Simulação Numérica do Ensaio de Dureza Brinell em Filmes Finos



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Transcrição:

Universidade Federal de São João Del-Rei MG 26 a 28 de maio de 2010 Associação Brasileira de Métodos Computacionais em Engenharia Simulação Numérica do Ensaio de Dureza Brinell em Filmes Finos Rodrigo Araújo 1 ; Avelino Manuel da Silva Dias 1 ;Cristina Geralda Durães Godoy 2. 1 Departamento de Engenharia Mecânica, UFSJ, São João Del-Rei, MG CEP: 36307-352 2 Departamento de Engenharia Metalúrgica, UFMG, Belo Horizonte, MG CEP: 30160-030 e-mail: rodrigoaraujodivi@hotmail.com; avelino009@yahoo.com.br; godoy@uaigiga.com.br Resumo. A demanda por componentes mais resistentes ao desgaste e à corrosão tem promovido um interesse crescente da engenharia de superfícies que desenvolve processos para melhoria das propriedades tribológicas de materiais. O uso de revestimentos cerâmicos tem sido uma opção utilizada para melhorar as propriedades mecânicas superficiais. Contudo, faz-se necessário o uso de ensaios para avaliação do comportamento mecânico do filme e da sua interface com o substrato, o que requer equipamentos sofisticados, mão de obra especializada e consequentemente alto custo. Com o avanço dos sistemas computacionais, a utilização da análise numérica para solucionar inúmeros problemas tecnológicos tem sido cada vez mais frequente e atualmente permite a sua implementação a baixos custos operacionais. Neste trabalho, propõe-se a utilização do Método dos Elementos Finitos (MEF) para simular o ensaio de indentação com penetradores esféricos em conjugados compostos de substrato metálico e filme cerâmico com diferentes espessuras, através de um solver comercial. Porém a utilização desta técnica numérica para avaliar o ensaio de indentação em recobrimentos superficiais finos, também tem apresentado problemas na obtenção das propriedades mecânicas do conjugado. Para melhor modelar o ensaio de indentação foram avaliados os efeitos do coeficiente de atrito entre o indentador e o filme, assim como foram analisados os campos de tensões e de deformações no conjugado para diferentes profundidades de penetração. Palavras chaves: ensaio de indentação, filmes finos, elementos finitos, atrito.

1 - INTRODUÇÃO A necessidade de melhorar as propriedades mecânicas como, por exemplo, a resistência à oxidação e desgaste de componentes, tem impulsionado o avanço na área de engenharia de superfícies. Esta área da engenharia trata da tecnologia de preparação e modificação das superfícies para cumprir funções específicas dentro de uma certa aplicação. Uma das opções utilizadas para melhorar estas propriedades é o uso de revestimentos cerâmicos. Contudo, é necessário avaliar as propriedades mecânicas destes recobrimentos e da interface com o substrato. Necessariamente, o ensaio de indentação instrumentada tem sido utilizado para avaliar as propriedades mecânicas destes conjugados. Os ensaios de indentação têm sido amplamente utilizados para a determinação da dureza superficial em diferentes classes de materiais. Devido à sua versatilidade, numerosos trabalhos estão sendo desenvolvidos neste campo, estudando-se novas metodologias e aplicações para estes ensaios. Recentes trabalhos propõem a utilização dos ensaios de indentação como uma ferramenta capaz de avaliar características mecânicas além da dureza superficial, o módulo de elasticidade (E), coeficiente de Poisson (ν), tenacidade à fratura (K IC ) e uma possível curva de tensão em função da deformação do comportamento elastoplástico sob compressão (Zeng e Chiu, 2001 e Lee, et al 2005). O ensaio de indentação instrumentada é realizado através de um equipamento de precisão que permite monitorar por meio de sensores as variações da profundidade de penetração (h) de um indentador em função da carga aplicada (P), quando este penetra no material estudado, atingindo um deslocamento máximo e retornando para a posição inicial, completando um ciclo de carregamento e descarregamento. A Figura 1 mostra um comportamento típico desta curva Pxh, assim como, três importantes parâmetros que devem ser determinadas neste procedimento: a carga máxima de indentação (P max ); a profundidade máxima de penetração (h max ); e, o coeficiente de rigidez elástica (S= dp/dh). A exatidão na obtenção destes três parâmetros influencia na determinação de valores exatos de dureza e do módulo de elasticidade. Figura 1. Ilustração esquemática de uma curva de carga do indentador versus deslocamento mostrando parâmetros importantes de medição como o coeficiente de rigidez elástica (S) e a profundidade de penetração residual (h f ) (Oliver e Pharr, 2004). Entretanto, a implementação desta técnica de indentação para a avaliação das propriedades mecânicas e os seus resultados obtidos ainda ocasionam dúvidas no meio científico. Segundo a literatura, estes problemas são mais intensos quando se pretende

avaliar o comportamento mecânico de filmes finos depositados em substratos macios (Fischer-Cripps, 2006). Para a realização do ensaio de indentação instrumentada é necessário equipamentos de alta precisão para monitorar baixíssimas cargas e sensíveis deformações para avaliar com confiabilidade as propriedades mecânicas utilizando grandezas em micro e nano escalas (Huang e Pelegri, 2007). Em função destas limitações na análise dos ensaios de indentação o uso de uma técnica numérica capaz de avaliar os campos de tensões e de deformações durante o ciclo de indentação pode auxiliar em uma interpretação mais segura deste ensaio. Nas últimas décadas, esta metodologia numérica começou a ser estudada através de modelos discretos de elementos finitos para avaliar o comportamento de diferentes materiais sob o ensaio de indentação (Sun et al, 1995; Souza et al, 2001; Antunes et al, 2006; Dias et al, 2006; Dias e Godoy, 2010). O Método dos Elementos Finitos (MEF) tem se mostrado uma técnica numérica confiável para análise de tensões e deformações e para a simulação de diferentes problemas de engenharia. Este método tem sido largamente utilizado para simular e resolver inúmeros problemas não lineares nas áreas de instabilidade estrutural, de sistemas dinâmicos, sistemas fluidos, eletromagnéticos e de conformação mecânica. Porém, a utilização desta técnica numérica para avaliar o ensaio de indentação em recobrimentos superficiais finos, também tem apresentado problemas devido às limitações computacionais, à dificuldade na implementação de critérios de falhas, à dificuldade encontrada para a caracterização destes recobrimentos e, principalmente, na obtenção das propriedades mecânicas para a interface recobrimento/substrato. Possíveis falhas em sistemas que conjugam recobrimentos de alta dureza (recobrimentos tribológicos) com substratos de baixa dureza em serviço, durante solicitações tribológicas, raramente acontecem por desgaste convencional, mas podem acontecer principalmente por delaminação do recobrimento do substrato (falha adesiva), ou fratura do recobrimento (falha coesiva) ou, ainda, por fratura sub-superficial (falha do substrato). Para estudar estas falhas de componentes conjugados torna-se essencial determinar a distribuição do campo de tensões que levam a ocorrência deformações plásticas nestes conjugados, assim como determinar a região onde se dá o início e desenvolvimento desta zona plástica (Sun et al, 1995). Em função de dúvidas e limitações que ainda são encontradas no meio científico a respeito na análise do ensaio de indentação, principalmente em conjugados de recobrimentos finos, a necessidade do uso de uma técnica numérica capaz de representar de forma confiável este ensaio para obtenção das propriedades mecânicas é muito bem vinda e se faz cada vez mais necessária. A simulação proposta neste trabalho utilizará modelos discretos através do Método dos Elementos Finitos (MEF), para reproduzir o ensaio de indentação esférica Brinell conforme representado na Figura 2(a), onde D é diâmetro do indentador, h é a profundidade de indentação, d 1 e d 2 são os diâmetros impressos na amostra e F é a força aplicada ao indentador. O conjugado estudado é composto de um substrato metálico recoberto por um filme de cerâmico com diferentes espessuras. No procedimento numérico, pretende-se avaliar a influência do atrito entre o indentador e a superfície do filme, os efeitos da espessura do recobrimento, suas propriedades de elasticidade, de resistência mecânica e o desenvolvimento do campo de tensões e deformações. Através da simulação, pretende-se também, prever possíveis falhas em sistemas que conjugam recobrimentos de alta dureza com substrato de média dureza. É importante destacar que em ensaios experimentais de indentação com penetradores esféricos podem surgir fissuras radiais e circunferenciais ao redor da impressão do indentador na superfície do filme fino, Figura 2(b). Nesta figura é mostrada a vista de topo da impressão de um penetrador esférico na superfície de um conjugado duplex recoberto com revestimento (CrAlN), depositado por PAPVD em um substrato de aço inoxidável nitretado a plasma (Mancuso, 2005).

Figura 2. Indentação Brinell (a) Representação esquemática, (b) Resultado experimental, fissuras circunferenciais ao redor de impressão do penetrador esférico na superfície de uma amostra de recobrimento CrAlN duplex (Mancuso, 2005). 2 - MATERIAIS E MÉTODOS A simulação numérica realizada neste trabalho reproduziu através do método dos elementos finitos o ensaio de indentação instrumentada Brinell em um filme fino cerâmico depositado sobre um substrato metálico, utilizando o solver comercial MARC TM (2007). O ensaio foi modelado através de elementos axissimétricos o que diminui consideravelmente os esforços computacionais (Dias, 2004). Essa modelagem foi possível devido à simetria do problema. O sistema estudo é composto por um substrato de aço liga AISI 4140 e recoberto por um filme de nitreto de cromo com alumínio (CrAlN) com espessuras de 3, 6 e 9 µm, cujas propriedades estão dispostas na Tabela 1. Tabela 1. Propriedades mecânicas do substrato e recobrimento (Dias et al, 2008). Módulo de Young (GPa) Coeficiente de Poisson Substrato (4140) 238,00 0.29 Recobrimento (CrAlN) 350,00 0.22 Simulou-se o ciclo de indentação, carregamento e descarregamento através do deslocamento prescrito do indentador, permitindo assim um melhor controle numérico no início e durante a simulação do ensaio (Dias et al, 2006). Além desse controle numérico, o ensaio foi executado em duas fases, uma na descida do indentador, seguida de outra na subida do mesmo, completando-se o ciclo. Considerou-se que os sistemas estudados possuiam perfeita aderência entre o filme e o substrato o que significa que não houve delaminação ou escorregamento nesta interface (Huang e Pelegri, 2005). Também foi considerado a existência de atrito entre o indentador e a amostra. O indentador foi modelado como uma superfície circular rígida que penetra na amostra considerada deformável dos conjugados a serem estudados. Como condições de contorno do problema, o modelo possui restrição ao deslocamento na sua base e restrição ao deslocamento radial dos nós que estão localizados no eixo de simetria. As características dos modelos numéricos encontram-se na Tabela 2, os materiais estudados foram considerados isotrópicos, homogêneos e com comportamento elastoplástico, o diâmetro do indentador foi de 400 µm.

Conjugado Tabela 2. Características dos modelos numéricos analisados. Malha do substrato (n de elementos) Malha do Filme (n de elementos) Espessura do filme Filme CrAlN 7500 945 3 Substrato aço liga 7500 1890 6 AISI 4140 7500 2835 9 (µm) Com o intuito de se obter uma melhor distribuição do campo de tensões e deformações na região do contato do indentador e na interface do recobrimento com o substrato, utilizou se uma malha mais refinada nesta região, conforme Figura 3, onde também são evidenciadas as condições de contorno. Na análise incremental do problema para a fase de carregamento foram adotados 300 incrementos e mais 100 para o descarregamento totalizando 400 incrementos. As dimensões da amostra são 0,3 mm de largura mais a espessura do recobrimento e 0,5 mm de comprimento, foram utilizados elementos de 4 nós, com dimensões de 0,33 x 1,33 µm para a região mais refinada da malha. Foram realizados ensaios com 3 diferentes profundidades de penetração 10%; 25% e 50% da medida da espessura do recobrimento e avaliado a influência do atrito entre o indentador e a superfície do recobrimento através da mensuração da carga máxima de indentação, foram adotados os seguintes valores para o coeficiente de atrito 0,1 ; 0,2; 0,3 e 0,4. No ensaio experimental de indentação tanto a superfície do indentador como a da amostra são polidas o que favorece o deslizamento entre as superfícies e nos levou a adotar valores baixos de coeficiente de atrito. Figura 3. Modelo Numérico do ensaio Brinell em uma amostra do conjugado filme / substrato (CrAlN / AISI 4140). 3 - RESULTADOS E DISCUSSÃO Os gráficos das Figuras 3, 4 e 5 apresentam os resultados numéricos obtidos para a carga de indentação relacionando os diversos valores do coeficiente de atrito entre o indentador e a superfície do filme com as profundidades de penetração para os diferentes sistemas simulados.

Figura 4. Gráfico da carga de indentação em função do coeficiente de atrito entre o indentador e a superfície do filme com 3 µm de espessura. Figura 5. Gráfico da carga de indentação em função do coeficiente de atrito entre o indentador e a superfície do filme com 6 µm de espessura. Figura 6. Gráfico da carga de indentação em função do coeficiente de atrito entre o indentador e a superfície do filme com 9 µm de espessura. Inicialmente os resultados mostraram que o atrito entre o indentador e a superfície do filme apresenta pouca influência na carga de indentação, como observado nos trabalhos de Bressan et al (2004) e Huang e Pelegri (2005). A variação máxima foi para o sistema com recobrimento de 9,0 µm e profundidade de penetração de 50% da espessura do filme, onde

a carga variou de 145,14N para 145,78N quando o coeficiente de atrito varia de 0,1 para 0,4. Os resultados também mostraram que a carga aplicada pelo indentador foi maior em um sistema recoberto com um filme de maior espessura do que à aplicada com mesma profundidade em um recobrimento menos espesso. Esta situação pode ser observada para o ensaio realizado no recobrimento de 3 µm com profundidade de penetração de 1,5 µm (50% espessura), a carga média foi de 71,062 N quando comparado com os resultados obtidos para o filme de 6 µm com a mesma profundidade de penetração 1,5 µm (25% da espessura) onde a carga média foi de 73,014 N. Este aumento da carga pode indicar um aumento nas propriedades tribológicas do conjugado. Contudo essa variação em sistemas recobertos não pareceu ser muito significativa, pois houve um ganho de apenas 2,7% para um recobrimento com o dobro da espessura. A Figura 7 ilustra a distribuição numérica para o campo de tensões na região de indentação após o ensaio Brinell para o sistema CrAlN-AISI 4140, com filme de 3 µm e uma profundidade de penetração de 25% da espessura do filme, sua superfície apresentou uma região crítica ao redor da impressão do indentador com características semelhantes às fissuras radiais e circunferenciais que ocorreram nesta região nas investigações de Mancuso (2005), durante os ensaios experimentais como observado na Figura 2 (b). Também foi possível visualizar que a interface entre o recobrimento e o substrato se mostrou crítica do ponto de vista da deformação, apresentando uma possível falha adesiva. Segundo Sun et al., (1995) este resultado indicou que este conjugado pode sofrer uma delaminação do filme durante um ensaio experimental Brinell com as mesmas características implementada nesta simulação numérica. Figura 7. Distribuição numérica para campo de tensões na região de indentação do ensaio Brinell no conjugado com filme de 3,0 µm de espessura e profundidade de penetração de 25% espessura (0,75 µm). A Figura 8 ilustra a distribuição numérica para o campo de tensões na região de indentação após o ensaio Brinell para o conjugado CrAlN-AISI 4140, com filme de 9 µm de espessura. Nesta simulação, também foi utilizada a profundidade de penetração de 25% da espessura do filme. Também foi possível identificar que a sua superfície se mostrou crítica do ponto de vista da deformação de trincamento. Entretanto, este conjugado não apresentou indícios de uma possível delaminação na interface entre o recobrimento e o substrato. Tal fato indicou que, quando submetido a um ensaio experimental Brinell com

características similares, este conjugado com filme de maior espessura pode apresentar menor tendência à uma possível delaminação. Sun et al, (1995) mostraram que, do ponto de vista das deformações plásticas, compósitos com maiores espessuras no recobrimento tendem a apresentar uma melhor resposta contra uma possível delaminação. Figura 8. Distribuição numérica para o campo de tensões na região de indentação do ensaio Brinell no conjugado com filme de 9,0 µm de espessura e profundidade de penetração de 25% espessura (2,25 µm). 4 - CONCLUSÃO Baseado nos resultados numéricos do ensaio de indentação com penetradores esféricos em diferentes compósitos de revestimento e substrato, através do método de elementos finitos, foi possível concluir que do ponto de vista do comportamento global, os modelos conseguiram representar o ensaio de indentação em diferentes sistemas compostos por um filme duro (CrAlN), com diferentes espessuras, depositados em um substrato metálico (AISI 4140). Foi verificado em todas as situações simuladas que o atrito entre o indentador e a superfície do filme não apresenta influência significativa na carga de indentação. Esta análise também mostrou que filmes de maiores espessuras proporcionaram um aumento médio de 2,7 % na carga de indentação sob mesma profundidade de penetração em um conjugado com o dobro da espessura do filme. Segundo os resultados numéricos para a zona de deformação nas Figuras 7 e 8, os filmes mais espessos apresentam uma menor possibilidade de delaminação dos compósitos de revestimento e substrato. Contudo existe ainda a necessidade de um maior aprofundamento na análise destes procedimentos numéricos para se introduzir um parâmetro capaz de modelar de forma mais realista a adesão entre o recobrimento e o substrato. Agradecimentos Os autores agradecem a UFSJ (Universidade Federal de São João del Rei- MG) pelo apoio e à FAPEMIG (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais) pelo apoio financeiro.

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