Bacias brasileiras do rio da Prata: Avaliações e propostas



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No presente estudo foram consideradas as seguintes premissas:

Transcrição:

Bacias brasileiras do rio da Prata: Avaliações e propostas Outubro/01

Sumário 1. INTRODUÇÃO... 4 2. BACIA DO PRATA... 5 2.1 Características físicas e hidrológicas... 5 2.2 Aspectos Institucionais... 7 2.3 Recursos Hídricos... 9 2.3.1 Hidrelétricas... 9 2.3.2 Navegação... 11 2.3.3 Agricultura e meio ambiente... 11 2.3.4 Inundações... 13 2.3.5 Abastecimento de água... 13 2.4 Meio Ambiente... 14 2.4.1 Variação climática, desmatamento e práticas agrícolas... 14 2.4.2 Hidrovia Paraná-Paraguai... 18 2.5 Principais interfaces internacional... 19 3. BACIA DO RIO PARAGUAI... 21 3.1. Características gerais da bacia e seus condicionantes... 21 3.2 Monitoramento... 22 3.2.1 Pluviometria... 22 3.2.2 Fluviometria... 23 3.2.3 Avaliação... 27 3.3 Hidrologia... 28 3.3.1 Balanço hídrico médio... 30 3.3.2 Variabilidade temporal e espacial do escoamento... 30 3.4 Usos dos Recursos Hídricos... 32 3.5 Impactos ambientais... 33 3.5.1 Variação climática... 34 3.5.2 Mineração... 35 3.5.3 Desenvolvimento urbano... 36 3.5.4 Navegação... 37 3.6 Aspectos Transfronteriços... 37 3.7 Estudos e projetos propostos... 39 3.7.1 Estudos anteriores... 39 3.7.2 Estudos em desenvolvimentos... 40 3.7.3 Estudos em negociação... 43 3.8 Aspectos Institucionais... 43 3.9 Comentários... 45 4. BACIA DO RIO URUGUAI... 46 4.1 Principais características hídricas... 46 4.2 Sistemas dos Recursos hídricos e dos impactos na bacia... 48 4.3 Usos não-consutivos... 52 4.4 Usos Consuntivos... 54 4.5 Impactos sobre a população: enchentes... 54 4.6 Aspectos Ambientais... 58 2

4.7 Planos e Programas... 59 4.8 Aspectos Institucionais... 61 4.9 Comentários... 61 5. RIO PARANÁ... 62 5.1 Características... 62 5.2 Usos da água... 64 5.2.1 Usos consuntivos... 64 5.2.2 Usos não-consuntivos... 68 5.3 Impactos dos usos da água... 70 5.3.1 Impactos no meio urbano... 70 5.3.2 Impactos dos efluentes industriais... 70 5.3.3 Obras hidráulicas... 71 5.4 Impactos sobre a sociedade... 72 5.4.1 Inundações... 72 5.4.2 Saúde... 74 5.5 Impactos Ambientais... 74 5.6 Conflitos... 75 5.7 Institucional... 76 5.8 Programas... 78 5.9 Comentários... 79 6. PROGRAMAS... 81 6.1 Caracterização dos programas... 81 6.2 Relações entre os programas e os aspectos relevantes das bacias... 85 6.3 Visão programática: metas e programas... 91 6.4 Plano de Ações... 95 7. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES... 98 Anexo A: Descrição prévia dos termos de referência dos programas 100 3

1. Introdução Com a criação da ANA Agência Nacional da Água e seu funcionamento no início deste ano foram definidas algumas ações gerenciais de recursos hídricos sobre o território brasileiro. O planejamento destas ações está sendo realizado de acordo com as grandes bacias brasileiras. Segundo o Plano Nacional de Recursos Hídricos (FGV, 1998) o território brasileiro foi sub-dividido em 9 bacias, sendo que as bacias do rio Paraná, Paraguai e Uruguai, compõem a parcela brasileira da bacia do rio da Prata. Dentro do seu planejamento de ações nas bacias brasileiras da ANA é necessário conhecer os principais condicionantes de recursos hídricos destas bacias. Os objetivos deste estudo são os seguintes: Apresentar um diagnóstico dos principais aspectos dos recursos hídricos da parte brasileira da bacia do Prata e suas interfaces internacionais; apresentar recomendações sobre programas e projetos a serem desenvolvidos para as bacias. No segundo capítulo deste relatório são apresentados os principais aspectos da bacia do Prata como um todo, incorporando os aspectos internacionais. Nos capítulos 3 a 5 são destacados os elementos das três bacias, Paraguai, Paraná e Uruguai, respectivamente. O conteúdo apresentado é uma síntese de estudos anteriores e avaliação e conhecimento dos consultores, onde foram levantados os aspectos de maior interesse que permitam avaliar os problemas das bacias e uma avaliação crítica dos consultores. No capítulo 6 é realizada uma análise síntese das três bacias, identificando os principais problemas e apresentados programas e projetos que podem ser desenvolvidos a nível nacional e regional para cada bacia. O documento conclui com uma avaliação global no capítulo de conclusões e recomendações, apresentando principalmente uma síntese executiva dos problemas e ações propostas para a bacia. 4

2. Bacia do Prata 2.1 Características físicas e hidrológicas A bacia do rio da Prata (figura 2.1) envolve cinco países da América do Sul: Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai. O principal rio é o Paraná, pois apenas se torna rio da Prata quando o rio Paraná se junta ao rio Uruguai próximo da foz do rio Prata no Oceano Atlântico. Em termos de área de drenagem é a segunda bacia da América do Sul, depois da bacia Amazônica, com 3,1 milhões de km 2 e a quinta do mundo. A bacia do Prata é importante para a economia dos países da região, pois 70% do PIB dos cinco países é gerado na bacia e representa cerca de 50% da população dos mesmos. Na tabela 2.1 é apresentada a distribuição da área de cada país na bacia. A parcela brasileira é de 45,7% ou 1.415 km 2. Na tabela 2.2 são apresentados os trechos mais importantes dos três tributários e a vazão média correspondente. Tabela 2.1 Distribuição da área da bacia entre os países (OEA, 1969) Subbacia Área 10 3 km 2 % Argentina 10 3 km 2 % Bolívia 10 3 km 2 % Brasil 10 3 km 2 % Paraguai 10 3 km 2 % Uruguai 10 3 km 2 % Paraná 1 510 48,7 565 37,5 890 59 55 3,5 Paraguai 1 095 35,3 165 15,0 205 18,7 370 33,9 355 32,4 Uruguai 365 11,8 60 16,4 155 42,5 150 41,1 Prata 3 100 100 920 29,7 205 6,6 1 415 45,7 410 13,2 150 4,8 Vazão média anual Tabela 2.2 Algumas características dos três principais tributários (Internave, 1990) Rio Distância de montante Área da bacia 10 3 km 2 m 3 s -1 Paraná Confluência com 1200 (Paranaiba) and 1000 376 4 370 Paranaíba e Grande (Grande) Confluência com o 2 540 975 11 800 Paraguai Foz 3 780 1 510 17 700 Paraguai Até Cáceres 420 33.8 345 Foz 2 620 1 095 2 700 Uruguai 1 600 365 5 500 As condições naturais variam muito tanto no sentido Norte Sul como de Oeste para Leste. No extremo Norte estão o Planalto Brasileiro e a Amazônia. No Leste os limites variam das cabeceiras do rio São Francisco a Serra do Mar. No extremo Oeste os limites são a cordilheira dos Andes e no Sul pequenas altitudes das coxilhas gaúchas. As altitudes variam desde cotas superiores a 1500 m no extremo 5

Leste para apenas 200 m no Sul. Nos limites a oeste observam-se cotas da Cordilheira Andina de 1.000 a 4.000m. A precipitação anual diminui tanto de Norte para o Sul, como de Leste para Oeste. Estas precipitações variam de cerca de 1800 mm próximo a Serra do Mar no Brasil para 200 mm nos limites oeste da bacia, onde existem regiões semi-áridas. A distribuição de precipitação no território brasileiro apresenta precipitações anuais geralmente acima de 1000 mm, enquanto que na parcela correspondente aos outros países freqüentemente estão abaixo deste valor. Figura 2.1 Bacia do Prata (Tucci e Clarke, 1998) Na tabela 2.2 são apresentados os valores de vazão média de longo período para alguns locais da bacia, mostrando a contribuição de cada rio na junção dos mesmos. Quando o rio Paraguai (1.095 milhões de km 2 ) chega no rio da Paraná, contribui com 18,6% da vazão total e o rio Paraná (1.510 milhões de km 2 ) com 6

81,4 %. Já quando o Paraná se junta com o Uruguai para formar o rio da Prata, a vazão do rio Paraná representa 76,3 % do total. O rio Uruguai apresenta a maior vazão específica, principalmente devido as suas características de precipitação e relevo, enquanto que o rio Paraguai existe baixa vazão específica devido as extensas áreas de inundação como o Pantanal brasileiro, que retém grande parte do volume para criar o habitat de terras úmidas. 2.2 Aspectos Institucionais Em 1968 os países da bacia do Prata estabeleceram o CIC Comitê Intergovernamental Coordenador da Bacia do Prata com a finalidade de desenvolver as ações de interesse comum dentro da bacia. Este comitê é presidido de forma rotativa e tem sede em Buenos Aires. Em 1969 os governos aprovaram o tratado da bacia do Prata, que entrou em vigor em agosto de 1970, com o objetivo de desenvolver esforços conjuntos para promover o desenvolvimento e a integração física da bacia e suas áreas de influência direta. Este tratado tinha como objetivos específicos os entendimentos, dentro da área de recursos hídricos, para: facilitar a navegação; utilização racional da água com uso múltiplo eqüitativo; preservação e o fomento da vida animal e vegetal; projetos de interesse comum relacionados com o inventário, avaliação e o aproveitamento dos recursos naturais da área. Ao longo do tempo vários tratados foram aprovados, mas houve ênfase no pragmatismo de tratados bilaterais de interesse mútuo dos países, alguns dos quais destacados na tabela 2.3. Além disso, foi criado um mecanismo econômico que foi o FUNPLATA, que é um fundo econômico de financiamento de projetos na região. Tabela 2.3 Alguns tratados na bacia do Prata. Tratado Países Convênio para estudo do aproveitamento Paraguai e Argentina dos recursos hídricos do rio Paraná, 1971 Tratado Tripartide sobre Corpus e Itaipu, Argentina, Brasil e 1979 Paraguai Tratado de Yaciretá Argentina e Paraguai Tratado de criação da Comissão técnica mista Argentina e Uruguai de Salto Grande Tratado da criação da Itaipu Binacional Brasil e Paraguai Tratado de criação da comissão binacional do Argentina, Bolivia e rio Bermejo, 1995 Paraguai 7

Nos últimos anos dois programas especiais foram aprovados pelo CIC e criadas contrapartidas técnicas dos países, sobre: sistema de alerta hidrológico e monitoramento de qualidade da água. Dentro dos temas referidos existe ênfase no monitoramento de parâmetros de qualidade da água e nos níveis de água e vazão de uma rede de estação existente e operada pelos países. Os programas de Qualidade da Água e Alerta Hidrológico tem sido desenvolvido nos últimos anos pela troca de informações da rede existente entre as entidades representantes dos países. No entanto, desde 1993 existe uma preocupação do conselho formado pelas entidades técnicas, em ampliar as ações no âmbito da Bacia do Prata. Em 1994 foram iniciadas gestões para a obtenção de fundos do FONPLATA e do BID para ampliar as atividades dentro destes programas. No final de 1996 foi aprovado um convênio de Cooperação técnica regional pelo BID e o CIC, com fundos sem reembolso, para elaboração de estudos necessários a preparação de projetos de investimentos dentro do âmbitos dos programas citados. O estudo, na sua primeira etapa, tinha como objetivo: desenvolver um diagnóstico da bacia quanto a Qualidade da água e Alerta hidrológico e; definir um conjunto de projetos específicos a serem detalhados e submetidos a agências de financiamento pelos países. Em 1997 um grupo de consultores foi contratado para desenvolver os estudos referidos, concluído em 1998 com o título Sistema de informações sobre a qualidade da água e para o alerta hidrológico da bacia do Prata primeira etapa: diagnóstico e dimensionamento que aqui será referenciado por CIC (1998). Este estudo foi desenvolvido segundo as seguintes etapas: Identificação preliminar das fontes pontuais e dispersas da bacia; Estimativa expedita das cargas contaminantes lançadas pelas diferentes fontes, e elaboração de um diagnóstico global da Bacia, neste aspecto; Identificação das áreas de risco de inundação na Bacia que mereçam um tratamento prioritário; Monitoramento detalhado das descargas ou áreas associadas á zonas de risco de inundação identificadas; Avaliação geral e relatório final. O relatório foi concluído em julho de 1998 e entregue ao exame das entidades técnicas que compõem o CIC. A avaliação das entidades técnicas não encontrou consenso quanto aos projetos propostos e ações futuras. Desta forma, foi necessário a definição conjunta através de um Workshop, com a participação técnica de todos os países, visando à busca de um consenso quanto as necessidades da bacia no que se refere aos programas em desenvolvimento. O Workshop Sistema Georreferenciado de Informações Hidrológicas da Bacia do Prata foi 8

organizado pelo IBAMA Instituto Brasileiro de Meio Ambiente, SRH Secretaria de Recursos Hídricos do Ministério de Meio Ambiente e ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica do Brasil em Foz de Iguaçu de 14 a 15 de outubro de 1999. O objetivo do referido workshop foi o de reunir as entidades técnicas do CIC e outras que contribuem dentro deste programa e buscar consenso nas ações a serem desenvolvidas dentro dos programas de Monitoramento da Qualidade da Água e Alerta Hidrológico na Bacia do Prata. Lanna e Tucci (1999) apresentaram um resumo do workshop e dos projetos discutidos. O referido documento apresentou os projetos selecionados e recomendou a criação de uma secretária técnica para o CIC baseada em parte dos fundos obtidos com o desenvolvimento dos projetos propostos, considerando que foi unânime na reunião a ineficiência técnica gerencial do CIC. Um resumo dos projetos propostos no documento são apresentados na tabela 2.4. 2.3 Recursos Hídricos Nos rios da bacia geralmente existe água disponível para a demanda, mas existem as mais variadas condições geográficas, hidrológicas e sócio-econômica, contudo o controle é realizado através de limites geográficos administrados pelos países onde existem diferentes legislações e organizações com diferentes políticas. Na tabela 2.5 é apresentado um resumo dos principais trechos dos rios e bacia com os aspectos hidrológicos, ambientais e sócio-econômicos relacionados. A seguir são destacados alguns dos principais aspectos de recursos hídricos que envolvem toda a bacia. 2.3.1 Hidrelétricas Na bacia do Prata foi identificada uma capacidade de 92.000 MW, 60% dos quais está sendo utilizado ou está em processo de ser explorado. O número de instalações planejada é significativo tanto a nível interno dos países como a nível internacional. Grande parte do potencial hidrelétrico se concentram no rio Paraná e no rio Uruguai. Os principais aproveitamento internacionais existentes são : Itaipu, rio Paraná (Brasil e Paraguai), Yaciretá, no rio Paraná (Argentina e Paraguai) e Salto, rio Uruguai (Argentina e Uruguai). Os principais projetos internacionais existentes são Corpus no rio Paraná (Argentina e Paraguai) e Garabi no rio Uruguai ( Argentina e Brasil). Nos trechos nacionais o Brasil apresenta a grande parte dos aproveitamentos de montante no rio Paraná (figura 2.1), o Uruguai que possui potencial de 16.500 MW tem desenvolvido cerca de 8.000 MW, grande parte no trecho internacional e no Uruguai. No trecho nacional brasileiro encontra-se Itá recentemente em funcionamento e Passo Fundo, uma pequena Usina num afluente do Uruguai. 9

Tabela 2.4 projetos propostos para desenvolvimento na bacia do Prata pelos países que compõem o CIC ((Lanna e Tucci, 1999) Projeto Objetivos Estabelecer um rede fluviométrica e meteorológica mínima que permita a estimativa desejável dos trechos transfronteiriços da Rede de coleta de dados bacia do Prata; Meteorológicos e Hidrológicos para Alerta Estabelecer mecanismo eficiente de troca de informações durante os eventos críticos; Definir padrões de informações de banco de dados para troca de informações hidrológicas e meteorológicas. Desenvolver um programa de apoio a estudos técnicos e científicos Estudos estratégicos dentro dos tópicos selecionados no item anterior nos que influenciem os trechos transfronteiriços da bacia do Prata. Estudo para definição e orçamentação da rede de monitoramento de qualidade de água superficial da bacia do Prata Estudo diagnóstico da contaminação de compartimentos associados às águas na bacia do Prata Desenvolvimento de Índices de Qualidade de Água para a bacia do Prata Estudo para uniformização das metodologias de monitoramento da qualidade de água da bacia do Prata Sistema Georeferenciado de Informações sobre a Bacia do Prata Treinamentos Publicações Escritório Técnico Operação satisfatória das estações existentes, em número de 24, incluindo as que são operadas parcialmente e ativadas aquelas cuja operação foi descontinuada. Instalação de 23 novas estações de monitoramento na bacia. Diagnosticar os níveis de contaminação dos seguintes compartimentos associados às águas: águas meteóricas (chuvas); águas subterrâneas; sedimentos de fundo; biota aquática; biota terrestre afetada pela água na bacia do Prata. Criação de Índices de Qualidade de Água específicos para a bacia do Prata, que auxiliem a divulgação dos diagnósticos qualitativos entre a população e viabilizem a adoção de medidas preventivas e corretivas. Homogeneizar as metodologias de coleta, análise, consistência, armazenamento digital e divulgação dos parâmetros de qualidade de água da rede de monitoramento da bacia do Prata. Uniformizar padrões de software, hardware para aquisição e troca de informações sobre a bacia do Prata; Criar uma base mínima de informações e capacidade em todos os países da bacia. Base para divulgação de informações da bacia Desenvolvimento de um Programa de Treinamento voltado para práticas hidrométricas, sistemas de informação geográfica aplicado a recursos hídricos, sistemas telemétricos e sensores, consistência dos dados, previsão meteorológica, previsão hidrológica, qualidade de água, índices de qualidade, técnicas laboratoriais, divulgação de informações, participação comunitária nos Sistemas de Alerta Hidrológico e de Monitoramento de Qualidade de Água, Educação Ambiental, e outros temas. Preparar anualmente dois relatórios sobre o Sistema de Alerta e sobre Qualidade da Água; série aperiódica de publicações e disponibilizar bibliografia sobre a região Coordenar a execução das atividades permanentes propostas; Desenvolver tratativas junto as entidades de fomento para obtenção de recursos para os projetos; Identificar e propor novos projetos que atendam aos objetivos dos programas técnicos. 10

2.3.2 Navegação No século 19 e no início do século 20 a navegação do rio Paraná e Paraguai e parte do Uruguai foram as principais entradas para a colonização desta vasta região. Com a concorrência dos outros meios de transportes a navegação diminuiu e atualmente o transporte é fundamentalmente de produtos, principalmente agrícolas entre as regiões. Atualmente os principais trechos de navegação são: Paraná Paraguai : de Cáceres em Mato Grosso até o oceano atlântico com distância de 3,600 km. Existe um projeto de melhoria do canal de navegação para aumentar a profundidade, permitindo um tráfego permanente. Este projeto pode ter importante impacto ambiental e tem sido questionado por grupos ambientais e necessita de uma avaliação técnica cuidadosa; Tietê Paraná: o rio Tietê escoa por uma região muito industrializada do Brasil, representando 35% do PIB brasileiro. Esta via tem algumas eclusas e permite o transporte de mercadorias entre São Paulo e o rio Paraná. Rio Uruguai: Segundo OEA (1985) o rio é navegável no seu trecho inferior nos limites entre Uruguai e Argentina a jusante da barragem de Salto Grande. A montante de Salto Grande o rio é navegável até São Borja. 2.3.3 Agricultura e impactos do uso da terra Até 1970 uma parte importante da agricultura do estado do Paraná e grande parte do estado de São Paulo era dedicada ao café, que representava uma cobertura permanente. Depois de uma seqüência de anos frios com geada sobre os cafezais houve remoção dos mesmos para plantio de culturas anuais como soja, trigo e milho. Este tipo de prática aumentou a erosão do solo nas áreas rurais. No final dos anos 70 foram desenvolvidos programas para conservação do solo. Nos anos 90, principalmente depois de 1994, o tipo de plantio se alterou novamente e grande áreas passaram a adotar o plantio direto na agricultura, o que tem recuperado a capacidade de infiltração do solo e aumentado o nível do lençol freático. No Planalto do rio Paraguai, no seu afluente, o rio Taquari o uso do solo também se alterou com plantações de soja e aumento significativo do rebanho de gado. O aumento de erosão nesta bacia tem sido significativo com importantes efeitos a jusante no Pantanal. Problemas semelhantes ocorrem no rio Bermejo, afluente do rio Paraguai na Argentina devido as próprias característicos do rio de grande declividade e leito móvel, ampliadas por ações antrópicos ao longo da bacia. Um dos principais aspectos agrícolas ocorre no rio Uruguai, no seu trecho médio, próximo as divisas de Brasil Uruguai e Argentina devido ao intensivo uso de água para irrigação. O rio Quaraí que faz a divisa do Brasil e Uruguai apresenta hoje conflitos de usos da água e representa uma das bacias transfronteriças onde requer uma atenção especial quanto ao gerenciamento dos recursos hídricos. A bacia do Ibicuí, toda em território brasileiro, apresenta também importantes conflitos de uso de água para abastecimento e irrigação nos meses de verão. 11

Tabela 2.5 Principais trechos e suas características de recursos hídricos e desenvolvimento Trechos Rio Países Características dos recursos hídricos e meio Desenvolvimento ambiente Planalto Paraguai Brasil Precipitações de 1300 a 2000 mm; altas vazões Mineração; um dos maiores rebanhos de gado do específicas; alta produção de sedimentos mundo; produção de soja. Pantanal Paraguai Brasil e Bolívia Grande retenção de água; maior wetland do mundo; precipitação inferior a evapotranspiração potencial. Sistema sustentado pelas vazões de montante. Sudeste Brasileiro Paraná Brasil Precipitações da ordem de 1500 mm, com alta vazão específica; quedas hidráulicas; desmatamento significativo na Segunda parte do século passado Interno Paraguai Paraguai Paraguai Escoamento lento devido a regularização do Pantanal e baixa declividade; grandes áreas de inundação Paraguai Internacional Paraguai Paraguai e Argentina Paraná Internacional Paraná Brasil, Argentina e Paraguai Bacias contribuintes com alta produção de sedimentos e leitos móveis; precipitações inferiores a 800 mm Importantes quedas dágua, produção de sedimentos e escoamento rápido Paraná Argentina Paraná Argentina Extensas áreas inundadas durante grande parte do ano; baixa precipitação das sub-bacias contribuintes Alto Uruguai Uruguai Brasil Precipitações de 1500 a 1800 mm; alta vazão média; quedas hidráulicas Médio Uruguai Uruguai Brasil e Precipitação de 1500 mm; alta vazão média; Argentina quedas hidráulicas; produção de sedimentos Baixo Uruguai Uruguai Uruguai e Altas precipitações e vazões. Argentina Prata Prata Uruguai e Efeito da mar associado a vazão do Prata Argentina Rebanho de gado; turismo ecológico, navegação, baixa concentração urbana; conservação ambiental e convivência da inundação. Grande número de hidrelétrica; grandes concentrações urbanas (S.Paulo, Curitiba); produção de sedimentos; produção de soja; inundações de áreas ribeirinhas Navegação fluvial de tráfego internacional; extensas áreas inundadas Áreas com baixa ocupação populacional; navegação fluvial; controle de erosão e inundações Hidrelétricas internacionais e navegação. Navegação fluvial internacional Produção agrícola; inundações; alto potencial hidrelétrico. Hidrelétricas; produção agrícolas, inundações Hidrelétrica de Salto no trecho médio e navegação no trecho inferior Predominância da navegação fluvial e marítima 12

2.3.4 Inundação A inundação é um dos maiores problemas da bacia do Prata. A maioria dos rios possuem uma planície de inundação muito grande que tem sido ocupada pela população e uso agropastoril. O rio Paraguai possui grandes planícies de inundação e um regime de escoamento muito lento quando ocorre inundações das suas margens. No rio Paraná e nos seus tributários como o Iguaçu existem muitas cidades nas margens que são inundadas com grande freqüência, principalmente depois dos anos 70. No trecho internacional, principalmente na Argentina as cidades de Resistência, Corrientes, Rosário e Santa Fé sofrem impactos importantes das inundações. Santa Fé que possui um sistema de polders que ficou com níveis do Paraná cerca de um ano acima dos níveis de algumas ruas na inundação de 83. Na maioria das cidades da região, a ocupação da área de risco ocorreu no período de desenvolvimento econômico dos anos 60 até o início de 80, quando houve um período de inundações maiores. Neste período os danos foram muitos grandes. A perda acumulada em União da Vitória nas margens do Iguaçu, nas cheias de 83 a 93 são superiores a US $ 110 milhões (tabela 2.6). O rio Uruguai também apresenta impactos importantes nas inundações (tabela 2.7), principalmente no seu trecho inferior em São Borja, Itaqui, Uruguaiana e algumas cidades dos seus afluentes como Alegrete. No trecho inferior na Argentina Uruguai se observou também grandes inundações recentes a jusante da barragem de Salto Grande. Tabela 2.6 Prejuízos das cheias em União da Vitória e Porto União no rio Iguaçu (JICA, 1995) Ano Prejuízos US $ 1982 10,4 1983 78,1 1992 54,6 1993 25,4 2.3.5 Abastecimento de água A demanda de abastecimento de água e irrigação é atendida usualmente por pequenas bacias que geralmente se localizam perto das áreas de uso. Os grandes problemas de abastecimento ocorrem na cabeceira onde existem grandes concentrações urbanas como São Paulo e Curitiba. Estes problemas são também devido a redução da quantidade de água devido deterioração da qualidade pela falta de tratamento dos efluentes urbanos. Em outras áreas, como na bacia do rio Uruguai existe um conflito importante entre abastecimento de água para população e irrigação (Bacia do Ibicuí) de arroz nos 13

períodos secos. Na maioria das bacias a disponibilidade hídrica não é um grande problema, com exceção dos locais citados e na região semi-árida a oeste da bacia, onde as precipitações são muito baixas e grandes altitudes. Tabela 2.6 População afetada pelas inundações no rio Uruguai, parte brasileira do Rio Grande do Sul Ano Perda de Vida População afetada Número de cidades atingidas 1983 2 27,650 73 1984 1 12540 38 1985 0 4,680 5 1986 1 8,510 9 1987 1 7,200 6 1988 0 2,140 2 1989 0 3,510 3 1990 0 5,524 38 Fonte: Defesa Civil do Rio Grande do Sul 2.4 Meio Ambiente A seguir são discutidos alguns dos principais aspectos ambientais na Bacia (principalmente nos trechos brasileiros). 2.4.1 Variação climática, desmatamento e práticas agrícolas A variação climática e seus impactos tem sido um dos principais problemas na bacia do Prata desde os anos 70, quando a vazão média anual aumentou de forma impressionante em alguns trechos da bacia. Na tabela 2.8 são apresentados os valores onde se observam aumentos de 19 a 46% A figura 2.2 mostra variação relativa do nível máxima anual do rio Paraguai em Ladário e a precipitação adimensional na bacia de 1900 a 1995. Pode ser observado que após 1970 existe um grande aumento no nível e um pequeno aumento na precipitação. Tabela 2.8 Vazão média anual em m 3 s - 1 (Tucci e Clarke, 1998). Local antes de 1970 1970-1990 Aumento % Rio Paraná em Jupiá 5,852 (+) 6,969 19,1 R. Paranapanema em Rosana 1,057 (+) 1,545 46,2 R. Paraná em São José 6,900 (+) 8,520 23,3 R. Paraná em Guaira 8,620 (+) 11,560 34,1 R. Paraná em Posadas 11,600 (*) 14,255 22,9 R. Paraná en Corrientes 15,265 19,510 27,8 + série de 1930-1970; * série de 1901-1970 Os principais efeitos do aumento do escoamento e da precipitação na bacia foram: 14

Erosão do solo e sedimentação dos rios e redução do solo disponível para a agricultura; Aumento dos níveis e freqüência das inundações; Mudança do leito dos rios e das condições ambientais das matas ciliares; Diminuição do volume útil dos reservatórios; Aumento da produção hidrelétrica; Mudança na qualidade da água devido a ressuspensão do material de fundo durante as inundações 1, 1, 2 P/Pm 1, 4 1, 2 1 0,8 0,6 0,4 0,2 Precipitação lnível 0 1900 191 0 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 Ano Figura 2.2 Variação adimensional dos níveis em Ladário no Alto Paraguai e a média móvel de três anos na bacia do rio Cuiabá (Tucci e Clarke, 1998). O aumento do escoamento e dos níveis de água pode ser devido a um ou mais dos seguintes efeitos: Aumento da precipitação depois de 1970: Anderson et al (1993) usando dados do rio Paraná em Corrientes (precipitação e vazão), concluíram que as precipitações fortes dos anos 80 e início de 1990 foram os fatores mais importantes para a produção de inundações destes anos. Adicionalmente, os autores concluíram que existe não existe evidência consistente, estatística ou outras, que a mudança na dinâmica dos processos de precipitação vazão associadas com o uso do solo tem um papel importante nas inundações dos referidos anos. O mesmo trabalho menciona que existe, contudo, alguma evidência que quando as precipitações não são muito altas, alguma mudança tem ocorrido que produz aumento de vazão que não seria esperado. A precipitação média anual de 1901 a 1970 na bacia do Paraná em Corrientes era de 1364 mm e no período de 1971 a 1991 foi de 1438 mm, com 5,4 % de aumento. Este aumento foi muito similar ao observado na parte da bacia do rio Paraná no Estado do Paraná no Brasil. Em teoria, se toda a precipitação adicional é utilizada para gerar escoamento, um aumento de 6% na precipitação num rio com 15

coeficiente de escoamento de 17% (valor do rio Paraná), pode aumentar o escoamento em 35%. Contudo, este é um limite superior para este cenário. Barros et al (1995) analisaram a tendência de precipitação na América do Sul a Leste dos Andes e indicaram que houve aumento da precipitação na região. Especificamente, Castanaeda e Barros (1994) acharam um aumento de 850 mm para 1150 mm entre os anos 20 e os anos de 80 na Pampa úmida. Neste mesmo período, na África sub-hariana ocorreu o inverso, as precipitações estão muito abaixo da média e muitos rios estão em prolongadas estiagens. O Lago Chade diminuiu para um terço da sua área do período anterior a 1970. Desta forma, poderia se concluir que as mudanças de precipitações fazem parte de grandes variabilidades do clima global. Desmatamento e uso do solo: Bosch e Hewlett (1982), Bruijnzeel (1995) e Sahin et al (1996) apresentaram vários experimentos de pequenas bacias no mundo e concluíram o seguinte: (a) o desmatamento aumenta a vazão média; (b)desmatamento seguido de cultivo anual que usa maquinaria para preparação do solo são os que apresentam grande aumento do escoamento médio. O desenvolvimento da agricultura e ocupação urbana produziram grande desmatamento na parte brasileira do Paraná, Paraguai e Uruguai. Na tabela 2.9 são apresentadas as alterações de cobertura nos Estados de São Paulo e Paraná (rio Paraná). No Rio Grande do Sul, onde um terço da sua área corresponde parte da bacia do rio Uruguai, no início do século 40% do Estado era coberto por florestas e atualmente, restaram 2,6%. Tabela 2.9 Desmatamento nos estados de São Paulo, Paraná e leste da bacia do Paraguai Ano Cobertura original do Estado de Ano Cobertura original do Estado do Ano Cobertura original(*) % São Paulo % Paraná < 1886 81,8 < 1890 83,4 1945 55 1886 70,5 1890 83,4 1960 45 1907 58,0 1930 64,1 1970 35 1935 26,2 1937 58,7 1980 25 1952 18,2 1950 39,7 1990 15 1962 13,7 1965 23,9 1973 8,3 1980 11,9 1990 5,2 (*) Leste do Paraguai (Anderson Jr. et al,1993) Pode-se observar que grande parte dos desmatamentos ocorreram antes de 1970 e a maioria do aumento do escoamento ocorreu depois de 1970. No entanto, houve uma importante alteração na prática agrícola em parte da região, com a retirada 16

do café para plantio de soja ocorrida na virada dos anos 70. Isto ocorreu devido a uma grande geada no final dos 60 no Paraná, que dizimou grande parte dos cafezais. A figura 2.3 apresenta uma amostra de alteração de cobertura vegetal em parte da bacia do Paraná. O cultivo de soja é de um cultivo anual que deixa o solo muito exposto, principalmente com o uso de máquinas agrícolas. A figura 2.4 mostra o aumento de venda de implementos agrícolas no Paraná durante a década de 70. Estes são indícios importantes que o efeito do solo poderia aumentar o escoamento médio. No entanto não existem dados que comprovam este efeito em bacias de grande porte. Figura 2.3 Mudanças do uso do solo em amostras no Norte do Paraná (Kroner, 1990) Figura 2.4 Número de equipamentos vendidos no Paraná ( Parchen e Bragagnolo, 1991) 17

Em resumo, existem mais questões do que respostas e mais pesquisas necessitam ser realizadas para melhor identificar este problema. As principais conclusões são : (a) o escoamento aumentou no alto Paraguai, Paraná e Uruguai depois da década de 70; (b) a precipitação e o uso do solo contribuíram para este aumento e não há uma resposta clara da contribuição da magnitude das causas. No contexto dos recursos e desenvolvimento a principal questão é a seguinte: Qual parcela da mudança do escoamento é permanente? Em termos de produção de energia um aumento permanente no escoamento representa aumento na energia firme, mas pode diminuir a vida útil dos reservatórios devido a sedimentação. Em termos de navegação a profundidade da água aumenta e o período no qual o rio é navegável pode aumentar. Em termos de regime de inundações, prejuízos de enchentes podem ser grandes. 2.4.2 Hidrovia Paraná Paraguai Esta hidrovia tem 3.600 km de extensão desde Nova Palmira na costa até Cáceres no extremo superior. Para aumenta a capacidade de transporte da hidrovia foram planejadas obras para aumentar o calado da via. O primeiro projeto foi apresentado pela Internave e o último por Hidroservice Louis Berger EIH. Este último projeto apresenta as seguintes alternativas: De Santa Fé na Argentina até Assunção o canal tem largura de 100 m e profundidade de 3 m De Assunção até Corumbá no Brasil o canal tem 90 m de largura e profundidade de 2,6 m ; De Corumbá até Cáceres são propostas várias obras que resultarão em profundidade de 1,5 a 1,8 m. A maior preocupação de impacto ambiental devido as obras são sobre os efeitos sobre o Pantanal. As obras aumentarão a capacidade de escoamento do rio que podem diminuir a quantidade de água e sedimentos que escoará para a planície. Nos anos mais críticos, de pequena inundação, reduzindo este fluxo poderá reduzir a área de banhado. A planície do Pantanal possui um balanço negativo entre precipitação e vazão e depende do fluxo proveniente do Planalto que inunda suas margens. Portanto as principais questões são: As obras de navegação poderão modificar as condições de escoamento e reduzir o volume de água que irá para a planície do Pantanal? Se ocorrer quanto representa? Qual é o impacto sobre a planície de uma seqüência de anos secos com estas obras? 18

2.5 Principais interfaces internacionais O trecho internacional brasileiro é extenso e as bacias brasileiras encontram-se principalmente a montante das áreas dos países vizinhos. Neste sentido, a tendência é de que ações no território brasileiro de alguma forma podem produzir impactos nos países vizinhos. Neste sentido foram identificados os principais aspectos destas interfaces e analisados ainda de forma superficial. Este texto tem a finalidade principal de identificá-los. Mineração : A mineração que ocorreu principalmente no Mato Grosso despejou mercúrio nos rios. Este depósito junto aos sedimentos poderá se deslocar para jusante ao longo do tempo. Existem poucos estudos quantitativos sobre o assunto e atualmente no projeto GEF/Paraguai estão sendo realizadas algumas quantificações. Provavelmente este impacto ainda não atingiu os trechos internacionais, mas no futuro algumas alegações poderão ser realizadas sobre o assunto. Navegação Brasil/Bolívia no rio Paraguai: próximo a Corumbá existe um trecho comum em que o governo Bolívia deseja trafegar, mas as condições de transporte são precárias e existe a necessidade de dragagem. As entidades de fiscalização ambiental não tem permitido esta ação e problema aparentemente continua num impasse. Navegação do rio Paraguai trecho Cáceres-Corumbá: neste trecho, apesar de estar dentro to território brasileiro, faz parte da hidrovia do rio Paraguai que vai até a foz do rio da Prata. No item 2.4 este assunto é destacado e atualmente o cenário é de que o Ministério de Transporte através da sua Agência local tem procurado dar manutenção da via. Itaipu Binacional - Aproveitamento hidrelétrico brasileiro-paraguaio construído na década de 70 que representa cerca de 20% da potência instalada no país. Este aproveitamento opera com base em acordo Brasil Argentina e Paraguai. O acordo prevê restrições de variações artificiais de escoamento a jusante de Itaipu no rio Paraná, logo após a confluência com o rio Iguaçu. O acordo prevê limitações de variações de níveis dentro do dia (máximo de 2m em 1 dia) e diária (0,50 m em 2 horas). Projeto hidrelétrico Binacional de Garabi : projeto elaborado na década de 80 na bacia do rio Uruguai. Este aproveitamento não foi iniciada a sua construção e não existe um planejamento de curto prazo para o mesmo. Rio Quaraí: O rio Quaraí divide o Brasil e o Uruguai e é a fluente do rio Uruguai. Nesta bacia existe uma grande quantidade de usuários de água, principalmente para irrigação de arroz. Do lado uruguaio a pressão pela água é menor, mas já existem discussões sobre o uso adequado, portanto nesta bacia será necessário a curto e médio prazo uma ação no sentido de desenvolver um Plano de bacia a nível de binacional visando harmonizar os diferentes usuários. 19

Cooperação nos programas dentro do CIC: os programas de Alerta Hidrológico e de Qualidade da água, dentro do qual foram propostos vários projetos não tem apresentado grande dinâmica, apenas troca de informação. No relatório enviado ao CIC sobre a reunião de Foz de Iguaçu foi proposta a criação de uma secretaria técnica para impulsionar estas atividades em função da pequena ação do CIC a nível técnico. O governo brasileiro deverá negociar a localização desta secretaria, se a mesma for criada. Comentário: Na bacia do Prata o Brasil encontra-se a montante de todos os países e as ações que ocorrerem no território brasileiro poderão apresentar repercussões a jusante. Neste sentido, é importante que o Planejamento das bacias brasileiras contemplem esta possibilidade evitando potenciais conflitos. 20

3. Rio Alto Paraguai 3.1 Características gerais da bacia e seus condicionantes A bacia do Alto Paraguai tem uma área total de 496.000 km 2 envolvendo áreas da Bolívia e dos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. A área em território brasileiro é de 396.000 km 2. Geralmente a parcela da bacia contribuinte correspondente a Bolívia não é considerada na avaliação hidrológica a jusante devido ao pequeno volume de escoamento que chega ao rio Paraguai (DNOS, 1974). Os principais formadores do rio Paraguai são os rios Cuiabá, São Lourenço, Piquiri, Taquari, Miranda e Negro, todos pela margem esquerda. Nesta bacia existem duas áreas geográficas predominantes (figura 3.1) Planalto: representado pela parte superior da bacia (acima de 200 m de altitude), que possui comportamento hidrológico encontrado na maioria das bacias brasileiras: precipitações da ordem de 1500 mm ou mais, escoamento com respostas de algumas horas ou poucos dias e coeficiente de escoamento da ordem de 30-50%; Pantanal: parte inferior da bacia (abaixo de 200 m), representando uma área de drenagem de 138.000 km 2, com baixa capacidade de drenagem e sujeita, na sua quase totalidade, a inundação. Esta região possui características singulares de comportamento hidrológico. Nos afluentes do rio Paraguai cerca de 50-60% do volume de água e sedimentos proveniente do Planalto é retido pela várzea, reduzindo a vazão média para jusante. Esse volume alimenta a várzea com água e nutrientes que funcionam como viveiros naturais numa extensa planície, caracterizando uma área úmida. O escoamento ocorre do Planalto para o Pantanal. Esses rios ao entrarem no Pantanal sofrem uma drástica redução de velocidade decorrente da brusca mudança de declividade da linha de água provocada por dois grandes estrangulamentos no rio Alto Paraguai (na vizinhança do posto São Francisco a montante de Corumbá e próximo a Fecho dos Morros). Associado a este fenômeno, ocorre a deposição de sedimentos, o assoreamento no leito e uma perda de poder erosivo que se traduzem por uma menor seção de rio. O escoamento ocorre do Planalto para o Pantanal. Esses rios ao entrarem no Pantanal sofrem uma drástica redução de velocidade decorrente da brusca mudança de declividade da linha de água provocada por grandes estrangulamentos no rio Alto Paraguai (a montante de Corumbá, na vizinhança do posto São Francisco e outro a jusante de Corumbá próximo a Fecho dos Morros). Associado a este fenômeno, ocorre a deposição de sedimentos, o assoreamento no 21

leito e uma perda de poder erosivo que se traduzem por uma menor seção de rio. Durante as enchentes, como as seções dos rios no Pantanal são menores, parte importante do volume extravasa para a planície ocupando as depressões, formando uma paisagem de pequenos lagos, que se interligam nas enchentes e represam a água quando os níveis baixam. Grande parte do volume de água e sedimentos proveniente do Planalto é retido reduzindo a vazão para jusante. Esse volume é evaporado já que o balanço hídrico entre a precipitação e a evaporação potencial é negativo e a percolação é pequena. Como se observa, o sistema funciona como um grande reservatório, com reduzida vazão de saída e inundação de áreas ribeirinhas, criando os condicionantes naturais da formação dessas áreas úmidas (wetlands). Esse sistema depende da baixa capacidade de escoamento da rede de rios. Caso, essa capacidade fosse aumentada, a tendência seria de aumento das vazões e redução do volume retido na planície. A paisagem dominante poderia se transformar de banhado em cerrado, considerando que as isoietas de precipitação sobre a bacia são da ordem de 1000 mm no Pantanal e a evapotranspiração potencial cerca de 1500mm. 3.2 Monitoramento A rede Hidrometeorológica da região é operada principalmente por entidades federais. Até os anos 90 a rede era operada pelo DNAEE Departamento Nacional de Energia Elétrica, DNOS Departamento Nacional de Obras e Saneamento e INEMET Instituto Nacional de Meteorologia. Com o fechamento do DNOS e a transformação do DNAEE em ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica, a rede atualmente é principalmente operada pela ANEEL. A seguir são apresentados os principais aspectos da mesma. 3.2.1Pluviometria Na bacia do Alto Paraguai até 1992 (IPH, 1994) existiam 214 postos pluviométricos, dos quais 22 foram desativados, resultam 192 em operação. Destes postos: 56 foram e são operados pelo DNAEE, atualmente ANEEL, e 116 foram operados pelo DNOS, transferidos para a ANEEL; 13 são do INEMET e os restantes por outras entidades. Na tabela 3.1 são apresentados os postos segundo o tipo de equipamento e medida. Destes postos 133 encontram-se no Planalto (1 para 1800 km 2 ) 81 no Pantanal (1 para 1650 km 2 ). São 44 pluviógrafos no Planalto com densidade de 1 para cada 3 pluviômetro. Enquanto que no Pantanal são 24 pluviógrafos, resultando numa relação de 1 para 3,4 pluviômetros. 22

Figura 3.1 Bacia do Alto Paraguai (IPH, 1994) Para que se possa observar a disponibilidade temporal dos dados na figura 3.2 são apresentados o número de anos de dados pluviométricos em função do ano, indicando que no ano de 1969 houve um grande salto de informações em função do projeto da UNESCO que implantou um grande número de postos. Estes números não são os ideais, mas são satisfatórios considerando o tamanho da área e as dificuldades de acesso e observação. 3.2.2 Fluviometria A rede fluviométrica da BAP é formada por 155 estações, locais onde estão sendo medidos (ou foram medidos) os níveis e as vazões dos rios da região. O número total de postos é maior, porém postos num mesmo local ou próximos, operados 23

por diferentes entidades, foram reunidos em uma só estação. Das 155 estações, 132 foram vistoriadas até o final de 1995 no projeto PCBAP. Observa-se que a rede fluviométrica da Bacia do Alto Paraguai é basicamente composta por 3 tipos de postos: Tabela 3.1 Distribuição dos postos (IPH,1994) Tipo de posto Quantidade (%) do total de postos * Pluviômetro 184 86,0 Pluviógrafo 66 30,8 Evaporação 13 6,1 Climatológico 26 12,1 Telemétrico 18 8,4 * o total deve ser superior a 100 %, pois os postos tem mais de uma categoria 6000 5000 4000 40 35 30 25 anos 3000 20 postos 2000 1000 0 15 10 5 0 1912 1914 1922 1931 1941 1953 1955 1960 1963 1965 1967 1969 1971 1973 1975 1977 1979 1982 1984 1987 ano de implantação do posto disponível potencial postos Figura 3.2 Variação do número de anos de dados pluviométricos(iph, 1994) aqueles que atendem a navegação. São poucos e foram, geralmente, implantados antes da década de 60; os implantados na década de 1960, foram pelo DNAEE e pelo projeto PNUD/UNESCO/DNOS, para estudo da hidrologia da região. São os mais numerosos e constituem o núcleo central, em torno do qual é estruturada a coleta da informação hidrológica na bacia do Alto Paraguai; os que foram instalados por entidades do setor elétrico para atendimento de necessidades específicas e localizadas, geralmente mantidos por curto período de tempo. A distribuição percentual de cada tipo de dado monitorado é apresentada na tabela 3.2. Como pode-se observar a quantidade de postos da rede básica como 24

medições de vazão representa 82,1 % do total e apenas 14,3 com medições de sedimentos. A cobertura proporcionada por essa rede é fraca como se pode verificar na tabela 3.3. Ela é um pouco melhor nas cabeceiras dos rios das regiões Norte e Leste (média de 2.907 km 2 por estação fluviométrica em operação) do que na depressão pantaneira e nas cabeceiras dos rios da região Sul (Miranda e Apa) - (média de 8.675 km 2 por estação em operação). A distribuição das estações em função de superfície da bacia contribuinte, apontada na tabela 3.4, é um pouco mais significativa que a densidade média de cobertura, mas também não é fator decisivo para julgar da pertinência da implantação das estações. Tabela 3.2 Distribuição dos 85 postos em operação na BAP (IPH, 1994) Tipo de posto Quantidade Porcentagem do total de postos Nível 10 11,9 Vazão 69 82,1 Registrador 21 25,0 Telemétrico 12 14,3 Sedimentos 12 14,3 Qualidade 9 10,7 * o total deve ser superior a 100 %, pois os postos tem mais de uma categoria Tabela 3.3 Condições de operação da rede fluviométrica dos principais ambientes da Bacia do Alto Paraguai (BAP) (dez 95) (IPH,1994) Cabeceiras Depressão Pantaneira BAP (abaixo de 200m) Estações em operação em 57 28 85 Dezembro de 1995 (O) Estações desativadas 36 19 55 ( D, SL, RA ) Estações com situação 11 4 15 indefinida Total 104 51 155 No estudo Hidrossedimentológico do Alto Paraguai do PCBAP - Plano de Conservação do Alto Paraguai foi realizada uma avaliação dos postos, reproduzida em parte, a seguir. Na análise observou-se que 80,6% das estações permitem medir os níveis da água desde que se tenha algum cuidado nos postos que apresentam restrições. Cerca de 66% destas estações possibilitam a coleta adequada de dados de vazões e 49% proporcionam condições razoáveis para medição de descarga sólida (embora apenas 18% tenham condições boas para essas medições). No entanto, essa conclusão tem que ser aceita com cuidado, pois o ideal é que as boas condições de monitoramento dos níveis, das vazões e das descargas sólidas 25

estejam presentes numa mesma estação para que a operação da mesma apresente a maior eficiência. Classificando os postos pela sua aptidão de medir simultaneamente essas três grandezas, o resultado obtido difere do anterior. Atualmente 59 estações de qualidade boa ou regular (ou seja 38% da rede potencial) possibilitam o monitoramento simultâneo de cotas de água, vazões e descargas sólidas, desde que se tenha cuidado no cálculo das descargas sólidas. Tabela 3.4 Distribuição das estações fluviométricas em função da área da bacia contribuinte. (IPH, 1994) Intervalos de área (km 2 ) Estações teoricamente Estações em operação aproveitáveis n o % n o % A < 500 500 < A < 1000 1000 < A < 5000 5000 < A < 10000 10000 < A < 50000 A > 500000 9 13 40 14 26 8 8,2 11,8 36,4 12,7 23,6 7,3 4 4 25 10 19 7 5,8 5,8 36,2 14,5 27,5 10,2 Total 110* 100 69 100 * das 155 estações 45 não tem a área de contribuição estimada nos catálogos do DNAEE ** das 85 estações em operação 16 não tem a área de contribuição estimada. As estações de monitoramento apenas fluviométrico (cotas e vazões) são 26 e representam 16,8% da rede potencial, enquanto que as que permitem monitorar apenas uma variável (geralmente a cota de água) são 32 (20,7% do potencial). As principais observações do estudo realizado (IPH, 1994) sobre coleta de sedimentos são: as medições de descarga sólida na BAP são relativamente recentes, pois elas só foram iniciadas em 1977, excetuando as duas medições feitas no Rio Paraguai em 1964/65 (Porto Esperança). há concentração de postos sedimentométricos em determinadas áreas:(a) 10 na bacia do rio Jubá (MT), em função do aproveitamento hidrelétrico de mesmo nome; (b) 11 na região da Grande Cuiabá (7 no rio Cuiabá e 4 no rio Coxipó); (c) 5 locais nas imediações da UHE Poxoréu. as medições foram efetuadas ocasionalmente na quase metade dos postos (1 a 6 medições em 27 dos 63 locais). monitoramento foi praticamente contínuo em apenas duas épocas: de 1977 a 1982 e de 1985 até dezembro de 1994. No primeiro caso, tratava-se da rede implantada e operada pelo DNOS, que visava monitorar os aportes de sedimentos das bacias de cabeceira. No segundo, tratava-se da rede de monitoramento das águas da Grande Cuiabá, operada pela FEMA com apoio da UFMT. Em ambos os casos, a freqüência média das medições é praticamente mensal. 26

Assim sendo, a distribuição da informação sobre descargas sólidas encontra-se concentrada em alguns períodos e alguns locais, enquanto a maior parte da bacia está desprovida do mínimo de dados a seu respeito. Além disso, há repetição de informação nos locais em que a mesma está concentrada, como é o caso da Grande Cuiabá. Embora esta informação, neste caso, possa ser necessária para o controle do ambiente hídrico na escala local, ela pouco acrescenta para o conhecimento do regime sedimentológico da BAP: os locais de medição são muito próximos uns dos outros, e as diferenças entre os valores medidos naqueles locais são geralmente mínimas. O estudo concluiu que existiam 1203 medições potencialmente aproveitáveis para avaliar a hidrossedimentologia da BAP. Dessas medições, 1090 foram efetuadas na bacias de cabeceiras e 113 na depressão pantaneira. Caso as referidas medições tivessem sido executadas de modo a fornecer todos os dados exigidos para o exato conhecimento das cargas e descargas sólidas, o volume de informações por elas geradas representaria um conjunto de aproximadamente 300.000 elementos. Desse conjunto 15% se relacionaria com as características do leito, outros 15% com o escoamento propriamente dito, 45% com o transporte por suspensão ou diluição; e os restantes 25%, com o transporte de fundo. 3.2.3 Avaliação As principais conclusões sobre a rede são: Existem apenas 4 postos fluviométricos em bacias com menos de 500 km 2 e apenas 2 em bacias abaixo de 100 km 2. Não existe nenhum posto com coleta de sedimentos numa bacia menor que 500 km 2. Portanto, a maior limitação da rede hidrométrica é a falta de dados em pequenas bacias hidrográficas; Nesta bacia o leito dos rios são móveis e a necessidade de verificação da validade das curvas de descargas é fundamental, principalmente após os períodos chuvosos; Nos afluentes do rio Paraguai é necessário verificar o efeito de remanso do mesmo em períodos úmidos, já que devido a baixa declividade provavelmente este efeito ocorra em diferentes condições por extensões longas nestes afluentes, distorcendo as vazões; solo do rio Taquari é muito frágil e a produção de sedimentos por erosão é muito grande principalmente devido ao gado. Além disso, a produção de soja, que ocupa área menor também apresenta produção de sedimentos. Existe a necessidade de localização de postos fluviométricos, pluviométricos e sedimentométricos que quantifiquem estes condicionamentos; Na parte superior da bacia, onde existem isoietas com as maiores precipitações existe influência do comportamento climático da Amazônia, no entanto a cobertura de postos de precipitação é deficiente. 27