ESCOLA DA FÉ Paróquia Santo Antonio do Pari Aula 12: O Logos se fez Carne para participarmos da natureza divina. Frei Hipólito Martendal, OFM. São Paulo-SP, 30 de agosto de 2012.
revisão da aula anterior.
1- Da 2ª Carta de Pedro 1, 3-4. Pois que o Seu divino poder nos deu todas as condições necessárias para vida e piedade, mediante o conhecimento daquele que nos chamou pela sua própria glória e virtude. continua
Por elas nos foram dadas as preciosas e grandíssimas promessas a fim de que vos tornásseis participantes da natureza divina, depois de vos libertardes da corrupção que prevalece no mundo, como resultado da concupiscência.
Observamos que o autor nos garante que Deus nos dá tudo o que tem a ver com a vida e a piedade. Entende-se aqui piedade como práticas religiosas. Cabe agora a reflexão sobre a natureza dos dons de Deus...
O autor não fala de coisas materiais, mas na construção da vida alimentada por uma correta prática religiosa ( = piedade) que se abre para a eternidade, reproduzindo em nós qualidades que são parte do Ser Divino de Deus.
Pessoas que se amam precisam ter qualidades e virtudes básicas em comum. Vamos juntos procurar algumas dessas virtudes e qualidades que precisamos ter em comum com Deus... Inevitavelmente diferente é só a personalidade de cada um dos amantes. Mas as qualidades básicas precisam existir em cada um.
O que soa realmente grandioso é a prometida participação na natureza divina. Cada dia, no ofertório de cada missa celebrada, literalmente, ao redor de toda a Terra, o celebrante reza: Pelo mistério dessa água e desse vinho possamos participar da natureza de Vosso Filho, que se dignou a assumir a nossa humanidade.
É impossível rezar tais palavras sem experimentar profunda emoção!
2- Qualidades de Deus que queremos imitar. Há pouco falava da necessidade de ter qualidades em comum para pessoas amarem-se. Vamos ao que foi trazido por voces. De todas, a mais importante é o amor inteiramente gratuito, como já vimos. Lembramos que todas as virtudes prezadas e vividas por Jesus são, ao mesmo tempo, virtudes do Pai.
Afinal, Eu e o Pai somos um. A gente pode recorrer às aulas anteriores sobre a pessoa de Jesus. Ele é a face humana de Deus. Outro dado que não podemos esquecer é que a verdadeira humanidade, aqueles traços do nosso ser que nos distinguem de toda a Criação conhecida, Deus os assumiu através de Jesus.
Acho interessante que pessoas de todas as crenças, bem como as que não tem crença em sobrenatural algum, em muitas situações deixam-se tocar e conduzir por razões que chamam de piedade ( pietatis causa ), de solidariedade, ou simplesmente de humanidade.
A palavra piedade é deliciosamente ambígua! Ela pode ser um conjunto de emoções expressas de forma necessariamente inconsciente (tentem apresentar feições piedosas...) que acompanham os humanos em contato religioso com o sobrenatural.
Então, práticas de piedade são práticas religiosas. A piedade pode exprimir sentimentos e atitudes que regem a vida entre membros de uma família. Ela aparece como um misto de cuidado respeitoso que aflora em nós nos serviços dispensados aos que sofrem, aos fracos, crianças e idosos do clã familiar,...
A piedade pode brotar das emoções e atitudes de quem cuida de pessoas em qualquer situação de fraqueza, deficiência, necessidade ou perigo. São Francisco sentiu necessidade de não se contentar em atender materialmente o leproso, mas de também abraçá-lo e beijá-lo.
É muito comum ouvirem-se estórias ou notícias em que pessoas batem, ferem, matam alguém impiedosamente. Isso significa que o fizeram sem piedade, sem misericórdia, sem humanidade. Tais pessoas são cruéis; delas sentimos horror.
Com alegria percebemos o termo humanidade entrelaçar-se, inseparavelmente, com o termo piedade. Humanidade ( = nossa essência) e piedade misturam-se com bondade, misericórdia, religiosidade e... com Deus!
O exercício da humanidadepiedade poder ser a oração não consciente do cético, do agnóstico e do ateu. Vamos aqui fazer uma pausa e refletir juntos.
3- Misericórdia e Compaixão. Nem vou tentar separar os dois termos. Não sou grandes coisas em análise filológica de palavras, mas compaixão tem a ver com o outro. Não posso impedir que o sofrimento do outro me faça sofrer também. Misericórdia vem da palavra latina miser, traduzida como mísero, coitado, infeliz, malaventurado, desgraçado (Houaiss).
Podemos dizer que miser e misericórdia também tem a ver com miséria, pobreza, vazio do coração de quem sente misericórdia. Isso então seria como o estado deplorável de alguém, ter o poder de tornar o meu coração também pequeno, sofredor e miserável. O povo fala em sentir o coração pequeno, apertado.
Realmente, não posso sentir-me grande e solene diante de alguém arrasado pelo sofrimento. Conhecemos várias passagens dos evangelhos onde se fala em misericórdia e compaixão. Na aula 10 expusemos longamente a parábola do Filho Perdido. Vimos que o pai foi movido por compaixão pelo estado deplorável do filho caçula que vinha com o rabinho entre as pernas pedir sua ajuda.
Mas vimos como o mesmo pai também foi levado por compaixão ao encontro do filho turrão, que além de negar-se a participar da festa em família, acusava o pai impiedosamente. A maioria absoluta dos outros pais ficaria, no mínimo, ofendida e irada pela grosseria e ousadia.
Na aula passada vimos como a compaixão do patrão da vinha levou-o a pagar o suficiente para que os trabalhadores da última hora também pudessem atender às necessidades de sua pobre família. Na próxima aula abordaremos a parábola do Bom Samaritano.