BOLETIM SUCROCUPAÇÃO CENTRO SUL Jaboticabal (SP), Número 72, fevereiro de 2017. Autores: José Giacomo Baccarin 1, João Victor Barretto Nogueira Ferreira 2 1 Apresentação Neste número faz-se um balanço da quantidade de pessoas ocupadas em 2016 em empresas sucroalcooleiras do Centro-Sul do Brasil, bem como do estado de São Paulo especificamente, comparando-se com o ocorrido em 2014 e 2015. Usam-se dados disponíveis no site do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), elaborados a partir de informações prestadas pelas próprias empresas empregadoras, através da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) e do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED). A partir dos dados da RAIS, que se referem a 31 de dezembro de determinado ano, pode-se estimar o nível de ocupação em qualquer mês do ano seguinte, agregando-se a movimentação (admitidos e demitidos) de ocupação registrada pelo CAGED. Consideram-se como empresas sucroalcooleiras aquelas dedicadas prioritariamente ao Cultivo da Cana-de-açúcar, à Fabricação do Açúcar em Bruto, à Fabricação do Açúcar Refinado e à Produção de Álcool, conforme o Código Nacional de Atividade Econômica. Nessas empresas são registradas 385 famílias ocupacionais, de acordo com o Código Brasileiro de Ocupação (CBO). Levando em conta seus descritores, essas famílias são classificadas, inicialmente, em quatro agrupamentos: Pessoas Ocupadas na Agricultura, Pessoas Ocupadas na Indústria (Usinas ou Destilarias), Pessoas Ocupadas em Atividades Administrativas e de Apoio (Escritórios, Transporte, Manutenção etc.) e Pessoas Ocupadas em Atividades não Sucroalcooleiras. A seguir subdivide-se o grupo Pessoas Ocupadas na Agricultura em três subgrupos: Trabalhadores Canavieiros não Qualificados, Trabalhadores da Mecanização Agrícola e Outras Pessoas Ocupadas na Agricultura. O primeiro subgrupo resulta da soma de três Famílias Ocupacionais, quais sejam Trabalhadores Agropecuários em Geral, Trabalhadores de Apoio à Agricultura e Trabalhadores Agrícolas na Cultura de Gramíneas e entende-se que aí estão incluídos aqueles que se dedicam às atividades que não exigem maior qualificação profissional, como o plantio e o corte de cana-de-açúcar. O segundo subgrupo constitui uma Família Ocupacional específica da CBO e o terceiro resulta da soma das demais 12 famílias 1 Professor Livre Docente do Departamento de Economia, Administração e Educação, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV) - UNESP, campus de Jaboticabal (SP). 2 Formado em Administração pela FCAV - UNESP, campus de Jaboticabal (SP).
2 ocupacionais observadas na lavoura canavieira, em posição de chefia ou com maiores exigências de qualificação profissional. Leva-se em conta que o número de pessoas ocupadas sucroalcooleiras apresenta forte sazonalidade ao longo do ano, especialmente entre os Trabalhadores Canavieiros. Por isso, opta-se por considerar o número médio de ocupação entre os meses de determinado período, no caso deste Boletim entre janeiro e dezembro dos anos considerados. Maiores detalhes metodológicos podem ser encontrados em números anteriores deste Boletim, disponíveis no endereço www.fcav.unesp.br/baccarin. Solicita-se que comentários, críticas ou sugestões sejam encaminhados para baccarin@fcav.unesp.br. 2 Resultados 2.1 - Centro-Sul Usam-se nomes simplificados dos grupos e subgrupos ocupacionais descritos anteriormente. As Tabelas 1 e 2 mostram que, aos moldes do ocorrido entre os anos de 2014 e 2015, o número de pessoas ocupadas em empresas sucroalcooleiras do Centro-Sul do Brasil continuou caindo de 2015 para 2016, mas com intensidade menor. A queda mais significativa ocorreu entre os Trabalhadores Canavieiros, de 17,0%, entre 2014 e 2015, e 12,2%, entre 2015 e 2016. Tabela 1 Média mensal de pessoas ocupadas em diversos agrupamentos profissionais sucroalcooleiros, Centro-Sul, anos de 2014, 2015 e 2016. Pessoas Ocupadas 2014 2015 2016 1 - Pessoas na Agricultura 216.108 189.900 176.353 1.1 - Trabalhadores Canavieiros 130.399 108.183 94.954 1.2 - Pessoas na Mecanização 70.824 67.675 67.373 1.3 - Outras Agrícolas 14.885 14.041 14.026 2 - Pessoas na Indústria 79.362 74.697 73.841 3 - Pessoas no Administrativo 158.922 156.953 153.056 4 - Pessoas não Sucroalcooleiras 6.861 5.632 5.538 Total 461.252 427.182 408.789 Os impactos da mecanização da colheita da lavoura canavieira continuaram se evidenciando na demissão expressiva daqueles trabalhadores dedicados às atividades agrícolas com pequena exigência de qualificação profissional. Mas, até porque a mecanização atingiu níveis próximos a 90% da área colhida de cana-de-açúcar, praticamente o seu limite, a redução do número de cortadores tende diminuiu de um para outro ano.
3 Tabela 2 Variação porcentual da média mensal de pessoas ocupadas em diversos agrupamentos profissionais sucroalcooleiros, Centro-Sul, anos de 2014, 2015 e 2016. Variação de Pessoas Ocupadas 2015/2014 2016/2015 2016/2014 1 - Pessoas na Agricultura -12,1-7,1-18,4 1.1 - Trabalhadores Canavieiros -17,0-12,2-27,2 1.2 - Pessoas na Mecanização -4,4-0,4-4,9 1.3 - Outras Agrícolas -5,7-0,1-5,8 2 - Pessoas na Indústria -5,9-1,1-7,0 3 - Pessoas no Administrativo -1,2-2,5-3,7 4 - Pessoas não Sucroalcooleiras -17,9-1,7-19,3 Total -7,4-4,3-11,4 2.2 - São Paulo A análise conjunta das Tabelas 3 e 4 permite constatar que o total de pessoas ocupadas sucroalcooleiras no estado de São Paulo, em termos absoluto e relativo, caiu muito pouco entre 2015 e 2016, de forma bem menos pronunciada do que entre 2014 e 2015. Tabela 3 Média mensal de pessoas ocupadas em diversos agrupamentos profissionais sucroalcooleiros, São Paulo, anos de 2014, 2015 e 2016. Pessoas Ocupadas 2014 2015 2016 1 - Pessoas na Agricultura 124.256 110.377 105.359 1.1 - Trabalhadores Canavieiros 73.271 62.515 56.504 1.2 - Pessoas na Mecanização 42.312 39.622 40.767 1.3 - Outras Agrícolas 8.673 8.240 8.089 2 - Pessoas na Indústria 45.921 41.908 42.505 3 - Pessoas no Administrativo 91.056 90.491 91.216 4 - Pessoas não Sucroalcooleiras 2.923 2.812 2.833 Total 264.157 245.588 241.912 Entre as categorias ocupacionais, o número de Trabalhadores Canavieiros reduziu-se em 10.756 ou 14,7%, entre 2014 e 2015, e em 6.011 ou 9,6%, entre 2015 e 2016. Os efeitos do crescimento da mecanização da colheita da cana-de-açúcar continuavam se evidenciando no estado de São Paulo, mas com impacto cada vez menor, à medida que o processo aproximava de seu limite. Pode-se perceber também que algumas categorias profissionais tiveram seu número se expandindo levemente entre 2015 e 2016, como as Pessoas na Mecanização, na Indústria e no Administrativo, revertendo os sinais negativos constatados entre 2014 e 2015. Aparenta ter havido em 2016 uma recuperação da capacidade de contratação pelas empresas
4 sucroalcooleiras do estado de São Paulo, o que pode estar associada a uma situação financeira mais favorável e perspectivas de retomada de crescimento da produção setorial. Tabela 4 Variação porcentual da média mensal de pessoas ocupadas em diversos agrupamentos profissionais sucroalcooleiros, estado de São Paulo, anos de 2014, 2015 e 2016. Variação de Pessoas Ocupadas 2015/2014 2016/2015 2016/2014 1 - Pessoas na Agricultura -11,2-4,5-15,2 1.1 - Trabalhadores Canavieiros -14,7-9,6-22,9 1.2 - Pessoas na Mecanização -6,4 2,9-3,7 1.3 - Outras Agrícolas -5,0-1,8-6,7 2 - Pessoas na Indústria -8,7 1,4-7,4 3 - Pessoas no Administrativo -0,6 0,8 0,2 4 - Pessoas não Sucroalcooleiras -3,8 0,7-3,1 Total -7,0-1,5-8,4 Especificamente, a contratação de Pessoas na Mecanização se justifica também pelo aumento do índice de mecanização da lavoura canavieira, fato que se pressupõe afete indireta e positivamente o número de Pessoas no Administrativo. Acontece que o emprego das novas máquinas agrícolas vem acompanhado do aumento de controles computacionais e de desempenho das próprias máquinas e de seus operadores. 2.3 - Sazonalidade de Ocupação dos Canavieiros Com o avanço da colheita mecânica de cana-de-açúcar vem se observando redução na sazonalidade de contratação de Trabalhadores Canavieiros no estado de São Paulo. Como pode ser visto no Gráfico 1, o número de Canavieiros contratados em maio de 2007 era mais do que o dobro do que restava contratado em dezembro do mesmo ano. Em 2010, esta diferença de contratação tinha se reduzido, mas permanecia em valor bastante alto, pouco acima de 80%. Em 2014, com a mecanização bastante avançada, a sazonalidade tinha caído para próximo a 50%. O Gráfico 2 mostra as mudanças da sazonalidade dos Canavieiros nos três últimos anos, de 2014 a 2016. Ressaltando que as escalas dos dois gráficos são diferentes, mesmo assim pode-se perceber que a queda na sazonalidade foi bem mais amena de 2015 a 2016 do que de 2014 a 2015. Em 2016, o número de Canavieiros contratados no auge da safra, no mês de maio, mostrava-se pouco acima de 30% superior ao que restava contratado no mês de dezembro do mesmo ano. Muito provavelmente já existem empresas sucroalcooleiras que mantém as chamadas turmas firmes de trabalhadores rurais. Ou seja, praticamente contratam o mesmo número de trabalhadores durante todos os meses do ano.
5 Gráfico 1 - Índice de contratação de Trabalhadores Canavieiros por empresas sucroalcooleiras no estado de São Paulo, nos meses de 2007, 2010 e 2014. 250,0 200,0 150,0 100,0 50,0 2007 2010 2014 0,0 Fonte: BRASIL/MTE (2017). Uma das implicações da redução da sazonalidade na contratação de Canavieiros é a forte diminuição da migração sazonal ou pendular de pequenos agricultores da Região do Semiárido que anteriormente deixavam, em grande número, suas regiões de origem para fazer a safra de cana-de-açúcar em São Paulo. Gráfico 2 - Índice de contratação de Trabalhadores Canavieiros por empresas sucroalcooleiras no estado de São Paulo, nos meses de 2014, 2015 e 2016. 160 150 140 130 120 110 100 90 2016 2015 2014 80 70 60 Fonte: BRASIL/MTE (2017).
6 3 - Sugestão de Leitura O primeiro autor deste boletim anuncia a seus leitores que defendeu sua Tese de Livre Docência em agosto de 2016, estudando-se as mudanças na estrutura agrária paulista e os impactos sobre a ocupação canavieira e agrícola no estado. Uma versão modificada da mesma pode ser encontrada em www.fcav.unesp.br/baccarin. 4 Referências MTE (Ministério do Trabalho e Emprego). Programa de Disseminação de Estatística do Trabalho. Disponível em www.mte.gov.br. Acessado em fevereiro de 2017.