O Triunfo de uma Grande Alma

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Transcrição:

O Triunfo de uma Grande Alma O início da vida de Tukaram Maharaj e sua sadhana Uma exposição de Swami Vasudevananda Gurumayi, na sua palestra da Mensagem para 2018 Satsang, explicou como os santos-poetas da Índia tornaram a experiência da Verdade acessível para os buscadores, ao reuni-los em satsang. Um dos mais reverenciados desses santos-poetas é Tukaram Maharaj, que viveu no Estado de Maharashtra, na Índia, na primeira metade do século dezessete. Durante sua curta vida, Tukaram tornou a experiência da presença de Deus acessível para multidões. E através dos séculos que se seguiram, os poemas e canções que ele nos deixou continuaram a inspirar e a encorajar tanto aldeões sem instrução quanto eruditos cultos. No caminho de Siddha Yoga, nós conhecemos Tukaram principalmente por meio de suas canções devocionais (abhanga), que Gurumayi e Baba cantaram em satsang e Intensivos de Shaktipat. Essas canções transmitem a experiência e os ensinamentos de um mestre plenamente realizado que, com suas palavras, continua, ao longo dos séculos, a servir ao Senhor, que ele reconhece no coração de todos. Através dessas canções em marata, sua língua nativa falada no Estado de Maharashtra, Tukaram nos estimula, para que nos elevemos, ao cantar os nomes de Deus e conduzir nossa vida de tal maneira que também nós possamos alcançar a liberação. Este Siddha grandioso nos convida a experienciar a Pérola Azul minúscula, mas que contém o universo inteiro. Nos conclama a conhecer, por nós mesmos, o êxtase supremo que permeia cada partícula da criação.

Além das músicas extasiantes e luminosas que nossos Gurus Siddhas citaram e cantaram, Tukaram escreveu numerosos outros abhanga que não são familiares para a maioria de nós. São as canções do início da vida de Tukaram e de sua sadhana, aquelas que ele escreveu enquanto buscava Deus em meio a severas dificuldades. Como acontece com muitos santos da Índia, os fatos da vida de Tukaram se entrelaçam com lendas populares, que se acumularam ao longo dos séculos após sua morte. Entretanto, felizmente o próprio Tukaram registrou muitas de suas experiências em seus abhanga. O Estado do Maharashtra publicou uma coleção de mais de 4.600 desses abhanga e muitos deles foram traduzidos para o inglês e outros idiomas. Foi basicamente a partir das próprias palavras de Tukaram que elaborei a narrativa a seguir, do início de sua vida e sadhana. Durante os primeiros anos da minha própria sadhana, a leitura de alguns poemas dos períodos mais difíceis da vida de Tukaram fortaleceu minha própria resolução de seguir em frente, não importando que dificuldades estivesse enfrentando. Eu me sentia encorajado ao ver como, alguém que estava passando por tamanhas dificuldades, não lamentava seu destino, ao contrário, continuava se voltando para o Senhor, clamando pelo Senhor, não para se confortar, mas para se fortalecer. Até mesmo naqueles períodos em que parecia que o Senhor não estava ouvindo, Tukaram nunca se virou contra Aquele a quem estava orando. E, como seus últimos poemas atestam, seu esforço persistente produziu frutos maravilhosos, não apenas para ele, mas também para os buscadores, ao longo dos séculos, inclusive nós mesmos. A Juventude de Tukaram Tukaram nasceu no início do século dezessete, na pequena vila de Dehu, localizada ao sul do Estado de Maharashtra, na Índia. Seus ancestrais e pais eram Varkaris dedicados, um movimento devocional religioso da

tradição Bhakti, que remonta ao século treze e inclui grandes santos-poetas do Maharashtra: Jnaneshvar, Namdev, Janabai e Eknath, dentre muitos outros. Os Varkaris são adoradores do Senhor Vitthal (também conhecido como Pandarinatha ou Panduranga), uma forma do Senhor Vishnu, o sustentador do universo. Os Varkaris comungam o entendimento de que Deus está em toda parte e que todos, independentemente de casta ou status, são dignos do mais alto respeito. A família de Tukaram, como a maioria da sua comunidade agrícola, pertencia à casta shudra, a mais baixa das quatro castas da Índia na época, formada principalmente por trabalhadores. Entretanto, o pai de Tukaram era muito respeitado. Ele possuía uma grande área de terras agrícolas na beira do rio Indrayani e conseguiu uma boa renda como comerciante. Ainda menino, Tukaram recebeu uma educação básica, mas, diferentemente da maioria das outras crianças da aldeia, aprendeu a ler e a escrever. No século dezessete, era costume realizar casamentos entre pessoas muito jovens, e quando Tukaram tinha apenas treze anos, ele teve que se casar com uma garota chamada Rakhmabai. Por vários anos, tudo correu bem. Então, quando Tukaram tinha dezessete anos, a vida que ele conhecia começou a ruir. Seu pai adoeceu e faleceu logo depois. Na mesma época, o irmão mais velho de Tukaram, que havia sido preparado por seu pai para assumir o comando da família, perdeu a esposa. Oprimido por essas perdas, o irmão abandonou a vida mundana, deixando o lar para se tornar um sadhu errante. Isso obrigou Tukaram a se responsabilizar pela família e pelos negócios papéis para os quais estava totalmente despreparado. Embora trabalhasse dia e noite para manter as coisas nos trilhos, o jovem Tuka começou a

perder dinheiro. Quando seus recursos, e ele próprio, se exauriram, alguns amigos da família se reuniram e o apoiaram novamente com um pouco de dinheiro. No entanto, logo depois, a região foi assolada por dois anos consecutivos de seca e fome devastadoras. Nenhuma plantação vingou, nenhum gado sobreviveu. A família de Tukaram, como centenas de milhares de outras pessoas, morreu de fome. Ele assistiu sua mãe morrer. Perdeu o filho mais velho. E sua amada jovem esposa morreu, implorando por pão. Aos vinte e um anos, Tukaram estava atolado até o pescoço em dívidas e confuso, envergonhado e consumido pela dor. Sua vida estava em ruínas. Foi então que Tukaram se voltou para o Deus que seus pais e ancestrais haviam venerado. Iniciação durante um sonho Para buscar conforto na solidão, Tukaram subia as colinas próximas para contemplar os ensinamentos de Jnaneshvar, Eknath e outros santos da tradição Varkari. Diferentemente dessas grandes almas que viveram séculos antes, Tukaram não tinha companhia espiritual nem nenhum professor para despertá-lo e guiá-lo. No entanto, quando o momento certo chegou, um evento maravilhoso ocorreu num sonho. Tukaram o descreve assim: Um sadguru se aproximou quando eu estava a caminho do rio para me banhar. Embora eu não soubesse como servi-lo, ele colocou a mão sobre a minha cabeça e me deu suas bênçãos. Em seguida disse o nome dos Gurus de sua linhagem: Raghava Chaitanya, Keshava Chaitanya. Então, me disse seu próprio nome: Baba ji. Ele me deu o mantra Rama Krishna Hari.

Era quinta-feira, o décimo dia da metade mais clara do mês de Magha. Tuka diz: naquele dia, meu Guru me aceitou. 1 Aquele dia, que deve ter sido em janeiro ou fevereiro segundo o calendário gregoriano, foi verdadeiramente significativo. Ao colocar a mão sobre a cabeça de Tukaram e transmitir o mantra sagrado Rama Krishna Hari, o sadguru que lhe apareceu num sonho e que ele nunca mais o viu, despertou seu ser interior e o colocou no caminho que estava destinado a seguir. Tukaram recebeu o mantra do mesmo modo que uma pessoa prestes a se afogar se agarra a um bote salva-vidas. Ao repetir Rama Krishna Hari repetidas vezes, o mantra, vivo com a graça de seu Guru, começou a tirar Tukaram da sombria paisagem interior, de escuridão e confusão, em que ele se debatia. Na propriedade de Tukaram havia um antigo templo do Senhor Vitthal, há muito tempo em ruínas. Depois de repetir o mantra por algum tempo, Tukaram sentiu um apelo para restaurar o templo. Aquele projeto não fazia sentido para a segunda esposa de Tukaram, Jijabai, que estava convencida de que seu marido tinha enlouquecido. Entretanto, Tukaram implorou por sua paciência, sentindo que não tinha escolha. Ele estava sendo impelido a reconstruir o templo, a serviço de Deus. Tukaram encontra sua vocação Enquanto trabalhava no templo, Tukaram teve a ideia de realizar kirtan no local. Um kirtan é uma forma de satsang que perdurava no Maharashtra desde o tempo de Jnaneshvar, que, no século XIII, havia sido um grande kirtankar, um líder de kirtan. Os elementos essenciais de um kirtan eram o canto de um abhanga dedicado ao Senhor Vitthal, onde todos cantavam o refrão, e namasankirtana, um canto na modalidade de pergunta e resposta

dos nomes dos Deus, muitas vezes em conjunto com pessoas dançando em êxtase. Essas reuniões sagradas também poderiam incluir o relato de histórias inspiradoras do Śrīmad-bhāgavataṁ, um antigo texto hindu que transmite os ensinamentos dos Vedas por meio de estórias. Tukaram não considerava os poemas que havia escrito até então como um material adequado para um kirtan. Por esta razão, começou a memorizar os abhanga de Jnaneshvar e Namdev, bem como as canções de Kabir. Quando Tukaram terminou de reformar e limpar o templo, começou a conduzir muitos kirtan, nos quais cantava aquelas canções que havia aprendido e entoava o mantra que seu Guru havia lhe dado. E os aldeões começaram a comparecer. Canções começam a fluir através de Tukaram Logo depois, Tukaram teve outro sonho no qual o Senhor Vitthal lhe apareceu, acompanhado pelo santo Namdev. Namdev foi um dos grandes kirtankar na língua marata, que havia vivido três séculos antes de Tukaram. Nesse sonho, Namdev disse que prometera escrever, durante sua vida, um grande número de poemas em louvor a Vitthal, um número que foi impossível para ele cumprir. Agora, tinha vindo junto com o Senhor para pedir que Tukaram o ajudasse a cumprir sua promessa. Depois desse sonho, Tukaram começou a experienciar os abhanga surgindo espontaneamente dentro de si, um atrás do outro. Ele não achava que estava compondo aquelas canções, mas que era o próprio Senhor quem as cantava através dele. Tukaram então teve coragem de começar a cantar aqueles abhanga inspirados nos kirtan que conduzia, e cada vez mais pessoas começaram a se reunir no templo que ele havia restaurado. Embora repetidamente insistisse que não era o autor das canções, mas meramente um carteiro que as trazia, os aldeões que frequentavam os

kirtan devem ter achado que Tukaram estava simplesmente sendo humilde. Eles viam Tukaram como um santo que vivia entre eles. Nesse meio tempo, dolorosamente, Tukaram foi ficando cada vez mais consciente da falta de uma experiência direta do Senhor, e por causa disso, seus poemas para Vitthal são muitas vezes cheios de desespero. As pessoas olham para mim com honra e respeito. Elas não sabem como eu sou por dentro. Ó Pandarinatha, eu me sinto inquieto e envergonhado por admitir. Essas pessoas sagradas consideram todos como uma forma do Criador, e não veem meus defeitos. Tuka diz: ó Senhor, só você sabe que eu sou o mesmo que sempre fui. 2 Isso prosseguiu por um bom tempo, pois Tukaram continuava a se considerar imperfeito e incompleto, cheio de defeitos e desejos e distante do Senhor. Embora aqueles que o ouviam sentissem a energia divina fluindo através dele enquanto cantava, Tukaram ficava angustiado em seguida, implorando ao Senhor Vitthal que lhe concedesse uma experiência de sua presença. O momento da virada Tukaram continuou a manter os kirtan a serviço de Vitthal conduzir as pessoas durante o canto dos nomes do Senhor e a pensar incessantemente no Senhor. Durante esse tempo, Tukaram estava purificando sua própria mente. Com o tempo, ele começou a perceber que, embora achasse que o Senhor Vitthal estava lhe negando o darshan, era ele próprio, Tukaram, que tinha se fechado para a experiência da presença do Senhor. Seus próprios

sentimentos de vergonha e desmerecimento, e suas expectativas de como Vitthal deveria se manifestar para ele, é que haviam turvado sua habilidade de reconhecer que o Senhor estava com ele o tempo todo. Embora não tivesse visões de Vitthal, ele passou a entender que, com certeza, havia sido o Senhor que tinha convocado Baba ji Chaitanya para aquela iniciação em seu sonho. Deve ter sido o Senhor quem impeliu Tukaram a reconstruir o templo e a manter o kirtan, e quem veio com Namdev num sonho para inspirar Tukaram a cantar seus próprios abhanga. E de fato, era o Senhor que estava cantando através de Tukaram e elevando os espíritos de todos os que o escutavam. Ao dormir, andar e sonhar, eu medito em sua forma. Agora, quer venhamos a nos encontrar, ou não, eu encontro com Você na minha mente. Esta torrente constante de sua lembrança flui dentro de mim dia e noite. Tuka diz: eu recebi um suporte formidável vindo de dentro. 3 Problemas com as autoridades Depois de reconhecer o papel de Deus em sua vida, Tukaram continuou a oferecer seu serviço para o Senhor Vitthal com confiança ainda maior. Mais e mais pessoas eram atraídas para seus kirtan, alguns vindos de grandes distâncias, para ouvir seus abhanga e cantar os nomes de Deus em sua presença inspiradora. Numa época em que as pessoas comuns do Maharashtra viviam oprimidas pela pobreza e pela doença, por um sistema rígido de castas e pela exploração econômica, Tukaram inspirava esperança e coragem a milhares de pessoas. Eu me preparei e estou pronto para abraçar meu destino. Abri um caminho para vocês através do oceano deste mundo. Ó, venham todos, jovens e velhos,

mulheres e homens de todos os tipos, espiritualizados ou não, ociosos ou trabalhadores incansáveis. Venham! E não se preocupem com nada. Ouçam! Tambores ressoam para convidar vocês que são liberados e vocês que anseiam pela liberação. Meu Senhor me enviou a este mundo com a sua aprovação. Tuka diz: eu trago comigo seu Nome. 4 Os brâmanes ortodoxos de Dehu começaram a se alarmar com a crescente popularidade de Tukaram. Naquela época, apenas os nascidos na casta brâmane eram autorizados a ensinar verdades espirituais, e o faziam apenas em sânscrito, a língua dos Vedas. Ver um shudra, de casta baixa, inspirar milhares de aldeões comuns com suas canções sobre Deus, na simples língua marata, era visto como um ato de heresia e uma séria ameaça ao poder dos brâmanes. Foi então que ocorreu a história milagrosa da vida de Tukaram, como ele descreve em suas próprias canções. Os brâmanes exigiram que Tukaram destruísse seus poemas e os jogasse no rio Indrayani. Tukaram obedeceu, mas ao ver seus manuscritos afundando na água, rezou para o Senhor Vitthal para protegê-los. E decidiu ficar junto ao rio, orando e jejuando, na esperança de que, se seus poemas fossem verdadeiros, o próprio Senhor os salvaria. Após treze dias, as pessoas da cidade viram os manuscritos de Tukaram, intactos e sem danos, flutuando na superfície do Indrayani. Realização final Depois desse evento milagroso, Tukaram tornou-se amplamente conhecido em toda a Índia como um santo genuíno da tradição de outros grandes Varkaris que o antecederam. Inúmeras pessoas viajavam longas

distâncias para frequentar seus kirtan, e alguns dos brâmanes que o haviam perseguido se tornaram então seus discípulos. O próprio Tukaram reconheceu esse evento em alguns de seus abhanga. Existem, no entanto, muitos outros abhanga dele, que Gurumayi e Baba já cantaram para nós. Esses falam de um milagre ainda maior, o milagre da transformação que tinha acontecido na pessoa de Tukaram, conforme ele oferecia seu serviço para o Senhor Vitthal. A longa jornada de Tukaram agora estava completa, e seu anseio satisfeito. Ele havia alcançado o reconhecimento de sua unidade com Deus. Em um abhanga que Baba Muktananda muitas vezes cantava durante suas palestras, e que Gurumayi musicou e gravou, Tukaram declara: Deus é meu, e eu sou de Deus. Estou falando a verdade. Deus é meu. Meu corpo é o templo de Deus, Totalmente puro, dentro e fora. Quando comecei a procurar Deus, Eu mesmo me tornei Deus. Tukaram diz: eu sou, com certeza, abençoado. Hoje, eu encontrei Vitthal. 5 2018 SYDA Foundation. Todos os direitos reservados.

1 Tradução para inglês de Swami Vasudevananda 2018 SYDA Foundation. 2 Ibid. 3 Ibid. 4 Ibid. 5 Tradução para inglês 2018 SYDA Foundation.