Monica Cristina Damião Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos CPTEC

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Transcrição:

UMA ANÁLISE DA PRECIPITAÇÃO NO SEMI-ÁRIDO DO NORDESTE DO BRASIL EM CASOS DE JANEIROS SECOS E CHUVOSOS E SUA ASSOCIAÇÃO COM A CHUVA OBSERVADA NOS MESES DE FEVEREIRO A MAIO Monica Cristina Damião Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos CPTEC monica@cptec.inpe.br Iracema F. A. Cavalcanti Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos CPTEC iracema@cptec.inpe.br David Mendes Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos CPTEC david@cptec.inpe.br Palavras chaves: totais pluviométricos, desvios normalizados, composto seco e chuvoso Grupo Temático: Variabilidad y Cambio Climático RESUMO Recentes trabalhos mostraram que existe uma relação entre os totais pluviométricos observados nos meses de janeiros com a chuva caída nos meses posteriores na Região Nordeste do Brasil, embora existam exceções em alguns anos (, e 1998). Com base em totais diários de precipitação de mais de postos pluviométricos do Nordeste foi feita uma análise das chuvas observadas nos meses de fevereiro a maio em associação com as chuvas ocorridas em janeiros classificados como secos e chuvosos. Desvios normalizados de precipitação para o período de - foram obtidos anualmente, através dos quais foi possível identificar como secos (total mensal de % ou mais abaixo da média) os janeiros de, e e chuvosos (total mensal de % ou mais acima da média) os janeiros de, e. As análises dos gráficos da distribuição espacial e temporal dos desvios normalizados para o semi-árido do Nordeste do Brasil no período de a mostraram a existência de um comportamento diferente entre os estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba em comparação com os estados de Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia, o que indica que esses dois setores tem regimes pluviométricos (intensidade e distribuição) diferentes, devido ao comportamento diferenciado dos sistemas meteorológicos atuantes na Região. Cada conjunto dos três anos com janeiros classificados como secos e chuvosos deu origem a dois compostos para os quais foram obtidos posteriormente os desvios normalizados com relação à média climatológica. As análises dos gráficos da distribuição temporal e espacial dos desvios normalizados para cada composto permitiu indicar que, em geral, no composto chuvoso, janeiro, fevereiro e abril foram chuvosos com desvios superiores a % (exceto para os estados do Ceará e Bahia). No composto seco, janeiro e fevereiro foram secos com desvios menores que % enquanto que março e abril apresentaram precipitação acima ou em torno da média climatológica. 1 -INTRODUÇÃO A variabilidade das chuvas no Nordeste do Brasil, em especial no semi-árido, já foi foco de vários estudos entre os quais estão Hastenrath e Heller (1977), Moura e Shukla (), Kousky e Cavalcanti (), Harzallah et al. (1996). Dentre os vários fatores que condicionam o regime pluviométrico no semiárido nordestino, temos a presença de sistemas meteorológicos de escalas distintas de tempo e espaço, que por sua vez tem um papel fundamental na qualidade da estação chuvosa (fevereiro a maio). Outro ponto importante é a interação dos sistemas de grande escala com os de escalas menores, favorecendo assim um regime pluviométrico acima e/ou abaixo da média climatológica. A relação entre os totais pluviométricos observados nos meses de janeiro com aqueles registrados no período chuvoso do semi-árido do Nordeste do Brasil foi reforçada recentemente nos trabalhos

de Silva Aragão et al. (1996) e Melo (1997). Silva Aragão et al. (1996) mostraram, para quatro localidades do sub-médio São Francisco, que os totais pluviométricos de janeiro e fevereiro de () estiveram acima (abaixo) da normal enquanto que em março de () a chuva esteve abaixo (acima) da normal. Esse resultado contrasta com aquele obtido por Melo (1997) que, estudando a previsibilidade da chuva no semi-árido do Nordeste com base no comportamento diário da chuva na pré-estação, determinou que os conjuntos de meses da pré-estação que envolviam o mês de janeiro (agosto-janeiro, setembro-janeiro e outubro-janeiro) eram os que apresentavam os melhores valores de correlação (positiva) com a chuva durante os meses de fevereiro a maio. Mais recentemente Calbete et al. (1998), estudando a precipitação no Nordeste do Brasil no ano de 1998, verificaram que o período de fevereiro a maio foi extremamente seco, enquanto que a chuva em janeiro apresentou valores acima da média climatológica do mês. Neste estudo foi investigada a associação das chuvas observadas em janeiro com aquelas vistas nos meses posteriores (fevereiro a maio), durante o período de a. 2 - METODOLOGIA 2.1 - DADOS: No desenvolvimento deste trabalho foram utilizados totais pluviométrico do período de 1911 a para a obtenção da climatologia, e totais pluviométricos no período de a para o cálculo dos desvios de precipitação normalizados com relação a média climatológica. Esses dados foram cedidos pela SUDENE ao Departamento de Ciências Atmosféricas (DCA) da Universidade Federal da Paraíba (UFPb). 2.2 - MÉTODOS: Com base nesses dados de precipitação mensal obteve-se primeiramente uma média climatológica que permitiu o cálculo posterior de desvios normalizados de precipitação para a região semiárida de cada estado do Nordeste do Brasil no período de a. A seleção dos janeiros secos e chuvosos foi obtida com base nos desvios normalizados de precipitação, disponíveis para cada posto de cada estado do Nordeste. Para a seleção dos anos extremos (janeiros secos e chuvosos) o critério utilizado foi o de que o desvio médio normalizado para cada estado fosse maior que % para janeiros chuvosos e menor que - % para janeiros secos. Vale ressaltar que utilizar os desvios normalizados para a zona semi-árida, sem levar em conta as regiões homogêneas de precipitação, não altera significantemente o resultado da seleção dos janeiros extremos, já que este trabalho objetiva principalmente estudar uma associação qualitativa entre a chuva observada no mês de janeiro no semi-árido nordestino com as chuvas nos meses de fevereiro a maio. Análise dos desvios médios normalizados de precipitação mostram que apenas e satisfizeram o critério adotado, sendo classificados respectivamente como janeiros chuvoso e seco. Logo, como só houve dois (2) anos classificados, e visando obter uma representatividade mais consistente para esse trabalho, aplicou-se um critério adicional para a seleção dos anos com janeiros secos e chuvosos. A escolha adicional desses janeiros obedeceu ao mesmo critério anterior, porém, naqueles estados em que o primeiro critério não fosse satisfeito, os desvios deveriam ser de mesmo sinal ou quase nulo quando de sinal oposto (Figura 1). Depois de aplicar o critério adicional foram classificados como janeiros chuvosos os anos de, e e como janeiros secos os anos de, e. A distribuição espacial do desvio normalizado da precipitação para cada estado e para ano, está representada nas Figuras 2 e 3. Com base nas figuras 1, 2 e 3, verifica-se um comportamento diferenciado entre os estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba em comparação com os estados de Pernambuco. Alagoas, Sergipe e Bahia, o que indica que esses dois setores do Nordeste do Brasil, têm regime pluviométrico distintos no que diz respeito à intensidade e distribuição, isso devido ao comportamento diferenciado dos sistemas meteorológicos atuantes na região. Após a seleção dos janeiros secos e chuvosos foram obtidos os

desvios normalizados de precipitação para o composto seco (, e ) e para o composto chuvoso (, e ). 3 - RESULTADOS ANÁLISE DOS DESVIOS DE PRECIPITAÇÃO EM JANEIRO E MESES POSTERIORES (FMAM) No composto seco (Figura 4) observou-se que em janeiro e fevereiro os desvios negativos foram maiores que % em todos os estados, excetuando-se o estado do Piauí e Rio Grande do Norte. No mês de março os desvios foram positivos (a maioria próximos de zero) em todos os estados, à exceção de Alagoas e Bahia que tiveram desvio negativo em torno de 15% e 4%, respectivamente. No mês de abril os desvios foram positivos em todos os estados, variando de pouco acima de zero a 4%. Os maiores desvios positivos foram vistos no Piauí e Pernambuco, com valores de 63% e 84%, respectivamente. No mês de maio os desvios foram próximos de zero nos estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, e Pernambuco. Nos demais estados os desvios ficaram acima ou abaixo da média climatológica, destacando-se o Estado de Alagoas onde os desvios ficaram em torno dos %. A análise dos desvios para o composto seco permitiu concluir que, em linhas gerais, janeiro e fevereiro foram secos, março e abril, em geral, tiveram precipitação acima da média enquanto que maio não apresentou um comportamento homogêneo. No composto chuvoso (Figura 5) observou-se que em janeiro e fevereiro os desvios normalizados estiveram acima de % em todos os estados, com exceção do Rio Grande do Norte onde em janeiro o desvio positivo ficou em torno de 1%. No mês de março os desvios foram próximos da média climatológica, com exceção do Estado da Bahia, onde o desvio normalizado chegou a 35%. No mês de abril os desvios foram superiores ou próximo de % em todos os estados, exceto no Ceará e na Bahia, onde os desvios foram negativos e próximos de zero. Em maio o desvio foi positivo apenas no Piauí e Rio Grande do Norte e negativo em Alagoas, Sergipe e Bahia. No Ceará, Paraíba e Pernambuco, os desvios foram próximos a zero. O conjunto dos desvios para o composto chuvoso permitiu indicar que, em geral, quando janeiro foi chuvoso, fevereiro e abril também foram chuvosos, enquanto que as chuvas ficaram em torno da média em março. O mês de maio, como no composto seco, não apresentou um comportamento homogêneo. 4 - CONCLUSÃO Com base nos resultados tem-se que os desvios de precipitação normalizados com respeito à média de longo prazo, comportam-se nos primeiros meses do estudo (janeiro e fevereiro) de forma oposta para os compostos seco e chuvoso. As anomalias de precipitação de fevereiro acompanham o sinal das anomalias observadas em janeiro. Nota-se também, que há uma tendência para abril ser chuvoso e março apresentar chuva em torno da média climatológica quando janeiro foi chuvoso ou seco. O mês de maio mostrou uma grande variabilidade nos dois compostos, nas diversas estações do semi-árido do Nordeste do Brasil. 5 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CALBETE N., CAVALCANTI I. F. A., QUADRO M. F. L.. Características da Precipitação sobre o Brasil no Verão e Outono de 1998. X Congresso Brasileiro de Meteorologia. Brasília. Distrito Federal. 1998. HASTENRATH, S., HELLER L.. Dynamics of Climatic Hazards in Northeast Brazil. Quarterly Journal Royal Meteorological Society, 13: (435).. 77-92 pp. 1977 HARZALLAH A., ARAGÃO J. O. R., SADOURNY R.. Interannual Rainfall Variability in North-East Brazil: Observation and Model Simulation. International Journal of Climatology, 16. 816-176 pp. 1996.

KOUSKY V. E., CAVALCANTI I. F. A.. Evento Oscilação do Sul-El Niño: Características, Evolução e Anomalias de Precipitação. Rev. Ciência e Cultura, 36: (11). São Paulo. 1888-1899 pp.. MELO A. B. C.. Previsibilidade de Precipitação na Região Semi-Árida do Nordeste do Brasil, Durante a Estação Chuvosa em Função do Comportamento Diário das Chuvas na Pré-Estação. Dissertação de Mestrado em Meteorologia. Campina Grande: Universidade Federal da Paraíba. Paraíba. 1997. MOURA A. D., SHUKLA J.. On the Dynamics of Droughts in Northeast Brazil: Observations, Theory and Numerical Experiments with a General Circulation Model. Journal of the Atmospheric Sciences, 38: (12).. 2653-26 pp. SILVA ARAGÃO M. R., CORREIA M. F., ARAÚJO H. A... Vento à Superfície e Chuva em Anos Contrastantes no Sub-Médio São Francisco. Segundo Simpósio Brasileiro de Climatologia Geográfica. São Paulo: Universidade Estadual de São Paulo. São Paulo. 213-217 pp. 1996.

PIAUÍ a CEARÁ b 3 3 2 - - -2 2 - - -2-3 -3 RIO GRANDE DO NORTE c PARAÍBA d - - - - - - PERNAMBUCO e ALAGOAS f - - - - - SERGIPE g - BAHIA h 4 - - - - - - Fig. 1- Série temporal da região semi-árida, para o mês de janeiro, do desvio de precipitação normalizado com respeito à média climatológica (preto) e a precipitação observada do mês (sombreada) para os estados de: (a) Piauí, (b) Ceará, (c) Rio Grande do Norte, (d) Paraíba, (e) Pernambuco, (f) Alagoas, (g) Sergipe e (h) Bahia. Os desvios (em porcentagem) são valores médios para a região semi-árida de cada estado obtidos dividindo-se a soma de todos os desvios pelo número de postos pluviométricos utilizados. (Fonte dos dados: SUDENE\DCA)

Fig. 2 - Distribuição espacial do desvio de precipitação normalizado com respeito à média climatológica (em porcentagem) para janeiros chuvosos na zona semi-árida do Nordeste do Brasil, relativa aos anos de: (a), (b) e (c). (Fonte dos dados: SUDENE\DCA)

Fig. 3 - Distribuição espacial do desvio de precipitação normalizado com respeito à média climatológica (em porcentagem) para janeiros secos na zona semi-árida do Nordeste do Brasil, relativa aos anos de: (a), (b) e (c). (Fonte dos dados: SUDENE\DCA)

PIAUÍ CEARÁ - - - - - - (a) - - - - - - (b) RIO GRANDE DO NORTE PARAÍBA - - - - - - (c) - - - - - - (d) PERNAMBUCO ALAGOAS - - - - - - (e) - - - - - - (f) SERGIPE BAHIA - - - - - - (g) - - - - - - (h) Fig. 4 Série temporal do desvio normalizado de precipitação com respeito à média climatológica para janeiro e meses posteriores (FMAM) do composto seco, na região semi-árida dos estados de: (a) Piauí, (b) Ceará, (c) Rio Grande do Norte, (d) Paraíba, (e) Pernambuco, (f) Alagoas, (g) Sergipe e (h) Bahia. (Fonte dos dados: SUDENE\DCA)

PIAUÍ CEARÁ - - - - - - (a) - - - - - - (b) RIO GRANDE DO NORTE PARAÍBA - - - - - - (c) - - - - - - (d) PERNAMBUCO ALAGOAS - - - - - - (e) - - - - - - (f) SERGIPE BAHIA - - - - - - (g) - - - - - - (h) Fig. 5 Série temporal do desvio de precipitação normalizado com respeito à média climatológica para janeiro e meses posteriores (FMAM) do composto chuvoso, na região semi-árida dos estados de: (a) Piauí, (b) Ceará, (c) Rio Grande do Norte, (d) Paraíba, (e) Pernambuco, (f) Alagoas, (g) Sergipe e (h) Bahia. (Fonte dos dados: SUDENE\DCA) Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste, instalado em Recife/PE