VOLTOU, MAS ESQUECEU



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Transcrição:

VOLTOU, MAS ESQUECEU

FLORENCE L. BARCLAY tradução de wallace leal v. rodrigues VOLTOU, MAS ESQUECEU

4ª edição 10.000 exemplares Novembro de 2003 Planejamento gráfico: Equipe O Clarim Capa: Beato Ten Prenafeta Composto e Impresso: Gráfica da Casa Editora O Clarim (Propriedade do Centro Espírita O Clarim). Fone: (0XX16) 3382-1066 Fax: (0XX16) 3382-1647 C.G.C. 52313780/0001-23 - Inscr. Est. 441002767116 Rua Rui Barbosa, 1070 - Cx. Postal, 09 CEP 15990-903 - Matão - SP http://www.oclarim.com.br oclarim@oclarim.com.br

VOLTOU, MAS ESQUECEU... Dados para catalogação na editora 133.93 VOLTOU, MAS ESQUECEU... Florence L. Barclay 1ª edição: Agosto/1968 5.000 exemplares Matão/SP: Casa Editora O Clarim 128 páginas 14 x 21 cm ISBN 85-7357-067-9 CDD 133.9 Índice para catálogo sistemático: 133.9 Espiritismo 133.901 Filosofia e Teoria 133.91 Mediunidade 133.92 Fenômenos Físicos 133.93 Fenômenos Psíquicos Impresso no Brasil Presita en Brazilo

Título do original inglês: RETURNED EMPTY Outras obras da mesma autora: The Rosary The Mistress of Shenstone The Following of the Star Through the Postern Gate The Upas Tree The Broken Halo The Wall of Partition Shorter Works The White Ladies of Worcester Guy Mervyn

índice PREFÁCIO DO TRADUTOR... 11 CENA I FRÁGIL COMO CRISTAL...16 CENA II O ACOLHIMENTO INESPERADO...26 CENA III O VISITANTE ESPERADO...33 CENA IV ROMPEM-SE AS GRADES DA PRISÃO...37 CENA V ESPEREI TANTO TEMPO...40 CENA VI O PÔR-DO-SOL E A ESTRELA-DA-TARDE...43 CENA VII E DEPOIS AS TREVAS!...46 CENA VIII AMANHECE...74 CENA IX A VIGIA...81 CENA X QUANDO O QUE SURGIU DAS PROFUNDEZAS INFINITAS RETORNA OUTRA VEZ AO LAR...82 CENA XI MINHA VIDA PELA DELE!...88 CENA XII A FONTE SUBTERRÂNEA...92 CENA XIII TODAVIA...100 CENA XIV NÃO HAJA TRISTEZA NOS ADEUSES...104 CENA XV OS SEGREDOS DE NOSSOS CORAÇÕES...107 CENA XVI QUEM ERA ELE?... 110 CENA XVII NO BOSQUE DE PINHEIROS... 112 CENA XVIII O LAR QUE ELA SONHOU... 117 CENA XIX A GRANDE OPORTUNIDADE... 119 CENA XX JÁ VOU!...120

PREFÁCIO DO TRADUTOR Estas páginas põem-nos em face de um dos mais belos romances até hoje escritos, tendo por tema a doutrina da reencarnação. Returned Empty, que traduzimos por Voltou, mas esqueceu, está longe, entretanto, da obra de ficção convencional. Em sua maior extensão é, antes, um demorado poema em prosa, um como que roteiro noturno entre névoas trágicas, em meio às quais, todavia, inesperadamente abrem-se rasgos luminosos de transfigurada e mágica beleza. Então desvendam-se horizontes carmesins e ouro, em glórias de pôr-de-sol e a claridade azul da Estrelada-tarde ilumina as páginas que se está a ler. Gaivotas tatalam asas entre gritos de prata, sobre a maré vazante, e o cheiro acre e doce dos fetos amassados alcança-nos o olfato. Bem no fundo, porém, se apurarmos os ouvidos, capturaremos o bimbalhar dos sinos dos afogados e são eles, esses sinos fantasmas, que atraem o homem solitário que vaga na noite em busca das lucilações que indicam o fogo das lareiras, a família e o Lar com que sonhara. Entretanto ele deve permanecer do lado de fora, apenas contemplando, e quando a porta se lhe abrir é para que comece o delírio longo, o pesadelo desperto, pois que ele voltara ao Lar, mas esquecera! Voltara, mas esquecera este é o tema do solene e fulgurante concerto que se inicia com a frase vaga e sonolenta: Uma ilimitada extensão de mar cor de opala, calma e sem ondas e segue num despertamento irreprimível para expirar no período conciso e definitivo, tomado de empréstimo a Robert Herrick: Mas a lua e noite, ambas, hão de solver-se num só dia sem fim. VOLTOU, MAS ESQUECEU 11

Florence L. Barclay improvisa dentro de um mistério inescrutável, pois que sua exegese se perdeu quando a laje de um túmulo em Limpsfield Court teve suas heras afastadas, abriu-se e se tornou a fechar. Diríamos que esta pequena obra-prima, construída na pauta das vidas sucessivas, está fadada à imortalidade. O bom gosto, a habilidade, a inspiração de suas vinte sôfregas cenas, foram capazes de um pequeno milagre. Em um país reconhecidamente adverso à idéia da reencarnação, Voltou, mas esqueceu publicado em junho de 1920, tem sido quase que anualmente reeditado, para atender a procura de um público de leitores talvez um dos mais exigentes do mundo. Trabalhamos sobre o lançamento de 1948 e à sua retaguarda há nada menos que dezesseis reedições. Quarenta e seis anos passados desde a afoita e arriscada iniciativa de seu primeiro lançamento, Voltou, mas esqueceu continua atual, fresco, com o seu alento, suas vívidas cores e o sopro vital das grandes histórias de amor que já foram escritas. Ainda hoje e seguramente por muito tempo ainda é bom que Florence L. Barclay continue a fazer o seu ardente apelo para que não haja tristeza nos adeuses! Somos eternos, a morte não nos destrói, dizem-nos todas as religiões espiritualistas. Assim sendo, as despedidas são estéreis, o pranto inútil. Entretanto a escritora inglesa não nos fala apenas da imortalidade; ela possui o argumento da reencarnação, que discute e, mais do que isso, magnificamente ilustra, fazendo dele força e vitória para o Amor e a Vida. Para nós, a partir da primeira vez que o lemos, este livro passou a ser uma intrigante fonte de inquirições. Não apenas o seu êxito em meio a um público adverso à idéia da reencarnação, não apenas a coragem dessa mulher que tinha o seu lugar literário nas estantes das conservadoras moças inglesas, estantes essas ainda não de todo (em 1920!) abaladas pelas explosões da I Grande Guerra Mundial, porém bem mais do que isto. FLORENCE L. BARCLAY 12

De fato, como a Matrona afirma em uma das passagens do livro, estamos, aqui, debruçados sobre o Espelho dos Enigmas. Antes de mais nada porque Florence L. Barclay não era espírita, mas, bem possivelmente, pelo que podemos entender em outras obras suas, um membro da Igreja Anglicana. Isto só basta para fazer de Voltou, mas esqueceu um livro incrível. Entretanto há mais: ela era fria, senão adversa às idéias espíritas. Em nossa correspondência com líderes do Espiritismo na Inglaterra tentamos nos informar a seu respeito. Foi inútil! Eles não a conhecem! Tentando compreendê-la, debruçamo-nos sobre suas obras, entre as quais, uma delas conheceu êxito mundial; O Rosário, romance escrito em 1909, se tornou sucesso de livraria, foi transformado em peça de teatro pelo dramaturgo francês André Bison e posto em cena com grande sucesso, no Teatro Odeon, durante o inverno parisiense de 1925. Depois foi acolhido pelo cinema e inspirou a canção do mesmo nome, que o mundo todo, na época, cantou e aplaudiu com emoção. Não obstante isso, tanto O Rosário quanto todos os outros romances de sua lavra são, inequivocamente, livros para coleções cor-de-rosa, não mais do que isto. E o nome da autora seria esquecido se um dia o interesse por essa espécie de literatura viesse a fenecer. Isso embora a inspiração de Florence L. Barclay seja, de qualquer forma, inegável. Impressiona vivamente e comove através de The Following of the Star, um romance intensamente impregnado pelo espírito do antigo e verdadeiro Natal, tão bem registrado por certos autores ingleses, entre os quais Charles Dickens. Voltou, mas esqueceu, entretanto, é uma ilha isolada de todos os outros livros da autora por quilômetros de infranqueável espaço filosófico, literário e poético. Em que situações terá sido escrito? Por que foi escrito? Como explicar a razão pela qual essa dama, desinteressada do Espiritismo, se pôs a propagar a reencarnação, quando os próprios espíritas ingleses silenciavam e se recusavam a admiti-la? Não o sabemos. VOLTOU, MAS ESQUECEU 13

A Inglaterra oferece-nos estes enigmas. Também Sutton Vane, completamente alheio à doutrina espírita, escreveu, inesperadamente, Outward Bound, um dos poucos textos teatrais realmente de qualidade, que difundem as idéias espíritas acerca do além-túmulo. Entretanto, no que concerne a este livro, se o leitor se desprender da atmosfera densa e absorvente da intriga pungente que conduz suas páginas e vigiar o comportamento daquela que o escreve, irá notar um fato indutivo e flagrante: Voltou, mas esqueceu é grafado com uma estranha pressa, com visível sofreguidão. Há como que um febril afã, uma incontrolável necessidade de extravasar, de contar, em regime de urgência. A capitulação é abandonada, encontramos apenas cenas, e essas cenas são rápidas, concisas, nenhum minuto pode ser perdido. Não existe o que cortar, o que resumir, porém quase tudo pode ser expandido, circunstanciado, com proveito da narrativa. A atuação da autora em todas as outras obras é posta de lado, a síntese substitui a análise, a impertigada dama britânica das Ladies de Shenstone e dos solares acondicionados e conservados entre os algodões das convenções, afasta impaciente seus derradeiros pruridos vitorianos e contrapõe à afetada serenidade um arrebatamento impetuoso e febricitante. Descansa e toma fôlego na longa Cena VII, quando enfatiza e faz a apologia da teoria que a trama amorosa ilustra, isto é, a da reencarnação. Logo em seguida impele-se outra vez, tange-se para a frente, precípite, ansiosa, como que instigada à urgência. A fonte pode, inesperadamente, estancar; é preciso que o púcaro se encha antes que as comportas se fechem, sobretudo porque o púcaro vai guardar um jato de emoção e beleza, uma reserva de verdade que os homens praticamente ainda desconhecem. E os homens têm sede Como a mulher junto ao poço de Jacó, Florence L. Barclay quer desincumbir-se de sua missão. Então vemo-la concentrada sobre as laudas e sua pena corre impetuosa sobre cada linha. Ela escreve e escreve! Como os psicógrafos o fazem! FLORENCE L. BARCLAY 14

Por isso não hesitamos em afirmar a inspiração espiritual e, mais do que isto, mediúnica deste livro destinado a sobreviver quem sabe! definitivamente incorporado às estantes espíritas. Florence Louise Charlesworth Barclay nasceu em 1862. Escreveu dez romances e um livro de contos. Voltou, mas esqueceu é sua derradeira obra, o seu canto de cisne. Foi escrito em 1920 e, um ano após, em 1921, sua autora falecia, sendo enterrada no cemitério da Igreja de Limpsfield Court, no Condado de Surrey. Araraquara, 1967. VOLTOU, MAS ESQUECEU 15