GUIA DO(A) PROFESSOR(A) Comitê: Assembleia Geral Histórica Tópico: A Violação dos Direitos Humanos no Período da Dissolução da Iugoslávia (1992)

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Transcrição:

GUIA DO(A) PROFESSOR(A) Comitê: Assembleia Geral Histórica Tópico: A Violação dos Direitos Humanos no Período da Dissolução da Iugoslávia (1992) 1. Introdução ao Comitê A Assembleia Geral é o maior órgão da Organização das Nações Unidas (ONU) e o único no qual todos os membros da organização estão representados e podem votar de maneira igualitária. Suas funções mais importantes são deliberar e fazer recomendações sobre assuntos dentro do escopo da Carta da ONU, considerando-se os princípios de manutenção da paz e da segurança internacional e a cooperação entre as nações. 2. Introdução ao Tópico Assembleia Geral voltará ao mês de agosto de 1992, quando o processo de dissolução da antiga República Socialista Federativa da Iugoslávia já apresentava acentuado grau de hostilidade. Deve-se ter em mente, no entanto, que os conflitos relacionados à dissolução da Iugoslávia são profundamente ligados à história de instabilidade da região dos Bálcãs, na qual diversos embates se deram na formação dos Estados ali presentes. É importante destacar, nessa perspectiva, que a natureza do conflito analisado é fortemente caracterizada por aspectos que também se fizeram presentes no histórico regional: as diversas etnias que se estabeleceram nos Bálcãs e o desenvolvimento de sentimentos nacionalistas por parte dessas (MAZOWER, 2000); e os interesses de atores externos que se manifestaram na região. O próprio Estado Iugoslavo é fruto dessas concepções, uma vez que partiu do sonho da criação de um Estado para os eslavos do sul e da percepção das potências europeias da necessidade de um Estado forte para conter a Alemanha no pós-primeira Guerra Mundial (HUDSON, 2003).

A viabilização da constituição desse Estado multiétnico é, portanto, produto desse grande conflito através dos interesses estratégicos dos Estados europeus vencedores representados, logo, na necessidade de contenção alemã e no desmantelamento dos Impérios Austro-Húngaro e Turco-Otomano (HUDSON, 2013), antigos rivais territoriais dos Estados eslavos do sul na região dos Bálcãs e no afloramento da ideologia nacionalista, sob o desígnio do pan-eslavismo, que fomentou o desejo da construção de um Estado eslavo. Nos primeiros anos de existência, o cenário político do país foi extremamente tumultuado, de forma que discussões internas separatistas foram muito presentes (SEVERO, 2011). Da mesma forma, durante a Segunda Guerra Mundial os países do Eixo promoveram a balcanização do Estado em unidades menores, de modo que não se oferecesse ameaça à economia e aos interesses estratégicos principalmente da Alemanha nazista (HUDSON, 2003). Foi sob a liderança do Marechal Josip Broz Tito que focos de resistência ao regime nazista se uniram em torno do partido Comunista para lutar com objetivo de libertar os eslavos do sul, reunificar o país e introduzir um sistema político, social e econômico que iria assegurar a autodeterminação e independência, de modo a resolver a questão nacional da pluralidade étnica (HUDSON, 2003. p. 25). Durante o governo do General Tito, sob o regime do sistema comunista, o país - então nomeado República Socialista Federativa da Iugoslávia (RSFI) - foi reorganizado entre seis repúblicas e duas províncias autônomas: Bósnia e Herzegovina, Croácia, Eslovênia, Macedônia, Montenegro e Sérvia e Kosovo e Voivodina, respectivamente. E, de fato, durante a liderança do General, foi desfrutado um período de estabilidade. No entanto, após a morte de Tito, as estruturas que sustentavam o funcionamento da RSFI começaram a ruir. O sistema iugoslavo viu efervescer sentimentos nacionalistas nas suas partes constitutivas. A identidade e as instituições iugoslavas, construídas por Tito de forma que as tendências nacionalistas pudessem ser suprimidas e o poder sérvio a maioria étnica pudesse ser balanceado, já não funcionavam como antes. Essa conjuntura, inevitavelmente, veio a decretar o fim da RSFI e a emergência de novos Estados. Nesse sentido, observa-se no movimento de independência dos Estados ex-repúblicas iugoslavas os mesmos aspectos apresentados anteriormente: a onda de nacionalismos se iniciou

primeiramente com um governante de origem sérvia e obteve reações de igual caráter de eslovenos e croata. Esses movimentos de oposição, juntamente às interferências externas, começaram o processo dissolução da República Federativa Socialista da Iugoslávia. Já a participação de intervenções exteriores à ex-rsfi foi de natureza agravante para o desmantelamento do Estado iugoslavo. Tais intromissões representam interesses essencialmente de natureza capitalista que buscavam integrar a Iugoslava no sistema capitalista mundial de forma que tal processo poderia ser facilitado se as repúblicas eslavas não tivessem um controle social e territorial tão eficiente quanto em uma unidade iugoslava (SEVERO, 2011). Tal conjuntura teve forte impacto no sentido aprofundar as contradições internas do Estado iugoslavo e levar a um conflito da dimensão atual. Por fim, deve-se ressaltar que o resultado da instabilidade gerada do exacerbamento dos nacionalistas e dos interesses externos na dissolução do país levaram a um conflito generalizado. Durante os embates pela independência, tanto da Croácia quanto da Bósnia e Herzegovina, diversas violações de direitos humanos e humanitários estão sendo perpetradas em larga escala através de práticas de genocídio, estupro e violência física, o que torna urgente a resolução do conflito. 3. Dinâmica do Comitê A Assembleia Geral é o maior órgão da Organização das Nações Unidas (ONU), na qual todos os membros da organização estão representados e podem votar de maneira igualitária, no entanto, as suas decisões não possuem caráter vinculante, ou seja, não são de cumprimento obrigatório. Todavia, o fato da decisão provir da totalidade dos representantes no debate pode tornar as resoluções moralmente vinculantes. Durante o debate, cada delegado irá representar um país cuja política externa acerca do tópico deverá ser defendida. Além disso, é esperado que os alunos promovam alianças com outros países de posição semelhante durante a discussão, tal fato auxiliará na elaboração de propostas de resolução de problemas, por exemplo. Tais ideias podem ser redigidas pelos delegados durante a simulação em forma de Documentos de Trabalho que serão entregues aos moderadores do debate para que possam ser

apresentados para todo o comitê, dessa forma a Assembleia pode avaliar e debater as propostas redigidas. Outros dados relevantes para a questão também poderão ser apresentados, como notícias em jornais, por exemplo. Ao final das discussões, é esperado que os delegados tenham elaborado uma Proposta de Resolução Final, a qual deve apresentar as principais recomendações debatidas durante as reuniões, de forma que reflita as posições apresentadas. É interessante que haja um debate acerca dos termos envolvidos na proposta, de modo que ela tente levar a um consenso na deliberação. Deve-se lembrar de que o comitê simulado será histórico, de modo que os delegados devam tomar cuidado com seu comportamento, seus discursos e com a utilização de fatos históricos, que devem se restringir até a data da simulação, em agosto de 1992. Sabendo-se do nível de hostilidade na qual se encontra o conflito e das graves violações de direitos sendo praticadas, os esforços do debate devem estar voltados à resolução do conflito, contudo, a posição dos delegados poderá variar sobre a defesa da dissolução iugoslava e da autodeterminação dos povos e da necessidade de intervenção externa para mediar o fim do conflito. 4. Objetivos da discussão O UFRGSMUNDI, assim como outros projetos de simulação de organizações internacionais, entende as simulações como modo de aprendizado e reflexão sobre os assuntos internacionais. Desse modo, o entendimento dos processos de construção e desmantelamento da Iugoslávia serve como um exercício de observação de conflitos internacionais e procura não somente de soluções ; também leva a análise da quantidade de fatores que estão envolvidos em circunstâncias de cunho interacional, motivações internas, mas também atuação de interesses externos estratégicos. Tal análise é de suma importância quando se observando diversos conflitos e instabilidades atuais tanto domésticas quanto internacionais de modo a estimular o pensamento crítico. A observação e argumentação baseadas nos direitos humanos também são essenciais para a formação do cidadão no século XXI, de forma a estimular a empatia e solidariedade. É esperado, logo, com base numa discussão que envolva as reflexões acima, que os

delegados tenham elaborado uma Proposta de Resolução Final a qual deve apresentar as principais recomendações debatidas durante as reuniões na forma de tópicos que deverá ser votada pelos presentes. Durante a discussão da Resolução Final podem e devem ser feitas sugestões de alterações de acordo com as necessidades dos países, de forma que se procure um consenso para a deliberação. 5. Questões norteadoras para professores Qual o papel da ideologia nacionalista na formação e dissolução da Iugoslávia? Como as motivações externas afetaram o rumo dos acontecimentos nos Bálcãs? A intervenção estrangeira ditou os rumos dos processos na região? Como se deve lidar atualmente com o conceito de auto-determinação dos povos e Estado Nação, frente ao fato de que a constituição do mesmo é essencialmente de origem ocidental? Qual o papel das definições de direitos humanos e direito humanitário para esse tipo de conflito? E do organismos internacionais? 6. Materiais de apoio Me Salva! A Questão Balcânica: https://www.youtube.com/watch?v=yh1x8pqfbfc Documentário, A Morte da Iugoslávia: https://www.youtube.com/watch?v=iu0xzd0ob1s Charge: