A IMPORTÂNCIA DAS PENAS ALTERNATIVAS NA RESSOCIALIZAÇÃO DO APENADO



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Transcrição:

A IMPORTÂNCIA DAS PENAS ALTERNATIVAS NA RESSOCIALIZAÇÃO DO APENADO Claudiana da Silva Mendonça Bacharel em Direito e Administração Raimundo Wellington Araújo Pessoa Mestre em Administração de Empresas INTRODUÇÃO A humanidade já presenciou várias formas de repressão aos indivíduos que contrariem as normas postas. Repressões essas que vão desde penas corporais, como a pena de morte, a tortura, trabalhos forçados, até a privação de liberdade, que ganhou força em meados do século XVI. Por volta da metade do século XIX, dar-se início a uma crise do sistema carcerário, onde se começa a questionar se os objetivos a que esse sistema se propunha a alcançar estavam realmente sendo atingidos. Essas indagações surgiram devido à constatação da sociedade de que, ao invés de recuperar o apenado, a pena privativa de liberdade estava proporcionando um local de maus tratos para os apenados, onde estes, ociosos, planejavam a prática de mais atos violentos, voltando futuramente a delinqüir. A falência do sistema penitenciário brasileiro, aliada a inércia do Estado em criar e executar uma política penitenciária mais humana, para cumprimento de penas de delitos de pequena gravidade, praticados por criminosos não habituais, primários, vem direcionando a classe jurídica para a necessidade de adoção de um amplo 54

movimento nacional, no sentido de que mudanças urgentes e estruturais sejam aplicadas às modalidades sancionatórias em nosso sistema penal. Em decorrência desses diversos fatores sociais, ocorreu no Brasil, a partir de 1984, uma reforma penal que incorporou outras modalidades de pena ao nosso vigente sistema. Essas novas sanções introduzidas pela reforma penal, denominadas alternativas, consistem na prestação pecuniária, perda de bens e valores, prestação de serviços à comunidade ou entidades públicas, interdição temporária de direitos e na limitação de fim de semana. No decorrer da história, a humanidade sempre se preocupou em coibir os delitos, sem, no entanto, conseguir reduzir a criminalidade a índices aceitáveis. Admitida ao longo de vários séculos como a forma mais eficaz para reparação do delito praticado, a pena de prisão sempre foi desprovida de preocupação com o caráter ressocializador do apenado. Um outro aspecto positivo que deve ser ressaltado com a aplicação dessas penas é a oportunidade que se dá ao apenado de exercer uma profissão, licitamente, aprendendo e convivendo com pessoas alheias ao mundo da criminalidade, o que favorece bastante a sua ressocialização, além de, ao mesmo tempo, afastá-lo do convívio de marginais de toda espécie, o que já influi negativamente na sua personalidade. Induvidoso que as penas alternativas, quando empregadas para prevenção e repressão dos crimes de potencial ofensivo de menor gravidade, têm maior utilidade como meio de recuperação do criminoso, na medida em que conserva o delinqüente no meio social, ao mesmo tempo em que ele paga pelo seu erro, através da pena imposta, e dar-lhe o valor de membro útil à comunidade em que está inserido, como agente de transformação social. Também se deve destacar que as sanções alternativas não deixam no apenado a marca indelével de ex-presidiário, um dos grandes males que o Estado pode provocar a um indivíduo, fechando-lhe oportunidades sociais das mais diversas 55

áreas após sua reinserção na sociedade. Observando esses pontos positivos da utilização de penas alternativas, surge a necessidade de se aperfeiçoá-lo, dentro da realidade penal brasileira. 1 METODOLOGIA Para alcançar os fins pretendidos foi utilizada uma ampla pesquisa bibliográfica, bem como uma vasta análise das leis vigentes no país, além de uma pesquisa de campo bastante interessante, aplicada de acordo com a conveniência de localidade e tempo, através de entrevistas semi-estruturadas, onde se buscou saber do principal beneficiário da aplicação das penas alternativas, qual seja, o próprio apenado, as suas opiniões, reflexões e benefícios oriundos da sua experiência com as penas restritivas de direito. No que diz respeito à tipologia da pesquisa, esta se apresenta, segundo a utilização de resultados, pura, na medida em que busca apenas mostrar os resultados obtidos com a aplicação das penas alternativas para os apenados de pouca o quase nenhuma periculosidade, sob o aspecto prático, sem propor qualquer modificação. Segundo a abordagem, qualitativa, posto que tem como finalidade a compreensão em virtude da abrangência da matéria, demonstrando os aspectos positivos da execução das penas alternativas após a edição da Lei 9.714/98 de 25.11.1998. E, quanto aos objetivos, a pesquisa é descritiva e exploratória, haja vista que além de buscar maiores informações sobre o tema, descreve os fatos, as características e as causas do objeto da pesquisa, demonstrando os vários pontos de vista acerca do assunto. 2 EVOLUÇÃO DAS PENAS NO SISTEMA CRIMINAL BRASILEIRO Durante a história da humanidade, quatro métodos principais de castigos foram utilizados, a saber, perda financeira, a tortura física, a degradação social e a expulsão do grupo (que se verificava pela morte, exílio, prisão, e por meios mais 56

sutis, como a estigmatização com ferro em brasa, a mutilação e outros métodos de degradação da pessoa). As primeiras ordenações que foram efetivamente implementadas aqui no Brasil foram as Ordenações Filipinas, através dos Governos Gerais, embora não possam ser consideradas organizadas e eficientes, em razão da precária estrutura estatal. O certo é que, além de cruéis, severas e assustadoras, a pena mais grave prevista nas Ordenações, que era a de morte em suas diversas subespécies, era largamente aplicada. Esse diploma legal era rígido demais para conviver com os pensamentos do Iluminismo, da Revolução Francesa e da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789. Observando os princípios humanitários da época, a Carta Constitucional do Império, outorgada em 1824, estabelecia diversas inovações de caráter liberal e humanístico, como a abolição dos açoites, da tortura, e de todas as penas cruéis. Proibiu também o confisco de bens e a declaração de infâmia aos parentes do condenado, o que tornou a sanção penal mais pessoal. Essa Constituição também inovou ao estabelecer o uso da pena de prisão, onde previa cadeias seguras, limpas e bem arejadas, e estabelecia ainda a organização urgente de um Código Criminal fundado nas sólidas bases da justiça e da equidade. A partir da Constituição de 1824, surgiram movimentos em prol da reforma da legislação penal, querendo instituir os princípios da irretroatividade da lei penal, da igualdade de todos perante a lei, da personalidade da pena e da utilidade pública da lei penal. D. Pedro I, em 1830, sancionou o Código Criminal do Império do Brasil, que foi realmente inovador, pois reduziu as hipóteses de penas de morte e eliminou a crueldade com que eram executadas. Eliminou também as penas infamantes, exceto contra os escravos. Esse Código previa as seguintes penas: morte, galés, prisão com trabalho, prisão simples, banimento, degredo, desterro, multa, suspensão de emprego, perda de emprego e açoites (somente para escravos). 57

O encarceramento passou a ser a autêntica e própria sanção penal, podendo até ter caráter perpétuo. Podemos observar o grande avanço desse Código em se tratando de medidas alternativas, onde se enumera as penas de multa, a suspensão e a perda de emprego. Com o surgimento da República veio também a necessidade de se alterar a legislação penal vigente no país, até porque a abolição da escravatura já tinha ocorrido, o que acabou por extinguir algumas figuras delituosas. Em 1890, o Governo Provisório da República aprova o Código Penal Republicano, mas, devido à pressa com que foi elaborado, esse ordenamento recebeu inúmeras críticas, pois não coadunava com o pensamento humanitário da época. As penas previstas nesse Código eram: prisão celular, reclusão, prisão com trabalho obrigatório, prisão disciplinar, banimento, interdição, suspensão de emprego público, com ou sem inabilitação para o exercício de outro, e multa. Para remediar as deficiências do Código Republicano, várias leis foram aprovadas com o objetivo de adequar o ordenamento à complexidade das relações sociais do período da República Velha. Foram inúmeras as tentativas de substituição do Código Penal de 1890, porém, ele ainda vigorou por vários anos. A possibilidade de se aprovar um novo Código Penal revelava-se cada vez mais distante, devido ao momento de agitação política e de reivindicações sofridas pelo país. Em relação à matéria criminal, como não seria possível uma reforma no Código vigente, foram surgindo inúmeras leis extravagantes, regulando situações que necessitavam de uma tutela penal, o que se deu de forma bastante acelerada, dificultando sua aplicação e até mesmo o próprio conhecimento das referidas leis. Em 31 de dezembro de 1940 foi promulgado o atual Código Penal, que entrou em vigor em 1942, e veio incorporando fundamentalmente bases de um direito punitivo democrático e liberal. Ele faz uma divisão das penas em principais, sendo composta de reclusão, detenção e multa, e acessórias, que são as previstas no art. 67 do 58

referido Código, perda de função pública, eletiva ou de nomeação, interdição de direito e publicação de sentença. Como se pode observar, a privação de liberdade é a sanção por excelência. Anteriormente à reforma penal de 1963, o nosso ordenamento jurídico penal focalizava apenas a pena e a culpabilidade, mas distanciava-se do elemento fundamental do crime, qual seja, o autor, o homem. Uma vez condenado, o apenado era esquecido pelos órgãos judiciários, restando-lhe apenas a tarefa de cumprir integralmente a pena que lhe foi imposta. Com o foco na imposição da pena, e não no ser humano, o sistema penal brasileiro, e conseqüentemente a justiça, passou a ser desacreditado quanto a sua eficiência, ao mesmo tempo em que aumentou o índice de criminalidade do país. Como importante alteração realizada no Código de 1940 pode-se citar a Lei 6.416 de 24.05.1977, que introduziu em nosso ordenamento a prisão-albergue e o sursis, que constituem um avanço no sentido de se evitar ao máximo a privação de liberdade, embora não sejam espécies de penas alternativas. Essa Lei foi um grande passo para se chegar à reforma penal de 1984. Em 1981 foi publicado o anteprojeto da parte geral do Código Penal de 1940, o qual eliminava as penas acessórias, passando a enumerar as modalidades: penas privativas de liberdade, penas restritivas de direito e penas patrimoniais. Na correção desse anteprojeto foi abolida a multa reparatória e substituído o aprendizado compulsório pela limitação do fim de semana. Em 1984 ocorreu mais uma reforma no direito penal brasileiro, por meio da Lei nº 7.209, de 11.07.1984, quando se procurou aplicar um aspecto mais realista, mais humano, a esse ramo do Direito. Muitos foram os fatores que levaram a essa mudança de enfoque na legislação penal, como, por exemplo, o aumento da criminalidade, o surgimento de modalidades criminais, a rejeição do apenado pela sociedade e a conseqüente reincidência, o desenvolvimento da tecnologia. 59

De acordo com essa reforma, as penas previstas em nosso ordenamento passaram a ser: privativas de liberdade, restritivas de direito e multa. Dentre as penas restritivas de direito, tem-se a prestação de serviços à comunidade, interdição temporária de direitos e a limitação do fim de semana. Existe a crença bastante arraigada de que a maneira de diminuir a criminalidade é a definição de novos tipos penais, o agravamento das penas, a extinção de algumas garantias do réu, e o aumento da severidade da execução penal. E, como a resposta básica aos delinqüentes é a pena privativa de liberdade, encontramos, muitas vezes, em uma mesma cela, infratores de alta periculosidade e infratores de menor potencial ofensivo. Não se faz distinção entre os crimes de alta reprovação e os de média ou baixa. O atual sistema de cumprimento de pena privativa de liberdade não está alcançando um de seus objetivos basilares, qual seja, fazer com que o apenado se conscientize dos seus direitos e deveres como cidadão, e, conseqüentemente, torne-se apto ao convívio social. A pena privativa de liberdade, como sanção principal está falida. Ela proporciona a formação de delinqüentes altamente perigosos, embrutecidos, corrompidos, e deveria ser aplicada apenas nos casos em que ela é indispensável. A utilização irrestrita desse tipo de penalização, bem como o agravamento de sua execução, não reduz a criminalidade, já que, embora tenham surgido inúmeras leis estipulando novos tipos penais e agravando os tipos já existentes, não houve uma redução do índice de cometimento de crimes. 2.1 REGRAS DE TÓQUIO Toda essa dogmática em torno da mínima intervenção estatal refletiu-se em regras internacionais sobre Direito Penal, principalmente nas Resoluções da ONU, no que diz respeito às penas privativas de liberdade. 60

Já no 1º Congresso da ONU, foram adotadas as Regras Mínimas para Tratamento de Reclusos, que foi um dos primeiros textos a tratar das pessoas que cumprem pena de prisão. Em diversas resoluções oriundas dos Congressos da ONU destacam a necessidade não somente de reduzir o número de reclusos, mas, sobretudo, de explorar melhor a possibilidade de soluções alternativas à prisão. No 8º Congresso, em 14.12.1990, recomendou-se a aplicação de Regras Mínimas sobre Penas Alternativas, as denominadas Regras de Tóquio. As Regras de Tóquio é um dos documentos mais importantes introduzidos no Brasil, as quais tratam das experiências das Nações Unidas no terreno da implantação, execução e fiscalização das medidas alternativas à pena privativa de liberdade. Um dos objetivos das Regras de Tóquio é salientar a importância das próprias sanções e medidas não privativas de liberdade como meio de tratamento de delinqüentes. Esse objetivo se deve à evolução da opinião mundial com referência aos problemas relacionados às penas de prisão, e tem criado um crescente interesse em encontrar meios eficientes para ajudar os delinqüentes dentro da comunidade, sem recorrer à prisão. É cada vez mais forte o pensamento de que a prisão pode converter os delinqüentes em criminosos ainda piores, e que, por essa razão, a cadeia deve ser reservada àqueles que praticam delitos mais graves e sejam perigosos. A prisão, que por si mesma é dispendiosa, acarreta outros custos sociais. O Brasil enfrenta o problema da superpopulação carcerária e, em conseqüência disto, torna-se impossível dar condições aos presos para que, ao voltar à liberdade, levem a vida sem infringir a lei. Devido a esses fatos é que se acredita que é melhor impor sanções e medidas não privativas de liberdade como condição para que as penas sejam proporcionais ao delito cometido pelo delinqüente e propiciem maiores possibilidades de reabilitação e reinserção construtiva na sociedade. As penas alternativas não restringem a liberdade do condenado tanto quanto a prisão. Ele não precisa deixar sua família ou comunidade, abandonar suas 61

responsabilidades ou perder seu possível emprego. Apesar disso, eles podem ficar sujeito a várias condições, restrições e exigências. Para executar uma pena alternativa, a autoridade competente deve ter o poder de exigir que os apenados obedeçam a determinadas condições e que deixem de exercer determinadas atividades. A autoridade também deve ter o poder de modificar ou revogar as condições durante a execução das sanções. As Regras de Tóquio representam as normas mínimas que devem prevalecer na aplicação de medidas não privativas de liberdade. Devem, portanto, fomentar os esforços destinados a superar as dificuldades práticas em sua aplicação. As penas alternativas existem em razão de se exigir que o delinqüente recompense a sociedade de alguma forma por seu crime. Ao mesmo tempo em que o condenado compensa sua atitude criminosa, ele empreende alguma forma de reabilitação que venha a reduzir a probabilidade de voltar a delinqüir. Foi a partir desse cenário de reformas que nasceram as premissas para a aprovação das Leis nº 9.099 de 26.09.1995 e 9.714, que seguem a tese de que a pena de prisão apenas deve ser utilizada em última instância, reservando o cárcere para casos extremos, como verdadeira medida de segurança, para separar os delinqüentes mais perigosos. Diante dessa concepção de mínima intervenção penal, tem-se a necessidade de racionalização do sistema penal, onde se deve observar a justiça social. A Lei nº 9.099/95, Lei dos Juizados Especiais Criminais, adotou algumas medidas despenalizadoras, como a composição civil dos danos (art. 74, parágrafo único), a transação penal (art. 76), exigência de representação da vítima nos casos de lesões corporais culposas ou leves (art. 88) e a suspensão condicional do processo (art. 89). Embora tenha adotado tais medidas, não deixou de observar o aspecto da vítima, principalmente quando se observa os institutos da transação civil e da reparação dos danos. 62

O que se pode observar com a vigência da Lei nº 9.099/95 é que, apesar do aumento populacional e da criminalidade, não houve uma superlotação nas varas criminais, e isto se deve ao fato de os casos judiciais, em grande parte, tratarem de infrações de menor potencial ofensivo, que passou a ser cuidado nos Juizados Especiais. A Lei nº 9.714/98 veio complementar a Lei dos Juizados Especiais. Ela significou uma vitória para a política da mínima intervenção estatal, além de valorizar os Direitos Humanos, já que restringe a possibilidade do Estado interferir na liberdade dos delinqüentes. 2.2 PENA E MODELOS DE JUSTIÇA CRIMINAL Existem três tipos de sistema de justiça criminal, quais sejam, o retributivo, o reabilitador e o restaurador. Cada um deles enfoca um determinado aspecto do crime. No sistema retributivo, a pena é simplesmente um castigo imposto a quem praticou um crime. Numa sociedade que vive em estado democrático de direito não há possibilidade de a pena existir única e exclusivamente sob esse aspecto. Enquanto no sistema reabilitador ou ressocializador, a pena deve ser uma medida que objetiva ressocializar o individuo, incluindo a pena privativa de liberdade, onde a prisão não constitui uma retribuição ao crime praticado, mas um local onde o apenado possa se ressocializar. Já para a justiça reparadora, a pena objetiva reparar o dano sofrido pela vítima. Esse tipo de pena visa, além de reparar o dano da vitima, ressocializar o delinqüente e prevenir o delito. O Código Penal Brasileiro, após as reformas de 1984 e 1998, passou a adotar um sistema misto, qual seja, o retributivo-preventivo. Acontece que, na prática, a pena 63

continua com o caráter de castigo, não possuindo efeito ressocializador, e isto ocorre porque a humanidade ainda está na crença arraigada de que a prisão é a melhor opção de pena para um delinqüente, não importando as conseqüências desse cárcere. É preciso que toda a sociedade, não apenas os estudiosos do Direito, reflitam sobre a real efetivação dos objetivos a que a pena privativa de liberdade se propõe, porque só assim as penas alternativas serão aceitas e terão a sua efetivação desejada. 3 PENAS ALTERNATIVAS Tomando como pressuposto que as penas têm a função de reeducar o infrator e defender a sociedade, tem-se o estabelecimento das penas alternativas como opção para os casos em que o apenado não ofereça graves riscos à sociedade. É uma forma de a sociedade participar da solução dos seus próprios problemas. Pena alternativa é uma sanção decorrente de sentença proferida pelo juiz condenando o autor do fato pelo crime de menor potencial ofensivo ou em substituição à pena privativa de liberdade, desde que esta não ultrapasse a quatro anos e o crime não tenha sido cometido mediante violência e grave ameaça. Segundo conceitua Damásio E. de Jesus (2000, p. 28), alternativas penais, também chamadas substitutivos penais e medidas alternativas, são meios de que se vale o legislador visando impedir a que ao autor de uma infração penal venha a ser aplicada medida ou pena privativa de liberdade. Embora seja cumprida em liberdade, a pena alternativa não deixa de ser sanção imposta pelo Estado ao autor de um delito. Ela deverá, portanto, contribuir para o bem maior da sociedade e do apenado, além de considerá-lo como sujeito de sua própria mudança, no complexo contexto das relações sociais em que se encontra. 64

3.1 AS PENAS ALTERNATIVAS E O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE HUMANA É notória a falência do sistema penitenciário brasileiro, tendo em vista a larga distância que existe entre a teoria desse sistema e o que se executa. Dentre os problemas encontrados, pode-se destacar a ausência de respeito aos presos, de tratamento médico regular, de atividades laborativas dentro dos presídios, a superlotação. Todos esses fatos fazem com que os presos sejam desumanizados, o que gera constantes rebeliões, que é um modo negativo de se demonstrar sua inconformidade com o sistema vigente. Como agente ativo de um crime, o apenado condenado à pena privativa de liberdade merece ser punido, sim, porém, enquanto ser humano, centro do universo social e jurídico, merece ter respeitado seus direitos à vida, à imagem e à dignidade, o que não se faz presente dentro dos presídios, onde se oculta todo e qualquer direito fundamental que a ele caiba. O direito penal deve buscar punir com o objetivo de reparar o mal cometido pelo infrator, devendo causar impacto tanto sobre o culpado quanto sobre a sociedade, para que intimide os demais membros da coletividade, que poderão vir a ser infratores. O direito de punir não pode ir de encontro aos princípios que protegem os seres humanos, pois, caso isso ocorra, constitui-se abuso, e não justiça. Leal (1998) ratifica a falência do sistema carcerário e revela a falta de dignidade humana existente nesse confinamento. Para ele falar sobre o respeito à integridade física e moral em prisões onde convivem pessoas sadias e doentes; onde o lixo e os dejetos humanos se acumulam a olhos vistos, e as fossas abertas, nas ruas e galerias, exalam um odor insuportável; onde as celas individuais são desprovidas por vezes de instalações sanitárias; aonde os alojamentos coletivos chegam a abrigar 30 ou 40 homens; onde permanecem sendo utilizadas, ao arrepio da Lei 7.210/84, as celas escuras, as de segurança, em que os presos são recolhidos por longos períodos, sem banho de sol, sem direito a visita; onde a alimentação e o tratamento médico e odontológico são muito precários e a violência sexual atinge níveis desassossegantes. 65

Tendo um sistema carcerário atuando dessa forma, quem termina sofrendo as conseqüências dessa ressocialização ilusória é a própria sociedade, que fica a espera dos delinqüentes ressocializados. Mesmo diante da insegurança que se instalou no país, tornando a sociedade insegura ao sair às ruas e até mesmo dentro de casa, prestes a sofrer algum tipo de violência a qualquer instante, não é falso moralismo discutir a dignidade do presidiário, pois é preciso que todos saibam que por mais desumano que seja o ato praticado pelo delinqüente, a marca indelével de ex-presidiário modifica a sua condição humana, retirando-lhes, inclusive, alguns direitos fundamentais, modificando-os definitivamente, o que o torna muito mais perigoso ao convívio social quando posto em liberdade. A Constituição Federal assegura a qualquer cidadão, em seu art. 1º, inciso III, como direito fundamental, a dignidade da pessoa humana. Esse princípio constitui-se de um direito basilar, exigindo-se a todos o respeito ao próximo para que se possa viver em harmonia, conforme de descreve a seguir: Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: III - a dignidade da pessoa humana. Assim como a dignidade humana existem também outras garantias estabelecidas na Carta Magna vigente, como por exemplo, a determinação de que nenhuma pena passará da pessoa do preso, caracterizando a pessoalidade da pena; a divisão de estabelecimentos para cumprimento das penas de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado; o respeito a integridade moral e física dos delinqüentes; a indenização ao condenado que por erro judiciário for preso ou ficar preso além do tempo fixado na sentença. As penas alternativas surgiram devido à reflexão sobre esse caráter ressocializador das penas. É um modelo de sanção que vem proporcionando aos apenados se reinserir na sociedade e cumprir pelo ato criminoso que cometeu. Porém, o juiz deve 66

ter bastante cuidado ao escolher a penalidade alternativa que irá aplicar ao caso concreto, bem como o local onde será aplicada a pena, tendo em vista que deve preservar a dignidade humana, tanto na pessoa do agressor quanto do ofendido. 3.2 A REFORMA PENAL BRASILEIRA E AS PENAS ALTERNATIVAS Com a aprovação da Lei nº 9.714/98, houve uma considerável mudança no sistema de penas, onde se aumentou não apenas o rol das penas restritivas de direito, mas também as possibilidades de sua aplicação. As penas alternativas passaram a ser as seguintes: prestação de serviço à comunidade ou a entidades públicas, interdição temporária de direitos, limitação de fim de semana, multa, e mais duas, que são prestações pecuniárias e perda de bens e valores. A partir da reforma de 1984, o juiz só poderia substituir as penas privativas de liberdade de até um ano de duração e se o réu não fosse reincidente, e a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que a substituição seja mais eficiente. Quando a pena aplicada não era superior a dois anos, a execução da pena poderia ser suspensa, em razão do sursis, e quando era cominada até quatro anos, ela poderia ser cumprida em regime aberto. Essa divisão de acordo com a duração da pena privativa de liberdade significa que o sistema penal se compunha de uma gradação harmônica. Conforme Delmanto (1991), os autores da reforma penal de 1984 tentaram encontrar fórmulas que pudessem substituir as penas de prisão. Nas palavras da Exposição de Motivos, seria uma experiência pioneira. Dentro desse contexto, foram imaginadas as penas restritivas de direitos: são sanções autônomas, que substituem as penas privativas de liberdade (reclusão, detenção ou prisão simples) por certas restrições ou obrigações, quando preenchidas as condições legais para a substituição. Com a Lei 9.099/95, ampliou-se a possibilidade de aplicação das penas alternativas para infrações que teriam pena aplicada superior a um ano. A Lei 9.714 reformou, 67

mais uma vez, a parte geral do Código Penal. Diante de todas essas alterações, o ordenamento penal brasileiro ficou constituído por dez modalidades de penas alternativas: prestação pecuniária em favor da vítima, perda de bens e valores, proibição de freqüentar determinados lugares, prestação de outra natureza, multa, prestação de serviços à comunidade, limitação de fim de semana, proibição do exercício do cargo ou função, proibição do exercício de profissão e suspensão da habilitação para dirigir veículo. A natureza das penas alternativas é de autonomia e de substitutividade em relação à pena privativa de liberdade. O juiz comina a pena privativa de liberdade cabível ao caso concreto e o seu regime de cumprimento, e só após isso é que analisa a possibilidade de substituição por uma pena restritiva de direito. Segundo Mirabete (1999, p. 320), As penas restritivas de direitos não são cominadas abstratamente para cada tipo penal, mas aplicáveis na sentença a qualquer deles, independentemente de cominação na parte especial. Essas penas restritivas de direitos só podem substituir as penas privativas de liberdade quando se tratar de crime culposo ou quando a pena privativa de liberdade não for superior a quatro anos. Quando no crime for empregada violência ou grave ameaça, não poderá a pena privativa de liberdade ser convertida em restritiva de direito. Deve-se observar, também, na aplicação dessas penas alternativas, se o réu é reincidente em crime doloso, pois, caso isso ocorra, não poderão ser aplicadas tais penas. Também devem ser levados em consideração aspectos tais como a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado. Se estiverem presentes as condições de admissibilidade para substituição das penas privativas de liberdade pelas penas alternativas, ela torna-se obrigatória, constituindo um direito do réu, e não uma simples faculdade do magistrado. 68

Nesses termos, o art. 44 do Código Penal define os pressupostos objetivos e subjetivos necessários à aplicação das penas alternativas: Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade quando: I aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime não for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo; II o réu não for reincidente em crime doloso; III a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa substituição seja suficiente. Podem-se observar inúmeras vantagens de se aplicar as penas alternativas, dentre elas: a diminuição do custo do sistema repressivo; o juiz pode adequar a pena à culpabilidade do condenado e às suas condições e características pessoais; evitam que infratores de menor potencial ofensivo sejam encarcerados, afastando-os, conseqüentemente, do convívio com outros delinqüentes; reduzem o número de reincidência; o apenado continua suas atividades habituais e profissionais, não se afastando do seio familiar. Como nem todo ordenamento jurídico é perfeito, tendo em vista que é fruto da atividade humana, podem-se observar também algumas desvantagens, das quais podemos citar: não reduzem o número de encarcerados existentes; não têm caráter intimidativo, mas apenas tentam suscitar na mente do condenado às regras da boa conduta. 4 A RESSOCIALIZAÇÃO DO APENADO A ressocialização dos delinqüentes é uma das maiores contribuições das penas restritivas de direito, denominadas penas alternativas, pois evita que o condenado se isole da convivência comunitária, ao mesmo tempo em que proporciona uma real probabilidade de reeducá-lo para o convívio social, além de oferecer à sociedade uma espécie de compensação pelos danos que outrora cometera, como se verifica nos casos de penas de prestação de serviços à comunidade. 69

A importância da penas alternativas deveria ser reconhecida não apenas em decorrência da falência das penas privativas de liberdade, mas também pelo fato de os crimes mais penalizados no sistema penal brasileiro são os que podem ter suas penas substituídas por restritivas de direito, e, no entanto, não o são, expondo os delinqüentes primários a convivência de marginais de toda espécie.. Conforme constatado no Censo Penitenciário de 1994, feito pelo Ministério da Justiça do Brasil, a maior parte dos encarcerados é oriunda de famílias pobres e possuem baixo grau de escolaridade. Esses apenados já suportam dois estigmas sociais que lhes asseveram bastante a vida, quais sejam, a pobreza e a falta de instrução, portanto, deve-se evitar, sempre que possível, uma terceira marca negativa que os discriminem ainda mais, como o estigma de ex-presidiário, já que durante o período de cumprimento da pena de prisão não é dado aos presos oportunidades de trabalho ou de instrução para melhorar suas condições de vida. Para que o sistema carcerário funcionasse eficientemente, seria necessária a aplicação de uma política penitenciária que fosse capaz de profissionalizar e de habilitar o delinqüente para o convívio social, afim de que sua vida pósencarceramento possa ser sadia e sem vícios. Essa política penitenciária deveria substituir o ambiente hostil e as diversas formas de rebaixamento da pessoa humana para que a pena de prisão cumprisse suas finalidades. Não se pretende com o presente trabalho amenizar o fato violento cometido pelo infrator, e muito menos escondê-lo da sociedade. Busca-se apenas enfatizar que a verdadeira recuperação do delinqüente só será possível quando ele se integrar ao sistema social, quando desse sistema ele realmente participar, e isso não é possível de se realizar seguindo-se a idéia do isolamento do indivíduo para ressocializar. Essa idéia de segregar para punir apenas leva ao surgimento de verdadeiros locais de aperfeiçoamento das modalidades criminosas e das suas formas de execução. O ingresso de uma pessoa à instituição penitenciária está vinculado a um ato infracional cometido no passado e a busca da ressocialização futura, porém, quando um delinqüente primário se vê encarcerado, ele entra em um estado de choque, 70

posto que todas as suas relações com o mundo são cortadas e sua liberdade cerceada, constituindo assim o principal obstáculo à ressocialização. Já um reincidente, fruto de uma reeducação falha, tem melhor controle sobre suas reações, e volta a agir negativamente, fortalecendo ainda mais sua personalidade anti-social. Há um verdadeiro círculo vicioso no sistema carcerário brasileiro, onde os delinqüentes, por menos perigosos que sejam, ao serem detidos, além de ficarem isolados dos cidadãos da sua comunidade, ainda convivem com criminosos de toda espécie. Isso faz com que estes condenados, muitas vezes primários, sejam induzidos ao mundo da criminalidade, aprendendo as mais diversas formas de se praticar delitos, cada vez mais audaciosos. Como bem ensina Foucault (1993), a prisão fabrica delinqüentes, mas os delinqüentes são úteis tanto no domínio econômico como no domínio político. Os delinqüentes servem para alguma coisa. Ademais, a atual situação carcerária sofre diversas deficiências, como a superpopulação, que não permite que os condenados sejam separados de acordo com os delitos praticados, obrigando pessoas que cometeram infrações por um simples desvio a conviver diretamente com assaltantes profissionais, homicidas, estupradores, induzindo-os a uma verdadeira escola do crime. Se o apenado já não tinha uma personalidade boa para o convívio social, o que a levou a delinqüir, não será no cárcere que ela virá a adquirir boas condutas, tendo em vista a má funcionalidade do sistema penitenciário brasileiro. Os prejuízos causados pelo encarceramento acompanharão o apenado pelo resto de sua vida, dificultando ainda mais a sua reeducação. Atualmente, o que se discute bastante é a defesa, cada vez maior, da extinção gradativa da pena privativa de liberdade e da abolição de alguns tipos penais, ou seja, o direito penal mínimo. Essa corrente vem ganhando força cada vez mais devido a ineficácia da pena de prisão que, enquanto não chegar o mais próximo possível da concretização de seus objetivos, o sistema penitenciário deve adotar 71

medidas que valorizem o trabalho prisional, a assistência educacional e prisional, o contato com o mundo exterior, além de respeitar os direitos humanos de cada indivíduo. 4.1 RESSOCIALIZAÇÃO DOS APENADOS ATRAVÉS DA PENA DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE Através de convênios estabelecidos entre a Vara de Execução de Penas Alternativas VEPA - e as instituições recebedoras, essa pena é executada de modo muito eficaz, atingindo seu objetivo fundamental que é a ressocialização dos apenados, mediante tratamento individualizado. Na Comarca de Fortaleza, conforme dados estatísticos fornecidos pela VEPA, esta pena representa, aproximadamente, 78% de todas as alternativas penais, seguindose as penas de prestação pecuniária e limitação de fim de semana. Diferentemente do que ocorre nas penas privativas de liberdade, inúmeros são os benefícios alcançados pela prestação de serviços à comunidade, tais como: a possibilidade de ampliação do círculo de amizades; a aquisição de novos conhecimentos; aprendizado de novas profissões; oportunidade de ajudar o próximo e aos mais necessitados; sensação de utilidade e importância à sociedade; reflexão acerca de seus atos; ajuda aos familiares; aquisição de senso de responsabilidade, dentre outros. Flagrante é também a constatação de que o apenado sente-se motivado e satisfeito diante da possibilidade de auxiliar os mais carentes, sentindo-se com isso estimulado a trabalhar. Outro diferencial que muito agrada aos sentenciados é o tratamento que recebem nas instituições, pois não há contra eles discriminação ou indiferença, e sim um trato digno e respeitoso desprovido de qualquer preconceito em virtude do cometimento de um delito. Muitos chegam a alegar que são mais bem tratados nas instituições que no seio familiar. 72

Não se pode negar que, embora em número reduzido, alguns apenados ainda sofrem constrangimentos durante a execução da pena alternativa ora em comento. Tais constrangimentos advêm do preconceito estigmatizado na sociedade para com os indivíduos infratores da lei, o que gera dificuldades em seus relacionamentos interpessoais. Várias mudanças são apontadas pelos apenados, dentre elas a conscientização e motivação para o não cometimento de um novo delito, a melhora do relacionamento com outras pessoas, um aperfeiçoamento profissional, desenvolvimento pessoal e equilíbrio emocional. Observa-se também que alguns conseguem largar as drogas e outros tantos continuam a desenvolver atividade laboral remunerada, propiciando uma vida mais digna a eles próprios e suas famílias. Diante das mudanças ocorridas em suas vidas, muitos apenados passaram a fazer planos para o futuro, como arranjar um emprego com carteira assinada, fazer cursos para obter uma qualificação profissional e, conseqüentemente, conseguirem uma vaga no mercado de trabalho, voltar a estudar e viver mais integrados à família, instituição essencial à formação do caráter e personalidade do indivíduo. Esse trabalho executado pelos apenados traz inúmeros benefícios às instituições, já que as atividades são exercidas com qualidade e eficiência, muitas vezes melhores do que as exercidas pelos próprios empregados da instituição, sem falar que, por se tratar de um trabalho gratuito, a instituição recebe uma mão-de-obra qualificada sem despender recursos. A pena de prestação de serviços à comunidade será convertida quando o condenado não comparecer ao estabelecimento designado para o cumprimento de pena, recusar-se a exercer a atividade determinada pelo juiz. A pena de interdição temporária de direitos será convertida quando exercer, injustificadamente, o direito. Reconhecendo o juiz ter sido o descumprimento justificado, deverá optar pela não conversão, adequando a pena às condições do apenado, concedendo um prazo 73

necessário a sua reabilitação ou, se for o caso, substituindo a pena imposta por outra mais viável ao condenado. Essa conversão dá mais segurança à execução das penas alternativas, evitando que os descumprimentos injustificados fiquem impunes e possibilitando uma defesa social mais efetiva. 4.2 ENTREVISTA COM APENADOS QUE CUMPRIRAM PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS Em uma pesquisa de campo realizada de acordo com a conveniência de tempo e localização, obteve-se uma entrevista com quatro pessoas que já cumpriram penas restritivas de direito, e algumas respostas obtidas merecem ser destacadas, até como forma de ratificar a idéia de que as penas alternativas são bastante eficazes na ressocialização dos apenados. A pesquisa de campo constituiu-se num levantamento das percepções e conhecimentos de indivíduos que já tiveram a experiência de cumprir uma pena alternativa, na cidade de Fortaleza. Buscou-se com essa pesquisa aferir o nível de comprometimento dos apenados com a atividade desenvolvida em prol da sociedade ou de sua própria ressocialização através das alternativas penais ao encarceramento, bem como verificar se há uma reflexão por parte deles acerca do ato delituoso praticado. Conforme o objetivo previsto no presente trabalho, analisou-se quais os aspectos mais merecedores de aplausos no tocante a efetiva reeducação dos delinqüentes ao cumprirem determinadas restrições de direitos como pena. Todos os entrevistados são do sexo masculino, faixa etária de vinte e seis a quarenta anos. Para melhor entendimento das respostas obtidas e para resguardar a imagem dos inquiridos, eles serão designados de entrevistados A, B, C e D. 74

Em relação aos estigmas sociais sofridos por essas pessoas, já se pode confirmar o estigma do poder aquisitivo não elevado, demonstrado pelo bairro onde essas pessoas residem, que não são estratégicos na cidade, Barra do Ceará, Parangaba, São Cristóvão e Serrinha, respectivamente. Com referência ao grau de instrução, nenhum deles tem nível superior, apenas o entrevistado A tem o ensino médio completo, os entrevistados B e C têm o ensino médio incompleto e o último tem ensino fundamental apenas. Os quatro pesquisados são pais de família, tendo que ajudar no sustento dos filhos, o que os impossibilitaria de fazê-lo, caso tivessem que cumprir pena privativa de liberdade, já que nas prisões não há desenvolvimento de trabalhos, muito menos remunerados. Antes de cumprirem a pena restritiva de direitos, todos trabalhavam e, apenas um deles, o entrevistado D, deixou de trabalhar após o cumprimento da sanção, de onde se pode concluir que em nada prejudica o exercício profissional do condenado o cumprimento da pena alternativa, fato que merece bastante destaque. É oportuno o pensamento de Medeiros (apud NOGUEIRA,1996, p. 40), que demonstra os benefícios inerentes à aplicação de espécies de trabalho como penalidades: O trabalho acaba com a promiscuidade carcerária, com os malefícios da contaminação dos primários pelos veteranos delinqüentes, e dá ao condenado a sensação de que a vida não parou e ele continua a ser um ser útil e produtivo, além de evitar a solidão, que gera neuroses, estas, por sua vez, fator de perturbação nos estabelecimentos penais e fermentos de novos atos delituosos. As infrações praticadas pela maior parte dos indivíduos em nosso país são de menor potencial ofensivo, como é o caso das praticadas pelos inquiridos, a saber: lesão corporal leve, desacato, receptação e perturbação. Apenas o entrevistado C infringiu a lei penal em 1999, os demais entrevistados cometeram o ato infracional ainda este ano, o que demonstra a crescente utilização das alternativas penais. 75

Todos os investigados cumpriram integralmente a pena alternativa que lhes foi imposta, qual seja, a pena de prestação de serviços à comunidade. Os consultados A, B e D prestaram durante 6 meses serviços gerais na 7ª CIA do 5º Batalhão da Polícia Militar, enquanto que o investigado C, durante um ano, doou dez latas de leite por mês ao Instituto de Prevenção à Desnutrição e à Excepcionalidade IPREDE. Observa-se a relação do tipo de pena aplicada com o crime praticado. Como o entrevistado C cometeu o delito de receptação, foi apenado para doar algo, no caso, latas de leite, a quem necessitava, IPREDE. Souza (2005) descreve com muita propriedade a importância da pena de prestação de serviços à comunidade: A prestação de serviços à comunidade, foi, em nosso entendimento, o maior exemplo de evolução do direito penal moderno, porque, ao mesmo tempo em que pune a transgressão praticada, valoriza o condenado, dando-lhe a oportunidade de, por meio de trabalho, demonstrar suas aptidões profissionais e artísticas, as quais serão, certamente, aproveitadas após o cumprimento da sanção, retirando da senda do crime o infrator, levando-o ao exercício consciente da cidadania. Voltando a observar mais um ponto positivo das penas alternativas, temos que sua maior contribuição é não deixar pessoas primárias conviverem com criminosos regulares. Todos os consultados gozam da primariedade, e não foram postos em contato com malfeitores, o que contribui para não prejudicar seu caráter, e conseqüentemente não voltarem a delinqüir, como vem ocorrendo de fato. Os investigados apontaram como o principal benefício que a pena restritiva de direitos lhes proporcionou foi a oportunidade de refletir sobre o ato praticado. Foi também citado como benefício a permanência no convívio social, a possibilidade de exercer sua profissão e de reeducar-se. Quando lhes foi perguntado a respeito da importância da aplicação das penas alternativas, o entrevistado A respondeu que a grandeza dessas penas está no não envolvimento de criminosos de pouca periculosidade com os grandes criminosos, que é o que iria acontecer de fato se ele não cumprisse essa pena substitutiva. O consultado B argumentou praticamente a mesma coisa, alegando que foi de suma importância o seu não encarceramento. Os indivíduos C e D mencionaram a 76

importância de se ter a liberdade, embora condicionada a determinados atos e tarefas. Questionou-se ainda acerca da funcionalidade da pena de prisão como forma de reeducar o criminoso e foram surpreendentes as respostas obtidas. Embora todos tenham salientado bastante a importância das penas restritivas de direitos, da liberdade mantida, e da não congregação com criminosos periculosos, apenas o entrevistado B falou que a pena de prisão não reeducava, todos os demais expuseram que dependendo do tempo e da forma, a prisão reeduca sim, faz com que a pessoa pense bem antes de cometer um ato criminoso. Um fato que merece ser bastante destacado é que foi inquirido se, ao cumprir a pena alternativa, o apenado refletiu sobre o fato que praticou e que, em decorrência dele, poderia ter sido encarcerado e, como resposta, obteve-se, de todos os entrevistados, uma resposta positiva. Estes foram os principais dados coletados na pesquisa de campo, e eles denotam, conforme se observa na leitura to texto acima, uma efetiva ressocialização e reeducação dos apenados ao cumprirem essas alternativas penais. Deve-se considerar o delinqüente como um indivíduo com capacidades a serem trabalhadas para poder superar as dificuldades que o levaram a cometer o delito, pois, caso seja orientado de acordo com suas potencialidades, será capaz de se reintegrar à sociedade. Cabe à instituição penitenciária assumir a responsabilidade pelo tratamento dessas pessoas, considerando que cada pessoa é única em seus processos vivenciais, possuindo uma forma particular de interagir com as pessoas no contexto social. A recuperação dos condenados é requisito fundamental para demarcar o início da real execução das penas privativas de liberdade. Isso deve ocorrer de modo que a cada sentenciado após ter sido analisada sua personalidade e o fato por ele cometido, corresponda um tratamento penitenciário adequado. 77

CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir da pesquisa realizada, tanto bibliográfica quanto de campo, pode-se formular algumas conclusões necessárias à compreensão do tema e que poderão servir, no futuro, para um estudo mais aprofundado nas diversas alternativas penais ao encarceramento. O delito é um fato social, que nasce no seio da comunidade, e só pode ser controlado pela ação conjunta do governo e da sociedade, sob a forma do Estado Democrático de Direito. O sistema de penas privativas de liberdade, atualmente o mais aplicado no Brasil, está falido, com estabelecimentos superlotados, com condições sub-humanas de convivência, cerceando assim o desenvolvimento do caráter e a recuperação do preso, acarretando ainda um alto índice de reincidência. O sistema carcerário do Brasil, cravejado de mazelas e desumanidades, não proporciona ao condenado uma reflexão acerca de sua conduta e do seu posterior convívio social. Contrariamente a essa almejada finalidade, a prisão deixa marcas indestrutíveis, além de exercer uma força desmoralizante sob o condenado perante sua família e sociedade, o que não favorece em nada a sua reintegração no seio social. As penas alternativas, também denominadas restritivas de direitos, remetem-se aos condenados que pouco perigo trazem para a sociedade, tendo em vista a sua culpabilidade, os seus antecedentes, a sua conduta social e sua personalidade. As alternativas penais representam um dos meios mais eficazes de prevenir a reincidência criminal, devido ao seu caráter educativo e socialmente útil, pois enseja que o infrator, cumprindo sua pena em "liberdade", seja acompanhado pelo Estado e pela comunidade, facilitando bastante a sua reintegração à sociedade. 78

A idéia central deste artigo, fruto de pesquisas bibliográfica, documental e de campo, foi procurar mostrar que a aplicação de penas restritivas de direitos aos infratores considerados não perigosos é de suma importância para a real efetivação dos objetivos da política criminal brasileira, quais sejam, punir e ressocializar o infrator. A legislação penal brasileira teve um inegável avanço, principalmente após a aprovação da Lei 9.714/98, no sentido de se adequar às tendências praticadas nos dias atuais. É impreterível que se busque alternativas penais ao encarceramento, tendo em vista a falência do sistema carcerário, e sua incapacidade de promover os fins que devem nortear qualquer imposição de pena: a retribuição e, principalmente, a ressocialização do condenado. A aplicação dessas alternativas penais, sempre que cabível, deve ser aplicada, já que é notório que o sistema carcerário não oferece verdadeiramente condições de reeducar e ressocializar o apenado. Não se deve deixar iludir-se com o vigente sistema carcerário, e perceber que, da forma em que é cumprida a pena em determinadas prisões, não contribuem, de forma alguma, para a recuperação do preso. As prisões só podem servir, como realmente servem, a propiciarem que novos crimes sejam ali aprendidos e planejados quase à perfeição, diante das experiências trocadas pela escola de marginais, dos mais variados crimes. A conclusão a que se chega é óbvia: a pena privativa de liberdade não funciona mais como fator de combate à reincidência criminal, contribuindo indubitavelmente para o aumento da criminalidade. Dentre os benefícios apontados em face da utilização e aplicação prática das sanções alternativas, em primeiro lugar, tem-se a não redução moral e social do condenado, o que a realidade nacional já demonstrou ser, pela via do encarceramento, inviável. 79