Registro: 2018.0000017445 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº 1012334-50.2016.8.26.0564, da Comarca de São Bernardo do Campo, em que é apelante BIG TOP 2 INCORPORADORA LTDA., são apelados HELOÍSA DANTONIO ENDRIUKAITIS, SILVANA DANTONIO ENDRIUKAITIS e CLAUDIO ENDRIUKAITIS. ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 8ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Negaram provimento ao recurso, com observação. V.U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Desembargadores SILVÉRIO DA SILVA (Presidente sem voto), GRAVA BRAZIL E SALLES ROSSI. São Paulo, 23 de janeiro de 2018. Alexandre Coelho Relator Assinatura Eletrônica
VOTO nº 6793/asc APELAÇÃO nº 1012334-50.2016.8.26.0564 COMARCA DE SÃO BERNARDO DO CAMPO APTE: BIG TOP 2 - INCORPORADORA LTDA APDO: HELOISA DANTONIO ENDRIUKAITIS E OUTROS APELAÇÃO - COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA Rescisão contratual motivada pelo desinteresse do adquirente Restituição das partes ao estado anterior - Devolução dos valores pagos, com retenção - Sentença que fixou retenção de 20% dos valores pagos - Pretensão da ré de majoração Caso concreto que demonstra ser razoável a retenção no percentual de 20% dos valores pagos a título de indenização pelas despesas geradas, segundo entendimento do STJ e precedentes desta C. Câmara Juros de mora e correção monetária Responsabilidade contratual Incidência dos juros a contar da notificação extrajudicial e da correção monetária a partir de cada desembolso Modificação de ofício do termo inicial da correção monetária NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO, com observação. Trata-se de apelação interposta contra a respeitável sentença de fls. 180/182 cujo relatório ora se adota, que julgou procedente em parte a ação de rescisão contratual com restituição de quantias pagas proposta por HELOISA DANTONIO ENDRIUKAITIS, SILVANA DANTONIO ENDRIUKAITIS e CLAUDIO ENDRIUKAITIS em face de BIG TOP 2 INCORPORADORA LTDA, para declarar a rescisão do contrato celebrado entre as partes e determinar que a ré restitua 80% do total pago pelos autores, atualizado monetariamente e com juros de mora de 1% ao mês desde a notificação de fls. 59. Em razão da sucumbência mínima dos autores, a ré foi condenada a pagar as custas e despesas processuais, bem como honorários advocatícios em 15% do valor da condenação. A ré apela pela reforma da sentença e alega, em síntese: i) majoração do percentual de retenção sobre o valor a ser restituído para que seja observada a cláusula contratual incidente na espécie; ii) juros de mora devem ser contados desde o trânsito em julgado; e iv) condenação dos autores ao pagamento de honorários sucumbenciais por terem sido vencidos em parte. Apelação nº 1012334-50.2016.8.26.0564 -Voto nº 2
Foram apresentadas contrarrazões. virtual. Recebida a apelação, não houve oposição ao julgamento É o relatório. Versa a demanda sobre conflito de interesses surgido no cumprimento do instrumento de Compromisso de Compra e Venda celebrado entre as partes. Em análise do inconformismo manifestado, cumpre destacar que a impugnação recursal se restringe ao percentual de retenção sobre o valor a ser restituído em relação ao que fora pago pelos autores para aquisição da unidade imobiliária, bem como o termo inicial da incidência dos juros de mora. Restou incontroverso que os autores perderam o interesse na negociação, pleiteando a rescisão com devolução das quantias quitadas. A parte ré não apresentou oposição à rescisão contratual, que fora declarado pelo MM. Juízo de primeiro grau. A r. sentença declarou, ainda, a abusividade da cláusula contratual acerca da retenção prevista por entende-la excessiva, ajustando tal percentual para o montante de 20% das quantias efetivamente pagas com fundamento nos recentes entendimentos do Superior Tribunal de Justiça e deste E. Tribunal de Justiça. Com efeito, admitido o direito de o adquirente recuperar o dinheiro pago, é de se contrapor que ao contratar, ela gerou despesas ao vendedor, relativas às operações de venda, publicidade etc, donde se aplicar de percentual do valor exatamente para recompor o patrimônio da parte que adimpliu o contrato e que, ipso facto, não pode ser prejudicada (artigo 475, do Código Civil). Nesse sentido: Apelação 1022389-89.2014.8.26.0577, relator o Desembargador Salles Rosi, j. 16/04/2015. Tribunal de Justiça: Tal linha vem sendo adotada pelos precedentes do C. Superior AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO Apelação nº 1012334-50.2016.8.26.0564 -Voto nº 3
ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. CONTRATO DE PROMESSA DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL. RESOLUÇÃO. RETENÇÃO. PERCENTUAL DE 10%. RAZOABILIDADE. AGRAVO NÃO PROVIDO. 1. A jurisprudência desta Corte de Justiça, nas hipóteses de rescisão de contrato de promessa de compra e venda por inadimplemento do comprador, tem admitido a flutuação do percentual de retenção pelo vendedor entre 10% a 25% do total da quantia paga. 2. O percentual a ser retido pelo vendedor é fixado pelas instâncias ordinárias em conformidade com as particularidades do caso concreto, de maneira que não se mostra adequada sua revisão na via estreita do recurso especial. 3. O Tribunal de origem, ao analisar os documentos acostados aos autos, bem como o contrato firmado entre as partes, entendeu abusiva a cláusula contratual que previa a retenção de 25% do valor das quantias pagas em caso de rescisão por inadimplemento. Analisando as peculiaridades do caso, fixou a retenção em 10% do valor das parcelas pagas, o que não se distancia do admitido por esta Corte Superior. 4. Agravo regimental não provido. (AgRg no AREsp 600.887/PE, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 19/05/2015, DJe 22/06/2015). E a decisão do E. Superior Tribunal de Justiça menciona ser admitida a flutuação da retenção entre os valores de 10% e 25% dos valores pagos, deixando claro que o percentual a ser retido será avaliado conforme as peculiaridades do caso concreto. No caso dos autos, nada há que justifique a retenção no percentual máximo ou mínimo da flutuação delimitada pela jurisprudência, motivo pelo qual deve ser mantido o entendimento de primeiro grau que estabeleceu a retenção na ordem de 20% sobre as quantias até então pagas pelo adquirente, considerando as recentes decisões desta C. Câmara em casos similares 1. Ao estabelecer tal percentual, consideram-se as peculiaridades do caso concreto, como o valor das parcelas até então quitadas pelo adquirente, que perfazem o montante de R$102.557,67 e o total do preço do contrato (R$352.712,39). Vale notar que a incidência do percentual de 20% sobre as quantias pagas não caracteriza valor excessivo, ao contrário, configura montante proporcional e adequado ao caso dos autos, tendo em vista a necessidade de repor as partes ao estado anterior e considerando que a rescisão foi motivada pelos adquirentes. Não devem ser aplicados os juros a partir do trânsito em julgado, pois, muito embora a rescisão do contrato tenha sido motivada pelo desinteresse dos 1 Apelação nº 4007118-48.2013.8.26.0019, relator Des. Silvério da Silva, j. 09/05/2017; Apelação nº 0000665-11.2013.8.26.0115, relator Des. Salles Rossi, j. 26/04/2017. Apelação nº 1012334-50.2016.8.26.0564 -Voto nº 4
adquirentes, certo é que a ré não providenciou o distrato com restituição de quantia não abusiva e neste sentido foi constituída em mora a contar da notificação extrajudicial efetivada, que adequadamente foi eleito em sentença como o marco inicial da contagem dos juros, ao passo que a correção monetária se conta a partir de cada desembolso, ajuste que pode ser feito de ofício pelo tribunal, a título de observação. No que se refere às verbas sucumbenciais, de fato, sem razão o inconformismo das rés, pois foi vencida na maior parte dos pedidos, devendo ser mantido o entendimento de primeiro grau, em que fixada a verba em 15% da condenação, agora majorada para 20%, em razão da nova sucumbência experimentada. Eventuais embargos declaratórios serão julgados em sessão virtual, salvo se manifestada oposição na própria petição de interposição dos embargos, nos termos do art. 1º da Resolução n.º 549/2011 do Órgão Especial deste E. Tribunal de Justiça, entendendo-se o silêncio como concordância. PROVIMENTO à apelação, com observação. Ante o exposto, pelo presente voto, NEGA-SE ALEXANDRE COELHO Relator Apelação nº 1012334-50.2016.8.26.0564 -Voto nº 5