ASPECTOS DA FENOLOGIA REPRODUTIVA DA JUREMA PRETA (Mimosa tenuiflora) NA CAATINGA DO VALE DO ACARAÚ

Documentos relacionados
Fenologia de Ziziphus joazeiro Mart. em uma área de ecótono Mata Atlântica-Caatinga no Rio Grande do Norte

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Amazônia Oriental Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Fenologia de espécies vegetais arbóreas em um fragmento de caatinga em Santana do Ipanema, AL, Brasil

importância dos fatores ambientais sobre as características fenológicas das espécies arbóreas

Estudo Fenológico de Lafoensia replicata Pohl. no Município de Bom Jesus, Piauí

AVALIAÇÃO FENOLÓGICA DO PINHÃO MANSO (JATROPHA CURCAS L.) NO MUNICÍPIO DE TERESINA-PI

FENOLOGIA DE DUAS ESPÉCIES ARBÓREAS EM FLORESTA ESTACIONAL DECIDUAL EM VITÓRIA DA CONQUISTA BA

FENOLOGIA E DISPERSÃO DE ESPÉCIES DA CAATINGA AMEAÇADAS DE EXTINÇÃO

Fenologia Reprodutiva de Duas Espécies de Cnidosculus na Região de Petrolina, PE

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Amazônia Oriental Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Amazônia Oriental Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

AVALIAÇÃO FENOLÓGICA DE MACRÓFITAS AQUÁTICAS DO HORTO PROF. WALTER ACCORSI

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Amazônia Oriental Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Amazônia Oriental Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Amazônia Oriental Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

20º Seminário de Iniciação Científica e 4º Seminário de Pós-graduação da Embrapa Amazônia Oriental ANAIS. 21 a 23 de setembro

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Amazônia Oriental Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

MARCAÇÃO DE MATRIZES E FENOLOGIA DE ESPÉCIES NATIVAS NA FAZENDA EXPERIMENTAL DA FACULDADE INTEGRAL CANTAREIRA, MAIRIPORÃ / SP 1

CLIMA E FENOLOGIA DE ESPÉCIES EM ÁREA DE CAATINGA PRESERVADA

Monitoramento dos Ciclos Fenológicos da Imbuia, no Município de Colombo, PR

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Amazônia Oriental Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Amazônia Oriental Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

AVALIAÇÃO FENOLÓGICA E SCREENING FITOQUÍMICO DA CARAMBOLA (Averroha carambola L.)

ANÁLISE DA FENOLOGIA DE OITO ESPÉCIES ARBÓREAS PLANTADAS NO CAMPUS DA UNESP DE RIO CLARO

FENOLOGIA E SCREENING FITOQUÍMICO DO AÇOITA-CAVALO

FENOLOGIA DE Anadenantehra macrocarpa (Benth.) Brenan EM UMA FLORESTA ESTACIONAL SEMIDECIDUAL NO SUL DO ESPÍRITO SANTO

Fenologia de Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan em fragmento de Floresta Ombrófila Aberta na Paraíba

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Amazônia Oriental Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

CORRELAÇÃO DOS FATORES AMBIENTAIS E O PERÍODO REPRODUTIVO DA PITAIA (Hylocereus undatus) EM LAVRAS-MG INTRODUÇÃO

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Amazônia Oriental Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

FENOFASES REPRODUTIVAS DO CEDRO DOCE NO MUNICÍPIO DE MUCAJAÍ - RR. Eixo temático 4- Conservação Ambiental e Produção Agrícola Sustentável

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Amazônia Oriental Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

sua importância para as abelhas sem ferrão

20º Seminário de Iniciação Científica e 4º Seminário de Pós-graduação da Embrapa Amazônia Oriental ANAIS. 21 a 23 de setembro

Estudos de BIOLOGIA Ambiente e Diversidade

Termos para indexação: cerrado sensu stricto, fenologia, fogo, Schefflera vinosa.

Floração e Frutificação da Cerejeira-do-Mato, em Áreas Fragmentadas da Floresta Ombrófila Mista, no Município de Colombo, PR

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Amazônia Oriental Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Estratégias fenológicas de Byrsonima basiloba em Rio Verde, Goiás, Brasil

REVISTA CAATINGA ISSN X UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO (UFERSA) Pro-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação

Desenvolvimento do Imbuzeiro (Spondias tuberosa Arruda) na Região Semi- Árida do Nordeste

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Amazônia Oriental Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

CARACTERIZAÇÃO DA ESTAÇÃO CHUVOSA NO MUNICÍPIO DE MUCAMBO CE ATRAVÉS DA TÉCNICA DOS QUANTIS

Fenologia da fava-d anta (Dimorphandra mollis Benth.) no norte de Minas Gerais, Brasil

VARIABILIDADE DA PRECIPITAÇÃO SOBRE O SUL DO NORDESTE BRASILEIRO ( ) PARTE 1 ANÁLISE ESPACIAL RESUMO

20º Seminário de Iniciação Científica e 4º Seminário de Pós-graduação da Embrapa Amazônia Oriental ANAIS. 21 a 23 de setembro

Ciência Florestal, Santa Maria, v. 28, n. 1, p , abr.- jun., 2018 ISSN RESUMO

ANAIS. VIII Encontro Amazônico de Agrárias LIVRO VI. Produção Vegetal

PRODUTIVIDADE DAS COLMEIAS DE

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Amazônia Oriental Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Estudos de tendências de índices de precipitação sobre o estado da Bahia

FENOLOGIA DO MURICIZEIRO Byrsonima verbascifolia (L.) RICH EM ZONA DE TABULEIRO COSTEIRO DO NORDESTE BRASILEIRO

TRÉCUL. (MORACEAE) NO CERRADO DE MATO GROSSO

ANÁLISE DO ESTRATO HERBÁCEO EM DIFERENTES ESTÁGIOS SUCESSIONAIS DE FLORESTAS NATURAIS DA CAATINGA. Apresentação: Pôster

Manejo e eficiência de uso da água de irrigação da cultura do abacateiro no Submédio São Francisco

Relação da Zona de Convergência Intertropical do Atlântico Sul com El Niño e Dipolo do Atlântico

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE FLORESTA CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA FLORESTAL

Comparação de dois métodos de avaliação da fenologia de plantas, sua interpretação e representação 1

V Encontro Amazônico de Agrárias

FENOLOGIA REPRODUTIVA E VEGETATIVA DA ACROCOMIA ACULEATA

ANÁLISE DA TEMPERATURA DO AR EM AREIA - PB, EM ANOS DE OCORRÊNCIA DE EL NIÑO

FENOLOGIA DE JACARANDÁ DA BAHIA (Dalbergia nigra (Vell.) Allemão ex Benth) EM QUATRO POPULAÇÕES NO RECÔNCAVO DA BAHIA

Fenologia de Qualea parviflora mart. (Vochysiaceae) em um remanescente de cerrado sensu stricto

20º Seminário de Iniciação Científica e 4º Seminário de Pós-graduação da Embrapa Amazônia Oriental ANAIS. 21 a 23 de setembro

Biometria de sementes da palmeira Elaeis guineenses Jacq. (Arecaceae)

VARIABILIDADE HORÁRIA DA PRECIPITAÇÃO EM PALMAS-TO

Estudo fenológico de Davilla elliptica St. Hill. e Qualea grandiflora Mart. em uma área de Cerrado sentido restrito em Porto Nacional, Tocantins

ANÁLISE DA PRECIPITAÇÃO DO MUNICÍPIO DE CRUZ DAS ALMAS ATRAVÉS DA TÉCNICA DE QUANTIS M. J. M. GUIMARÃES 1 ; I. LOPES 2

Germination of seeds of Bauhinia cheilantha (Caesalpinaceae) and Myracrodruon urundeuva (Anacardiaceae) submitted to salt stress

Atividades fenológicas de Guazuma ulmifolia Lam. (Malvaceae) em uma floresta estacional decidual no norte de Minas Gerais

INFLUÊNCIA DA PRECIPITAÇÃO NA PRODUÇÃO AGRÍCOLA DE MILHO E FEIJÃO (Vigna unguiculata L. Walp) NO MUNICÍPIO DE LIVRAMENTO PB, BRASIL

FENOLOGIA DO FLORESCIMENTO E FRUTIFICAÇÃO DE PUPUNHEIRA NO VALE DO RIBEIRA/SP A PARTIR DO BANCO ATIVO DE GERMOPLASMA (BAG) DO IAC: ANO II

AVALIAÇÃO DA TENDÊNCIA DA PRECIPITAÇÃO PLUVIOMÉTRICA NA LOCALIDADE DE FLORESTA, ESTADO DE PERNAMBUCO

FENOLOGIA EM FLORESTA ESTACIONAL SEMIDECÍDUA NO MUNICÍPIO DE MACHADO, MG, BRASIL RESUMO

FITOINDICAÇÃO COMO MÉTODO COMPARADO DE AVALIAÇÃO DE MUDANÇAS AMBIENTAIS EM REMANESCENTES FLORESTAIS E ÁREAS URBANAS DE SERGIPE

61 ISSN Junho, Fenologia reprodutiva de castanha-dobrasil (Bertholletia excelsa Humb. Bompl.), em Porto Velho, RO

ANAIS. VIII Encontro Amazônico de Agrárias TEMA. Recursos Hídricos: Uso Sustentável e sua Importância na Amazônia. Eixo XI

RELAÇÃO DA TEMPERATURA DA SUPERFÍCIE DOS OCEANOS PACÍFICO E ATLANTICO TROPICAIS E A PRECIPITAÇÃO NA MICRORREGIÃO DE ARARIPINA (SERTÃO PERNAMBUCANO)

20º Seminário de Iniciação Científica e 4º Seminário de Pós-graduação da Embrapa Amazônia Oriental ANAIS. 21 a 23 de setembro

BOLETIM AGROCLIMÁTICO DEZEMBRO/2017

DETERMINAÇÃO DAS DATAS DO INÍCIO E FIM DAS ESTAÇÕES QUENTE E FRIA NO ESTADO DE SÃO PAULO

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Amazônia Oriental Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

20º Seminário de Iniciação Científica e 4º Seminário de Pós-graduação da Embrapa Amazônia Oriental ANAIS. 21 a 23 de setembro

Revista Brasileira de Biociências Brazilian Journal of Biosciences ARTIGO

A FALTA DE CHUVAS E AS DIFICULDADES PARA OS PEQUENOS AGRICULTORES DO SEMI-ÁRIDO ALIMENTAREM OS ANIMAIS NA SECA

Talita Geovanna Fernandes Rocha 1, Richeliel Albert Rodrigues Silva 1, Eduarda Ximenes Dantas 1, Fábio de Almeida Vieira 1

PRODUÇÃO E PROCESSAMENTO DE FRUTOS DE JUÇARA (EUTERPE EDULIS MART.) NO LITORAL DO PR

PADRÕES FENOLÓGICOS DE ESPÉCIES ARBÓREAS EM UM FRAGMENTO PAULO RUBIM. Orientadora: Leonor Patrícia Cerdeira Morellato

Anais. VII Jornada de Iniciação Científica da Embrapa Amazônia Ocidental

ANÁLISE DA PRECIPITAÇÃO E DO NÚMERO DE DIAS DE CHUVA NO MUNICÍPIO DE JAGUARUANA-CE

RELAÇÃO DA TEMPERATURA DA SUPERFÍCIE DOS OCEANOS PACÍFICO E ATLANTICO TROPICAIS E A PRECIPITAÇÃO NA MICRORREGIÃO DE PETROLINA (SERTÃO PERNAMBUCANO)

ANAIS. VIII Encontro Amazônico de Agrárias TEMA. Recursos Hídricos: Uso Sustentável e sua Importância na Amazônia. Eixo XI

Estudo da concentração/diversificação pluviométrica durante a estação chuvosa , em Minas Gerais, utilizando o índice de Gibbs-Martin.

Monica Cristina Damião Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos CPTEC

CAPÍTULO 10. Gizelda Maia Rego Osmir José Lavaronti

ÉPOCA DE COLETA DE SEMENTES DE SEIS ESPÉCIES ARBÓREAS EM FLORESTA ESTACIONAL SEMIDECÍDUA, MACHADO - MG

Caracterização do Crescimento de Frutos de Clones Elites de Cupuaçuzeiro (Theobroma grandiflorum (Willd ex Spreng) Schumm

PHENOLOGY OF Cybistax antisyphilitica (MART.) MART. (Bignoniaceae) IN URBAN AREA OF THE MUNICIPALITY OF JATAÍ, SATE OF GOIÁS, BRAZIL

ESTUDO FENOLÓGICO DE ESPÉCIES ARBÓREAS DADOS PRELIMINARES. Garça São Paulo Brasil.

Croton sonderianus. Caesalpinia pyramidalis. Mimosa tenuiflora. Mimosa ophthalmocentra

Transcrição:

ASPECTOS DA FENOLOGIA REPRODUTIVA DA JUREMA PRETA (Mimosa tenuiflora) NA CAATINGA DO VALE DO ACARAÚ Vitória Inna Mary de Sousa Muniz 1, Rita Ednice Silva 2, José Everton Alves 3 RESUMO: A identificação de ciclo de floradas e de frutificação das plantas, proporciona subsídios que traçam o perfil de disponibilidade de recursos que podem ser oferecidos para animais que se utilizam dessas fontes de alimentos. Portanto o objetivo desse trabalho foi caracterizar a fenologia reprodutiva da jurema preta, na Caatinga do Vale do Acaraú. Nos períodos de agosto e setembro de 2017 foram feitas observações quinzenais sobre a ocorrência dos eventos floração e frutificação, adotando o índice de atividade e de intensidade de Fournier. Foi utilizada correlação de Pearson entre os dados fenológicos e os registros meteorológicos da Estação Meteorológica de Sobral, CE. Todas as fenofases apresentaram sincronia e demonstraram padrão sazonal. A floração e a frutificação não apresentaram correlações fortes e significativas com pluviosidade e temperatura, a dispersão de frutos apresentou correlação significativa com a pluviosidade aos meses anteriores de sua ocorrência. Conclui-se que a frutificação e a floração da jurema preta ocorrem durante os primeiros meses da estação seca, e que devido ao alto grau de sincronia, esses eventos podem proporcionar uma exploração racional aplicada à alimentação de animais durante períodos de estiagem. PALAVRAS-CHAVE: Ciclos de floradas, recurso alimentar, sincronia. ASPECTS OF THE REPRODUCTIVE PHENOLOGY OF THE JUREMA PRETA (Mimosa tenuiflora) IN THE CAATINGA OF THE VALE DO ACARAÚ ABSTRACT: The identification of the flowering cycle and the fruiting of the plants, provides subsidies that outline the availability profile of resources that can be offered to animals that use these sources of food. Therefore, the objective of this work was to characterize the reproductive phenology of jurema preta, in the Caatinga of the Vale do Acaraú. In the periods of august and September of 2017, biweekly observations were made on the occurrence of flowering and fruiting events, adopting Fournier activity index and intensity. Pearson correlation was used between the phenological data and the meteorological records of the Meteorological Station of Sobral, CE. All phenophases showed synchrony and showed seasonal pattern. Flowering and fruiting did not show strong and significant correlations with precipitation and temperature, fruit dispersion showed significant correlation with precipitation in the previous months of its occurrence. It is concluded that the fruiting and flowering of jurema preta occurs during the first months of the dry season, and that due to the degree of synchrony, these events can provide a rational exploration applied to feeding of animals during periods of drought. KEYWORDS: Cycles of flowering, food resource, synchrony. 1 Estudante, Universidade Estadual Vale do Acaraú, Av. da Universidade, 850 - Campus da Betânia, CEP 57030-680, Sobral CE, Fone: (88) 3677-4229, vitoriamuniz63@hotmail.com; 2 Estudante, Departamento de Zootecnia, UVA, Sobral-CE. 3 Prof.Doutor, Departamento de Zootecnia, UVA, Sobral-CE

INTRODUÇÃO A jurema preta (Mimosa tenuiflora) contribui para o desenvolvimento e para a sustentabilidade da região semiárida do Nordeste (Bakke, 2005). Há poucos estudos sobre eventos fenológicos em plantas da Caatinga. Os ciclos fenológicos destas plantas são complexos e apresentam padrões irregulares de difícil reconhecimento (Bencke & Morellato, 2002). Estudos de comportamento fenológico são relevantes porque os ciclos reprodutivos das plantas também afetam os animais que dependem das suas flores, frutos e demais recursos (Leigh, 1999). A identificação do ciclo de floradas proporciona também subsídios que traçam o perfil de disponibilidade anual de néctar e pólen para abelhas (Freitas & Silva, 2006). O presente estudo teve o objetivo de caracterizar o comportamento fenológico reprodutivo de M. tenuiflora, visto que há poucas informações acerca desse assunto e o estudo desses eventos fenológicos facilita o entendimento entre as relações das plantas com os animais que utilizam seus recursos. MATERIAL E MÉTODOS O estudo foi realizado na Fazenda Experimental Vale do Acaraú (3 60 S, 40 30 W), pertencente à Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), no município de Sobral-CE. O acompanhamento fenológico de M. tenuiflora foi realizado quinzenalmente durante os meses de agosto e setembro de 2017. Foram enumeradas e marcadas com fita 40 árvores, os pontos geográficos de cada indivíduo foram registrados com GPS Garmin Etrex 10. As fenofases observadas foram avaliadas em botão floral, flores viáveis, flores murchas, pedúnculos, frutos imaturos, frutos maduros e dispersão. Foi utilizado o índice de atividade para determinação da sincronia de cada evento fenológico e foram adotadas quantificações subjetivas para essas fenofases, registradas pelo método de Fournier (1974). Foi utilizada correlação de Pearson entre os dados fenológicos e os registros meteorológicos da Estação Meteorológica de Sobral, CE, a fim de avaliar a influência dos fatores climáticos (fotoperíodo, temperatura e pluviosidade) no desenvolvimento da espécie. Foram utilizadas análises circulares de dados para os eventos fenológicos, a fim de determinar o ângulo médio de ocorrência desses eventos e as medidas de dispersão ao redor deste ângulo. Para essas análises, contou-se com o auxílio do programa ORIANA (demo) versão 4.0.2, que converte os dias do ano (0 365 dias) em graus (0-360 ), para avaliar a ocorrência de sazonalidade nas fenofases estudadas, convertendo os meses do ano em ângulos. O vetor r classifica as fenofases superiores a 0,5 como sazonais ou agregadas. O programa também calcula o teste de Rayleigh (z), que indica se os ângulos e as datas estão

dispostos uniformemente ao longo do período avaliado, quando continuo, não há sazonalidade (Morellato et al., 2010) RESULTADOS E DISCUSSÃO Padrões fenológicos de floração: a floração em M. tenuiflora ocorreu durante os meses de agosto e setembro. Com pico bem definido na primeira quinzena de agosto, quando 80% dos indivíduos estavam manifestando essa fenofase, com intensidade de 61,6%. A emissão de botões florais mostrou-se contínua durante o período de avaliação, mas com intensidades que decresceram até o fim do estudo. Todos os indivíduos manifestaram essa fenofase durante a primeira quinzena de agosto e a maior porcentagem para a fenofase de flores murchas (95%) ocorreu na primeira quinzena de setembro. Padrões fenológicos de frutificação: a presença de frutos imaturos e maduros, foi observada durante todo o período do estudo. O amadurecimento dos frutos começou a partir da segunda quinzena de agosto. A fenofase pedúnculos só foi observada a partir do mês de setembro. A produção de frutos imaturos teve dois picos, um na primeira quinzena de agosto (90%) e outro na segunda quinzena de setembro (95%), o índice de Fournier demonstrou que a formação de frutos imaturos, é um fenômeno de média magnitude na copa (50,6%). A maior porcentagem para as fenofases frutos maduros (95%) foi na segunda quinzena de agosto e para a fenofase pedúnculos (70%) na primeira quinzena de setembro. Padrões fenológicos de dispersão: na jurema preta a dispersão pode ser definida como o momento em que as vagens caem da árvore e começam a liberar suas sementes por deiscência. A dispersão foi registrada a partir do mês de setembro e a maior porcentagem (77,5%) para esse evento foi na primeira quinzena de setembro, a intensidade de Fournier demonstrou que esse evento também foi de média magnitude na copa (49,3%). Correlações entre fenofases e fatores abióticos: as correlações de Pearson entre a intensidade dos eventos de floração e alguns fatores climáticos apresentaram alguns resultados significativos (p<0,05) (Tabela 1), o fotoperíodo mostrou forte correlação negativa com a emissão de botões florais e com a produção de flores. A maioria das correlações entre os fatores climáticos e os eventos de frutificação foram fracas e não significativas, porém a emissão de frutos imaturos mostrou correlação moderada positiva com fotoperíodo e temperatura, indicando que os frutos imaturos permanecem nas plantas nos períodos de maior intensidade de luz e calor (Tabela 1). A dispersão de frutos mostrou forte correlação negativa com a precipitação dos meses anteriores a sua ocorrência, o que indica que a secagem do ambiente é fundamental para a dispersão (Tabela 1).

Teste de ocorrência de sazonalidade em M. tenuiflora: no teste de sazonalidade, as datas médias de pico dos eventos floração, frutificação e dispersão, provenientes das análises estatísticas, foram significativos e os valores de r foram todos maiores que 0,5, indicando um padrão sazonal para essas fenofases, que ocorre na estação seca (Tabela 2). A floração e a frutificação de M. tenuiflora acontecem nos primeiros meses da estação seca, este resultado também foi encontrado por Pereira et al., (1989), a manifestação dessas fenofases durante o período de estiagem, pode significar uma adaptação ao ambiente com baixa disponibilidade de água. Assim como em outras plantas do gênero Mimosa (Belo et al. 2013), a jurema preta demonstrou padrão de floração e frutificação anual, o grau de sincronia desses eventos fenológicos tem grande implicação sobre os organismos que utilizam os recursos dessa planta, pois a permanência e a manutenção desses organismos, são dependentes da disponibilidade dos recursos oferecidos pela jurema preta. CONCLUSÕES Conclui-se que os eventos fenológicos reprodutivos de M. tenuiflora acontecem durante a estação seca e demonstram um alto grau de sincronia, o que pode significar a disponibilização de recursos para a fauna durante períodos de estiagem. AGRADECIMENTOS Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pela bolsa de Iniciação Cientifica concedida ao primeiro autor. REFERÊNCIAS BAKKE, I. A. Potencial de Acumulação de Fitomassa e Composição Bromatológica da Jurema preta (Mimosa Tenuiflora (Willd.) Poiret.) na região semiárida da Paraíba.106f. Tese (Doutorado em Agronomia), Universidade Federal da Paraíba. Areia/PB, 2005. BELO, R. M; FERNANDES, W.G; SILVEIRA, O.A.F; RANIERI, D.B; MORELLATO, L.P.C. Fenologia reprodutiva e vegetativa de arbustos endêmicos de campo rupestre na Serra do Cipó, Sudeste do Brasil. Rodriguésia, v.64, n.4, p.817-828. 2013. BENCKE, C.S.C; MORELLATO, L P.C. Comparação de dois métodos de avaliação da fenologia de plantas, sua interpretação e representação. Brazilian Journal of Botany, p. 269-275, 2002. FOURNIER, L. A. Un método cuantitativo para la medición de características fenológicas en árboles. Turrialba, v. 24, n. 4, p. 422-423, 1974.

FREITAS, B. M.; SILVA, E. MS. Potencial apícola da vegetação do semi-árido brasileiro. Apium plantae, v. 3, n. 1, p. 19-32, 2006. LEIGH, E.G. Tropical forest ecology: a view from Barro Colorado Island. Oxford University Press, Oxford.244f.1999. MORELLATO, L.P.C; RUBIM, P; NASCIMENTO, H.E.M. Variações interanuais na fenologia de uma comunidade arbórea de floresta semidecídua no sudeste do Brasil. Acta Botanica Brasilica, p. 756-762, 2010. PEREIRA, RM de A; ARAÚJO-FILHO, J.A; LIMA, R.V; PAULINO, F.D.G; LIMA, A.O.N; ARAÚJO, Z.B. Estudos fenológicos de algumas espécies lenhosas e herbáceas da caatinga. Embrapa Caprinos e Ovinos-Artigo em periódico indexado (ALICE), 1989. Tabela 1. Análises de correlação simples de Pearson (rp) entre as variáveis climáticas precipitações, temperatura e fotoperíodo dos dois meses de avaliação ao índice de intensidade de Fournier das fenofases reprodutivas da população de Mimosa. tenuiflora, ocorrentes na Fazenda Experimental da UVA, Ceará, Brasil. Fenofase Precipitação Temperatura Fotoperíodo IF/2M IF/2M IF/2M Botões florais 0,978-0,866-0,954 Flores viáveis 0,973-0,932-0,946 Flores murchas -0,22-0,294-0,129 Pedúnculos -0,814* 0,594* 0,61* Frutos imaturos -0,489 0,603 0,688 Frutos maduros -0,861 0,85 0,938 Dispersão de frutos -0,734* 0,391* 0,457* * Para as fenofases pedúnculos e dispersão de frutos a correlação também foi testada com o mês anterior de ocorrência desses eventos Tabela 2. Análise descritiva circular de ocorrência das fenofases reprodutivas de Mimosa tenuiflora, em uma população na Fazenda Experimental da UVA, durante o período de janeiro/2017 a dezembro/2017. BF FV FM P FI FMA D NB 391 188 248 128 275 271 123 CMV (r) 0,965 0,975 0.977 0,995 0.971 0.982 0.994 (P) <0,00001 <0,00001 <0,00001 <0,00001 <0,00001 <0,00001 <0,00001 (μ) 238,946 230,576 239.257 252,435 242.91 245.898 251.259 DM 29/08/2017 15/08/2017 16/08/2017 07/09/2017 06/09/2017 06/09/2017 13/09/2027 DPC 0,035 0,025 0.023 0,005 0.029 0.018 0.006 (NB): Número de Observações; (CMV): Comprimento Médio do Vetor; (P): Teste de Uniformidade de Rayleigh (P); (μ): Ângulo médio do vetor; (DM): Data Média; (DPC): Desvio Padrão Circular.