Práticas tradicionais de produção agroextrativista de açaizeiros existentes na região das ilhas do município de Cametá, Pará.

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Transcrição:

Resumos do IX Congresso Brasileiro de Agroecologia Belém/PA 28.09 a 01.10.2015 Práticas tradicionais de produção agroextrativista de açaizeiros existentes na região das ilhas do município de Cametá, Pará. Traditional practices of agro-extractive production açaizeiros existing in the region of the islands of the municipality of Cametá, Pará. BATISTA, Katharine Tavares 1 ; LEMOS, Walkymário de Paulo 2 ; SANTANA, Antônio Cordeiro de Resumo 1 EMATER-PARÁ, katharine2203@hotmail.com; 2 EMBRAPA Amazônia Oriental, wplemos@cpatu.embrapa.br; UFRA, acsantana@superig.com.br Seção Temática: 1.Sócio biodiversidade e Território O tema de pesquisa justifica-se pela importância do fruto açaí, Euterpe oleracea Mart., para economia extrativista e dieta alimentar da população cametaense. Desta forma, o objetivo foi descrever as práticas tradicionais de produção agroextrativista de açaizeiros na região das ilhas do município de Cametá, Pará. A pesquisa de campo foi realizada em 52 agroecossistemas distribuídos em 19 ilhas fluviais, entre os meses de agosto a dezembro de 2012. Assim, foram consideradas as tipologias similares às adotadas nos trabalhos de Grossmann et al. (2004), Santos e Sena e Homma (2013). Entre as práticas tradicionais analisadas, o manejo intermediário de açaizeiros nos agroecossistemas foi a adotada por maior parcela dos agricultores familiares residentes na região das ilhas de Cametá, Pará. Palavras-chave: Agricultura familiar; Agroecossistema de várzea; Manejo de açaizeiros. Abstract: The research topic is justified by the importance of the acai fruit, Euterpe oleracea Mart., to the extractive economy and diet of the population of Cametá. Thus, the objective was to describe the traditional practices of agroextractivist production açaizeiros in the region of the islands of the municipality of Cametá, Pará. The field research was conducted in 52 agroecosystems, distributed in 19 river islands, between the months of August to December 2012. Thus, we considered the similar types to those adopted in the work of Grossmann et al. (2004) and Santos; Sena and Homma(2013). Among the traditional practices analyzed, the intermediate management açaizeiros in agroecosystems was adopted in greater proportion by family farmers living in the region of the islands of Cameta, Pará. Keywords: Family farming; Agroecosystem of floodplain, Açaizeiros management.

Introdução O açaizeiro destaca-se como componente do agroecossistema de várzea, com elevada possibilidade de exploração nessas áreas, mediante a facilidade de reconstituição do revestimento florístico, além de ter importância alimentar e social, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida das populações ribeirinhas (JARDIM; ANDERSON, 1987; NOGUEIRA, 2005). Contudo, ainda se faz necessário conhecer as práticas de produção agroextrativista adotadas nos agroecossistemas, atentando-se às formas de extração do fruto, muitas vezes efetuada com práticas de manejo insustentáveis, com preocupações de ordem apenas produtiva, causando problemas ambientais, agronômicos e biológicos (SANTANA; COSTA, 2008; NOGUEIRA;SANTANA;GARCIA, 2013). No intuito de conhecer as práticas de produção agroextrativista ou de manejo sustentável de açaizeiros praticadas nesse ambiente de várzea, esta pesquisa teve como objetivo descrever as práticas tradicionais de produção agroextrativista adotadas por agricultores familiares residentes na região das ilhas do município de Cametá, Pará. Metodologia Esta pesquisa foi realizada em 52 agroecossistemas familiares (base amostral correspondente a 54,74% do quantitativo de sócios da Associação de Moradores e Produtores de Açaí de Cacoal, de um universo amostral de 95 agroecossistemas familiares existentes) distribuídos em 19 ilhas fluviais presentes em três setores da região das ilhas do município de Cametá (localizado na mesorregião do Nordeste Paraense) entre os meses de agosto a dezembro de 2012. Portanto, o público estudado constituiu-se de agricultores familiares agroextrativistas de açaizeiros, ora denominados agroecossistemas. A localização geográfica espacial dos mesmos foi definida de acordo com as de Silva (2010): i) Setor de cima; ii) Setor do Meio e iii) Setor de baixo. A determinação do número mínimo de agroecossistemas amostrados foi definida pela fórmula de determinação do tamanho da amostra (NA) com base na estimativa da proporção populacional (LEVIN, 1987; TRIOLA, 1999; LEVINE; BERENSON; STEPHAN, 2000), comum em análises socioeconômicas, a qual considera margens seguras de erros, considerando-se a probabilidade de 90% de acertos. A pesquisa apresenta abordagem quantitativa e classifica-se como exploratória e descritiva. As análises descritivas foram provenientes de sistematização de dados coletados em campo, utilizando-se questionário adaptado de Silva (2008), e posteriormente feita análise dos dados em planilhas do Excel, versão 2007. Para proceder a descrição das práticas tradicionais de produção agroextrativista de açaizeiros adotados por estes agricultores familiares, esta pesquisa baseou-se nas

tipologias adotadas nos trabalhos de Grossmann et al. (2004) e Santos; Sena e Homma (2013). Resultados e discussões Dos agroecossistemas pesquisados, a menor média de tamanho foi observada no setor do meio (15,67 ha), possivelmente pelo fato desse setor configurar-se como região de ocupação mais antiga e, consequentemente, maior distribuição e repartição das propriedades entre os descendentes diretos dos agricultores gestores dos agroecossistemas. Em relação à produtividade média do fruto de açaí em rasas/ha na região das ilhas de Cametá, Pará, os agroecossistemas localizados no setor do meio apresentaram produtividade média superior aos demais setores (360,12 rasas/ha). Os setores de baixo e de cima apresentaram produtividade média de 305,75 rasas/ha e 211,91 rasas/ha, respectivamente. Nestas áreas, foram identificados três tipos de práticas tradicionais de produção agroextrativista de açaizeiros: a) manejo moderado de açaizeiros praticado nos agroecossistemas; b) manejo intermediário de açaizeiros praticado nos agroecossistemas; e c) manejo de açaizeiros visando à produção do fruto na entressafra. O manejo moderado de açaizeiros possui pouca influência das recomendações repassadas por agentes externos às propriedades rurais (instituições de pesquisa, órgãos de assistência técnica e extensão rural governamental e ONG s). Nesse tipo de manejo as práticas foram repassadas entre as gerações e aperfeiçoadas de acordo com as recomendações técnicas adquiridas ao longo do tempo. Houve preservação de praticamente todos os estipes nas touceiras de açaizeiros, preservando-se 05 a 06 plantas/touceira, retirando-se apenas os estipes mais altos e antigos quando da realização do desbaste das touceiras. A atividade de roçagem foi realizada uma vez ao ano ocorrendo nos meses de janeiro e fevereiro e nos meses de maio a junho foi realizada a limpeza nos açaizais, antes do período de colheita do fruto açaí, com desbaste nas touceiras de açaizeiros antigos. Há venda do palmito proveniente de açaizeiros antigos a cada 03 anos. As praticas adotadas no manejo intermediário de açaizeiros nos agroecossistemas, sofreram maior influência daquelas recomendadas por agentes externos aos agroecossistemas. Esta prática apresentou semelhança com o sistema de produção recomendado pela pesquisa agropecuária, praticado pelos produtores na região das ilhas do município de Abaetetuba, Pará, descrito por Santos, Sena e Homma (2013). Nesse manejo houve desbaste anual das touceiras, deixando-se 04 plantas por touceira, 02 estipes produtivos de açaizeiros/touceira. As técnicas de manejo aprendidas com os ancestrais dos agricultores familiares foram e continuam sendo aperfeiçoadas de acordo com o aprendizado em cursos, seminários e aplicação das técnicas sugeridas por agentes externos aos agroecossistemas. Nele, houve a

preservação de espécies com potencial econômico e foram realizadas práticas culturais recomendadas pela pesquisa, tais como, limpeza da área; desbaste das touceiras; seleção e replantio de mudas; manutenção do açaizeiro; colheita e póscolheita conforme descrito por Nogueira (2005) e Santos, Sena e Homma (2013). Em relação ao manejo de açaizeiros visando à produção do fruto na entressafra, as práticas de manejo utilizadas foram àquelas recomendadas pelos agentes de pesquisa e extensão rural, provenientes do meio externo aos agroecossistemas, apenas com o diferencial adotado pelos agricultores familiares de indução da floração de açaizeiros para posterior produção do fruto açaí em período de entressafra. Tal prática foi realizada com a retirada dos dois ou três primeiros cachos com inflorescência, conhecidos comumente por bonecas, com posterior formação de cachos no período do inverno (entressafra). Para visualizar a distribuição dos tipos de manejo praticado nos agroecossistemas familiares da região das ilhas de Cametá foi elaborada a Tabela 01. Formas de manejo Setores da região das ilhas (nº famílias) Cima Meio Baixo Geral Geral (%) Moderado 0 05 02 07 13,46 Intermediário 04 25 03 32 61,54 Entressafra 01 11 01 13 25 Total de agroecossistemas 05 41 06 52 100 TABELA 01 - Distribuição dos agroecossistemas na região das ilhas de Cametá, de acordo com as práticas de manejo adotadas. 2012. Ao analisar a tabela 01, nota-se que 61,54% dos agroecossistemas familiares pesquisados na região das ilhas de Cametá praticam o manejo intermediário. Conclusões Conclui-se que das três práticas descritas, o manejo intermediário de açaizeiros foi a prática tradicional de produção agroextrativista de açaizeiros adotada por maior parcela dos agricultores familiares residentes na região das ilhas do município de Cametá, Pará. O acesso ao manejo diferenciado, com participação em cursos e adoção de técnicas provenientes de pesquisas influencia, positivamente, a produção agroextrativista de açaizeiros na região das ilhas de Cametá (PA). Alguns agroecossistemas mesmo apresentando áreas de manejo de açaizeiros reduzidas apresentam-se com boa produtividade média. Tudo leva a crer que esse bom resultado deve-se a junção de práticas tradicionais de produção agroextrativista de açaizeiros repassada entre as gerações com a inserção de técnicas oriundas de pesquisas.

Referências bibliográficas: GROSSMANN, M.; et al. Planejamento participativo visando a um manejo sustentável dos açaizais amazônicos e regulamentações oficiais. In: JARDIM, M. A. G.; MOURÃO, L. GROSSMANN, M. (Ed.). Açaí: possibilidades e limites para o desenvolvimento sustentável no estuário amazônico. Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi, 2004. p. 123 134. (Coleção Adolpho Ducke). JARDIM, M.A.G.; ANDERSON, A. B. Manejo de populações nativas de açaizeiros no estuário amazônico. Boletim de pesquisa florestal. Colombo, n. 15, p. 1-18, 1987. LEVIN, J. Estatística Aplicada a Ciências Humanas. 2ª Ed. São Paulo. Editora Harbra Ltda, 1987. LEVINE, D. M.; BERENSON, M. L.; STEPHAN, D. Estatística: Teoria e Aplicações usando Microsoft Excel em Português. Editora LTC. Rio de Janeiro, 2000. NOGUEIRA, O. L. Manejo de açaizais nativos. In: NOGUEIRA, O. L.; FIGUEIREDO, F. J. C.; MULLER, A. A. (Ed.). Açaí. Belém: Embrapa Amazônia Oriental, 2005.p. (Embrapa Amazônia Oriental. Sistemas de Produção, 4). NOGUEIRA, A. K. M.; SANTANA, A. C.; GARCIA, W. S. A dinâmica do mercado de açaí fruto no Estado do Pará: de 1994 a 2009. Revista Ceres. Viçosa, v.60, p.324-331, 2013. SANTANA, A. C. de; COSTA, F. de A. Mudanças recentes na oferta e demanda do açaí no Estado do Pará. In: SANTANA, A. C. de; CARVALHO, D. F.; MENDES, F. A. T. Análise sistêmica da fruticultura paraense: organização, mercado e competitividade empresarial. Belém: Banco da Amazônia, 2008. 255 p. SANTOS, J. C. dos; SENA, A. L. dos S.; HOMMA, A. K. O. Viabilidade econômica do manejo de açaizais no estuário amazônico: estudo de caso na região do rio Tauerá-Açu, Abaetetuba, estado do Pará. In: GUIDUCCI, R. do C. N.; LIMA FILHO, J. R. de.; MOTA, M. M. Viabilidade econômica de sistemas de produção agropecuários: metodologia e estudos de caso. Brasília, DF. EMBRAPA, 2013. p 351-409. SILVA, L. M. S. Impactos do crédito produtivo nas noções locais de sustentabilidade em agroecossistemas familiares no território sudeste do Pará. 2008. 205 f. Tese (Doutorado em Produção Vegetal). Programa de Pós-Graduação em Agronomia. Universidade Federal de Pelotas, Pelotas RS. 2008. SILVA, M. das G. da. Práticas culturais e territorialidades da pesca artesanal na Região das Ilhas de Cametá. In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS- GRADUAÇÃO E PESQUISA EM AMBIENTE E SOCIEDADE ANPPAS, 5. 2010, Florianópolis, SC. Anais... Santa Catarina, ANPPAS, 2010. Disponível em: <http://www.anppas.org.br/encontro5/cd/gt18.html>. Acesso: 01/08/2011. TRIOLA, M. F. Introdução à Estatística. Editora LTC. 7ª Ed. Rio de Janeiro, 1999.