cultivares Catuaí Vermelho e Catuaí Amarelo, uma vez que apresentaram maior percentual de frutos cerejas, conforme pode ser observado na Figura 1. Desse modo, foram necessários 528 a 568 litros de CR sc-¹ de 60kg de CB, ou então, 384 a 402 kg CR sc-¹ de 60kg de CB. Já em relação aos frutos secos e passas, os maiores valores ocorreram nas cultivares Topázio e Catuaí Vermelho, estando relacionado com a permanência dos frutos na lavoura após seu completo amadurecimento, o que implica em decréscimos de rendimento e qualidade. Assim, a baixa densidade do café beneficiado da cultivar Topázio (0,70 kg L-¹) e a mais elevada densidade da cultivar Catuaí Amarelo (1,65 kg L-¹), estão relacionadas com os valores de frutos em diferentes estádios de maturação, dentre outros aspectos (Tabela 1). Pela Tabela 2, observou-se diferenças na produção e produtividade das cultivares avaliadas, cujos valores variaram entre 51 a 91,4 sc de 60 kg de CB ha-¹. A produtividade média de 74,08 sc ha-¹, corresponde a 4,52 vezes a mais a produtividade média do Estado do Espírito Santo (CONAB, 2012). Conclusão É viável o cultivo de café arábica irrigado em baixa altitude. Os frutos do cafeeiro arábica colhidos no estádio cereja apresentam maior rendimento. Referências - BARTHOLO, G. F.; GUIMARÃES, P. T. G. Cuidados na colheita e preparo do café. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.18, n.187, p.33-42, 1997. - CONAB - Companhia Nacional de Abastecimento. Acompanhamento da Safra Brasileira Café Safra 2012, terceira estimativa, set/2012. Disponível em: 3
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