OS RECURSOS HÍDRICOS BRASILEIROS E O REÚSO DE ÁGUA NO BRASIL



Documentos relacionados
Bacias hidrográficas do Brasil. Só percebemos o valor da água depois que a fonte seca. [Provérbio Popular]

3. do Sul-Sudeste. Sudeste.

Água - Recurso Natural

A HIDROSFERA. Colégio Senhora de Fátima. Disciplina: Geografia 6 ano Profª Jenifer Tortato

REDES HIDROGRÁFICAS SÃO TODOS OS RECURSOS HIDROGRÁFICAS DE UM PAÍS, COMPOSTOS GERALMENTE PELOS RIOS, LAGOS E REPRESAS.

RESUMO DO CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

Bacia Hidrográfica ou Bacia de drenagem de um curso de água é o conjunto de terras que fazem a drenagem da água das precipitações para esse curso de

Hidrografia. Bacias hidrográficas no mundo. Relevo oceânico

PROF. RICARDO TEIXEIRA A DINÂMICA DA HIDROSFERA

Recursos Hídricos GEOGRAFIA DAVI PAULINO

LINEAMENTOS PARA MELHORAR A GESTÃO DAS ÁGUAS RESIDUAIS DOMÉSTICAS E FAZER MAIS SUSTENTÁVEL A PROTEÇÃO DA SAÚDE

REQUERIMENTO (Do Sr. Vittorio Medioli)

Ciências Humanas e Suas Tecnologias - Geografia Ensino Médio, 3º Ano Bacias Hidrográficas Brasileiras. Prof. Claudimar Fontinele

Mesa Redonda 5: Monitoramento de Águas Subterrâneas, Estratégias para Implantação de um Modelo Cooperativo

HIDROGRAFIA DO BRASIL

IT AGRICULTURA IRRIGADA. (parte 1)

Climas do Brasil GEOGRAFIA DAVI PAULINO

Água. Como tema gerador para. Apresentação cedida por Valéria G. Iared

Hidrografia Brasileira

O Q UE U É HIDRO R GRA R FIA? A

DEPARTAMENTO NACIONAL DE PRODUÇÃO MINERAL PORTARIA Nº 231,de 31 DE JULHO DE 1998, DOU de 07/08/98

O maior manancial de água doce do mundo

CAPÍTULO 8 O FENÔMENO EL NIÑO -LA NIÑA E SUA INFLUENCIA NA COSTA BRASILEIRA

O ESTADO DA ARTE DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS E O SEU CONTEXTO DIANTE DAS POLÍTICAS PÚBLICAS NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE

A água nossa de cada dia

INTEGRAÇÃO DOS INSTRUMENTOS DE GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS COM O PLANO DE BACIA

PRIMEIROS ANOS. GEOGRAFIA CONTEÚDO P2 2º TRI Água: superficiais, oceânicas e usos. Profº André Tomasini

3º Congresso Científico do Projeto SWITCH. Belo Horizonte, MG, Brasil 30 de novembro a 04 de dezembro

PROJETO DE LEI Nº, DE 2014

Ciclo hidrológico. Distribuição da água na Terra. Tipo Ocorrência Volumes (km 3 ) Água doce superficial. Rios. Lagos Umidade do solo.

POLÍTICA NACIONAL DE SEGURANÇA DE BARRAGENS. Lei /2010. Carlos Motta Nunes. Dam World Conference. Maceió, outubro de 2012

Atividade de Aprendizagem 1 Aquífero Guarani Eixo(s) temático(s) Tema Conteúdos Usos / objetivos Voltadas para procedimentos e atitudes Competências

"Água e os Desafios do. Setor Produtivo" EMPRESAS QUE DÃO ATENÇÃO AO VERDE DIFICILMENTE ENTRAM NO VERMELHO.

Biomas Brasileiros. 1. Bioma Floresta Amazônica. 2. Bioma Caatinga. 3. Bioma Cerrado. 4. Bioma Mata Atlântica. 5. Bioma Pantanal Mato- Grossense

Ensino Fundamental II

11.1. INFORMAÇÕES GERAIS

hidrográficas estão separadas por uma linha que une pontos de maior altitude, o interflúvio ou divisor d água

Curso: Panorama dos Recursos Hídricos no Mundo e no Brasil

Abril Educação Água Aluno(a): Número: Ano: Professor(a): Data: Nota:

GIRH como Ferramenta de Adaptação às Mudanças Climáticas. Adaptação em Gestão das Águas

Respostas das questões sobre as regiões do Brasil

1. o ANO ENSINO MÉDIO. Prof. Jefferson Oliveira Prof. ª Ludmila Dutra

Curso de Gestão de Águas Pluviais

LUGARES E PAISAGENS DO PLANETA TERRA

Colégio São Paulo Geografia Prof. Eder Rubens

Hidrografia no Brasil. Luciano Teixeira

CORREÇÃO DAS ATIVIDADES DE SALA E TAREFAS.

MEIO AMBIENTE RECURSOS HÍDRICOS BEM CUIDAR PARA PERENIZAR

GOVERNO DO ESTADO DE GOIÁS Gabinete Civil da Governadoria

GESTÃO INTEGRADA DAS BACIAS HIDROGRÁFICAS - PRINCIPAIS DIRETRIZES E DESAFIOS. Flávio Terra Barth 1

1 (0,5) Dos 3% de água doce que estão na superfície terrestre, onde estão concentradas as grandes parcelas dessas águas? R:

Reuso macroexterno: reuso de efluentes provenientes de estações de tratamento administradas por concessionárias ou de outra indústria;

Bacias hidrográficas brasileiras

Serão distribuídos: Para os professores: Cinco módulos temáticos e um caderno de atividades. Para os alunos: um caderno de atividades.

Órgão de Coordenação: Secretaria de Estado da Ciência e Tecnologia e do Meio Ambiente SECTMA

Organização da Aula. Política de Desenvolvimento Econômico. Aula 2. Contextualização

RESOLUÇÃO CNRH N o 109, DE 13 DE ABRIL DE 2010

PROJETO DE LEI DO SENADO Nº, DE 2016

Simpósio Estadual Saneamento Básico e Resíduos Sólidos: Avanços Necessários MPRS

"Experiências Internacionais de Gestão de Recursos Hídricos: lições para a implementação da Lei sobre Cobrança pelo Uso da Água no Brasil".

PERFIL LONGITUDINAL DE UM VALE FLUVIAL

Gestão de Recursos Hídricos no Brasil VISÃO GERAL Nelson Neto de Freitas Coordenador de Instâncias Colegiadas do SINGREH Agência Nacional de Águas

EXERCÍCIOS DE REVISÃO - CAP. 04-7ºS ANOS

USO RACIONAL DA ÁGUA 2008

Em 2050 a população mundial provavelmente

DINÂMICA LOCAL INTERATIVA CONTEÚDO E HABILIDADES FORTALECENDO SABERES GEOGRAFIA DESAFIO DO DIA. Aula 21.1 Conteúdo. Região Sudeste

Projeto de Integração do Rio São Francisco com Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional

COLÉGIO XIX DE MARÇO excelência em educação 2ª PROVA PARCIAL DE GEOGRAFIA

RECURSOS HÍDRICOS DISPONÍVEIS NO BRASIL PARA GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA

Capítulo 21 Meio Ambiente Global. Geografia - 1ª Série. O Tratado de Kyoto

ESTADO DOS CADASTROS DE USUÁRIOS NAS BACIAS PCJ NO ANO DE 2013

COLÉGIO MARQUES RODRIGUES - SIMULADO

A OUTORGA DE DIREITO DE USO DOS RECURSOS HÍDRICOS NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO CAPIBARIBE, PERNAMBUCO- BRASIL.

CHECK - LIST - ISO 9001:2000

Tratamento Descentralizado de Efluentes HUBER BioMem

PORTARIA SERLA N 591, de 14 de agosto de 2007

Mudanças Climáticas: Efeitos Sobre a Vida e Impactos nas Grandes Cidades. Água e Clima As lições da crise na região Sudeste

Concepção de instalações para o abastecimento de água

Bacias hidrográficas brasileiras

ASSEMBLÉIA GERAL DA RELOB AS ESTRUTURAS DE GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS NAS BACIAS PCJ

SISTEMA DE REAPROVEITAMENTO DE ÁGUA RESIDUAIS DE PROCESSOS INDUSTRIAL E ESGOTO RESIDENCIAIS POR MEIO DE TRANSFORMAÇÃO TÉRMICAS FÍSICO QUÍMICA N0.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS

1) INSTRUÇÃO: Para responder à questão, considere as afirmativas a seguir, sobre a Região Nordeste do Brasil.

Ministério da Cultura Secretaria de Articulação Institucional SAI

Analfabetismo no Brasil

Dúvidas e Esclarecimentos sobre a Proposta de Criação da RDS do Mato Verdinho/MT

Ideal Qualificação Profissional

O QUE É. Uma política de governo para redução da pobreza e da fome utilizando a energia como vetor de desenvolvimento. Eletrobrás

Carta Regional dos Municípios de Itaguaí, Mangaratiba, Seropédica e Rio de Janeiro.

MUDANÇAS DO CLIMA E OS RECURSOS HÍDRICOS. São Carlos, 25 de fevereiro de 2010

Prova bimestral 5 o ano 2 o Bimestre

Gestão da Demanda de Água Através de Convênios e Parcerias com o Governo do Estado de São Paulo e Prefeitura da Cidade de São Paulo SABESP

BRASIL NO MUNDO: FUSOS HORÁRIOS DO BRASIL. Nossas fronteiras-problema : Fusos horários Mundiais

DISCURSO PROFERIDO PELO DEPUTADO JOÃO HERRMANN NETO (PDT/SP), NA SESSÃO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS, EM.../.../... Senhor Presidente

INDICADORES DE GESTÃO AMBIENTAL

PROGNÓSTICO TRIMESTRAL (Setembro Outubro e Novembro de- 2003).

USO RACIONAL DA ÁGUA NA AGRICULTURA

NOSSO PLANETA. O planeta Terra se caracteriza por uma história evolutiva complexa:

As Diretrizes de Sustentabilidade a serem seguidas na elaboração dos projetos dos sistemas de abastecimento de água são:

PROGNÓSTICO CLIMÁTICO. (Fevereiro, Março e Abril de 2002).

Transcrição:

RONALDO ROSA SOARES OS RECURSOS HÍDRICOS BRASILEIROS E O REÚSO DE ÁGUA NO BRASIL UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE RIO DE JANEIRO 2011

SUMÁRIO I. INTRODUÇÃO II. III. METODOLOGIA FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 3.1. ÁGUA 3.2 ÁGUA NO BRASIL 3.3.1 BACIAS HIDROGRÁFICAS 3.3.2 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS 3.3 REÚSO DE ÁGUA E A LEI 9.433/97 3.3.1 AÇÕES DO REÚSO NO BRASIL PRECISAM AVANÇAR 3.3.2 CLASSIFICAÇÃO DE REÚSO 3.3.3 FORMAS POTENCIAIS DE REÚSO 3.3.4 A FORMAÇÃO DO SISTEMA NAC. DE RECURSOS HÍDRICOS IV. CONCLUSÃO REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

I. INTRODUÇÃO A água tornou-se um fator limitante para o desenvolvimento urbano, industrial e agrícola. Planejadores e entidades gestoras de recursos hídricos procuram continuamente novas fontes de recursos para complementar à pequena disponibilidade hídrica ainda disponível. Ao longo dos últimos 50 anos, com o crescimento acelerado das populações e do desenvolvimento industrial e tecnológico, as poucas fontes disponíveis de água doce do planeta estão comprometidas ou correndo risco. Mundialmente, o consumo humano de água doce duplica a cada 25 anos, embora o colapso do abastecimento seja uma realidade em muitos lugares, sobretudo em periferias das grandes metrópoles densamente povoadas onde ainda se vive à ilusão de que a água potável é um recurso infinito. A crescente demanda por água de consumo humano (ou seja, de boa qualidade) tem feito do reúso planejado um tema atual e de grande importância, principalmente na nova Política Nacional de Recursos Hídricos. Reúso é o processo de reutilização da água para o mesmo ou outro fim, e essa reutilização pode ser direta ou indireta, decorrente de ações planejadas ou não. A água do reúso pode ser utilizada para vários fins, como irrigação paisagística, irrigação de campos para o cultivo, uso industrial, algumas finalidades ambientais, para recarga de aqüíferos e outros usos diversos.1 Reuso de água é o aproveitamento de águas previamente utilizadas, uma ou mais vezes, em alguma atividade humana, para suprir as necessidades de outros usos benéficos, inclusive o original. Pode ser direto ou indireto, bem como decorrer de ações planejadas ou não planejadas. Este trabalho apresenta como tema central o reúso de água e a sua utilização, tendo em vista a configuração física do território brasileiro. Por meio deste, busca-se mostrar a forma como é utilizado o reuso de água no Brasil. Para chegar a alguma conclusão em relação a questão, se apresentará um panorama dos recusos hidrícos brasileiros. 1 O termo água de reúso passou a ser utilizado com mais influência na década de 1980.

A água, como sabemos, é fundamental para o desenvolvimento. Ela teve seu valor reconhecido como bem comercial, isto é, escasso e limitado. Por isso, a água de reúso vem sendo cada vez mais utilizada. O Brasil, apesar de encontrar em seu território uma quantidade abundante de água, utiliza-se desse instrumento. O défict de água em algumas regiões do Brasil, não associadas somente com a escassez, mas também com uma demanda superior ao volume ofertado, existe em seu território e a água reciclada é uma saída ideal para a atenuação ou até mesmo a resolução do problema. II. METODOLOGIA Para o fim de demonstrar o papel e o potencial do reuso de água no Brasil, em integração aos já existentes recursos hídricos naturais brasileiros, foi utilizada para o trabalho uma extensa pesquisa bibliográfica sobre o tema. Por meio desse instrumento, procurou-se, primeiramente, apresentar as características fundamentais do objeto de estudo, tanto geológica e biologicamente quanto em suas diferentes formas de interação com a vida humana. A utilização de estatísticas também é um dos fundamentos principais da pesquisa, principalmente referencialmente a dados objetivos, como o volume ou a demanda de águas em determinadas regiões do país. Por causa da extrema importância de dados estatísticos no trabalho, foi buscado ater-se a fontes oficiais, como o governo brasileiro e órgãos internacionais como o Banco Mundial e a Organização das Nações Unidas. O caráter do seguinte trabalho, portanto, é de pesquisa não-básica, isto é, que não procura criar conhecimentos práticos, mas sim pegar dados pré-existentes e chegar a conclusões sobre eles em um nível puramente teórico. É uma pesquisa extensiva, no sentido de que não tem como objetivo um novo conhecimento, mas um conhecimento aprofundado sobre um tema já estudado. Para tanto, primeiramente se buscará fazer uma exposição, seguida de análise, da conjuntura física do território nacional, assim como uma apresentação da água de reúso, suas diferentes utilidades e tipos conseqüentes. Depois, serão expostas as utilizações da água de reúso no Brasil. Também se colocará que a de reuso apresenta um potencial gigantesco, e que deve ser mais explorados no Brasil, principalmente para usos não-domésticos, como a agricultura e a indústria.

III. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 3.1. ÁGUA A água pura (H 2 O) é um líquido formado por moléculas de hidrogênio e oxigênio. Na natureza, ela é composta por gases como oxigênio, dióxido de carbono e nitrogênio, dissolvidos entre as moléculas de água. Também fazem parte desta solução líquida sais, como nitratos, cloretos e carbonatos; elementos sólidos, poeira e areia podem ser carregados em suspensão. Outras substâncias químicas dão cor e gosto à água. Íons podem causar uma reação quimicamente alcalina ou ácida. As temperaturas apresentam variação de acordo com a profundidade com o local onde a água é encontrada, constituindo-se em fatores que influenciam no comportamento químico. Subentende-se água como sendo um elemento da natureza, recurso renovável, encontrado em três estados físicos: sólido (gelo), gasoso (vapor) e líquido. As águas utilizadas para consumo humano e para as atividades sócioeconômicas são retiradas de rios, lagos, represas e aqüíferos, também conhecidos como águas interiores. Origem geológica e biológica A vida surgiu no planeta há mais ou menos 3,5 bilhões de anos. Desde então, a biosfera modifica o ambiente para uma melhor adaptação. Em função das condições de temperatura e pressão que passaram a ocorrer na Terra, houve um acúmulo de água em sua superfície, nos estados líquido e sólido, formando-se assim o ciclo hidrológico. Os continentes representam a litosfera; a água existente na Terra forma a hidrosfera; cada um dos pólos (Ártico e Antártico) e os cumes das montanhas mais altas apresentam uma cobertura de gelo e neve denominada criosfera; a massa de ar que cobre a Terra é chamada de atmosfera, e a vida existente no planeta forma a biosfera.

O oxigênio tem por propriedade ser reativo, ou seja, unir-se a quase todos os outros tipos de átomos: o hidrogênio, o carbono e um grande número de metais e metalóides. Em conseqüência a este fato, quando a Terra se formou, não havia oxigênio livre na atmosfera primitiva, mas somente óxidos voláteis, como gás carbônico, água e outros compostos de hidrogênio, como metano e amoníaco. Classificação Mundial das Águas Água doce Salobras Salgadas com apresentação de teor de sólidos totais dissolvidos (STD) inferior a 1.000 mg/l. com STD entre 1.000 e 10.000 mg/l. com mais 10.000 mg/l Volume de água A quantidade total de água na Terra é distribuída da seguinte maneira: 97,5% de oceanos e mares; 2,5% de água doce; 68,9% (da quantidade geral de água doce) formam as calotas polares, geleiras e neves eternas que cobrem os cumes das montanhas altas da Terra; 29,9% restantes de água doce constituem as águas subterrâneas; 0,9% respondem pela umidade do solo e pela água dos pântanos. Características da água A caracterização da água começa a se compor ainda em seu trajeto atmosférico. As partículas sólidas e os gases atmosféricos de várias origens são dissolvidos pelas águas que caem sobre a superfície da Terra em forma de chuva, neblina ou neve. Contudo, muitas destas características são alteradas mesmo que inconscientemente pelo homem. O uso intensivo de insumos químicos na agricultura, a poluição gerada pelas indústrias e pelos grandes centros urbanos concentram alguns gases na água das chuvas, resultando na chamada chuva ácida, causadora de danos ao ambiente natural e antrópico. Isso ocasiona também a escassez de água para consumo,

fazendo com que os aspectos qualitativos da água sejam cada vez mais preocupantes nas regiões muito povoadas. As fontes hídricas são abundantes, porém mal distribuídas na superfície do planeta. Em algumas áreas, as retiradas são bem maiores que a oferta, causando um desequilíbrio nos recursos hídricos disponíveis. Essa situação tem acarretado uma limitação em termos de desenvolvimento para algumas regiões, restringindo o atendimento às necessidades humanas e degradando ecossistemas aquáticos. Os recursos hídricos são de fundamental importância no desenvolvimento de diversas atividades econômicas. A água pode representar até 90% da composição física das plantas; a falta de água pode destruir lavouras. Na indústria, as quantidades de água necessárias são superiores ao volume produzido. A utilização de métodos para o tratamento da água é viável; porém, podem produzir problemas cujas soluções são difíceis, pois que afetam a qualidade do meio ambiente, a saúde pública e outros serviços. Por sua vez, as águas das bacias hidrográficas não são confiáveis e recomendáveis para o consumo da população por não possuírem as características padrões de qualidade ambiental. 3.2 ÁGUA NO BRASIL A interação do quadro climático com os aspectos geológicos domina os excedentes hídricos que alimentam uma das mais extensas e densas redes de rios perenes do mundo. Em três grandes unidades hidrográficas: Amazonas, São Francisco e Paraná estão concentrados cerca de 80% da produção hídrica do país. Estas bacias cobrem cerca de 72% do território brasileiro, dando-se destaque à Bacia Amazônica, que possui cerca de 57% da superfície do País. Embora tamanha quantidade de água doce, há um grave problema de abastecimento no País, que é devido ao crescimento das localidades e à degradação da qualidade da água. O baixo nível tecnológico-organizacional está em condições primárias de uso, recebendo a contribuição da ocupação rural, que aumenta o desmatamento das bacias hidrográficas. O grande desenvolvimento dos processos erosivos do solo faz com que haja um empobrecimento de pastagens nativas e redução das reservas de águas do solo, assim produzindo a queda da produtividade natural.

O conhecimento das variações de tempo, espaço das chuvas, descargas dos rios, de fatores ambientais, sócio-culturais, condições de uso e conservação dos seus recursos naturais permitem planejar, evitar ou atenuar os efeitos do excesso ou da falta de água. O Brasil possui a maior disponibilidade hídrica do planeta, ou seja, 13,8% do deflúvio médio mundial. Regiões Oferta (Deflúvio médio) -1998 Consumo Total (Km3/ano) Per capita (m3/hab/ano) Total (Km3/ano) Per capita (m3/hab/ano) África 3 996 5 133.05 145.14 202 América do Norte América Central América do Sul 5 308.60 17 458.02 512.43 1798 1 056.67 8 084.08 96.01 916 10 080.91 30 374.34 106.21 335 Brasil 5 744.91 30 374.34 36.47 246 Ásia 13 206.74 3 679.91 1633.85 542 Europa 6 234.56 8 547.91 455.29 625 Oceania 1 614.25 54 794.64 16.73 591 Mundo 41 497.73 6 998.12 3240 645 Fonte: WRI, 1998c e ANEEL, 1999.

3.3.1. BACIAS HIDROGRÁFICAS É a área ocupada por um rio principal e todos os seus tributários, cujos limites constituem as vertentes, que por sua vez limitam outras bacias. No Brasil, a predominância do clima úmido propicia uma rede hidrográfica numerosa e formada por rios com grande volume de água. As bacias hidrográficas brasileiras são formadas a partir de três grandes divisores: Planalto Brasileiro Planalto das Guianas Cordilheira dos Andes Ressaltam-se oito grandes bacias hidrográficas existentes no território brasileiro; a do Rio Amazonas, do Rio Tocantins, do Atlântico Sul, trechos Norte e Nordeste, do Rio São Francisco, as do Atlântico Sul, trecho leste, a do Rio Paraná, a do Rio Paraguai e as do Atlântico Sul, trecho Sudeste. Bacias Hidrográficas Brasileiras Bacia Hidrográfica Área (103Km 2) % População Vazão (m3/s) Disponibilidade Hídrica (Km3/ano) Em 1996 % Amazonas 3900 45,8 6.687.893 4,3 133.380 4.206,27 Tocantins 757 8,9 3.503.365 2,2 11.800 372,12 Atlântico Norte 76 0,9 406.324 0,3 3.660 115,42 Atlântico Nordeste 953 11,2 30.846.744 19,6 5.390 169,98 São Francisco 634 7,4 11.734.966 7,5 2.850 89,98 Atlântico Leste 1 242 2,8 11.681.868 7,4 680 21,44

Atlântico Leste 2 303 3,6 24.198.545 15,4 3.670 115,74 Paraguai 368 4,3 1.820.569 1,2 1.290 40,68 Paraná 877 10,3 49.294.540 31,8 11.000 346,90 Uruguai 178 2,1 3.837.972 2,4 4.150 130,87 Atlântico Sudeste 224 2,6 12.427.377 7,9 4.300 135,60 Brasil 8512 100 157.070.163 100 182.170 5.744,91 Fonte:Superintendência de Estudos e Informações Hidrológicas ANEEL; População IBGE, 1998 Dados referentes à área situada em territórios brasileiro. Bacia Amazônica É a maior superfície drenada do mundo. O Rio Amazonas, dependendo da nascente, é considerado o segundo (6.557 Km) ou o primeiro rio mais extenso do mundo. É o rio de maior vazão de água (100.000 m3/s), depositando aproximadamente 15% dos débitos fluviais totais do mundo. Possui uma largura média de 4 a 5 Km, podendo atingir mais de 10 Km em alguns pontos. Nasce na planície de La Raya, no Peru, com o nome de Vilcanota, desce as montanhas, recebendo os nomes de Ucaiali, Urubanda e Marañón. No território brasileiro, recebe o nome de Solimões e, a partir da confluência com o Rio Negro, próximo a Manaus, é chamado de Amazonas. Dos seus mais de 7 mil afluentes, os principais são: Negro, Trombetas e Jari (margem esquerda); Madeira, Xingu e Tapajós (margem direita). A Bacia Amazônica possui cerca de 23.000 Km navegáveis, podendo atingir a Bacia Platina, a Bacia de São Francisco, a Bacia do Orenoco, na Venezuela, e o Rio Madalena, na Colômbia. Hoje, a travessia dessas e de outras passagens naturais ainda é difícil, mas vislumbra-se o dia em que será possível atravessar praticamente todo o continente sul americano.

A pesca fluvial apresenta um enorme potencial ainda pouco explorado. Sabe-se da existência de inúmeras espécies de peixes com aproveitamento econômico viável. Bacia do Tocantins Com 803.250 Km² de área ocupada, é a maior bacia em território nacional. O principal rio é o Tocantins, que nasce em Goiás, nas confluências dos Rios Marañón e Paraná, desaguando na foz do Rio Amazonas. É aproveitado pela Usina Hidrelétrica de Tucuruí, no Pará. Bacia do Paraná Pertence a uma bacia maior, não estando totalmente em território brasileiro, banhando também a Argentina e o Paraguai. No Brasil ocupa 10,1% da área do país. O Rio Paraná nasce da união dos Rios Paranaíba e Grande, na divisa Mato Grosso do Sul/Minas Gerais/São Paulo; possui o maior potencial hidrelétrico instalado no país, com destaque para a Usina Binacional de Itaipu, na fronteira com o Paraguai. Os principais afluentes do Rio Paraná estão na margem esquerda: Tietê, Paranapanema e Iguaçu. Na margem direita, recebe como principais afluentes os Rios Suruí, Verde e Pardo. Além do potencial hidrelétrico, a Bacia do Paraná é utilizada para navegação, em trechos que estarão interligados no futuro com a construção de canais e eclusas. Bacia do Uruguai É formada pela união dos Rios Canoas e Pelotas, correndo em direção oeste, nas divisas dos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, e em direção ao Sul, na fronteira do Rio Grande do Sul com Argentina. Os principais afluentes são os Rios do Peixe, Chapecó, Ijuí e Turvo. Tanto para a navegação como para hidrelétrica, a utilização é pequena em função da irregularidade da sua vazão e topografia do terreno. Bacia do São Francisco Nasce em Minas Gerais, na Serra da Canastra, a mais de 1000 metros de altitude, atravessa o Estado da Bahia e banha as divisas dos Estados de Pernambuco, Alagoas e Sergipe, uma região basicamente semi-árida.

É um rio de planalto; todavia, possui cerca de 2.000 quilômetros navegáveis. Possui bom potencial hidrelétrico e nele está situado a Usina de Paulo Afonso, no estado da Bahia. Atualmente suas águas estão sendo desviadas para irrigação. Bacia do Norte Nordeste Por onde correm os rios do Meio Norte do país (Maranhão e Piauí), tais como o Paranaíba, o Gurupi, Pindaré, Mearim e Itapicuru. Integrante também dessa bacia os rios intermitentes ou temporários do sertão nordestino: o Jaguaribe, Acaraú, Apodi, Piranhas, Capibaribe e outros. Bacia do Leste É formada principalmente pelos Rios Jequitinhonha, Doce, Itapicuru e Paraíba do Sul. Bacia do Sudeste Sul Entrecortada pelos Rios Ribeira do Iguape, Itajaí, Tubarão e Jacuí (que se denomina Guaíba em Porto Alegre). 3.3.2 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS A utilização das águas subterrâneas tem crescido de forma significativa nos últimos tempos, inclusive no Brasil. Há um acréscimo contínuo do número de empresas privadas e órgãos públicos com atuação na pesquisa e captação de recursos hídricos subterrâneos. Mais que uma reserva de água, as águas subterrâneas devem ser consideradas como um meio de acelerar o desenvolvimento econômico e social de regiões extremamente carentes, e do Brasil como um todo. No Brasil, as secas são fenômenos freqüentes que acarretam graves problemas sociais e econômicos, como no Polígono das Secas, e também nas regiões Centro-oeste, Sul e Sudeste. Desta forma, a exploração de águas subterrâneas tem aumentado significativamente. Vários núcleos urbanos abastecem-se de água subterrânea de forma exclusiva ou complementar. Indústrias, propriedades rurais, escolas, hospitais e outros estabelecimentos utilizam água de poços rasos e artesianos. A exploração da água subterrânea está condicionada a três fatores: quantidade (condutividade hidráulica, coeficiente de armazenamento de terrenos); qualidade

(composição de rochas, condições climáticas e renovação das águas) e econômico (depende da profundidade do aqüífero e das condições de bombeamento). Reservas de águas subterrâneas do Brasil: Domínios Aquiferos Áreas (Km) Sistemas Aquíferos Principais Volumes Estocados (Km3) Embasamento Aflorante 600.000 Zonas Fraturadas 80 Embasamento alterado 4.000.000 Manto de intemperismo e/ou fraturas 10.000 Bacia Sedimentar Amazonas 1.300.000 Depósitos Clásticos 32.500 Bacia Sedimentar do Maranhão 700.000 Corda-Grajaú, Motuca, Poti-Piauí, Cabeças e Serra grande 17.500 Bacia Sedimentar Potiguar- Recife 23.000 Grupo Barreiras, Jandaíra, Açu e Beberibe 230 Bacia Sedimentar Alagoas- Sergipe 10.000 Grupo Barreiras; Murieba 100 Bacia Sedimentar Jatobá- Tucano-Recôncavo 56.000 Marizal, São Sebastião, Tacaratu 840 Bacia Sedimentar Paraná (Brasil) 1.000.000 Bauru-Caiuá, Serra Geral, Botucatu-Pirambóia-Rio do 50.400 Rastro, Aquidauana Depósitos diversos 823.000 Aluviões, dunas 411 Total 8.512.000 --- 112.000

Fonte: ANEEL, 1999. No Brasil, estima-se que existam mais de 200.000 poços tubulares em atividade (irrigação, pecuária, abastecimento de indústrias, condomínios etc.), mas o maior volume de água ainda é destinado ao abastecimento público. Os estados com maior número de poços são: São Paulo, Bahia, Rio Grande do Sul, Ceará e Piauí. Em algumas áreas, as águas subterrâneas são intensamente aproveitadas e constituem o recurso mais importante de água doce. Águas subterrâneas na Região Sul Compreende os Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A combinação de fatores geológicos e climáticos favoreceu uma estrutura favorável ao armazenamento de água subterrânea, sendo a Bacia do Paraná um dos maiores reservatórios de água subterrânea do mundo. Embora esta região possua tal potencial, o aproveitamento de água subterrânea é feito visando o abastecimento público de pequenas comunidades do meio rural e no suporte do abastecimento de cidades de porte médio. Paraná: 80% das cidades pequenas (20% da população do estado) são atendidas com água do subsolo. Santa Catarina: 95% da população é abastecida com água de superfície; a água subterrânea é utilizada apenas no meio rural. Rio Grande do Sul: 55% de mais de 300 locais com sistema de abastecimento são atendidos total ou parcialmente com água subterrânea. ] Águas subterrâneas na Região Sudeste Os Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais fazem parte desta região. Da conformação geológica da região e da diversidade das condições climáticas e fisiográficas resultaram sistemas aqüíferos dos tipos poroso, fissural e cárstico, com características hidrogeológicas muito distintas.

O emprego das águas subterrâneas na irrigação e na indústria ainda é muito pequeno se comparado ao abastecimento público. Ainda são largamente utilizadas no abastecimento de hotéis, condomínios, colégios e postos de gasolina. Os volumes de água subterrânea disponibilizados através dos poços tubulares distribuem-se irregularmente pela região. São Paulo: cerca de 70% dos locais é abastecido a partir de manancial subterrâneo. Hoje a disponibilidade de poços tubulares é cerca de 40.000 Rio de Janeiro: conta com 2.000 poços tubulares; em algumas regiões do Estado do Rio, como a Baixada Fluminense, a utilização industrial das águas subterrâneas é significativa Espírito Santo: possui cerca de 600 poços tubulares para a captação da água subterrânea, sendo esta pouco utilizada no abastecimento público e em outras atividades sociais e econômicas Minas Gerais: cerca de 7.900 poços. Há a participação das águas subterrâneas nas sedes municipais e distritos e também no meio rural. Como exemplo, há o Projeto de Irrigação do Jaíba, no Vale do Rio Verde Grande (MG). Águas subterrâneas na Região Nordeste Região composta ao todo por nove estados: Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Piauí, Pernanbuco, Rio Grande do Norte e Sergipe. O Polígono das Secas, denominação de parte desta área, caracteriza-se por uma escassez de recursos hídricos de superfície, devido às baixas precipitações pluviométricas e à alta evapotranspiração (aproximadamente 90%). O domínio das rochas cristalinas e crisalofilianas, predominantes do clima semi-árido, está sujeito a diversidades climáticas caracterizadas por irregularidades na distribuição das chuvas. Existem, atualmente, cerca de 60.000 poços tubulares em funcionamento no Nordeste. Também é comum, na zona rural, o atendimento de pequenas comunidades através de chafarizes abastecidos por poços. Pode-se afirmar que prevalece o abastecimento público, inclusive nas grandes cidades como Maceió e Natal, inteiramente abastecidas por água subterrânea, e Recife, com 20% de sua demanda. Nos Estados do Piauí e Maranhão, o percentual de

aproveitamento de água subterrânea ultrapassa os 80%. O uso da água subterrânea na irrigação vem tomando força em vários pontos do Nordeste, como Mossoró (RN), Piauí, Pernambuco e Bahia. Águas subterrâneas na Região Centro-Oeste Abrange o Distrito Federal e os estados de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Na maior parte da província do Centro-Oeste e em áreas do escudo Central, os sistemas aqüíferos fissurados encontram-se recobertos por sedimentos cenozóicos e paleozóicos que constituem, muitas vezes, importantes aqüíferos. As águas subterrâneas têm sido utilizadas significativamente, principalmente nas áreas de influência dos grandes centros urbanos, como Brasília, Campo Grande e Dourados. Distrito Federal: possui uma grande quantidade de poços tubulares. A água subterrânea é utilizada também no abastecimento doméstico e de pequenas comunidades Goiás: cerca de 30% dos locais são atendidos com água subterrânea. A maior parte das indústrias está localizada na Bacia do Rio Paranaíba, sendo estas, abastecidas principalmente por água de superfície. Destacam-se nesta região as águas termais e minerais, intensamente aproveitadas pelo turismo. Mato Grosso: cerca de 60% dos locais são abastecidos por água subterrânea. Mato Grosso do Sul:encontram-se melhores condições hidrogeológicas, que conta com a ocorrência dos principais aqüíferos da Bacia do Paraná. A principal destinação da água subterrânea é para o abastecimento público, através de 500 poços tubulares. Águas subterrâneas na Região Norte Caracterizadas por uma situação hidrogeológica favorável, devido a presença na maior parte de seu território, de depósitos sedimentares de litologia variável, com ocorrência de horizontes de elevada permeabilidade e com freqüentes condições de artesianismo.

A água subterrânea é quase totalmente utilizada para o abastecimento humano nesta região. Para a irrigação, é de aproximadamente 10% do total; quanto ao uso industrial, é concentrado nas maiores cidades (Belém e Manaus). Amazonas: é o que utiliza o maior volume de água subterrânea; cerca de 25% do total. Acre: 18,7% dos locais utilizam águas subterrâneas. Rondônia: 25% dos locais utilizam águas subterrâneas. Tocantins: 20% dos locais utilizam águas subterrâneas. Pará: cerca de 79,4% dos locais (abastecimento público) são abastecidos com água subterrâneas Amapá: 64% utilizados no abastecimento público. 3.3 REUSO DE ÁGUA E A LEI 9.433/97 Foi promulgada em 8 de janeiro de 1997 a Nova Política de Recursos Hídricos no Congresso brasileiro, na figura da Lei número 9.433/97. Por meio dessa legislação, determinou-se uma série de mudanças, todas em consonância principalmente com os princípios da Declaração de Dublin da Conferência Internacional de Água e Meio Ambiente (ICWE- International Conference on Water and Environment). Os principais princípios ali determinados foram: a) A água doce é um recurso limitado, vulnerável e fundamental para o desenvolvimento humano; b) sua gestão, portanto, deve ser feita com a participação de seus usuários em todos os níveis políticos, desde o Municipal até o Federal; c) a água tem valor econômico. Esses princípios são importantíssimos para entender de que forma o governo deve se portar referentemente à questão da água. O terceiro princípio, isto é, o entendimento de que a água é um bem econômico, ou seja, dotado de valor

monetário, foi especialmente importante face a atitude de desperdício com que ele era encarado. Quando se submete a água à lógica economicista, de que sua economia se refere, assim como qualquer outro bem, à distribuição desigual de recursos escassos. A outorga de direito de uso de recursos hídricos é um dos seis instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos, estabelecidos no inciso III, do art. 5º da Lei Federal nº 9.433, de 08 de janeiro de 1997. Esse instrumento tem como objetivo assegurar o controle quantitativo e qualitativo dos usos da água e o efetivo exercício dos direitos de acesso à água. De acordo com o inciso IV, do art. 4º da Lei Federal nº 9.984, de 17 de junho de 2000, compete à Agência Nacional de Águas, ANA outorgar, por intermédio de autorização, o direito de uso de recursos hídricos em corpos de água de domínio da União, bem como emitir outorga preventiva. Também é competência da ANA a emissão da reserva de disponibilidade hídrica para fins de aproveitamentos hidrelétricos e sua conseqüente conversão em outorga de direito de uso de recursos hídricos. Em cumprimento ao art. 8º da citada Lei 9.984/00, a ANA dá publicidade aos pedidos de outorga de direito de uso de recursos hídricos e às respectivas autorizações, mediante publicação sistemática das solicitações e dos extratos das Resoluções de Outorga (autorizações) nos Diários Oficiais da União e do respectivo Estado. A declaração faz referência também à questão do reúso de água, o incentivando. Porém, tanto a declaração quanto a legislação brasileira não fazem nenhum tipo de recomendação quanto à forma como o reuso deve ser feito, e nem qual deve ser a finalidade de sua água resultante. Essa ausência de marcos indicatórios torna bastante livre àqueles que realizam o reúso o modo mais correto.

3.3.1 AÇÕES DO REUSO NO BRASIL PRECISAM AVANÇAR A incorporação da filosofia de reuso nos planos nacionais de gestão de recursos hídricos e desenvolvimento agrícola é de fundamental importância para regiões áridas e semiáridas, e naquelas onde a demanda é precariamente satisfeita, através de transposição de água de bacias adjacentes. O reuso implica em redução de custos, principalmente se é considerado em associação com novos projetos de sistemas de tratamento, uma vez que os padrões de qualidade de efluentes, necessários para diversos tipos de uso, são menos restritivos do que os necessários para proteção ambiental. O uso de esgotos tem sido praticado em muitas partes do mundo, por muitos séculos. Sempre que água de boa qualidade não é disponível, ou é difícil de ser obtida, águas de menor valor, tais como esgotos, águas de drenagem agrícola ou águas salobras, são espontaneamente utilizadas, principalmente em agricultura e aqüicultura. Infelizmente, essa forma de uso não institucionalizado, não planejado e, às vezes, inconsciente, é realizada sem quaisquer considerações para com os aspectos de saúde, de meio ambiente e de práticas agrícolas adequadas.embora ocorram manifestações de reuso agrícola não planejado ou inconsciente em diversas regiões brasileiras, inclusive em algumas regiões metropolitanas, a prática do reuso de água associada ao setor público ainda é extremamente incipiente no Brasil. Em alguns Estados do nordeste, particularmente Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco alguns projetos foram implantados visando a irrigação de capim elefante com efluentes domésticos, sem nenhum tratamento e sem nenhuma forma de proteção à saúde pública dos grupos de risco envolvidos. Por outro lado o setor privado, particularmente o industrial, vem, gradualmente se conscientizando de que a prática de reuso e reciclagem pode trazer benefícios significativos tanto no que concerne ao processamento industrial quanto em relação às águas de utilidades. As políticas tarifárias, praticadas pela maioria das companhias municipais e estaduais de saneamento, assim como o advento e a implementação das estruturas de outorga e cobrança, tanto na tomada de água como na diluição dos despejos produzidos, têm levado as indústrias a dedicarem especial atenção às novas tendências e tecnologias disponíveis para reuso e reciclagem de efluentes. Torna-se necessário, portanto, estabelecer mecanismos para institucionalizar, regulamentar e incentivar a prática do reuso estimulando as que permanecem

embrionárias e promover o desenvolvimento daquelas que ainda não se iniciaram no Brasil. A Agência Nacional de Águas ANA, dentro de sua função básica de promover o desenvolvimento do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos previsto no inciso XIX do art. 21 da Constituição e criado pela Lei nº 9.433 de 8 de janeiro de 1997, tem competência para administrar, entre uma gama significativa de atribuições (relacionadas no Art. 4º, Capítulo II, Lei Nº 9.984 de 17 de julho de 2000), os aspectos relativos às secas prolongadas, especialmente no nosso Nordeste e à crescente poluição dos cursos de água, no território nacional. Uma política de reuso adequadamente elaborada e implementada contribuiria substancialmente ao desenvolvimento de ambos os temas: a seca, dispondo de volumes adicionais para o atendimento da demanda em períodos de oferta reduzida, e a poluição, atenuada face à diversão de descargas poluidoras para usos benéficos específicos de cada região. Atualmente, nenhuma forma de ordenação política, institucional, legal ou regulatória orienta as atividades de reuso praticadas no território nacional. Os projetos existentes são desvinculados de programas de controle de poluição e de usos integrados de recursos hídricos nas bacias hidrográficas onde estão sendo implementados, não empregam tecnologia adequada para os tipos específicos de reuso implementados e não incluem as salvaguardas necessárias para preservação ambiental e proteção da saúde pública dos grupos de risco envolvidos. Alem disso, não são formulados com base em análises e avaliações econômico-financeiras e não possuem estruturas adequadas de recuperação de custos 3.3.2 CLASSIFICAÇÃO DE REUSO O reúso de água não é uma invenção recente. Há relatos de mais de quatro mil anos de idade descrevendo um processo primitivo de filtração de água para seu uso posterior. Dessa forma, é lógico que se defina seu reúso na medida que: