AS SEXUALIDADES NÃO HEGEMÔNICAS, AS MÍDIAS DA COMUNICAÇÃO E AS NOVAS POSSIBILIDADES DA PRÁTICA CRISTÃ

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Transcrição:

AS SEXUALIDADES NÃO HEGEMÔNICAS, AS MÍDIAS DA COMUNICAÇÃO E AS NOVAS POSSIBILIDADES DA PRÁTICA CRISTÃ Eduardo Soares da Cunha 1 Resumo Propomos, neste trabalho, apresentar os resultados parciais de uma pesquisa que vem sendo desenvolvida junto ao Programa de Pós-graduação em Letras da Universidade Federal de Pelotas. Tal pesquisa visa analisar a página institucional da Igreja Cristã Contemporânea, que propõe a aceitação de sujeitos não aceitos em outros espaços religiosos. Considerando a importância que as novas mídias da comunicação exercem na atualidade, nos interessa verificar de que modo a entidade promove a inclusão de sujeitos LGBTTs por meio de seu endereço eletrônico. Para realização da pesquisa, partiremos das contribuições da Análise Dialógica do Discurso (ADD). Palavras-chave: Igrejas inclusivas. Página institucional. Análise Dialógica do Discurso. Introdução Vivemos tempos difíceis no tocante ao reconhecimento e aceitação das diferenças. Não pertencer a uma hegemonia, a um padrão ou a algo socialmente considerado como ideal a ser seguido tem custado caro para muitos indivíduos. Assim, o questionamento a esses ideais e a luta por direitos humanos, tem se tornado cada vez mais necessária frente a atual situação do nosso país. No entanto, grupos conservadores e fundamentalistas tentam, por todos os meios, impedir qualquer manifestação contrária às suas propostas. A população LGBTT 2 (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais ), tem sido um dos grupos sociais mais atacados ultimamente. Em muitos discursos, a religião tem sido utilizada para condenar e/ou negar direitos essenciais para os/as representados/as pela sigla. E não é de hoje que isso acontece. Se consultarmos a história do Cristianismo, veremos que desde o seu princípio, sujeitos não heterossexuais foram alvo de discursos de ódio, repulsa e negação. Hodiernamente, com o fortalecimento de uma bancada religiosa, tais discursos têm ganhado mais força e ecoam em diversos setores da sociedade, assim como mostra a contribuição abaixo: 1 Graduado em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Mestrando pelo Programa de Pósgraduação em Letras da Universidade Federal de Pelotas. (PPGL-UFPel). 2 Reconhecemos a existências de outras siglas para fazer referência ao movimento.

A bíblia tem sido usada por alguns grupos religiosos para bombardear os homossexuais, e certas passagens têm servido como balas de canhão direcionadas ao coração do adversário. O disparo é feito através de palavras chave como abominável ou sodomia, e a expressão de quem se julga superior, acerta, mais do que o coração, penetra fundo na alma daquele que é perseguido. (FURTADO; CALDEIRA, 2010). Além desses disparos é também frequente, as sexualidades marginalizadas serem vistas e tratadas como uma doença, permitindo assim com que religiosos/as e profissionais da área da saúde promovam e incentivem a denominada cura gay, embora a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheça, desde 1993, que a homossexualidade não configura uma desordem mental, e o Conselho Federal de Psicologia tenha proibido, em 1999, psicólogos/as de realizarem terapias de conversão sexual 3. Assim, por muito tempo e, ainda hoje, instituições religiosas sob o viés de acolhemos o/a pecador/a, mas não o pecado dizem aceitar LGBTTs, mas não reconhecem suas identidades sexuais e/ou de gênero. Esses discursos de não aceitação das diferenças por muito tempo circularam apenas em alguns setores sociais, a exemplo das instituições religiosas. Todavia, com as novas mídias da comunicação e da informação, é possível com que cheguem a outros ambientes, em que jamais seriam discutidos. Assim, essas novas possibilidades de interação se mostram um interessante e importante espaço, como explana Santanella: A entrada do século XXI deverá ser lembrada no futuro como a entrada dos meios de comunicação em uma nova era: a da transformação de todas as mídias em transmissão digital, como se o mundo inteiro estivesse, de repente, virando digital. Transmissão digital quer dizer a conversão de sons de todas as espécies, imagens de todos os tipos, gráficas ou videográficas, e textos escritos em formatos legíveis pelo computador. Isso é conseguido porque as informações contidas nessas linguagens podem ser quebradas em tiras de 1 e 0 que são processadas no computador e transmitidas via telefone, cabo ou fibra ótica para qualquer outro computador, através de redes que hoje circundam e cobrem o globo como uma teia sem centro nem periferia, ligando comunicacionalmente, em tempo quase real, milhões e milhões de pessoas, estejam elas onde estiverem, em um mundo virtual no qual a distância deixou de existir. (2001, p. 1). Não só a divulgação de enunciados opressores e preconceitos tornou-se mais fácil de ser realizada como também a difusão de informações sobre espaços de resistência e luta frente a estes discursos. Se, por um lado, temos sujeitos que se utilizam dessas mídias para propagar o ódio e a violência, por outro, temos grupos que se unem e se fortalecem no combate a LGBTTfobia. Assim, ao mesmo tempo que temos representantes religiosos/as condenando aqueles/as que apresentam uma identidade sexual diferente daquela tida como adequada, temos também indivíduos inseridos em espações religiosos cristãos que pregam a aceitação, o 3 Informações encontradas na Resolução CFP N 001/99 de 22 de Março de 1999.

amor e as novas possibilidades da prática cristã. Um desses exemplos pode ser dado através do surgimento de entidades conhecidas popularmente como Igrejas Inclusivas. Considerando todo o contexto exposto neste trabalho, propomos apresentar resultados prévios de uma pesquisa que vem sendo desenvolvida junto ao Programa de Pós-graduação em Letras da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Tal pesquisa tem por objetivo realizar a análise da página institucional da Igreja Cristã Contemporânea (ICC), inserida no segmento de Teologia Inclusiva. Durante a realização da análise, pretendemos mostrar quais gêneros discursivos a constituem, como é elaborado o seu projeto de dizer e de que forma aparece o tema da inclusão na busca por novos fiéis. Para isso, iremos utilizar as contribuições teóricometodológicas da Análise Dialógica do Discurso (ADD) do Círculo de Bakhtin. Assim, este escrito apresenta-se da seguinte forma: Primeiramente trazemos algumas considerações sobre o surgimento e a atuação das igrejas inclusivas no Brasil. Após isso, fazemos uma breve exposição sobre a fundamentação teórica utilizada, seguida dos resultados prévios e esperados e das considerações finais. As Igrejas Inclusivas O final da década de 1960 representa um marco para a história das igrejas de teologia inclusiva. Nos EUA, em 1968, após ser expulso de sua congregação de origem por ser homossexual, Troy Perry decide criar um novo espaço para a prática da fé cristã. Assim, sujeitos que outrora não eram ou não sentiam-se aceitos em entidades tradicionais puderam passar a exercer, de forma harmônica, suas sexualidades e o Cristianismo. A instituição fundada por Perry foi a Metropolitan Community Church (MCC) e inspirou a criação de movimentos semelhantes ao redor do mundo. No Brasil, até mesmo devido ao contexto sócio-político da época, esse movimento ocorreu em um outro momento. Embora Fachini (2005) identifique já em 1997 a presença de organizações que debatiam a presença dos/as homossexuais no espaço cristão, foi somente no inicio dos anos 2000 que tivemos a inauguração daquela que ficou conhecida como primeira igreja inclusiva no território brasileiro. A partir disso, acontece o que Natividade (2008); Jesus (2012) chamam de proliferação de igrejas inclusivas no Brasil. Atualmente temos a presença dessas instituições em muitas cidades e estados do país, chamando atenção pelo número de fiéis que conquistaram nos últimos tempos. Uma dessas instituições é a Igreja Cristã Contemporânea, que conta com um número de 11 templos divididos entres os estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. A

ICC realiza um amplo trabalho de divulgação nas novas mídias sociais e apresenta como slogan: Levando o amor de Deus a todos, sem preconceitos. Fundamentação teórico-metodológica Como já foi dito anteriormente, é no Círculo de Bakhtin que encontramos as fundamentações para este trabalho. De acordo com o grupo de estudiosos, todo ato comunicativo é motivado por uma vontade de dizer do/a locutor/a. Assim, é diante de um projeto de dizer que o sujeito elabora seu discurso, sempre levando em consideração a esfera de produção, circulação e recepção do seu enunciado. O projeto de dizer, nada mais é do que a intenção/ vontade de um eu dizer alguma coisa para um outro, esperando deste uma resposta. Em suma, pode ser entendido como aquilo que queremos dizer de acordo com determinados objetivos, situações e esferas de atividades. Comunicamo-nos sempre através de enunciados inseridos em determinados gêneros do discurso, que nas palavras de Bakhtin (1997) são enunciados relativamente estáveis. Dessa forma, para cada esfera de atividade corresponderão formas típicas de enunciados. Para o Círculo, o outro exerce um papel de grande importância na elaboração de nosso projeto discursivo, atuando de forma ativa. A importância da orientação da palavra para o interlocutor é extremamente grande. Em sua essência, a palavra é um ato bilateral. Ela é determinada tanto por aquele de quem ela procede quanto por aquele para quem se dirige. Enquanto palavra, ela é justamente o produto das inter-relações do falante com o ouvinte. Toda palavra serve de expressão ao um em relação ao outro. (VOLÓCHINOV, 2017, p. 205). No ato enunciativo, sempre será levado em consideração quem é nosso destinatário, visto que assim como aponta Bakhtin (1997), todo enunciado possui um endereçamento. Ao enunciar, consideramos quem é esta pessoa, quais suas crenças, seus preconceitos, seus posicionamentos diante de certas situações e o seu conhecimento de mundo e sobre o objeto ao qual nosso enunciado refere-se. As contribuições de Bakhtin não oferecem uma metodologia de análise pronta e acabada, cabendo a cada pesquisador elaborar seus próprios critérios de análise de acordo com o seu objeto de pesquisa. Brait (2016) aponta que é uma das características da ADD não aplicar conceitos com a finalidade de compreensão de um discurso, mas deixar que estes revelem suas próprias formas de produzir sentido, a partir de um ponto de vista dialógico. Assim, consideramos ser interessante para este trabalho a metodologia exposta por Sobral (2009) que propôs a realização de análise de um objeto a partir de sua descrição, análise e interpretação.

Resultados prévios e esperados Após uma análise prévia, realizada na página inicial da ICC e, considerando ser esta a primeira exibição que o visitante visualiza ao acessar o endereço eletrônico, chegamos a algumas considerações sobre as quais passamos comentar neste espaço. Notamos que as informações disponibilizadas na página institucional direcionam-se a dois públicos: aqueles já membros da entidade e aqueles vistos como potenciais fiéis. Para cada um desses públicos correspondem formas distintas de apresentar e divulgar as informações. É interessante comentar que, embora o slogan apresentado dê a ideia de ser uma igreja para todos/as, uma primeira análise mostrou que a entidade elabora seu projeto de dizer para um público em especifico, sendo grande parte de seus enunciados direcionados aos homossexuais masculinos. Verificamos que o tema da aceitação e inclusão é retomado através de alguns tópicos discursivos como por exemplo, a felicidade. Discursos religiosos tradicionais também são exibidos, sendo reconfigurados para um novo público. Devemos destacar também as tentativas de comparação entre o aqui (ICC) e o lá ( igrejas tradicionais ou outras igrejas inclusivas). Por fim, pretendemos, ao longo do trabalho, mostrar como os textos que são disponibilizados na página colaboram para o construção do projeto de dizer do endereço eletrônico em sua unidade. Considerações finais Pensar sobre religiosidades e sexualidades, sobretudo quando consideramos aquelas que são marginalizadas parece um pouco antagônico ou impossível de ser realizado. A análise prévia da página institucional da Igreja Cristã Contemporânea nos mostra que outros discursos ( r)existem. As igrejas inclusivas se mostram como um interessante e importante espaço de prática cristã para LGBTTs que pretendem inserirem-se em um ambiente religioso, sem que para isso tenham suas sexualidades negadas ou disfarçadas. Não podemos deixar de mencionar aqui a importância das mídias da comunicação no enfrentamento a todo o tipo de discriminação e na divulgação de novas possibilidades do exercício da fé. Por último, destacamos a importância do outro, que atua de forma ativa em todas as nossas enunciações e também dessa forma participa do nosso processo de constituição enquanto sujeitos sócio-históricos.

Referências BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. Trad. Maria Ermantina G.G Pereira. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997. BRAIT, B. Análise e Teoria do Discurso. In: BRAIT, B. (Org.). Bakhtin: outros conceitoschave. São Paulo: Contexto, 2016. p. 9-33. FACCHINI, Regina. Movimento homossexual no Brasil: recompondo um histórico. Cad.AEL, Campinas, v.10, n. 18/19, p. 82-123, 2003. FURTADO, Maria Cristina; CALDEIRA, Angela Cristina. Cristianismo e diversidade sexual: conflitos e mudanças. In: Fazendo gênero, 2010, Florianópolis. Anais eletrônicos. UFSC, 2010. Disponível em: <http://www.fazendogenero.ufsc.br/9/resources/anais/1278015256_arquivo_tenvcristi ANISMOEDIVERSIDADESEXUALConflitosemudancas.pdf>. Acesso em: 27 nov. 2017. JESUS, Fátima Weiss de. Unindo a crus e o arco-íris: Vivência religiosa, homossexualidades e trânsitos de gênero na Igreja da Comunidade Metropolitana de São Paulo.2012. 302 f. Tese de doutorado-programa de Pós-graduação em Antropologia Social, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2012. NATIVIDADE, Marcelo. Deus me aceita como eu sou? A disputa sobre o significado da homossexualidade entre evangélicos no Brasil. 2008. 342 f. Tese de doutorado- PPGSA, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008. SANTANELLA, L. Novos desafios da comunicação. FACOM/ UFJF, 2001. Disponível em: <http://www.ufjf.br/facom/files/2013/03/r5-lucia.pdf>. Acesso em: 21. dez. 2017. SOBRAL, Adail. Do dialogismo ao gênero: as bases do pensamento do Círculo de Bakhtin. São Paulo: Mercado de Letras, 2009. VOLÓCHINOV, Valentin. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Editora 34, 2017.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE - FURG Catalogação na Publicação: Bibliotecária Simone Godinho Maisonave CRB -10/1733 S471a Seminário Corpo, Gênero e Sexualidade (7. : 2018 : Rio Grande, RS) Anais eletrônicos do VII Seminário Corpo, Gênero e Sexualidade, do III Seminário Internacional Corpo, Gênero e Sexualidade e do III Luso-Brasileiro Educação em Sexualidade, Gênero, Saúde e Sustentabilidade [recurso eletrônico] / organizadoras, Paula Regina Costa Ribeiro... [et al.] Rio Grande : Ed. da FURG, 2018. PDF Disponível em: http://www.7seminario.furg.br/ http://www.seminariocorpogenerosexualidade.furg.br/ ISBN:978-85-7566-547-3 1. Educação sexual - Seminário 2. Corpo. 3. Gênero 4. Sexualidade I. Ribeiro, Paula Regina Costa, org. [et al.] II. Título III. Título: III Seminário Internacional Corpo, Gênero e Sexualidade. IV.Título: III Luso-Brasileiro Educação em Sexualidade, Gênero, Saúde e Sustentabilidade. CDU 37:613.88 Capa e Projeto Gráfico: Thomas de Aguiar de Oliveira Diagramação: Thomas de Aguiar de Oliveira