CONDIÇÕES MICROMETEOROLÓGICAS EM VINHEDOS DE NIÁGARA ROSADA SOB COBERTURA PLÁSTICA E SUA INFLUÊNCIA NA EVAPOTRANSPIRAÇÃO DE REFERÊNCIA



Documentos relacionados
TRANSMISSÃO DE RADIAÇÃO SOLAR GLOBAL EM DIFERENTES SISTEMAS DE CONDUÇÃO DA VIDEIRA NIAGARA ROSADA 1.

Comunicado 98 Técnico

ART-01/12. COMO CALCULAMOS A EVAPOTRANSPIRAÇÃO DE REFERÊNCIA (ETo)

MICROCLIMA E QUALIDADE DA RADIAÇÃO SOLAR DE VINHEDOS SOB CULTIVO PROTEGIDO

EFEITO DAS VARIÁVEIS METEOROLÓGICAS NA EVAPOTRANSPIRAÇÃO DE REFERÊNCIA DO SUBMÉDIO DO VALE SÃO FRANCISCO

Oobjetivo do presente trabalho foi estimar e comparar a evapotranspiração

PROBABILIDADE DE OCORRÊNCIA DA EVAPOTRANSPIRAÇÃO DE REFERÊNCIA EM OURICURI-PE

Comunicado 35 Técnico

PADRÕES DE INTERCEPTAÇÃO DE RADIAÇÃO SOLAR EM VINHEDOS COM E SEM COBERTURA PLÁSTICA 1

FREQUÊNCIA DA TEMPERATURA MÍNIMA DO AR ASSOCIADA A EVENTOS EL NIÑO, LA NIÑA E NEUTROS NO RIO GRANDE DO SUL

Sistema de condução da Videira

EFICIÊNCIA DE INTERCEPTAÇÃO DE RADIAÇÃO SOLAR POR ESTRUTURAS VEGETATIVAS E REPRODUTIVAS DA CANOLA 1

Capítulo 04 Método de Turc, 1961

FCTA 4 TROCAS TÉRMICAS ENTRE O MEIO E AS EDIFICAÇÕES 4.1 FECHAMENTOS TRANSPARENTES

Alterações micrometeorológicas em vinhedos pelo uso de coberturas de plástico

IV Congresso Brasileiro de Mamona e I Simpósio Internacional de Oleaginosas Energéticas, João Pessoa, PB 2010 Página 1066

ESTIMATIVA DA EVAPOTRANSPIRAÇÃO POTENCIAL ATRAVÉS DOS MÉTODOS DE THORNTHWAITE, PENMAN MODIFICADO E TANQUE CLASSE A NO MEIO-OESTE CATARINENSE

MONITORAMENTO AGROCLIMÁTICO DA SAFRA DE VERÃO NO ANO AGRÍCOLA 2008/2009 NO PARANÁ

ANÁLISE DE TENDÊNCIAS DE TEMPERATURA MÍNIMA DO BRASIL

Monitoramento da Qualidade do Ar em Juiz de Fora MG

INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA SOBRE A POTÊNCIA DE SAÍDA DE UM PAINEL DE SILÍCIO POLICRISTALINO NA REGIÃO OESTE PARANAENSE

Fundamentos de Engenharia Solar. Racine T. A. Prado

MODIFICAÇÕES MICROCLIMÁTICAS EM PARREIRAL PROTEGIDO COM COBERTURAS PLÁSTICAS NO NORTE DO PARANÁ

ESTIMATIVA DA RADIAÇÃO SOLAR GLOBAL (RS) ATRAVÉS DA AMPLITUDE TÉRMICA DIÁRIA

Comunicado 95 Técnico

Índice de área foliar da videira sob cobertura plástica no Submédio São Francisco

Energia Solar Térmica. Prof. Ramón Eduardo Pereira Silva Engenharia de Energia Universidade Federal da Grande Dourados Dourados MS 2014

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

EFEITO DA COBERTURA PLÁSTICA NO MICROCLIMA DE PARREIRAIS DE UVA ITÁLIA NO VALE DO SÃO FRANCISCO 1

Estudo comparativo do comportamento térmico de quatro sistemas de cobertura. Um estudo experimental para a reação frente ao calor.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL ESCOLA DE ENGENHARIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA ENG03108 MEDIÇÕES TÉRMICAS

TEMPERATURA MÍNIMA DO AR E FOLHAS DURANTE O INVERNO EM CULTIVO DE CAFÉ ARBORIZADO COM GREVÍLEA

SOLARIZAÇÃO E SEU EFEITO NA TEMPERATURA DO SOLO

ADENSAMENTO DE PLANTIO: ESTRATÉGIA PARA A PRODUTIVIDADE E LUCRATIVIDADE NA CITRICULTURA.

DISTRIBUIÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL DA RADIAÇÃO SOLAR E TEMPERATURA DO AR NO ESTADO DO PIAUÍ

EQUIPAMENTO PARA REGISTRO DO PERÍODO DE MOLHAMENTO FOLIAR

Evolução da área foliar da videira de vinho cv. Syrah pé franco e enxertada em Paulsen 1103, no período de formação do parreiral em Petrolina, PE

Dimensionamento de Solar T. para aquecimento de Piscinas

MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SUAS CONSEQUÊNCIAS NA AGRICULTURA ANALISE DA CULTURA DO ALGODOEIRO

Prof: Franco Augusto

AVALIAÇÃO DE TEMPERATURA E UMIDADE RELATIVA DO AR EM ESTUFA COM COBERTURA DE POLIETILENO

COMPORTAMENTO TÉRMICO DA CONSTRUÇÃO

CUSTO DE PRODUÇÃO DE UVAS COM USO DE COBERTURA PLÁSTICA NO MEIO OESTE CATARINENSE

ESTIMATIVA DA EVAPOTRANSPIRAÇÃO DE REFERÊNCIA PARA SANTO ANTÔNIO DO LEVEGER-MT

IMPACTOS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS NA EVATRANSPIRAÇÃO DE REFERÊNCIA EM SANTA CATARINA

Número de plantas para estimação do plastocrono em feijão guandu

MANEJO DE IRRIGAÇÃO NA CULTURA DE ACEROLA ORGÂNICA NOS TABULEIROS LITORÂNEOS DO ESTADO DO PIAUÍ

FORMAS DE TRANSFERÊNCIA DE CALOR ENTRE HOMEM E MEIO AMBIENTE

MÉTODOS DE PROTEÇÃO CONTRA GEADAS EM CAFEZAIS EM FORMAÇÃO

Armazenamento Sob Atmosfera Modificada de Melão Cantaloupe Cultivado em Solo Arenoso com Diferentes Coberturas e Lâminas de Irrigação.

DENSIDADE DE SEMEADURA DE CULTIVARES DE MAMONA EM PELOTAS, RS 1

Expansão Agrícola e Variabilidade Climática no Semi-Árido

Professora Orientadora - Instituto Federal Catarinense - Campus Rio do Sul, karlafunf@ifcriodosul.edu.br

Comparação entre Telhado Verde e Convencional nas Temperaturas Internas de Ambientes

MODELOS DE ESTIMATIVA DO SALDO HORÁRIO DE RADIAÇÃO (Rn) PARA PIRACICABA, SP¹

INFLUÊNCIA DE FASES EXTREMAS DA OSCILAÇÃO SUL SOBRE A INTENSIDADE E FREQUÊNCIA DAS CHUVAS NO SUL DO BRASIL

Material apresentado exclusivamente aos alunos da disciplina, com conteúdo referenciado da literatura e disponível na www NÃO CIRCULAR

DESENVOLVIMENTO DE UM APLICATIVO COMPUTACIONAL PARA O CONTROLE DO MANEJO DA IRRIGAÇÃO 1

VARIAÇÃO NO ARMAZENAMENTO DE ÁGUA NO SOLO DURANTE O CICLO DE DESENVOLVIMENTO DO FEIJOEIRO

Efeito da colhedora, velocidade e ponto de coleta na qualidade física de sementes de milho

COMPARATIVO ENTRE ISOLANTES TÉRMICOS PARA COBERTURAS DO TIPO MANTA DE ALUMÍNIO E TELHADO VERDE (GREENROOF)

RADIAÇÃO SOLAR GLOBAL, SALDO DE RADIAÇÃO E FLUXO DE CALOR NO SOLO EM CULTIVO CONSORCIADO CAFÉ/COQUEIRO-ANÃO VERDE 1

COBERTURAS PLÁSTICAS USADAS EM PARREIRAIS, TEMPO DE USO E SUA TRANSPARÊNCIA A RADIAÇÃO SOLAR

Rendimento de melão cantaloupe cultivado em diferentes coberturas de solo e lâminas de irrigação.

RELATÓRIO FINAL. AVALIAÇÃO DO PRODUTO CELLERON-SEEDS e CELLERON-FOLHA NA CULTURA DO MILHO CULTIVADO EM SEGUNDA SAFRA

Energia Solar Térmica e Aplicações

FERTILIDADE E MATÉRIA ORGÂNICA DO SOLO EM DIFERENTES SISTEMAS DE MANEJO DO SOLO

DETERMINAÇÃO DA EVAPOTRANSPIRAÇÃO THORNTHWAITE NA BACIA EXPERIMENTAL DO RIACHO GAMELEIRA PE

Utilização de imagens de satélite e modelagem numérica para determinação de dias favoráveis a dispersão de poluentes.

ANÁLISE DA TEMPERATURA DO AR NO INTERIOR DE ABRIGOS PARA O CULTIVO DE HORTALIÇAS

CONSELHO PERMANENTE DE AGROMETEOROLOGIA APLICADA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

Aplicação de dejetos líquidos de suínos no sulco: maior rendimento de grãos e menor impacto ambiental. Comunicado Técnico

RESPOSTAS FISIOLÓGICAS DA MAMONEIRA À DIFERENTES TENSÕES DE ÁGUA NO SOLO

Com expansão do mercado de aquecimento solar, setor vidreiro tem mais um nicho a explorar

Universidade de São Paulo Departamento de Geografia Disciplina: Climatologia I. Radiação Solar

Notas Técnicas A região do Vale do Submédio São Francisco está se desenvolvendo intensamente nos últimos anos. A viticultura, ou seja, a produção de

Seja dono. da sua ENERGIA

CAB Cabeamento Estruturado e Redes Telefônicas

PROVA DE FÍSICA 3 o TRIMESTRE DE 2012

Introdução aos Sistemas de Informação Geográfica

AVALIAÇÃO DE PROGÊNIES DE MILHO NA PRESENÇA E AUSÊNCIA DE ADUBO

Aplicação de Nitrogênio em Cobertura no Feijoeiro Irrigado*

Boletim de Pesquisa 12 e Desenvolvimento

Objetivos da poda PODA DE ÁRVORES FRUTÍFERAS. O que é poda? FERAS. O que podar? Conceito de Poda. Por que podar?

SISTEMA DE SUPORTE A DECISÕES AGRONÔMICAS VIA WEB PARA O ESTADO DE GOIÁS

Exercícios Tipos de Chuvas e Circulação Atmosférica

OS CLIMAS DO BRASIL Clima é o conjunto de variações do tempo de um determinado local da superfície terrestre.

EFICIENCIA DE SISTEMAS DE APLICAÇÃO DE VINHAÇA VISANDO ECONOMIA E CONSCIENCIA AMBIENTAL

Influência das mudanças climáticas na distribuição espacial da Mycosphaerella fijiensis no mundo

Key-word: Temperature, Hidroponic System.

Climatologia GEOGRAFIA DAVI PAULINO

6 colectores solares térmicos ÍNDICE

PORTAS E JANELAS: A LIGAÇÃO DA CASA COM O MUNDO

Influência das Mudanças Climáticas no Ciclo Fenológico e na Demanda Hídrica da Manga cv. Kent

METEOROLOGIA OBSERVACIONAL I UMIDADE DO AR. Ar úmido CONCEITO DE AR SECO, AR ÚMIDO E AR SATURADO

AVALIAÇÃO DE DIFERENTES SENSORES PARA CONSTRUÇÃO DE UM PIRELIÔMETRO

Estudo da ilha de calor urbana em cidade de porte médio na Região Equatorial

VARIABILIDADE E INTENSIDADE DAS CHUVAS EM BELÉM-PA

Transcrição:

CONDIÇÕES MICROMETEOROLÓGICAS EM VINHEDOS DE NIÁGARA ROSADA SOB COBERTURA PLÁSTICA E SUA INFLUÊNCIA NA EVAPOTRANSPIRAÇÃO DE REFERÊNCIA FLÁVIA COMIRAN, BRUNA M. M. HECKLER, HOMERO BERGAMASCHI 2, HENRIQUE P. DOS SANTOS 3, DIANE ALBA 4 Eng. Agrônoma, Mestranda em Fitotecnia/Agrometeorologia, Faculdade de Agronomia, UFRGS, Porto Alegre - RS, Fone: (0 xx 5) 3308 657, flaviacomiran@gmail.com; bruheckler@hotmail.com; 2 Eng. Agrônomo, Prof. Doutor, bolsista CNPq, Departamento de Plantas Forrageiras e Agrometeorologia, FA/UFRGS, Porto Alegre RS; 3 Pesquisador Doutor, Embrapa CNPUV, Bento Gonçalves RS; 4 Graduanda em Agronomia, bolsista IC CNPq, Departamento de Plantas Forrageiras e Agrometeorologia, FA/UFRGS, Porto Alegre RS. Apresentado no XVI Congresso Brasileiro de Agrometeorologia 22 a 25 de Setembro de 2009 - GranDarrell Minas Hotel, Eventos e Convenções - Belo Horizonte, MG RESUMO: O objetivo deste trabalho foi avaliar alterações micrometeorológicas relacionadas à radiação fotossinteticamente ativa, temperatura do ar e velocidade do vento, causadas pelo uso de cobertura plástica sobre videiras Niágara Rosada, e seus efeitos na evapotranspiração de referência. O estudo foi conduzido num vinhedo no sistema latada, em Bento Gonçalves/RS, na safra 2007/2008. Cinco linhas de plantas foram cultivadas sob plástico transparente (60µm) disposto em arcos descontínuos. O restante do vinhedo foi cultivado em céu aberto. Nos dois ambientes foram monitoradas a radiação fotossinteticamente ativa (RFA), a temperatura do ar e a velocidade do vento. Calculou-se a evapotranspiração de referência pelo método de Penman-Montheith, parametrizado pela FAO. A cobertura plástica reduziu a RFA incidente (-34%) e a velocidade do vento (-93%) e aumentou as temperaturas máximas diárias (+3,ºC). A evapotranspiração de referência no vinhedo coberto foi reduzida em % em comparação ao ambiente em céu aberto. PALAVRAS-CHAVE: Cultivo protegido, microclima, Vitis labrusca. MICROMETEOROLOGICAL CONDITIONS IN NIAGARA ROSADA VINEYARDS UNDER PLASTIC COVERING, AND ITS INFLUENCE ON THE REFERENCE EVAPOTRANSPIRATION ABSTRACT: This study aimed to evaluate micrometeorological alterations caused by plastic covering over grapevines Niagara Rosada, and its effects on the reference evapotranspiration. A field experiment was conducted in Bento Gonçalves, Rio Grande do Sul State (Brazil), during the 2007/2008 vegetative cycle. Five plant rows were grown under a transparent plastic film (60µm) in discontinuous arcs. The rest of the vineyard was kept in open sky. The photosynthetically active radiation (PAR), air temperature and wind velocity were monitored, in both environments. The reference evapotranspiration were estimated according to the Penman-Monteith method. The plastic covering reduced the incoming PAR (-34%) and the wind velocity (-93%), and increased the daily maximum air temperature (+3. C). The reference evapotranspiration was reduced under plastic covering in % in comparison to open sky conditions. KEYWORDS: plastic covering, microlimate, Vitis labrusca.

INTRODUÇÃO: A literatura sobre cultivos protegidos é vasta, quando se trata de estufas plásticas em cultivos de olerícolas e flores, ou seja, de espécies herbáceas de pequeno porte. Entretanto, essas estruturas vêm sendo adaptadas às necessidades de cada cultivo e para atender diferentes objetivos. Na Serra Gaúcha, coberturas plásticas descontínuas sobre as linhas de videiras vem sendo empregadas para reduzir efeitos da precipitação, principalmente durante a maturação. Assim, torna-se necessário estudar as alterações micrometeorológicas causadas pela presença de cobertura plástica sobre as plantas. O objetivo deste trabalho foi avaliar alterações micrometeorológicas relacionadas à radiação fotossinteticamente ativa, temperatura do ar e velocidade do vento, causadas pelo uso de cobertura plástica sobre videiras Niágara Rosada, e seus efeitos na evapotranspiração de referência. MATERIAL E MÉTODOS: O experimento foi realizado num vinhedo de Vitis labrusca, cultivar Niágara Rosada sobre porta-enxerto Paulsen 03, conduzido em sistema latada, na safra 2007/08. O mesmo estava implantado na sede da Embrapa Uva e Vinho, em Bento Gonçalves/RS (29,6ºS, 5,53 W, alt. 640m). O clima é temperado, do tipo fundamental Cfb, segundo a classificação de Köppen (Moreno, 96). O solo é classificado como Neossolo litólico (EMBRAPA-CNPS, 999). O relevo é ondulado e a inclinação do terreno é para norte, e as linhas de plantas tinham direção leste-oeste. Desde a implantação do vinhedo, cinco linhas de plantas permaneceram cobertas com filme plástico transparente tipo ráfia, com aditivos anti-uv e anti-gotejo e espessura de 60µm. O plástico foi fixado em arcos descontínuos a 3m de altura, constituindo o tratamento coberto. As demais fileiras foram mantidas a céu aberto, e consistiram no tratamento descoberto. A poda de frutificação foi realizada em 28 de agosto de 2007. Foram deixados em média quatro varas e quatro esporões, caracterizando poda mista. No dia 22 de janeiro de 2008 realizou-se a colheita em ambos tratamentos. Monitorou-se o microclima em cada tratamento, desde do início da brotação à queda das folhas. Mediu-se radiação fotossinteticamente ativa (RFA) com conjuntos de sensores formados por células fotovoltaicas de silício amorfo, ligadas em paralelo, dispostos em barras de alumínio de m de comprimento, com cobertura de acrílico transparente. Os sensores foram instalados acima dos dosséis e dos cachos, nos vinhedos descoberto e coberto. Nas medições de temperatura foram utilizados psicrômetros, constituídos por pares termoelétricos de cobre-constantan, instalados acima dos dosséis descoberto e coberto. A velocidade do vento foi medida por anemômetros de concha, modelo A00R Vector, acima de ambos vinhedos. Em cada área (coberta e descoberta) os sensores foram conectados a um multiplexador de canais, ligado a um datalogger Campbell modelos CR2X ou CR0, tendo uma unidade armazenadora acoplada. Foram processadas leituras a cada 30s e armazenadas médias horárias. Os resultados foram tabulados e avaliados em planilhas de dados específicas para cada variável de medição. A evapotranspiração de referência (ETo) diária foi calculada pelo método Penman-Montheith parametrizado pela FAO (Allen et al, 998). RESULTADOS E DISCUSSÃO: A presença de cobertura plástica diminuiu 34% a radiação fotossinteticamente ativa incidente sobre o dossel coberto (Tabela ). Do total de RFA incidente, 3% atingiram os cachos descobertos e 8% os cachos cobertos. Ou seja, ao nível dos cachos cobertos a radiação incidente foi, aproximadamente, um quarto daquela que incidiu sobre os cachos descobertos. De acordo com Mullins et al. (992), o sistema de condução e a área foliar da videira determinam a quantidade de luz que atinge o nível dos cachos. Em sistema de condução do tipo Y, com a cultivar Moscato Gialo, Cardoso et al. (2008) encontraram valores superiores para RFA ao nível dos cachos, que foram de 36% para

o vinhedo descoberto e 6% para o coberto. Pedro Júnior et al. (2006) não encontraram diferenças, a partir de 70 dias após a poda da videira Niágara Rosada, entre os sistemas de condução em espaldeira, cortina dupla e latada, em ambiente a céu aberto, sendo que 20% da radiação solar incidente foi transmitida ao nível dos cachos. Apesar de haver menor fluxo de radiação debaixo da cobertura, a temperatura máxima do ar foi maior nesse ambiente que em céu aberto, enquanto que as médias e mínimas tiveram valores semelhantes (Tabela ). Isto pode ser explicado, principalmente, pelo efeito da cobertura em restringir a movimentação do ar e, dessa forma, conservar o ar aquecido naquele ambiente, durante o período diurno. As pequenas diferenças entre as temperaturas mínimas do ar podem ser explicadas pela permeabilidade do plástico à radiação de ondas longas, o que impede o chamado efeito estufa (Cardoso, 2007). Assim, grande parte do calor acumulado durante o dia pode ser perdido à noite, na forma de ondas longas emitidas. Como o terreno é de encosta, o escoamento do ar frio, junto ao solo, também pode reduzir as diferenças nas temperaturas noturnas. Estes resultados estão de acordo com outros estudos de ambientes protegidos (Farias et al., 993; Camacho et al., 995; Cardoso et al., 2008). Tabela. Porcentagem de radiação fotossinteticamente ativa incidente nos níveis do dossel e dos cachos, e temperaturas do ar junto ao dossel, em vinhedos descoberto e coberto com filme plástico. Bento Gonçalves, RS, 2007/2008. Descoberto Coberto RFA dossel (%) 00 66** RFA cachos (%) 3 8** Temp. mínima (ºC) 5,5 5,4 ns Temp. média (ºC) 20,3 2,2 ns Temp. máxima (ºC) 27,8 3,6 ** (* e ** diferenças significativas a 5 e % de probabilidade pelo teste de Tukey, respectivamente; ns não significativa.) A cobertura plástica reduziu a velocidade média diária do vento junto ao dossel. A velocidade média registrada junto ao vinhedo descoberto foi de,6m s -, enquanto que junto ao vinhedo coberto ela foi de 0,3m s -. A diferença entre as médias dos tratamentos foi significativa ao nível de % de probabilidade pelo teste de Tukey. Observou-se que a redução devido à cobertura foi menor na medida em que aumentou a velocidade do vento (Tabela 2). Possivelmente, isso se deve à inércia dos sensores, embora tenham sido utilizados anemômetros sensíveis, de pulso eletrônico. Isto implicaria na necessidade de uma velocidade mínima para impulsionar os anemômetros, para dar início ao registro de vento. Considerando as médias diárias, a cobertura plástica promoveu uma redução de 93% na velocidade do vento. Tabela 2. Redução (%) da velocidade média horária do vento (m s - ) pela cobertura plástica, em relação ao vinhedo descoberto, para diferentes faixas de velocidade. Bento Gonçalves, 2007/2008. Faixas de velocidade média do vento (m s - ) 0-,0,-2,0 2,-3,0 3,-4,0 4,-4,8 Redução (%) 90 87 80 74 70 Considerado de forma isolada, até determinadas velocidades o vento contribui para o aumento da evapotranspiração, pela diminuição da resistência da camada limite junto às folhas (Jones, 992) e maior remoção de vapor d água do ambiente. Com isto, a diminuição da velocidade

do vento imposta pela cobertura plástica implica em diminuição da demanda evaporativa da atmosfera e, portanto, dos processos de evaporação e transpiração. Segundo Farias et al. (994), a evapotranspiração diminui em ambiente protegido devido à opacidade parcial da cobertura plástica à radiação solar e à redução da ação dos ventos, que são os principais fatores da demanda evaporativa da atmosfera. Nas condições deste experimento, a evapotranspiração potencial diária (ETo) teve tendência de incremento a partir de outubro de 2007 e apresentou certa estabilização a partir do mês seguinte, em ambos ambientes (Figura ). Ao longo do ciclo, ETo média calculada a céu aberto oscilou de 0,4 a 4,5mm dia -, sendo a média 2,6mm dia -. No ambiente coberto a média foi 2,3mm dia -, variando de 0,2 a 3,9mm dia -. As médias entre os tratamentos diferiram significativamente pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. 5 Descoberto Coberto ETo (mm dia - ) 4 3 2 0 4/0 8/0 / 5/ 29/ 3/2 27/2 0/ 24/ 7/2 Figura. Evapotranspiração de referência (ETo) (mm dia - ) calculada pelo método de Penman-Montheith-FAO, em vinhedos descoberto e coberto com filme plástico. Bento Gonçalves, RS, 2007/2008. Na média de todo o período avaliado, a evapotranspiração de referência calculada para o ambiente protegido foi 89% daquela calculada para o ambiente descoberto (Figura 2). Na mesma região da Serra Gaúcha, em vinhedos de V. vinifera conduzidos em Y (ípsilon), Cardoso et al. (2008) encontraram valores médios de 3,7 e 2,4mm dia - em vinhedo descoberto e coberto, respectivamente. Utilizando o método de Penman, os autores calcularam que a ETo no ambiente coberto foi 65% daquela no vinhedo em céu aberto. CONCLUSÕES: A radiação fotossinteticamente ativa e o vento diminuem em presença de cobertura plástica, enquanto que as temperaturas máximas diárias aumentam. Com isso, há diminuição da evapotranspiração de referência junto ao vinhedo coberto em comparação ao descoberto. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ALLEN, R.G. et al. Crop evapotranspiration: guidelines for computing crop water requirements. Rome: FAO, 998. 300p.(FAO. Irrigation and Drainage Paper, 56). CAMACHO, M. J.; ASSIS, F. N. de; MARTINS, S. R.; MENDEZ, M. E. G. Avaliação de elementos meteorológicos em estufa plástica em pelotas, RS. Revista Brasileira de Agrometeorologia, Santa Maria, v.3, p. 9-24, 995.

CARDOSO, L.S. Alterações microclimaticas em vinhedos de Vitis vinífera L. cv. Moscato Giallo pelo uso de cobertura plástica. 44 f. 2007. Dissertação (Mestrado) Programa de Pós-Graduação em Fitotecnia, Faculdade de Agronomia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2007. CARDOSO, L.S. et al. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.43, n.4, p.44-447, 2008. EMBRAPA-CNPS. Sistema brasileiro de classificação de solos. Rio de Janeiro, 999. 42 p. FARIAS, J.R.B. et al. Alterações na temperatura e umidade relativa do ar provocadas pelo uso de estufa plástica. Revista Brasileira de Agrometeorologia, Santa Maria, v., n., p. 5-62, 993. FARIAS, J.R.B.; BERGAMASCHI, H.; MARTINS, S.R Evapotranspiração no interior de estufas plásticas. Revista Brasileira de Agrometeorologia, Santa Maria, v.2, p. 7-22, 994. JONES, H.G. Plants and microclimate: a quantitative approach to environmental plant physiology. 2nd.ed. Cambridge: University Press, 992. 428 p. :il. MORENO, J.A. Clima do Rio Grande do Sul. Porto Alegre : Secretaria da Agricultura. 42p. 96. MULLINS, M.G.; BOUQUET, A.; WILLIAMS, L.E. Biology of the Grapevine. Cambridge : Cambridge University Press, 992. 239p. PEDRO JUNIOR, M.J. et al. Sistemas de condução da videira Niágara Rosada : efeitos na transmissão da radiação solar e na produtividade. Revista Brasileira de Agrometeorologia, Santa Maria, v.4, n., p. -9, 2006. 6 ETo Coberto (mm dia - ) 5 4 3 2 0 ETo C = 0,89 ETo D R 2 = 0,93 0 2 3 4 5 ETo Descoberto (mm dia - ) Figura 2. Razão entre a evapotranspiração de referência (ETo) (mm dia - ) em vinhedos descoberto (D) e coberto com filme plástico (C). Bento Gonçalves, RS, 2007/2008.