UM LEGADO DE 30 ANOS MÔNICA BOTELHO Fundação Ormeo Junqueira Botelho Presidente Arte, cultura, educação. Nos últimos 30 anos, foram esses os principais pilares a manter viva e atuante a estrutura da FOJB, a Fundação Ormeo Junqueira Botelho entidade cultural, sem fins lucrativos, de caráter privado, criada com capital proveniente das empresas que então formavam o braço têxtil do antigo Sistema Cataguazes-Leopoldina, hoje Energisa. Amplo e diversificado, como previsto no estatuto de sua fundação instituída na cidade de Cataguases em 25.02.1987, seu campo de atividades engloba o desenvolvimento e manutenção de museus, arquivos e bibliotecas; a recuperação de sítios históricos; a restauração de obras de arte e arquitetônicas; a preservação do folclore e o patrocínio e programação de eventos e manifestações culturais. ANOS 1980 É assim com muito orgulho que a Fundação Ormeo Junqueira Botelho comemora agora em 2017 seus 30 anos de existência. Longo e produtivo tempo de atividades a partir daquele fevereiro de 1987. Na verdade, seus fundamentos já estavam sendo traçados dois anos antes, quando em 06.07.1985 foi inaugurado o Museu da Eletricidade da Companhia Força e Luz Cataguazes-Leopoldina, no mesmo espaço onde hoje se encontra o Museu Energisa. Oficialmente, o primeiro projeto realizado pela FOJB foi a criação do Museu Delmiro Gouveia, em Alagoas. Inaugurado em 20.02.1989 e hoje administrado pela Prefeitura Municipal daquela cidade, o Museu resgatou a memória do importante empreendedor alagoano. O empreendimento em Delmiro Gouveia foi o primeiro projeto cultural da Fundação fora dos limites de sua sede em Cataguases. Um passo que já significava uma tendência, uma forma de expansão que com o correr dos anos entraria no compasso normal das ações da Fundação, abrindo frentes culturais em várias localidades. Nesta etapa, Fernando Rocha, o saudoso professor de Sociologia da Universidade Federal de Viçosa, foi o responsável por transformar em realidade o Museu Delmiro Gouveia, um dos primeiros projetos a se beneficiarem dos recursos da Lei Sarney de Cultura.
ANOS 1990 Conduzida à época por Manoel Otoni Neiva, o início dos anos 1990 marcaria um tempo de ampliação das atividades da FOJB, extrapolando o campo da memória e do patrimônio. Momento significativo, indicador de rumos para a atuação em novos segmentos, foi a criação da Oficina de Artes do Museu da Eletricidade, em 1994, que iniciou suas ações com alunos inscritos em seus cursos de música, teatro e artes plásticas. Logo em seguida estabeleceu-se parceria com a Escola de Música Lila Carneiro Gonçalves, que passa a funcionar nas dependências da Fundação Ormeo Junqueira Botelho em Cataguases. Mas foi principalmente no final dos anos 1990 e início dos anos 2000 que a Fundação empreendeu uma etapa ainda de maiores dimensões, mais arrojada, voltando-se efetivamente para a produção cultural, em consonância com a expansão do Grupo Cataguazes-Leopoldina, que realizava novas aquisições de distribuidoras, participando do processo de privatização do setor elétrico brasileiro. Nesse momento e já com a minha entrada no comando da FOJB foi inaugurado em 1998 o Anfiteatro Ivan Müller Botelho, num terreno anexo ao Museu da Eletricidade da então Cia. Força e Luz Cataguazes-Leopoldina, atual Museu Energisa. Com capacidade para 250 pessoas, o Anfiteatro assinalou um tempo de grande importância na história da FOJB palco de grandes eventos musicais e teatrais com artistas de projeção nacional e uma ativa participação do público, principalmente para música instrumental, fato até então inédito na cidade. O Anfiteatro protagonizou papel fundamental ao servir como tubo de ensaio para futuros projetos da entidade. A Fundação reafirmou também nesse período seu compromisso com o aspecto do interesse público e social de sua atuação e passa a participar ainda mais fortemente de projetos com esse viés, como a restauração arquitetônica de lugares públicos históricos e projetos de natureza sociocultural. Impulsionadas por necessidades da área cultural, grandes obras foram concluídas, principalmente na cidade de Cataguases, onde se localiza a sua sede.
SÉCULO XXI No ano 2000, foi finalizada a completa restauração da Chácara Dona Catarina que até 2010 funcionou como Museu voltado para mostras de artes plásticas, num amplo universo que englobava da arte popular às mais ousadas manifestações contemporâneas. Inaugurado com a exposição do pintor e gravador Antonio Maia, o espaço do Museu Chácara Dona Catarina recebeu ao longo dos anos pintores e escultores reconhecidos nacionalmente: Amilcar de Castro, Sonia Ebling, Dnar Rocha, Antônio Poteiro, Artur Pereira, Mestre Ribeiro, além de vários artistas cataguasenses e da região. Abrigou ainda as duas edições do Salão Cataguazes-Leopoldina de Artes Visuais e grandes exposições iconográficas, como a dos 100 Anos de Carmen Santos, Os 100 anos da Companhia Força e Luz Cataguazes-Leopoldina e Cataguases Século XX. As obras de restauração na Chácara proporcionaram também a abertura e entrega à população de uma nova e ampla praça. A res publica sempre a despertar os cuidados da Fundação Ormeo Junqueira Botelho. Ainda em 2000, a reforma da antiga Caixa D água municipal deu lugar às modernas instalações do CTM, o Centro das Tradições Mineiras. Hoje denominado Pina-Ponto de Interações nas Artes em homenagem à bailarina e coreógrafa alemã Pina Baush, ali centenas de jovens e crianças das comunidades periféricas da cidade foram formados em dança, teatro, música por meio do Projeto Café com Pão Arte ConFusão. É nesse espaço que se concentram agora as atividades da Agência do Polo Audiovisual da Zona da Mata. Localidade onde o grande cineasta brasileiro Humberto Mauro realizou suas primeiras produções exibidas em Cataguases no antigo Cine-Theatro Recreio, nada mais justo que a cidade ganhasse um espaço à altura de seu nome. Inaugurado em 2002, após rigorosa reforma no prédio do antigo Cine Machado, o Centro Cultural Humberto Mauro abriu suas portas mostrando modernas instalações: a Galeria Zequinha Mauro, espaço de exposições voltado para a fotografia e manifestações audiovisuais e o novo Cine- Theatro Recreio, com capacidade para 280 pessoas, hoje denominado Sala Paulo Cezar Saraceni, em homenagem ao saudoso cineasta, grande amigo da FOJB.
A Galeria foi aberta com mostra fotográfica do próprio Zequinha Mauro, e nos anos seguintes por ali passaram exposições de grandes fotógrafos: do pioneirismo de Pedro Comello a artistas contemporâneos como Evgen Bavcar, Mariângela Chiari, Rogério de Assis, Rogério Medeiros, Walter Carvalho. O cine-teatro, por sua vez, recebeu vários shows musicais de renomados artistas do cenário nacional de Guinga a Yamandu Costa, de Maria Alcina a Maria Lúcia Godoy, de Elton Medeiros a Hamilton de Hollanda, palestras com escritores do porte de Alcione Araújo, Luis Fernando Veríssimo, Marina Colasanti, Zuenir Ventura e um grande número de peças teatrais e de dança contemporânea, além da exibição de filmes de várias nacionalidades. O ano de 2002 seria ainda marcado pela inauguração de duas novas obras de arte a céu aberto, da maior importância para Cataguases o Monumento a Humberto Mauro, uma escultura de grandes dimensões realizada pelo renomado artista Amilcar de Castro e instalada na avenida cujo nome homenageia o cineasta; e, na Praça da Chácara Dona Catarina, a escultura Violeta, de Sonia Ebling, escolhida em processo de votação popular promovido pela Fundação. Esses trabalhos representaram a retomada de uma tradição cataguasense em abrigar obras de arte colocadas no espaço público, que vem dos anos 1940/1950. USINAS CULTURAIS Afora essas realizações em sua sede de Cataguases, a Fundação passa a se fazer presente em várias outras cidades da área de atuação do Sistema Cataguazes-Leopoldina. Essas atividades realizaram-se por meio do projeto Usinas Culturais, que consistia na parceria com instituições como prefeituras, ongs e instituições culturais que recebiam programas de fruição e difusão artística com curadoria da FOJB e financiamento da empresa. De início, a Fundação levou apresentações culturais a essas cidades e, aos poucos, foi incentivando em paralelo a produção local. A primeira dessas Usinas data de 1999 e foi formada a partir do núcleo inicial de Cataguases. A seguir, surgiram as Usinas Culturais de Leopoldina, Muriaé, Manhuaçu, Rio Novo, Nova Friburgo, Ubá e Guarani, além da unidade de João Pessoa no estado da Paraíba. Instalada em uma estrutura excepcional, a Usina Cultural de João Pessoa é um espaço privilegiado no coração da capital paraibana. Ali são realizadas inúmeras
e é onde funciona também o Espaço Energia, um complexo didático e interativo sobre o uso da energia, voltado principalmente para a comunidade escolar. Bom lembrar que projetos culturais destinados à comunidade escolar um dos mais importantes trabalhos da Fundação ganharam grande reforço quando em 07/08/2009 foi inaugurada em Leopoldina a Casa de Leitura Lya Maria Junqueira Botelho, no imóvel projetado por Ormeo Junqueira Botelho, e que lhe serviu de residência por mais de 50 anos a ele, à sua esposa Dora Müller Botelho e a seus filhos. Além de biblioteca, a Casa de Leitura funciona como espaço expositivo didático. Ali, temas que fazem parte da grade curricular das escolas ganham um tratamento especial em exposições cenográficas e interativas, atraindo enorme público. MEMORIAL E CINEPORT A Fundação Ormeo Junqueira Botelho sempre se pautou pelo compromisso com os legados culturais recebidos. Em 2007, inaugurou-se no segundo pavimento do Centro Cultural o Memorial Humberto Mauro após ter a Fundação adquirido o acervo do cineasta e realizado extensa pesquisa nos arquivos de várias entidades. Espaço multimídia dedicado à memória do grande pioneiro, o Memorial proporciona ao visitante um movimentado passeio pelo mundo do realizador e sua história, que é a própria história do cinema brasileiro. Mauro projetou o nome de Cataguases, ao fazer uma arte com características de exportação, ampliando os horizontes municipais. Nada mais justo que se projete agora na cidade o seu nome, e com todas as honras. Humberto Mauro remete de imediato a cinema. Tanto a inauguração do Centro Cultural, que trouxe a Cataguases o primeiro time de nossos cineastas, quanto as pesquisas para o Memorial, acabaram por conduzir o foco da Fundação para nova e fascinante atividade. A ideia de se realizar um festival de cinema na cidade foi sendo repensada e seu formato desenhando-se aos poucos, até que se estruturasse como um grande festival que congregasse as cinematografias dos países que têm o português como língua oficial. A Fundação fez desse projeto um ponto prioritário entre suas múltiplas atividades.
O nome? Cineport-Festival de Cinema de Países de Língua Portuguesa. O cinema e a língua portuguesa, duas linhas mestras, duas vertentes básicas quando se fala em Cataguases tradição vinda da modernista Revista Verde, editada nos anos 1920, e da cinematografia de Humberto Mauro e que acabou por se fundir num só evento fundador, voltado para imagens de um cinema que se expressa em língua portuguesa. Tendo sua estreia realizada em Cataguases em 2005, o Cineport realizou seis bem sucedidas edições: uma delas em Portugal, na cidade de Lagos, e as quatro outras em João Pessoa, na Paraíba, área de concessão da Energisa. VER E FAZER: POLO AUDIOVISUAL Três anos mais tarde a Fundação Ormeo Junqueira Botelho possibilita a Cataguases protagonizar outro evento cinematográfico inédito no país, o Festival Ver e Fazer Filmes, que teve sua primeira edição realizada em dezembro de 2008, abrangendo dois eixos: a produção e a difusão. Ao mesmo tempo em que promove mostra de filmes de conceituados cineastas nacionais e internacionais, o Festival oferece a jovens estudantes da área audiovisual do Brasil e de Portugal e de nações africanas da CPLP-Comunidade dos Países de Língua Portuguesa a oportunidade de realização de um curta-metragem com uma super estrutura profissional. Co-produzido pela FOJB, pelo Instituto Cidade de Cataguases e Fábrica do Futuro, o Festival Ver e Fazer Filmes já se encontra em sua 5ª edição. A Fundação aposta sempre na ousadia e inventividade, parâmetros que movimentam e impulsionam qualitativamente as realizações artísticas. Busca também caminhos para protagonizar no interior brasileiro e em estados periféricos do Brasil uma autêntica e prolífica produção cultural com essa marca, que já é sua tradição. Foi assim, inspirada pela ideia de cultura e desenvolvimento econômico, que a partir de 2010 a FOJB passa a concentrar seus esforços na implementação do Polo Audiovisual da Zona da Mata. Ao mesmo tempo em que desenha um planejamento estratégico do arranjo produtivo local e tendo sempre a Energisa como grande parceira e incentivadora, o Polo Audiovisual passa a atrair grandes produções cinematográficas para região, realiza uma série de formações para o setor audiovisual por meio de oficinas e workshops, e estabelece parcerias estratégicas com governos e instituições com o objetivo de dotar
estabelece parcerias estratégicas com governos e instituições com o objetivo de dotar a Zona da Mata de infraestrutura para atuação no setor audiovisual. Esse conjunto de ações relacionadas à implementação do Polo Audiovisual cada vez mais se solidifica, com resultados, alcance e impacto mensuráveis de imediato, tornando-se a nova grande onda de transformações da vida cultural da região proporcionada pela Fundação Ormeo Junqueira Botelho. Informar para formar. Formar para transformar. Essa é a bandeira abraçada pela Fundação, que leva e procura sempre honrar o nome de seu patrono, o engenheiro civil que presidiu por quase seis décadas a Companhia Força e Luz Cataguazes-Leopoldina. Dignidade, arrojo, dedicação são palavras pequenas para dar idéia da grandeza de meu avô Ormeo Junqueira Botelho. Ex-presidente do Instituto Brasileiro do Café, ele foi eleito Deputado Federal por Minas Gerais em 1962. Ardoroso defensor do meio-ambiente, precursor do pensar preservacionista, teve destacada atuação na Câmara, projetando seu nome no cenário nacional. O Doutor Ormeo, como era conhecido, sempre procurou descomplicar a existência com as lições mais simples do cotidiano, e entender a magnitude do outro, a grandeza de todo ser humano. Citava sempre Santo Agostinho: Nada merece ser feito, mesmo que bem feito, se a alma não estiver no feito. Espirituoso, era um otimista que sabia articular frases perfeitas para os momentos certos: Todos procuram em nós a experiência da vida, quando o melhor que temos para dar é a essência de viver. Ensinamentos que a Fundação Ormeo Junqueira Botelho procura preservar e levar adiante por meio da apaixonada dedicação de dezenas de colaboradores com quem tive a honra de trabalhar na construção de um novo legado. O que sempre procuramos fazer bem feito e sempre colocando a alma em nossos feitos.