THOMAS AQUINATIS DE PRINCIPIIS NATURAE CAPUT I - QUID SINT MATERIA ET FORMA

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Transcrição:

THOMAS AQUINATIS DE PRINCIPIIS NATURAE CAPUT I - QUID SINT MATERIA ET FORMA TOMÁS DE AQUINO OS PRINCÍPIOS DA NATUREZA CAPÍTULO 1 - O QUE SÃO MATÉRIA E FORMA? Tradução de Luciana Rohden da Silva * Thiago Soares Leite ** RESUMO: Trata-se de uma tradução de um opúsculo de Tomás de Aquino, que foi escrito em cerca de 1252-6 e, portanto, pertence ao mesmo período de redação do De ente et essentia. No De principiis naturae, capítulo 1, Aquino apresenta algumas noções, como ser substancial e ser acidental, potência e ato, matéria, sujeito e forma, geração e corrupção. A partir dessas noções, os princípios da natureza, a saber, matéria, forma e privação, são postos em relevo. Palavras-chave: Tomás de Aquino. Filosofia Natural. Filosofia Medieval. ABSTRACT: It s a translation from a short writing by Thomas Aquinas which was written around 1252-6 and, therefore, it belongs to the same period of writing of De ente et essentia. In the De principiis naturae, chapter 1, Aquinas introduces some notions like substantial being (esse) and accidental being, potency and act, matter, subject and form, generation and corruption. From these notions, the principles of nature are highlighted, namely: matter, form and privation. Key Words: Thomas Aquinas. Natural Philosophy. Medieval Philosophy. Nota quod quoddam potest esse licet non sit, quoddam vero est. Illud quod potest esse dicitur esse potentia; illud quod iam est, dicitur esse actu. Sed duplex est esse: scilicet esse essentiale rei, sive substantiale ut hominem esse, et hoc est esse simpliciter. Est autem aliud esse accidentale, ut hominem esse album, et hoc est esse aliquid. Ad utrumque esse est aliquid in potentia. Aliquid enim est in potentia ut sit homo, Nota que certas coisas podem ser, embora não sejam, outras, entretanto, são. Aquilo que pode ser é dito ser em potência ; aquilo que já é é dito ser em ato. Mas, há dois tipos de ser, a saber: o ser essencial ou substancial da coisa, tal como ser homem, e isto é ser em sentido absoluto. Porém, outro é o ser acidental, tal como ser um homem branco, e isto é ser algo. Para os dois tipos de ser, há algo em potência. Pois * Doutoranda em Filosofia-PUCRS/CNPq. Contato: lucianarohden@yahoo.com.br. ** Doutorando em Filosofia-PUCRS/CNPq. Contato: thiagoleiteuerj@hotmail.com.

126 ut sperma et sanguis menstruus; aliquid est in potentia ut sit album, ut homo. Tam illud quod est in potentia ad esse substantiale, quam illud quod est in potentia ad esse accidentale, potest dici materia, sicut sperma hominis, et homo albedinis. Sed in hoc differt: quia materia quae est in potentia ad esse substantiale, dicitur materia ex qua; quae autem est in potentia ad esse accidentale, dicitur materia in qua. Item, proprie loquendo, quod est in potentia ad esse accidentale dicitur subiectum, quod vero est in potentia ad esse substantiale, dicitur proprie materia. Quod autem illud quod est in potentia ad esse accidentale dicatur subiectum, signum est quia; dicuntur esse accidentia in subiecto, non autem quod forma substantialis sit in subiecto. Et secundum hoc differt materia a subiecto: quia subiectum est quod non habet esse ex eo quod advenit, sed per se habet esse completum, sicut homo non habet esse ab albedine. Sed materia habet esse ex eo quod ei advenit, quia de se habet esse incompletum. Unde, algo está em potência para ser um homem, por exemplo, o esperma e o sangue da menstruação; algo está em potência para ser branco, por exemplo, o homem. Tanto aquilo que está em potência para o ser substancial quanto aquilo que está em potência para o ser acidental pode ser dito matéria, assim como o esperma, do homem, e o homem, da brancura. Mas nisto há diferença: que a matéria que está em potência para o ser substancial, diz-se matéria a partir da qual ; porém, a que está em potência para o ser acidental dizse matéria na qual. Ademais, propriamente falando, o que está em potência para o ser acidental chama-se sujeito, entretanto, o que está em potência para o ser substancial chama-se propriamente matéria. Há, porém, um indício por que aquilo que é em potência para ser acidental seja chamado de sujeito ; os acidentes são ditos ser em um sujeito, não [se diz], porém, que a forma substancial seja em um sujeito. E, segundo isso, a matéria difere do sujeito, pois o sujeito não é o que tem ser a partir daquilo que [lhe] advém, mas tem o ser completo por si, tal qual o homem não tem ser a partir da brancura. Mas a matéria tem ser a partir daquilo que a ela advém, porque, de si,

127 simpliciter loquendo, forma dat esse materiae, sed subiectum accidenti, licet aliquando unum sumatur pro altero scilicet materia pro subiecto, et e converso. Sicut autem omne quod est in potentia potest dici materia, ita omne a quo aliquid habet esse, quodcumque esse sit sive substantiale, sive accidentale, potest dici forma; sicut homo cum sit potentia albus, fit actu albus, per albedinem et sperma, cum sit potentia homo, fit actu homo per animam. Et quia forma facit esse in actu, ideo forma dicitur esse actus. Quod autem facit actu esse substantiale, est forma substantialis, et quod facit actu esse accidentale, dicitur forma accidentalis. Et quia generatio est motus ad formam, duplici formae respondet duplex generatio: formae substantiali respondet generatio simpliciter; formae vero accidentali generatio secundum quid. Quando enim introducitur forma substantialis, dicitur aliquid fieri simpliciter. Quando autem introducitur forma accidentalis, non dicitur aliquid fieri simpliciter, sed fieri hoc; sicut quando homo fit albus, non dicimus simpliciter hominem fieri vel generari, tem o ser incompleto. Donde, em sentido estrito, a forma dá ser à matéria, mas o sujeito, ao acidente, embora, algumas vezes, um seja tomado pelo outro, a saber, a matéria pelo sujeito e vice-versa. Assim como, porém, de tudo isto que está em potência pode ser dito matéria, assim também de tudo pelo que algo tem ser, qualquer ser que for ou substancial ou acidental, pode ser dito forma ; assim como o homem, visto que é branco em potência, torna-se branco em ato pela brancura, e o esperma, visto que é homem em potência, torna-se homem em ato pela alma. E porque a forma faz o ser em ato, por isso a forma é dita ser ato. Porém, o que faz o ser substancial em ato é a forma substancial, e o que faz o ser acidental em ato diz-se forma acidental. E porque a geração é o movimento em direção à forma, aos dois tipos de forma respondem dois tipos de geração: à forma substancial responde a geração em sentido absoluto; entretanto, à forma acidental, a geração segundo um aspecto. Pois, quando a forma substancial é introduzida, algo é dito tornar-se em sentido absoluto. Porém, quando a forma acidental é introduzida, algo não é dito tornar-se em sentido absoluto, mas tornar-se isto; assim como

128 sed fieri vel generari album. Et huic duplici generationi respondet duplex corruptio, scilicet simpliciter, et secundum quid. Generatio vero et corruptio simpliciter non sunt nisi in genere substantiae; sed generatio et corruptio secundum quid sunt in aliis generibus. Et quia generatio est quaedam mutatio de non esse vel ente ad esse vel ens, e converso autem corruptio debet esse de esse ad non esse, non ex quolibet non esse fit generatio, sed ex non ente quod est ens in potentia; sicut idolum ex cupro, ad quod idolum est (cuprum) in potentia, non in actu. Ad hoc ergo quod sit generatio, tria requiruntur: scilicet ens potentia, quod est materia; et non esse actu, quod est privatio; et id per quod fit actu, scilicet forma. Sicut quando ex cupro fit idolum, cuprum quod est potentia ad formam idoli, est materia; hoc autem quod est infiguratum sive indispositum, dicitur privatio; figura autem a qua dicitur idolum, est forma, non autem quando o homem torna-se branco, não dizemos tornar-se ou gerar-se homem em sentido absoluto, mas tornar-se ou gerarse branco. E a estes dois tipos de geração respondem dois tipos de corrupção, a saber, em sentido absoluto e segundo um aspecto. Entretanto, a geração e a corrupção em sentido absoluto não ocorrem a não ser no gênero da substância; mas a geração e a corrupção segundo um aspecto ocorrem nos outros gêneros. E porque a geração é uma certa mudança do não-ser ou não-ente ao ser ou ente e, ao contrário, porém, a corrupção deve ser do ser ao não-ser, a geração não se produz a partir de todo e qualquer nãoser, mas a partir do não-ente que é ente em potência; assim como a estátua [é feita] a partir do cobre, para o qual a estátua está em potência (cobre), não em ato. Logo, para que haja a geração, três coisas são requeridas, a saber, o ente em potência, que é a matéria; o não-ser em ato, que é a privação; e isso pelo que se torna em ato, a saber, a forma. Assim como quando a partir do cobre é feita a estátua, o cobre, que é a potência para a forma da estátua, é a matéria ; porém isto que é desfigurado ou não-disposto é dito privação ; porém, a figura pela qual

129 substantialis quia cuprum ante adventum formae seu figurae habet esse in actu, et eius esse non dependet ab illa figura; sed est forma accidentalis. Omnes enim formae artificiales sunt accidentales. Ars enim non operatur nisi supra id quod iam constitutum est in esse perfecto a natura. é dita a estátua é a forma, não, porém, a substancial, porque o cobre, antes do advento da forma ou da figura tem ser em ato, e o seu ser não depende daquela figura; mas trata-se de uma forma acidental. Pois todas as formas artificiais são acidentais. A arte, pois, não opera senão sobre aquilo que já foi constituído pela natureza no ser perfeito. Referência AQUINATIS, T. Quid sint materia et forma. In: AQUINATIS, T. De principiis naturae. Disponível em <http://www.corpusthomisticum.org/opn.html>. Acesso em 01 maio 2008.