SILVA, Valcilene Rodrigues 1, BAUTISTA Diana Carolina Gomez 2, LUCENA, Maria Ita sena de 3. Tema gerador: Construção do Conhecimento Agroecológico

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Transcrição:

Construindo conhecimento agroecológico no Semiárido pernambucano: o exemplo da Feira Saberes, Sementes e Sabores no município de Brejinho - PE Brasil Building agroecological knowledge in the semi-arid in Pernambuco: the example of the fair Traditional Knowlwdge, Seeds and Flavors in the municipality of Brejinho - PE SILVA, Valcilene Rodrigues 1, BAUTISTA Diana Carolina Gomez 2, LUCENA, Maria Ita sena de 3. ¹Universidade Federal de Pernambuco, Departamento de Geografia, Núcleo de Educação, Pesquisa e Práticas em Agroecologia e Geografia, valcilener@gmail.com; ² Doutoranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente PRODEMA/UFPE, dianacaro.gomez@gmail.com; ³ Agricultora e presidente da Associação Comunitária de Vila de Fátima, Brejinho-PE Tema gerador: Resumo Os conhecimentos tradicionais transmitidos de geração para geração no espaço e no tempo são de grande importância para a construção do conhecimento agroecológico. Assim, o presente trabalho apresenta a experiência da I e II Feira de Saberes, Sementes e Sabores, desenvolvida no município de Brejinho-PE, localizado no Semiárido brasileiro. As comunidades locais despertaram interesse neste tipo de espaço como uma forma de partilhar as suas experiências e atividades, promover a troca de conhecimento e divulgar os produtos locais. Além da troca de conhecimento entre agricultores(as) são resultados importantes da feira o envolvimento dos jovens e das escolas locais e a disseminação da importância da agricultura familiar para a região. Palavras-Chave: Agroecologia; Diálogo de saberes; Campesinato; Agricultura familiar. Abstract Traditional knowledge passed on from generation to generation over space and time is of great importance to build up agroecological knowledge. This work shows the experience of the I and II Fair of Knowledge, Seeds and Flavors, developed in the municipality of Brejinho-PE, located in the Brazilian Semi-arid. Local communities have attracted interest to this type of space as a way of sharing their experiences and activities, promoting knowledge exchange and disseminating local products. In addition to the exchange of knowledge among farmers, the important results of the fair are the involvement of young people and local schools and the dissemination of the importance of family farming to the region. Keywords: Agroecology; Dialogue of knowledge; Peasantry; Family farming.

Aspectos introdutórios: o saber tradicional como base da agroecologia Os processos de construção do conhecimento apresentam características diferentes segundo o momento histórico da humanidade. Assim, cada época encerra um leque de valores culturais e exigências sociais que determina formas variadas de relacionamento com a natureza, o que sempre garantiu a diversidade (CAPORAL et al., 2013). No entanto, a ciência moderna adotou uma lógica de descontextualizar, de simplificar, de estreitar e reduzir o conhecimento ao que chamou de saber científico. O saber tradicional é outra forma do saber do ser humano, saber que do ponto de vista de muitas pesquisas científicas é menos valorizado e reconhecido, omitindo os saberes baseados nas experiências dos povos e na longa relação existente entre sociedade-natureza (LEFF, 2008). O uso da natureza, baseado na ciência e na tecnologia, tem resultado na incapacidade dos sistemas produtivos modernos de realizar práticas ambientalmente e socialmente sustentáveis. No período da chamada crise ambiental (meados dos anos 1980) surgiram diversas publicações que criticaram o sistema produtivo ocidental e apontaram experiências dos sistemas produtivos não-ocidentais, como experiências no sul da Ásia, na China, em países africanos, nas regiões amazônica e andina, dando ênfase aos saberes tradicionais incorporados em diversos campos, como na agroecologia, na conservação dos recursos e conservação da biodiversidade (TOLEDO; BARRERA- -BASSOLS, 2008). Nesse contexto, o presente trabalho tem por objetivo apresentar a experiência da Feira de Saberes, Sementes e Sabores como elemento-chave na construção do conhecimento agroecológico e na promoção da agroecologia em comunidades do Semiárido pernambucano. Conhecendo o contexto da Feira de Saberes, Sementes e Sabores do município de Brejinho (PE) O semiárido brasileiro apresenta-se como uma realidade dinâmica, complexa e multifacetada. É um verdadeiro mosaico com características peculiares e, por isso, precisa ser compreendido sob múltiplos olhares e dimensões (MALVEZZI, 2007). Assim, localizar geograficamente a experiência a ser relatada ajuda na compreensão do contexto na qual a mesma está inserida. A feira de Saberes, Semente e Sabores acontece, anualmente, na comunidade de Vila de Fátima em Brejinho (Figura 01), município do semiárido pernambucano localizado na Microrregião Sertão do Pajeú.

Figura 01 Localização Geográfica do município de Brejinho-PE. Fonte: IBGE, arquivo shape, 2000. Elaboração: Valcilene Rodrigues, 2015. O município limita-se ao norte e a oeste com o estado da Paraíba, ao sul com os municípios de São José do Egito e Santa Terezinha e a leste com Itapetim. A sede municipal tem uma altitude de 737 metros, dista 409,9 km da capital pernambucana e tem como o principal meio de acesso ao mesmo, as rodovias BR-232, BR-110, PE-280, PE-275 e PE-320 (CPRM, 2005).Conta com uma população estimada para 2016 de aproximadamente 7.464 habitantes (IBGE, 2016) e está constituída predominantemente por minifúndios. Dentre as principais atividades agropecuárias de Brejinho, destacam-se os cultivos anuais de feijão de corda, milho, batata doce e macaxeira; a criação bovina, caprina e ovina, e a pluriatividade, especialmente, o pequeno comércio e a prestação de serviços (SILVA, 2015). A Feira de Saberes, Sementes e Sabores é fruto da execução de um projeto intitulado Pluriatividade: alternativa de conservação dos recursos naturais em minifúndios do Semiárido em parceria com o Programa Semear realizado em 2015. O projeto foi desenvolvido nas comunidades do Sítio Caldeirão, Sítio Lagoa dos Campos e Vila de Fátima e teve o seu fechamento em Vila de Fátima com a realização da I Feira de Saberes, Sementes e Sabores cujo objetivo era promover um espaço que permitisse a disseminação dos saberes dos agricultores e agricultoras familiares através da exposição de produtos resultantes da diversidade de atividades agrícolas e não agrícolas praticadas pelas famílias do município de Brejinho e proporcionar um momento para troca de sementes nativas (crioulas).

Logo na primeira edição (novembro de 2015) a feira contou com a participação de mais de 320 agricultores. Dentre os resultados da I feira destaca-se o envolvimento direto de 10 jovens nos preparativos do evento; o envolvimento da escola local na construção da programação e apresentações culturais ligadas ao tema da feira; participação de associações rurais da vizinhança; participação de grupos de mulheres (mulheres Art s barro de Brejinho e mulheres do Sítio São Miguel com exposição de mudas nativas [integrantes do Projeto Mulheres na Caatinga]) e participação de 81 crianças e jovens nas apresentações culturais, o que evidencia a inserção da juventude nas associações e por consequência o fortalecimento das mesmas (Figura 02). Figura 02 Atividades culturais e produtos da agricultura familiar na I Feira de Saberes, Sementes e Sabores de Brejinho PE Foto: Alzê Fotografia, em Novembro/2015. A II Feira de Saberes, Sementes e Sabores foi realizada em Julho de 2016 ampliando o número de associações e participantes, atingindo um público de aproximadamente 600 pessoas. A feira contou a parceria de órgãos públicos locais e com o Núcleo de Educação, Pesquisa e Práticas em Agroecologia e Geografia (NEPPAG-AYNI) da UFPE, o que proporcionou, de um lado, maior troca e diálogos de saberes realizadas entre estudantes, professores, técnicos e agricultores (as) familiares durantes as ações. Por outro lado, possibilitando maior inserção da Agroecologia no ambiente universitário, a partir das experiências vivenciadas na comunidade rural. O principal objetivo da II feira foi a sensibilização e esclarecimento da importância da conservação das sementes crioulas para a biodiversidade e, consequentemente, permitir aos agricultores e agricultoras o acesso a uma maior variedade de sementes, favorecendo a circulação e multiplicação a partir da troca de sementes durante a feira. A dimensão cultural faz parte do evento, logo, além dos grupos locais, houve apresentações culturais de grupos de municípios vizinhos (Figura 03).

Figura 03 - Atividades culturais e produtos da agricultura familiar na II Feira de Saberes, Sementes e Sabores de Brejinho PE Foto: Alzê Fotografia, em julho/2016. De forma geral os principais resultados desse processo foram: a) a partilha de sementes crioulas nas comunidades, muitas vezes, sementes tidas como inexistentes nas comunidades, a exemplo de algumas variedades de feijão, fava e jerimum; b) a feira proporcionou o resgate de sementes e mudas de plantas medicinais que eram muito utilizadas em décadas passadas; evidenciou-se a dificuldade do(a) agricultor(a) conseguir sementes crioulas de algumas plantas medicinais e, principalmente, hortaliças. Houve muita procura e pouca oferta dessas sementes durante as duas edições da feira; c) envolvimento das escolas locais na organização da feira, o que possibilita uma educação mais contextualizada a realidade dos estudantes; d) o entendimento que a agroecologia é multidimensional, portanto, muito mais que uma técnica de produção, representa um novo modo de pensar a relação sociedade-natureza; e) estimular um olhar integrado sobre a realidade local e possibilitar a convergência das diferentes dimensões da agroecologia. Diante do exposto, pode-se afirmar que a experiência relatada é de suma importância na construção do conhecimento agroecológico, pois dialoga com diversos temas e diversos sujeitos. Do mesmo modo, a organização das feiras pelos sujeitos locais é importante para a gestão do conhecimento dessas comunidades, uma vez que proporciona a troca e disseminação das experiências, despertando ao mesmo tempo nas comunidades e gestores locais o sentido de procura de estratégias para a sustentabilidade local, novos projetos e novos olhares sobre a realidade semiárida.

Considerações Finais A partir da experiência da I feira as comunidades despertaram interesse neste tipo de espaço, como uma forma de partilhar as suas experiências e atividades, promover a troca de conhecimento e divulgar os produtos locais. Assim, a continuidade da feira no decorrer dos anos será de suma importância para dar prosseguimento a esse processo de construção coletiva de conhecimentos e para o fortalecimento da agricultura familiar do município de Brejinho e região. A realização da feira tem como potencialidade: a) Dinamizar a produção de agricultores e agricultoras, especialmente mulheres e jovens, possibilitando geração de renda e produtos de qualidade para a população local; b) evidenciar as atividades pluriativas existente na região; c) promover o intercâmbio de experiências entre agricultores(as) em agroflorestas da região; d) fortalecer os bancos de sementes locais e consequentemente, conservar as variedades de sementes crioulas utilizadas e manejadas historicamente pelos agricultores; e) preservar a agrobiodiversidade, a cultura e identidade camponesa, as tradições os saberes dos agricultores e os sabores diversos dos produtos da agricultura familiar. Referências bibliográficas CAPORAL, Francisco; CONSTABEBER, José; Gérvasio, PAULUS. Agroecologia: matriz disciplinar ou novo paradigma para o desenvolvimento rural sustentável. Brasília, 2006. IBGE. Pernambuco. Brejinho.Disponível em: http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil. phplang=&codmun=260250. Acesso em: 24 abril. 2017. MALVEZZI, R. Semiárido: uma visão holística. Brasília: Confea, 2007. LEFF, E. Saber ambiental: Sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. 6 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. SILVA, V. R. SILVA, M.M. da; PEREIRA, M. C. de B. Pluriatividade e sustentabilidade em comunidades rurais do Semiárido nordestino. Revista Desenvolvimento e Meio Ambiente, v. 35, p. 349-366, dez. 2015. TOLEDO, V. M.; BARRERA-BASSOLS, N. La memoria biocultural: la importancia ecológica de las sabidurías tradicionales. Barcelona: Icaria editorial, 2008.