Monitoramento do desmatamento e seus impactos nas mudanças climáticas

Documentos relacionados
ESTIMATIVA DE TEMPERATURA DA SUPERFÍCIE TERRESTRE UTILIZANDO DADOS DE NOAA AVHRR* RESUMO

V SIGA Ciência (Simpósio Científico de Gestão Ambiental) V Realizado dias 20 e 21 de agosto de 2016 na ESALQ-USP, Piracicaba-SP.

Aplicação de redes neurais artificiais para estimativa de produção florestal utilizando imagens Landsat 7

Allan Arantes PEREIRA 1 ; Thomaz Alvisi de OLIVEIRA 1 ; Mireile Reis dos SANTOS 1 ; Jane Piton Serra SANCHES 1

DETERMINAÇÃO DO ÍNDICE DE VEGETAÇÃO ATRAVÉS DE IMAGENS METEOSAT-8

CLASSIFICAÇÃO PIXEL A PIXEL DE CULTIVOS CAFEEIROS EM IMAGEM DE SATÉLITE DE ALTA RESOLUÇÃO

Avaliação de métodos de classificação para o mapeamento de remanescentes florestais a partir de imagens HRC/CBERS

ARTIGO COM APRESENTAÇÃO BANNER - MONITORAMENTO AMBIENTAL

Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais Ministério da Ciência e Tecnologia

ANÁLISE DA DINÂMICA DA COBERTURA VEGETAL ATRAVÉS DOS ÍNDICES DE VEGETAÇÃO NDVI E SAVI NA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DAS ONÇAS-PB

Aplicação das imagens do satélite meteorológico NOAA-AVHRR para o mapeamento da cobertura vegetal do estado de Minas Gerais

COMPARAÇÃO ENTRE OS MÉTODOS DE CLASSIFICAÇÃO SUPERVISIONADA MAXVER E DISTÂNCIA MÍNIMA NA ANÁLISE DO USO E COBERTURA DO SOLO NA REGIÃO DO ALTO ARAGUAIA

Análise Temporal De Uso/Cobertura Do Solo Na Bacia Da Represa Do Rio Salinas, Minas Gerais

Avaliação de métodos de classificação de imagens IKONOS para o mapeamento da cobertura terrestre

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Amazônia Oriental Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

ANÁLISE TEMPORAL DO USO DA TERRA UTILIZANDO ÍNDICES VEGETATIVOS NA CHAPADA DO APODI CE

PROCESSAMENTO E CLASSIFICAÇÃO DE IMAGENS DE SATÉLITE PARA CARACTERIZAÇÃO DE USOS DO SOLO

Variabilidade da Precipitação Pluviométrica no Estado do Amapá

Impacto de desmatamento na mudança climática regional via satélites

Área verde por habitante na cidade de Santa Cruz do Sul, RS

MONITORAMENTO METEOROLÓGICO-ESPECTRAL DE CULTURAS AGRÍCOLAS POR MEIO DE PERFIS TEMPORAIS

Dinâmica das Áreas de Vegetação do município de Cândido Sales

VARIABILIDADE DO NDVI NA BACIA DO RIO TRUSSU CEARÁ

INFLUÊNCIA DA VARIABILIDADE DA PRECIPITAÇÃO NA RESPOSTA DA VEGETAÇÃO EM SÃO JOÃO DEL-REI

Roteiro Detecção de informações usando satélites Produtos oriundos de Imagens NOAA Índice de vegetação como indicador de respostas das plantas às cond

Mudanças Climáticas e Modelagem Ambiental

DETERMINAÇÃO DO RISCO DE INCÊNDIOS NO MUNICÍPIO DE VIÇOSA-MG, UTILIZANDO SISTEMA DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA E ÍNDICE CLIMÁTICO.

Land cover change and soil loss susceptibility: The case of Curuá-Una river basin, PA

ESTIMATIVA DO ALBEDO E TEMPERATURA DE SUPERFÍCIE UTILIZANDO IMAGENS ORBITAIS PARA O MUNICÍPIO DE BARRA BONITA SP

UTILIZAÇÃO DE ÍNDICE DE VEGETAÇÃO PARA ÁREAS PRÓXIMAS AO RESERVATÓRIO EPITÁCIO PESSOA DURANTE PERÍODO DE CRISE HÍDRICA ( )

USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NO RIO PARAGUAI SUPERIOR USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NO RIO PARAGUAI SUPERIOR. GROSSA

Avaliação de algoritmos de classificação supervisionada para imagens do Cbers-2 da Região do Parque Estadual do Rio Doce-MG

ANÁLISE DA VARIAÇÃO DA RESPOSTA ESPECTRAL DA VEGETAÇÃO DO BIOMA PAMPA, FRENTE ÀS VARIAÇÕES DA FENOLOGIA

Avaliação do Processo de Desertificação em Ouricuri-PE Através de Estimativas de Tendência de Séries Temporais

Período: 5 Carga Horária: 45 horas. UFPR Departamento de Geomática Prof. Jorge Centeno 2013 centenet

GERAÇÃO DE UMA CARTA COM VALORES DE ESCOAMENTO SUPERFICIAL A PARTIR DE SENSORIAMENTO REMOTO

Anais 1º Simpósio de Geotecnologias no Pantanal, Campo Grande, Brasil, novembro 2006, Embrapa Informática Agropecuária/INPE, p

10º ENTEC Encontro de Tecnologia: 28 de novembro a 3 de dezembro de 2016

SANTANA, F. F.²; PREVIERO, C. A.³

Estudos de tendências de índices de precipitação sobre o estado da Bahia

Análise temporal da microbacia Mariana no município de Alta Floresta, Mato Grosso

ANÁLISE DE ÍNDICES DE VEGETAÇÃO NA GESTÃO DE IMAGENS CAPTURADAS POR DRONES

COMPARATIVO ESTATÍSTICO MULTITEMPORAL ENTRE ACP E NDVI NA DETECÇÃO DE SUPRESSÃO DA VEGETAÇÃO EM IMAGENS LANDSAT 5 TM

O FENÔMENO ENOS E A TEMPERATURA NO BRASIL

PROGRAMA DE MONITORAMENTO DE QUEIMADAS E PREVENÇÃO DE CONTROLE DE INCÊNDIOS FLORESTAIS NO ARCO DO DESFLORESTAMENTO NA AMAZÔNIA (PROARCO)

DETECÇÃO DE MUDANÇAS DO SOLO E DA VEGETAÇÃO NO SEMIÁRIDO PERNAMBUCANO

Eixo Temático: Inovação e Sustentabilidade em Diferentes Setores ANÁLISE DOS EXTREMOS DE TEMPERATURA PARA PORTO ALEGRE-RS

INTERLIGAÇÃO ENTRE ÍNDICE DE VEGETAÇÃO DERIVADO DO SATÉLITE NOAA E PRECIPITAÇÕES NO ESTADO DA PARAÍBA

Caracterização de anos secos e chuvosos no Alto do Bacia Ipanema utilizando o método dos quantis.

ANÁLISE DO ÍNDICE DE VEGETACAO SAZONAL PADRONIZADO A PARTIR DE IMAGENS DO SPOT VEGETATION E ESTIMATIVAS DE PRECIPITAÇÃO PADRONIZADA DO TRMM

USO E OCUPAÇÃO DO SOLO DE UM RESERVATÓRIO DE ABASTECIMENTO EM PERÍODOS DE SECA E CHEIA NO SEMIÁRIDO TROPICAL

ARTIGO COM APRESENTAÇÃO ORAL - GEOPROCESSAMENTO


USO E OCUPAÇÃO DA TERRA NO MUNICÍPIO DE ITUIUTABA- MG ATRAVÉS DAS TÉCNICAS DE SENSORIAMENTO REMOTO E GEOPROCESSAMENTO

Alterações no padrão de cobertura da terra na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro/RJ nos anos de 1985 e DOMINIQUE PIRES SILVA

CLASSIFICAÇÃO SUPERVISIONADA EM IMAGEM ALOS PARA O MAPEAMENTO DE ARROZ IRRIGADO NO MUNICÍPIO DE MASSARANDUBA SC

Mapeamento do uso da terra baseado em imagem Ikonos II com a utilização de algoritmos classificadores por pixels e por regiões

Dinâmica da paisagem e seus impactos em uma Floresta Urbana no Nordeste do Brasil

COMPARAÇÃO ENTRE ÍNDICES DE VEGETAÇÃO EM IMAGEM LANDSAT 5 TM. Josilhane Da Silva¹, Thays Marcela Hamulak², Selma Regina Aranha Ribeiro³.

7 Agrometeorologia. Janice Freitas Leivas Antônio Heriberto de Castro Teixeira Ricardo Guimarães Andrade

CLASSIFICAÇÃO PRELIMINAR DE PASTAGENS DEGRADADAS EM MICROBACIAS DA REGIÃO DE GUARARAPES-SP

UTILIZAÇÃO DE IMAGENS DO SATELITE CBERS-4 E LINGUAGEM PYTHON PARA DETERMINAÇÃO DO ÍNDICES DE VEGETAÇÃO NDVI E SAVI

MONITORAMENTO BIOCLIMÁTICO UTILIZANDO IVDN E TEMPERATURA DE SUPERFÍCIE Edson Kassar 1, Willian Tse Horng Liu 2 RESUMO

Índice de vegetação espectral e sua relação com a estiagem agrícola em áreas cafeeiras no município de Três Pontas, Minas Gerais

XII Congresso Brasileiro de Meteorologia, Foz de Iguaçu-PR, 2002

Análise de Risco em Sistemas de Informações Geográficas Aplicada ao Zoneamento Agroclimatológico de Culturas: Resultados Preliminares

COMPARAÇÃO DE DIFERENTES CLASSIFICADORES E ESTRATÉGIAS DE PÓS-CLASSIFICAÇÕES NA ANALISE DO USO E COBERTURA DO SOLO NO MUNICÍPIO DE VIÇOSA - MG

4 Método Proposto CR AD PA NDVI Descrição geral do modelo

CLASSIFICAÇÃO PIXEL A PIXEL SUPERVISIONADA EM IMAGEM DE SATÉLITE SÃO SEBASTIÃO DO PARAISO (MG)

Classificação digital de Imagens

17 e 18 de Maio de 2012 Escola Superior Agrária Instituto Politécnico de Castelo Branco

Índice de vegetação em clone de seringueira antes da desfolha natural Vegetation Index in rubber clone before natural defoliation

XIX CONGRESSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFLA 27 de setembro a 01 de outubro de 2010

ESTUDO DA VARIAÇÃO DE NDVI DA MATA ATLÂNTICA NO LITORAL NORTE DE PERNAMBUCO

MAPEAMENTO DO USO E COBERTURA DO SOLO DE DOIS VIZINHOS-PR NOS ANOS DE 1984 E 2011 ATRAVÉS DE IMAGENS ORBITAIS TM/LANDSAT 5

XXIX CONGRESSO NACIONAL DE MILHO E SORGO - Águas de Lindóia - 26 a 30 de Agosto de 2012

Uso de SIG para confecção de um mapa de uso e ocupação do solo do município de Bambuí-MG

10264 MODELAGEM ESPACIAL DA EVAPOTRANSPIRAÇÃO EM AGROECOSSISTEMA DO SISTEMA AQUÍFERO BAURU

Vinícius Emmel Martins 2, Dieison Morozoli Da Silva 3, Sidnei Luís Bohn Gass 4

ESTIMATIVA DA TEMPERATURA DE SUPERFÍCIE TERRESTRE COM IMAGENS AVHRR/NOAA LAND SURFACE TEMPERATURE ESTIMATIVE WITH AVHRR/NOAA IMAGES

II Semana de Geografia UNESP / Ourinhos 29 de Maio a 02 de Junho de 2006

Estudo da evolução da fragmentação em Floresta Estacional Decidual após 22 anos utilizando métricas de paisagem

SIMULAÇÃO DE BANDAS DO SENSOR MSI/SENTINEL-2 EM LAGOS DA AMAZÔNIA E RIO GRANDE DO SUL

O USO DAS IMAGENS DO SATÉLITE ASTER GDEM PARA ESTIMATIVA DA TEMPERATURA DO AR EM SUPERFÍCIE

Utilização de subtração de imagem e NDVI na avaliação da cobertura vegetal na RPPN Cafundó, Cachoeiro de Itapemirim, ES.

ANÁLISE ESPAÇO-TEMPORAL DO CULTIVO DE MILHO EM SERGIPE, COM AUXÍLIO DE NDVI/EVI- SENSOR MODIS, NO PERÍODO DE

SISTEMA DE DETECÇÃO DE DESMATAMENTO E ALTERAÇÕES TEMPO QUASE REAL

LEVANTAMENTO DE ÁREAS AGRÍCOLAS DEGRADADAS NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

MONITORAMENTO DA COBERTURA FLORESTAL DA AMAZÔNIA BRASILEIRA POR SATÉLITES

EXPANSÃO AGROPECUÁRIA NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO AREIAS, TOCANTINS.

IMAGENS DIGITAIS APLICADAS PARA DETERMINAÇÃO DE ÁREAS AGRÍCOLAS ATRAVÉS DO CLASSIFICADOR BAYES

ANÁLISE DOS ÍNDICES NDVI E SAVI DA MICRORREGIÃO DE ITAPARICA LIMÍTROFE AO RIO SÃO FRANCISCO ESTIMADOS POR SENSORIAMENTO REMOTO

Extração de cicatrizes de movimentos de massa na região de Cubatão SP por meio de técnicas de Interpretação de Imagens

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO DEPARTAMENTO DE PESQUISA RELATÓRIO TÉCNICO - CIENTÍFICO (X) PARCIAL ( ) FINAL

APLICAÇÃO DO ÍNDICE DE VEGETAÇÃO NDVI (NORMALIZED DIFFERENCE VEGETATION INDEX) NO PARQUE ESTADUAL MATA DA PIMENTEIRA, SEMIÁRIDO PERNAMBUCANO.

DETERMINAÇÃO DAS ÁREAS CAFEEIRAS ATRAVÉS DA ANALISE MULTI - TEMPORAL DE IMAGENS DE SATELITE, DE 1997 E 1999.

processos de formação e suas inter-relações com o ambiente. As diversas combinações de fatores (clima, relevo,

Uso de imagens ASTER para o mapeamento do uso e cobertura da terra na bacia hidrográfica do rio São Domingos, RJ.

MONITORAMENTO DA COBERTURA FLORESTAL DA AMAZÔNIA BRASILEIRA POR SATÉLITES

SENSORIAMENTO REMOTO INTRODUÇÃO E ÍNDICES DE VEGETAÇÃO

Transcrição:

Monitoramento do desmatamento e seus impactos nas mudanças climáticas na bacia do Rio Turvo Sujo Tatiane Assis Vilela 1 Taís Virgínia Gottardo 1 William Tse Horng Liu 1 Carlos Antônio Oliveira Vieira 1 1 Universidade Federal de Viçosa - UFV Departamento de Engenharia Civil - DEC Setor de Engenharia de Agrimensura, Viçosa - MG {tatianeavilela, taisvgottardo}@yahoo.com.br {will_liu, carlos.vieira}@ufv.br Abstract. The paper investigates the impacts of deforestation on regional climatic changes of the TurvoSujo River Basin, MG during the past 23 years. Landsat images of 1984, 1990, 2000 and 2007 were used to calculate the deforestation rate. Annual NDVI data ( Normalized Difference Vegetation Index ) for the period of 1984 to 2007 generated from NOAA satellites were used to calculate deforestation tendency. This tendency was compared to temporal evolution of temperature and precipitation to investigate the impacts of deforestation on local climate changes. The results slowed that vegetative area increased from 20.76% in 1984 to 24.4% in 1900, 29.56% in 2000 and 23.87% in 2007. It indicated that the studied basin was under reforestation during the years before 2000 and deforestation and land degradation afterward. From the temporal evolution analysis, it was observed that NDVI was closed related to precipitation but related inversely to temperature. From the tendency analysis of NDVI, precipitation and temperature, it was observed that NDVI increased slightly from 6.60 to 6.64, precipitation from 1200 mm to 1220 mm and temperature from 19.6 C to 20.5 C. It is concluded that a time series of annual NDVI generated from the NOAA satellites provides us an important source to investigate the deforestation impacts on regional climatic changes as well as the reforestation effects on minimizing local climatic changes. It is suggested that suitable actions of reforestation and natural resources management should be taken to reverse the current tendency of temperature increase in the Basin. Palavras-chaves: NDVI, Land Degradation, Multitemporal Analysis, Índices de Vegetação, Degradação do Solo, Análise Multitemporal. 1. Introdução As vegetações e florestas nativas exercem uma função importante na diminuição da amplitude diária da temperatura através da evapotranspiração e na retenção de umidade de água no solo pelas raízes profundas em uma determinada região. Precipitação e temperatura são os dois parâmetros freqüentemente usados para monitorar a tendência da mudança climática de uma determinada região. Os usos inadequados dos recursos naturais e os desmatamentos não controlados das florestas tropicais e subtropicais resultam na aceleração da desertificação e nas mudanças de microclima. As imagens digitais dos satélites ambientais podem ser usadas para o monitoramento das evoluções dinâmicas de usos do solo, dos ecossistemas e dos eventos catastróficos da superfície terrestre. Gallego (2004) resumiu que as imagens geradas pelos satélites podem ser usadas para estimar as áreas de usos do solo de três maneiras: a) identificação, classificação, delineamento e estimativa das áreas ocupadas pelas várias classes de usos do solo baseadas nas imagens de satélites. Os dados de observações na superfície terrestre são usados para treinamento no processo da classificação, validação dos métodos de classificação e análise dos pixels de mistura; 1597

b) as imagens de satélites podem auxiliar o levantamento das amostras de várias maneiras, incluindo: definição das unidades das amostras, estratificação das amostras, documentação gráfica para o levantamento e o controle de qualidade da coleta de dados em campo; c) as técnicas de regressão estatística, os softwares utilizados nas análises de imagem e os Sistemas de Informações Geográficas (SIG) podem ser aplicados para monitorar e prever as evoluções espaciais e temporais da superfície, combinando as informações de imagens de satélites com as obtidas por meio de levantamentos em campo. Coppin et al. (2004) apresentaram uma revisão dos métodos de detecção das evoluções dinâmicas dos ecossistemas. Apontaram também que as técnicas baseadas nos dados multitemporais e multiespectrais, adquiridos pelos satélites, demonstraram alto potencial na identificação, classificação, delineamento, mapeamento e detecção das evoluções de usos do solo. Congalton (1991) inferiu que dado à complexidade das imagens classificadas utilizando o sensoriamento remoto, há uma necessidade de se avaliar a confiabilidade espacial dos resultados. Uma das formas de se avaliar a classificação é através do índice Kappa. Valores mais próximos de 1, obtidos com esse índice, inferem melhor desempenho do processo de classificação. A Equação (1) mostra como o Kappa pode ser obtido. Valores de Kappa maiores que 0,7 são considerados satisfatórios. (1) Em que: r é o número de linhas ou colunas da matriz de confusão; xii é o número de observações dos elementos da diagonal da matriz; corresponde ao número total de observações. é a soma dos valores da linha i ; é a soma dos valores da coluna i ; Rouse et al. (1973) apresentaram um índice de vegetação, chamado NDVI ( ormalized Difference Vegetation Index ), para inferir o grau de verde da superfície terrestre ocupada pela vegetação. O NDVI é calculado pela Equação (2) a seguir: NDVI = (NIR-VIS)/(NIR+VIS) (2) Em que: NDVI = ormalized Difference Vegetation Index; NIR = Banda do infravermelho próximo (a banda 2 de 0,725 1,10 µm, satélite da série NOAA); VIS = Banda do Visível (a banda 1 de 0,550 0,680 µm, satélite da série NOAA). Segundo Rouse et al. (1973) maiores valores de NDVI referem-se a um grau de verde mais elevado e em conseqüência, em maior densidade de vegetação. Para o monitoramento 1598

dos impactos de desmatamento nas mudanças climáticas, é necessário investigar a taxa de desmatamento inferido pelo NDVI e as tendências de variabilidade de temperatura e de precipitação em um longo período do tempo. Liu et al. (2005a) apresentaram um estudo de impactos de desmatamento nas mudanças climáticas do município de Terenos, Estado do Mato Grosso do Sul durante o período de 1981 a 2005 usando os dados anuais de temperatura, precipitação e NDVI. Os resultados mostraram que o desmatamento aumentou de 32% para 65%, a temperatura média anual aumentou de 22,5 para 24,6 C e a precipitação total anual diminuiu de 1.500 mm para 1.250 mm. Assim, evidenciando que os usos impróprios do solo e os manejos inadequados dos recursos naturais resultam na degradação dos recursos ambientais e conseqüentemente causam mudanças climáticas regionais, e que muitas das degradações ambientais são causadas pelos conflitos de interesse e pelas negligências dos seus exploradores, procurou-se direcionar este estudo de forma a investigar as causas e resultados dos desmatamentos ocorridos no passado, bem como seus impactos nos recursos naturais e nas mudanças climáticas regionais, utilizando para isso dados de sensoriamento remoto. 2. Materiais e Métodos 2.1 Caracterização da Área de Estudo A bacia hidrográfica do Rio Turvo Sujo possui área total de 406,44 km 2 e pertence à bacia hidrográfica do Rio Doce. Esta bacia está compreendida entre as coordenadas geográficas 42 o 40 e 43 o 00 de longitude oeste e 20 o 39 e 20 o 55 de latitude sul, abrangendo parte dos municípios de Viçosa, Cajurí, Coimbra e Teixeiras, no Estado de Minas Gerais (Figura 1). Figura 1. Área de estudo: bacia do Rio Turvo Sujo e os municípios localizados nesta bacia. 2.1.1 Usos do solo e cobertura vegetal A bacia hidrográfica do Rio Turvo Sujo foi originalmente coberta por Mata Atlântica, hoje suas matas correspondem a uma vegetação que sofreu influência antropológica intensa, constituindo-se em vegetação secundária. Os solos da bacia são em grande parte cobertos por pastos e capoeiras, demonstrando a predominância da atividade pecuária. Os campos e áreas cultivadas apresentam-se em menores proporções. Devido às características dos solos da bacia do Rio Turvo Sujo e aos manejos inadequados, a erosão está se tornado um problema ambiental na região. 1599

2.2 Coleta dos dados Meteorológicos e os de Satélites Os dados meteorológicos foram coletados diretamente da estação meteorológica de Viçosa, durante o período de 1984 a 2007. Os dados anuais de precipitação e temperatura foram usados para investigar as tendências de mudanças climáticas regionais, utilizando para isso regressão linear e os softwares SAS e Excel. As imagens digitais do satélite Landsat adquiridas nos dias de 17/06/1984, 15/07/1990, 27/06/2000 02/08/2007 foram utilizadas na evolução do desmatamento durante os 22 anos passados. Os dados de NDVI gerados com os dados do NOAA AVHRR GAC ( ational Oceanic and Atmospheric Administration, Advanced Very High Resolution Radiometers, Global Área Coverage ) com uma resolução espacial de 4 km foram adquiridos para investigar a evolução da cobertura vegetativa da bacia em estudo. 2.3 Classificação e delineamento das áreas de Vegetação e Sem Vegetação Usando as imagens digitais do satélite Landsat O classificador Redes Neurais do software IDRISI disponível no Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal de Viçosa foi utilizado para classificar e delinear as duas classes: áreas com cobertura vegetal e áreas sem cobertura vegetal e calcular as porcentagens das áreas com e sem vegetação. Inicialmente as imagens foram registradas e então recortadas com o limite da bacia. A partir de visitas em campo foram identificadas amostras de áreas com vegetação e de áreas sem cobertura vegetal, essas amostras foram utilizadas como referência durante o processo de classificação. Uma rede neural artificial foi então treinada atribuindo ao classificador uma camada de neurônios ocultos variando de três a trinta neurônios. Variou-se também a taxa de aprendizado iniciando com o maior valor, igual a 0,2 e baixando pra 0,1 e por fim 0,075. Utilizou um valor de momentum constante e igual a 0,9. A partir das classificações foi estimada a evolução da taxa do desmatamento baseada nas porcentagens das áreas com vegetação e sem vegetação. 2.4 Investigação dos Impactos do Desmatamento nas Mudanças Climáticas A evolução temporal da taxa de desmatamento em porcentagem obtida com as imagens do Landsat foi comparada com a tendência da diminuição da cobertura vegetal inferida pelo NDVI anual durante o período de 1984 a 2007 a fim de confirmar que a evolução temporal deste índice é uma fonte importante para inferir a tendência do desmatamento. Foram Comparadas as tendências positivas ou negativas dos fatores climáticos, incluindo temperatura e precipitação, tendências da evolução temporal de NDVI e da evolução da porcentagem do desmatamento para investigar os impactos das mudanças climáticas na bacia em estudo. 3. Resultados e Discussões A Figura 2 mostra as imagens do Landsat (Figura 2a, 2b), as obtidas após a classificação (Figura 2c e 2d) e as imagens de NDVI anual geradas com os dados de NOAA AVHRR GAC (Figura 2e e 2f). As Figuras 2a e 2b apresentam as duas imagens originais adquiridas nos anos 1984 e 2000. A partir da utilização de Redes Neurais e das bandas 3, 4 e 5 das imagens Landsat, foram geradas as imagens classificadas. Os valores de Kappa obtidos a partir das classificações das 4 imagens foram iguais a 0,72, 0,82, 0,86 e 0,92 para o ano 1984, 1990, 2000 e 2007 respectivamente. Esses valores de Kappa foram considerados satisfatórios. 1600

As Figuras 2c e 2d apresentam as imagens classificadas para 1984 e 2000. A Tabela 1 mostra os resultados das áreas com e sem vegetação e suas porcentagens referentes a área em estudo. Foram observadas que a evolução da área de vegetação aumentou de 20,76% no ano 1984, para 24,84% em 1990 alcançando 29,56% em 2000 e diminuindo para 23,87% no ano de 2007. Estes dados indicaram aumento do reflorestamento durante o período de 1984 a 2000 e uma tendência de desaceleração após 2000. Vale ressaltar que restam somente cerca de 30% da área da bacia ocupada por vegetação desde o ano 1984. Considerando que a região é montanhosa e que a topografia é caracterizada como ondulada e fortemente ondulada, e que existe pouca área ocupada por vegetação nativa e florestal, a bacia pode apresentar maior vulnerabilidade a degradação do solo. Tabela 1. Áreas de vegetação e sem vegetação e suas respectivas porcentagens para bacia do Rio Turvo Sujo classificadas pelas imagens Landsat adquiridas nos dias de 17/06/1984, 15/07/1990, 27/06/2000 e 02/08/2007 Ano / porcentagem 1984 % 1990 % 2000 % 2007 % Área com 84,39 20,76 100,95 24,84 120,16 29,56 97,03 23,87 vegetação (ha) Área sem vegetação (ha) 322,05 79,24 305,49 75,16 286,28 70,44 309,41 76,13 Foram gerados também, a partir das bandas 3 e 4, os dados de NDVI anual para o período de 1984 a 2007. As Figuras 2e e 2f apresentam as imagens de NDVI dos anos de 1984 e 2000. Baseado nas comparações entre as imagens classificadas (Figura 2c e 2d) e entre as imagens de NDVI geradas com os dados NOAA AVHRR GAC (Figura 2e e 2f), observouse que as imagens de NDVI representam bem as classes de vegetação e sem vegetação. Observou-se também que as áreas mais verdes na parte esquerda superior e na parte central das Figuras 2a e 2b coincidiram bem com as áreas mais verdes nas mesmas partes das Figuras 2c e 2d. Portanto, a evolução anual da taxa de desmatamento, ou seja, da porcentagem de vegetação, pode ser inferida pela imagem de NDVI ao invés de imagens do Landsat, uma vez que estas requerem mais tempo de processamento dos dados. Figura 2a. Imagem composta do Landsat R/G/B 3/4/5 do ano 1984 da bacia do Rio Turvo Sujo. Figura 2b. Imagem composta do Landsat R/G/B 3/4/5 do ano 2000 da bacia do Rio Turvo Sujo. 1601

Figura 2c. Imagem Classificada do ano 1984 referente à bacia do Rio Turvo Sujo. Figura 2d. Imagem Classificada do ano 2000 referente à bacia do Rio Turvo Sujo. Figura 2e. NDVI do ano 1984 referente à bacia do Rio Turvo Sujo. Figura 2f. NDVI do ano 2000 referente à bacia do Rio Turvo Sujo. A Figura 3 apresenta a comparação entre a tendência e a evolução temporal de NDVI (a), Temperatura (b) e Precipitação (c) para a bacia do Rio Turvo Sujo, MG durante o período de 1984 a 2007. As tendências mostram que o NDVI anual aumentou de 6,60 para 6,74 durante o período de 1984 a 2007 (Figura 3a), a temperatura media anual aumentou de 19,6 C para 20,5 C (Figura 3b) e precipitação total anual aumentou de 1198 mm para 1251 mm. Comparando as evoluções de NDVI, temperatura e precipitação na Figura 3, foi observado que a variação anual de NDVI acompanhou bem a evolução da precipitação e afetou a temperatura em sentido contrário. A diminuição do NDVI após o ano de 2000 coincidiu com o aumento da temperatura e com uma instabilidade na precipitação que apresentou seu maior valor, nesta série, no ano de 2004 e seu menor valor no ano de 2007. Isto significa que houve um processo de reflorestamento nas décadas de 80 e 90 na Bacia do Rio Turvo Sujo alem de um manejo inadequado de usos do solo após o ano de 2000. Os dados demonstraram que o clima da Bacia em estudo respondeu bem aos atos de reflorestamento e desmatamento. 1602

Figura 3. Comparação das tendências das evoluções temporais de NDVI anual (a), Temperatura media anual (b) e Precipitação total anual (c) para a bacia do Rio Turvo Sujo MG durante o período de 1984 a 2007. 4. Conclusão A evolução do NDVI anual inferiu bem as áreas de vegetação e sem vegetação classificadas pelas imagens Landsat. A taxa de desmatamento inferida pela diminuição de 1603

NDVI anual indicou de forma satisfatória os impactos das mudanças climáticas da Bacia do Rio Turvo Sujo. O processo de reflorestamento apresentado pelo NDVI anual resultou em dados de precipitação anual e de temperatura média anual mais estáveis. Portanto, concluiu-se que os dados históricos de séries longas de NDVI gerados com os dados de satélites da série NOAA fornecem uma fonte importante para investigar os impactos dos desmatamentos e avaliar os benefícios dos reflorestamentos nas mudanças climáticas regionais. Sugerindo-se que ações adequadas no reflorestamento e na preservação dos recursos ambientais devem ser tomadas na Bacia do Rio Turvo Sujo para inverter a tendência de aumentar a temperatura e diminuir a precipitação após 2000. 5. Agradecimentos Agradecimento ao projeto PSA/UFV por ceder a bolsa BIC para a acadêmica Taís Gottardo e a FAPEMIG pela bolsa de mestrado a acadêmica Tatiane Vilela. 6. Referências Agência Nacional de Água (ANA). Disponível em : <http://www.ana.gov.br>. Acesso em: 28. fev.2008. Congalton, R. G. (1991). A review of assessing the accuracy of classifications of remotely sensed data. Remote Sensing of Environment, 49(12), 1671-1678. Coppin, P.; Jonckheere, I.; Nackaerts, K.; Muys, B.; Lambin, E. Review article digital change detection methods in ecosystem Inovaciones y mejoramientos monitoring: a review. International Journal of de las técnicas de detección de cambios en la Remote Sensing, v. 25, n. 9, p. 1565-1596, 2004. Gallego F.J., Remote sensing and land cover area estimation. International Journal of Remote Sensing, Volume 25, Number 15, August 2004, pp. 3019-3047(29) Liu, W.T.;KANAZAWA,P,; SANTIAMI,E.; KANAZAWA, P.J., 2005a. Impacto de desmatamento na mudança climática regional via satélite. Anais do XII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, São Jose dos Campos, SP., Brasil. 593-600. Rouse, J. W.; Haas, R.H.; Schell, J. A.; Deering, D.W., 1973. Monitoring vegetation systems in the Great Plains with ERTS. Third Symposium of ERTS, Greenbelt, Maryland, USA, NASA SP-351, V1:309-317. 1604