GERAÇÃO DE DIAGRAMA TTP DE FORMAÇÃO DE CARBONETOS DE CROMO EM AÇO INOXIDÁVEL AUSTENÍTICO TIPO 316 USANDO O DICTRA

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Transcrição:

Projeto de Pesquisa GERAÇÃO DE DIAGRAMA TTP DE FORMAÇÃO DE CARBONETOS DE CROMO EM AÇO INOXIDÁVEL AUSTENÍTICO TIPO 316 USANDO O DICTRA Proponente: Prof. Dr. Rodrigo Magnabosco rodrmagn@fei.edu.br candidato a bolsa: Lucas Orquisa José lucasorquisa@hotmail.com n FEI: 12.215.112-9 Departamento de Engenharia de Materiais Centro Universitário FEI Fundação Educacional Inaciana Pe. Sabóia de Medeiros

RESUMO Utilizando as informações de simulações computacionais em DICTRA podem se estabelecer critérios para criação de diagramas Temperatura-Tempo- Precipitação (TTP) ou de Transformação sob Resfriamento Contínuo (TRC) para aços inoxidáveis austeníticos que contemplem ou uma dada fração de carbonetos de cromo do tipo M23C6 formada, ou um determinado gradiente de Cr ou Mo na interface entre austenita e M23C6, que poderiam ser futuramente relacionados a susceptibilidade do aço à formação de M23C6, e de estar sujeito à corrosão intergranular. É nesta oportunidade de utilizar a simulação computacional em DICTRA que se insere o presente projeto de iniciação científica, cujo objetivo é criar o diagrama Temperatura-Tempo-Precipitação (TTP) de carbonetos de cromo do tipo M23C6 num aço austenítico do tipo 316, avaliando a influência das faixas de composição aceitas para este aço, através da simulação computacional da cinética de formação deste carboneto usando o software DICTRA. Palavras-chave: aço inoxidável austenítico, transformação de fases, simulação computacional, diagrama TTP. Página 2 de 10

1. INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA, COM SÍNTESE DA BIBLIOGRAFIA FUNDAMENTAL Aços com teores de cromo livre na matriz superiores a 11% tem a capacidade de formar película superficial aderente, não porosa e auto-regenerativa, chamada de película passiva; tal película, protegendo o aço da ação de agentes corrosivos (atmosfera, meios aquosos ou orgânicos), confere grande resistência à corrosão: estes aços, deste modo, recebem a denominação inoxidáveis. Além disso, a adição de outros elementos de liga (como molibdênio e nitrogênio) aumenta ainda mais a resistência à corrosão (SEDRIKS, 1996). Os aços inoxidáveis austeníticos recebem esta denominação por apresentarem a fase austenita (a estrutura CFC do ferro) estável inclusive em temperaturas inferiores a ambiente. Os mais comuns são modificações da clássica liga 18/8 (18% Cr e 8% Ni), um dos mais populares materiais resistentes à corrosão (SEDRIKS, 1996; ASM, 1994). Dentre os mais comuns, os conhecidos como do tipo 316 e 316L (UNS S31600 e UNS S31603) apresentam, além de Cr e Ni, molibdênio em sua composição, para aumento da resistência a corrosão por pite. Na Tabela 1 são apresentadas as composições químicas destes dois aços, destacando-se o menor teor de carbono máximo das ligas 316L, onde L significa baixo teor de carbono (L indicando low carbon ). Tabela 1. Faixas de composição química (%m) de aços inoxidáveis tipo 316. Cr Ni Mo Mn Si C Fe 16 18 10 14 2 3 2 (máx) 1 (máx) 0,03 (máx. 316L) 0,08 (máx. 316) balanço Fonte: (SEDRIKS, 1996) A necessidade de criação da classe 316L, de menor teor de C, advém da possibilidade de formação nestes aços de carbonetos de cromo de fórmula geral M23C6. Sedriks (1996) reporta que a solubilidade de C na austenita de uma liga Fe- Página 3 de 10

18%Cr-8%Ni em temperaturas inferiores a 700 C está próxima dos 0,03%C, e deste modo o aço 316L estaria imune à formação destes carbonetos. Na Figura 1 é apresentada isopleta calculada no ThermoCalc utilizando-se a base de dados TCFE8 para ligas semelhantes a 316L, mostrando a influência de alguns dos elementos de liga na solubilidade do C. Pode se notar que se uma liga com 0,03%m C for aquecida a 1000 C, apenas a fase austenita (FCC_A1, ou ) estará presente, colocando todos os elementos de liga em solução sólida. No entanto, abaixo das linhas solvus apresentadas para três ligas dentro das especificações da Tabela 1 (desconsideradas as presenças de Mn e Si), haverá a formação dos carbonetos M23C6, retirando Cr e C de solução sólida. Esta simulação tem forte aderência com isopleta apresentada em trabalho clássico da literatura (PADILHA; RIOS, 2002), confirmando sua validade. Figura 1. Isopletas em função do teor de C para aços inoxidáveis tipo 316. Fonte: Autor A ocorrência destes carbonetos, particularmente nos contornos de grão, pode tornar os aços inoxidáveis austeníticos sujeitos ao fenômeno de sensitização. Página 4 de 10

A sensitização ocorre devido a maior velocidade de difusão de Cr nos contornos de grão; assim, quando da precipitação de carbonetos de cromo nos contornos de grão, há o empobrecimento em cromo da região vizinha aos contornos de grão ou interface matriz / carbonetos, levando à corrosão preferencial destas regiões. Exemplo típico de sensitização e consequente corrosão intergranular é mostrado na Figura 2, onde compara-se a microestrutura de um aço austenítico totalmente solubilizado a 1100 C por 30 min, de estrutura monofásica de grãos e maclas de austenita, com a estrutura após 60 min a 650 C, onde é possível notar a intensa corrosão intergranular. Figura 2. Exemplo de microestrutura (a) solubilizada e (b) sensitizada em aço inoxidável austenítico. (a) (b) Fonte: (MOMENI et al, 2012) Na Figura 3, uma primeira tentativa de simulação da formação de carbonetos de cromo do tipo M23C6 no centro de uma esfera de austenita aquecida a 900 C é apresentada. O proponente deste projeto utilizou o software DICTRA, extraindo dados termodinâmicos das fases da base de dados TCFE8, e dados de mobilidade atômica da base MOBFE3. Com isso, os potenciais termodinâmicos e atividades dos elementos considerados podem ser calculados nas fases, e através de difusão, a cinética de transformação da matriz plenamente austenítica (0 s) numa estrutura contendo carboneto M23C6 no centro da esfera de austenita (lado esquerdo da Figura 2) pode ser acompanhada, mostrando o empobrecimento em cromo na interface entre austenita e M23C6, num teor mínimo de 11%m, o que compromete a resistência a corrosão destas regiões, levando por exemplo à temida corrosão Página 5 de 10

inetrgranular característica de materiais sensitizados. Figura 3. Gradiente de Cr na interface entre austenita e M23C6 de um aço tipo 316 a 900 C. Fonte: Autor Assim, percebe-se que há potencial de aplicação da simulação computacional em DICTRA para a determinação em diferentes ciclos térmicos da fração volumétrica formada de M23C6, valendo-se da posição da interface e consequente razão entre volumes de austenita inicial e austenita transformada. Pode-se ainda, com estas simulações, estimar o gradiente de composição na interface entre austenita e M23C6, tendo-se particular interesse nos teores de Cr e Mo, responsáveis pela resistência a corrosão dos aços inoxidáveis, para previsão do comportamento a corrosão. O potencial de aplicação das simulações de DICTRA nas transformações de fase em aços inoxidáveis vem sendo largamente explorados pelo grupo de pesquisa proponente deste projeto, como exemplifica o trabalho de Morais e Magnabosco (2017). Inúmeros são os trabalhos na literatura que tratam do problema de Página 6 de 10

sensitização em aços inoxidáveis austeníticos, descrevendo a formação de M23C6, preferencialmente em contornos de grão (PADILHA; RIOS, 2002; PARDO et al, 2007; SIDHOM et al, 2007; KANEKO et al, 2011; MOMENI et al, 2012; MARTÍN et al, 2013). Qualquer aquecimento de material previamente solubilizado, como o necessário a soldagem a ponto (MARTÍN et al, 2013) e o posterior resfriamento em temperaturas abaixo das solvus indicada na Figura 1 podem levar a formação de carbonetos em contornos de grão, e aos problemas aqui relatados. Uma das técnicas para estudar a susceptibilidade dos aços inoxidáveis austeníticos a sensitização demanda a construção de diagramas Temperatura- Tempo-Sensitização (TTS), onde inúmeras amostras do aço em questão são submetidas a diferentes ciclos térmicos (isotérmicos ou sob resfriamento contínuo), e a seguir são submetidas a testes eletroquímicos de corrosão intergranular (PARDO et al, 2007; SIDHOM et al, 2007). Esta técnica é onerosa e demorada, visto que inúmeros corpos de prova devem ser tratados, e a necessidade de garantir reprodutibilidade nos testes eletroquímicos demandam inúmeras repetições de testes sob mesmas condições de tratamento. Utilizando as informações de simulações computacionais em DICTRA podem se estabelecer critérios para criação de diagramas Temperatura-Tempo- Precipitação (TTP) ou de Transformação sob Resfriamento Contínuo (TRC) que contemplem ou uma dada fração de M23C6 formada, ou um determinado gradiente de Cr ou Mo na interface entre austenita e M23C6, que poderiam ser futuramente relacionados a susceptibilidade de um determinado aço à formação de M23C6, e de estar sujeito à corrosão intergranular. É nesta oportunidade de utilizar a simulação computacional em DICTRA que se insere o presente projeto de iniciação científica. Página 7 de 10

2. OBJETIVOS O objetivo deste projeto de iniciação científica é criar o diagrama Temperatura-Tempo-Precipitação (TTP) de carbonetos de cromo do tipo M23C6 num aço austenítico do tipo 316, avaliando a influência das faixas de composição aceitas para este aço, através da simulação computacional da cinética de formação deste carboneto usando o software DICTRA. 3. METODOLOGIA E CRONOGRAMA As atividades deste trabalho serão realizadas em quatro grandes etapas, descritas nos itens a seguir, de acordo com o cronograma global de atividades descrito na Tabela 2. A. Revisão da literatura: o bolsista que conduzirá o projeto deverá realizar revisão crítica da literatura, com o objetivo de contextualizar a importância de se conhecer as transformações de fase envolvidas na formação de carbonetos do tipo M23C6 num aço austenítico, e particularmente nos do tipo 316, e sua influência no estabelecimento dos modelos para simulação computacional em DICTRA. Por esse motivo, também revisão sobre a metodologia de simulação computacional em DICTRA se faz necessária, e é esperada do bolsista. B. Determinação do equilíbrio termodinâmico: nesta etapa objetiva-se a determinação do equilíbrio termodinâmico através de simulação computacional, utilizando o software ThermoCalc e bases de dados dedicadas. Esta etapa é necessária para definição das temperaturas possíveis de solubilização do aço, além da determinação da condição de equilíbrio em cada uma das temperaturas em que a formação de carbonetos de cromo é possível. Página 8 de 10

C. Simulações de cinética de transformação de fases: determinadas as condições de equilíbrio de austenita na condição solubilizada, e do equilíbrio nas temperaturas em que a existência de carbonetos de cromo é possível, serão realizadas simulações da cinética de transformação de fases utilizando o software DICTRA e bases de dados dedicadas. A princípio, serão utilizados modelos geométrico e célula computacional, com difusão unidirecional e interface plana (simulando nucleação de carboneto de cromo em uma das laterais da região contendo austenita), e modelo esférico, supondo a nucleação do carboneto de cromo no centro de uma esfera de austenita. Diagramas TTP de formação de carbonetos de cromo serão obtidos através da determinação dos pares (tempo,temperatura) para a formação de 0,1%, 0,5% e 1% de fração transformada de carbonetos em cada uma das temperaturas-teste. Estima-se que serão necessárias simulações entre 500 e 1000 C, a intervalos de 50 C, explorando-se pelo menos os limites inferiores e superiores de composição do aço, mostrados na Tabela 1. D. Elaboração de relatórios parciais (indicados em suas datas de entrega por # na Tabela 1), relatório parcial e final de projeto para avaliação do PIPEx (indicados em suas datas de entrega respectivamente por @ e % na Tabela 1). Tabela 2. Cronograma de atividades do projeto. Duração (meses) Atividade 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 A B C D # # @ # # % Página 9 de 10

REFERÊNCIAS ASM, Heat treating IN: ASM Specialty Handbook Stainless Steels, ASM, Metals Park, USA, 1994, p. 290-313. KANEKO, K. et al. Formation of M23C6-type precipitates and chromium-depleted zones in austenite stainless steel. Scripta Materialia, v. 65, 2011, p. 509 512. MARTÍN, O. et al. Combined effect of resistance spot welding and post-welding sensitization on the pitting corrosion behavior of AISI 304 stainless steel. Corrosion, v. 69, n. 3, mar. 2013, p. 268-275. MOMENI, M. et al. Establishing a new solution based on hydrochloric acid/sodium thiosulfate for detecting and measuring degree of sensitization of stainless steels using double-loop electrochemical potentiodynamic reactivation method. Corrosion, v. 68, n. 1, jan. 2012, 11 p. MORAIS, L. C.; MAGNABOSCO, R. Experimental investigations and DICTRA simulation of sigma phase formation in a duplex stainless steel. CALPHAD: Computer Coupling of Phase Diagrams and Thermochemistry, v. 58, 2017, p. 214 218. PADILHA, A. F; RIOS, P. R. Decomposition of austenite in autenitic stainless steels. ISIJ International, v. 42, n. 4, 2002, p. 325-337. PARDO, A. et al. Influence of Ti, C and N concentration on the intergranular corrosion behaviour of AISI 316Ti and 321 stainless steels. Acta Materialia, v. 55, 2007, p. 2239-2251. SEDRIKS, A. J., Corrosion of stainless steels. Wiley-Interscience:New York, 1996, p. 1-24. SIDHOM, H. et al. Quantitative evaluation of aged AISI 316L stainless steel sensitization to intergranular corrosion: comparison between microstructural electrochemical and analytical methods. Metallurgical and Materials Transactions A, v. 38A, jun. 2007 p. 1269-1280. Página 10 de 10