Palavras chave: chuva, veranico, climatologia, estação chuvosa. 1. Introdução

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1 Veranicos nos municípios de Patos e São Gonçalo no Sertão Paraibano Bernadete Lira dos Anjos Instituto Nacional de Meteorologia bernadete.anjos@inmet.gov.br Gleide de Lima Ferreira Aluna de Agronomia da UFRPE gleidelima@hotmail.com Resumo Realizou-se este estudo com o objetivo de identificar a frequência de ocorrência, a duração e o período médio de veranicos no período de janeiro a abril, para os municípios de São Gonçalo e Patos no Estado da Paraíba. Foram analisadas séries mensais nesse período que é o mais chuvoso no Sertão Paraibano, com média de chuva de 638.7mm, o que representa 77.9% do total anual (823.7mm). Esta região necessita de informações mais precisas sobre a climatologia do fenômeno veranico durante a sua estação chuvosa, e o aumento do conhecimento da probabilidade de sua ocorrência deve contribuir para a melhoria das condições do planejamento dessa região, no que se refere às atividades agrícolas e agropecuárias. Abstract This study was conducted to identify the frequency of occurrence, the duration and the average period of veranicos in the period from January to April, to the municipalities of São Gonçalo and Patos in the State of Paraíba. Analyzed monthly series that period more rainy in Backwoods Paraibano, with average rainfall of 638.8, representing 77.9% of total annual (823.8). This region requires more precise information on the climatology of Indian summer phenomenon during rainy season, and the increase of knowledge of the likelihood of their occurrence should contribute on improvements of conditions of planning in this region, mainly agricultural activities and agropecuárias. Palavras chave: chuva, veranico, climatologia, estação chuvosa. 1. Introdução Chuva no semi-árido é sinônimo de fartura e de bons tempos para a agricultura do Nordeste Brasileiro. Mas a regra nem sempre funciona assim, se por um lado o excesso de chuva pode causar enchentes, transtornos no trânsito, deslizamentos de barreiras, transbordamento de rios e alagamentos de cidades, ocasionando grandes perdas, inclusive humanas, por outro lado, a seca reduz drasticamente a produção agrícola e agropecuária, em consequência, passa a ser responsável direto pelo êxodo de populações das áreas rurais para as grandes cidades tanto da própria Região Nordeste, como de outras regiões do Brasil. Do ponto de vista meteorológico, o termo veranico é empregado para descrever uma situação meteorológica em que há uma combinação de fatores, que em plena estação chuvosa, normalmente, traz prejuízos à agricultura. Essa combinação de fatores consiste na ausência de chuvas, altas temperaturas, insolação e baixos índices de umidade relativa do ar, com reflexos diretos e danos às culturas agrícolas, sendo um dos principais fatores da quebra nas safras agrícolas. A definição das épocas de plantio por meio de análise da quantidade de distribuição pluvial pode contribuir para diminuir o risco de deficiência hídrica das culturas (Assad et al. 1998). Segundo (Castro e Villela, 1996) é durante o período chuvoso que as principais

2 culturas anuais são cultivadas sendo dependentes somente da precipitação, como fonte de água. Dada a importância da chuva como elemento climático altamente variável, vários pesquisadores têm destacado em suas pesquisas aspectos de sua variabilidade sobre a Região Nordeste do Brasil. Entre estes, destacamos os trabalhos de Hastenrath e Heller (1977), Moura e Shukla (1981), Cavalcanti e Kousky (1982), Kousky e Cavalcanti (1984), Moura e Kayano (1986), Anjos (1995), Nobre e Shukla (1996), Molion e Bernardo (2000), Anjos e Moreira (2000), Anjos e Kousky (2002). Apesar do muito que já conhecemos sobre o comportamento das chuvas nessa região, entendemos que existe uma necessidade de estudos voltados as situações de ausência de chuvas sobre o Nordeste do Brasil, em especial ao fenômeno veranico no semi-árido. Em seu trabalho para a microrregião do litoral paraibano, Menezes et al. (2006) afirmaram que essa região experimentou um aumento na duração dos veranicos no período de 1963 a O foco desse nosso trabalho é identificar a freqüência, média e duração dos veranicos nos Municípios de Patos e São Gonçalo no Sertão Paraibano. 2. Materiais e Metodologia Utilizamos dados climatológicos das Estações Meteorológicas Principais (EMP) de São Gonçalo e Patos na Paraíba, pertencentes ao INMET. Foram utilizadas séries históricas de precipitação diária no período de 1961 a 2009 para a EMP de São Gonçalo e de 1976 a 2009 para a EMP de Patos, apenas nos meses que compreendem o período mais chuvoso desses municípios, correspondente ao quadrimestre janeiro-fevereiro-março-abril, com um total médio de chuva de 638.7mm no Sertão Paraibano, o que representa 77.9% do total anual de 823.7mm. Neste trabalho, as freqüências relativas da ocorrência de veranicos de diferentes durações, para o período de janeiro a abril, foram determinadas através de uma análise mensal das duas séries estudadas. Considerou-se veranico como sendo o número de dias consecutivos sem chuva ou com chuva abaixo de 1,0 mm/dia. A seleção de dias com essas características foram consideradas para veranicos com duração de 5 a 10 dias, de 11 a 15 dias e veranicos superiores a 15 dias. Uma vez determinada o valor do limite e a duração dos veranicos, procedeu-se essa contagem para os meses que correspondem ao quadrimestre anual mais chuvoso para cada um dos dois postos. Uma das justificativas deste trabalho apóia-se no fato de que a climatologia de veranicos nesses dois municípios deve fornecer informações valiosas sobre a variabilidade temporal desse evento, permitindo melhorias nas condições de planejamento econômico no sertão paraibano, cuja economia busca mais diversidades e crescimento em atividades ligadas a agricultura e agropecuária. 3. Resultados Após exame cuidadoso nas duas séries de precipitações, ou seja nos 34 anos em Patos e 49 anos em São Gonçalo, constatamos a ocorrência de veranicos em todos os anos dentro do quadrimestre mais chuvoso nas duas localidades, sendo que em alguns anos tal ocorrência foi estendida a mais de um ao mês e, às vezes, com repetição de veranicos (os menores) no mesmo mês. Analisando a Tabela 1, pode-se observar que os veranicos no sertão paraibano são mais frequentes em janeiro e fevereiro.

3 Tabela 1 Frequência total de veranicos ao longo da série de 34 anos em Patos e 49 anos em São Gonçalo entre janeiro e abril. Janeiro Fevereiro Março Abril Patos São Gonçalo A Fig. 1 mostra a evolução temporal dos episódios e a duração em número de dias dos veranicos na estação chuvosa (janeir o a abril), respectivamente em Patos e São Gonçalo no Sertão Paraibano. De modo geral as figuras mostram entre si certa paridade. As barras representam os valores anuais para cada estação chuvosa, a linha contínua irregular representa a média móvel e a linha reta representa a tendência da série temporal para as duas localidades,(as series foram geradas utilizando-se a planilha MS Excel). Em média, ocorrem 5.8 veranicos em Patos e 5.4 veranicos em São Gonçalo, com uma ligeira tendência linear de aumento dos veranicos em São Gonçalo. Os 5.8 episódios de veranicos em Patos totalizam 57.8 dias de veranicos, enquanto os 5.4 episódios em São Gonçalo totalizam 43.3 dias de veranicos. (i) (ii) (iii) (iv) Fig. 1 - Evolução temporal dos episódidos de veranicos (i) e (ii) Duração em número de dias dos veranicos entre janeiro e abril, em Patos e São Gonçalo (iii) e (iv).

4 Tabela 2 Frequências relativas (%) da duração dos veranicos para a estação chuvosa em Patos e São Gonçalo. (5-10) dias (11-15) dias > 15 dias Patos São Gonçalo A Tabela 2 apresenta as frequências relativas de duração dos veranicos para os dois municípios. Observa-se que as maiores frequências relativas estão atribuídas aos veranicos de menor duração no quadrimestre mais chuvoso em ambas localidades, com frequências relativas superiores a 68% em Patos e de 79% em São Gonçalo para veranicos entre 5 e 10 dias. Para períodos superiores a 11 dias as frequências relativas são inferiores a 19%. Em Patos a média dos veranicos mais longos é de 21.7 dias, com veranico mais longo de 37 dias. Em São Gonçalo a média dos veranicos mais longos é de 18.2 dias, com veranico mais longo de 31 dias. Tabela 3 Frequências relativas (%) dos veranicos para os meses de janeiro, fevereiro, março e abril em Patos e São Gonçalo. Janeiro Fevereiro Março Abril Dias Patos S. Gonçalo Patos S. Gonçalo Patos S. Gonçalo Patos S. Gonçalo (5-10) (11-15) (> 15) Quando se analisa características mensais das frequências relativas dos episódios de veranicos, conforme Tabela 3, pode-se observar também que as maiores frequências mensais estão atribuídas aos veranicos menores (5 a 10) dias, com frequências relativas variando entre 60.0% em abril para a Cidade de Patos e 89.2% em fevereiro em São Gonçalo. Pode-se observar ainda no mês de abril um ligeiro aumento dos veranicos superiores a 10 dias em março e abril com frequências de 29 e 22.5 respectivamente em Patos e em janeiro e abril de 18.5 e 19.3 respectivamente em São Gonçalo. 4. Conclusões Baseado nos resultados obtidos, pode-se concluir que: a) Os veranicos são mais frequentes em janeiro e fevereiro, sendo que os de maior duração predominam em janeiro e abril em Patos e em janeiro em São Gonçalo. b) Os veranicos ocorrem anualmente dentro do quadrimeste chuvoso tanto em Patos como em São Gonçalo, sendo que em alguns quadrimestres tal ocorrência foi estendida a mais de um mês e, as vezes, com repetição dos veranicos de duração menor no mesmo mês. c) Em média, ocorrem 5.8 veranicos em Patos que totalizam 57.8 dias e 5.4 em São Gonçalo que totalizam 43.3 dias, com uma ligeira tendência linear de aumento dos veranicos em São Gonçalo, o que não ocorre em Patos. d) As maiores frequências relativas estão atribuídas aos veranicos de menor duração, com frequências relativas superiores a 59.9% em Patos e 68.4% em São Gonçalo. e) Patos apresenta média dos veranicos mais longos de 21.7 dias e veranico mais longo de 37 dias. Em São Gonçalo a média dos veranicos mais longos é de 18.2 dias e veranico mais longo de 31 dias.

5 6. Referências Bibliográficas Anjos, B. L: Conexões entre a Circulação do Hemisfério Norte e os Vórtices Ciclônicos da Alta Troposfera na Região Nordeste do Brasil. Dissertação de Mestrado em Meteorologia. Campina Grande: Universidade Federal da Paraíba. 119 pp Anjos, R. J., Moreira, A. A: Eventos do Fenômeno El Niño em casos de atuação do Dipolo Negativo e Positivo no Oceano Atlântico Tropical e a precipitação no litoral oriental da Região Nordeste do Brasil. XI Congresso Brasileiro de Meteorologia. Rio de Janeiro, Anjos, R. J., Kousky, V. E: Características dinâmicas do Oceano Atlântico Tropical relacionadas ao excesso de chuvas entre junho e setembro de 2000 na Região Nordeste do Brasil. XI Congresso Brasileiro de Meteorologia. Salvador, Assad, E. D.; Sano, E. E.; Bezerra, H. S.; Silva, S. C.; Lobato, E. J. V. Uso de modelos numéricos de terrenos na e spacialização de épocas de plantio. In: Assad, E. D.; Sano, E. E. Sistema de informação geográfica Aplicado na agricultura. 2. Ed. Brasília: Embrapa SPI/Embrapa-CPAC, P Kousky, V. E., Cavalcanti, I. F: El Niño Southern Oscillation Events: Characteristics, Evolution and Precipitation Anomalies. Ciência e Cultura, 36, ,1984. Castro Neto, P.; Villela, E. A. Veranico : um problema de seca no período chuvoso. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v12, n.138, p Cavalcanti, I. F., Kousky, V. E: Influência da circulação da escala sinótica da brisa marítima na costa NNE da América do Sul. INPE-2573-PRE/221, São José dos Campos, Hastenrath, S., Heller, L: Dynamics of climatic hazards in northeast Brazil. Quart. J. R. Meteor. Soc., 110, , Menezes, H. E. A.; Brito, J. I. B.; Silva, A. O.; Nóbreba, E. M. A, S. Ocorrência de veranicos no litoral da Paraíba. XIV Congresso Brasileiro de Meteorologia. Florianópolis, Molion, L. C. B., Bernardo, S. O: Dinâmica das chuvas no Nordeste Brasileiro. XI Congresso Brasileiro de Meteorologia, , Moura, A. D., Shukla, J : On the dynamics of droughts in northeast Brazil: Observations, theory and numerical experiments with a general circulation model. J. Atmos. Sci., 38, , Moura, A. D., Kayano, M.T. M: A distribuição da precipitação para os anos extremos do Nordeste do Brasil. Revista Brasileira de Meteorologia, vol 1,