Grupo de Protecção e Segurança Radiológica Octávia Monteiro Gil



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Grupo de Protecção e Segurança Radiológica 1st Workshop for Stakeholders - 6 de Dezembro de 2013

Radioactividade A radioactividade existe desde a formação do Universo, e os seres humanos viveram sempre num ambiente radioactivo. A desintegração dos elementos radioactivos naturais liberta grande quantidade de calor que é responsável pelas temperaturas amenas que são propícias à vida.

Radiação Radiação solar Medicina Nuclear Raios X Radiação cósmica Produtos de consumo Resíduos radioactivos Energia nuclear Radiação terrestre Alimentação

Constatações sobre efeitos nocivos induzidos pela radiação ionizante 1902-1º cancro de pele induzido pela radiação ionizante 1911 - leucemia induzida por RI 1920- cancro ósseo, pintores de relógios de parede 1930- cancro de fígado e leucemia, administração de torotraste 1940- leucemia entre os primeiros radiologistas Estudos nos sobreviventes japoneses da bomba atómica Estudos após acidente de Chernobyl 11 Março 2011- acidente de Fukushima

Mecanismos de acção da radiação ionizante Fenómenos Físicos Consiste na ionização e excitação dos átomos, resultante da troca de energia entre a radiação e a matéria. Fenómenos Químicos Consiste na ruptura de ligações químicas nas moléculas e formação de radicais livres. Fenómenos Bioquímicos e Fisiológicos Dependendo do órgão atingido teremos o aparecimento desses efeitos. Lesões observáveis Aparecem após um intervalo de tempo variável e podem ocorrer a nível celular ou a nível do organismo inteiro provocando alterações morfológicas ou funcionais.

Efeitos da radiação ionizante Absorção da radiação Ionização Alteração química Reparação ou Lesão Efeitos de alta dose Morte celular Efeitos em tecidos ou órgãos Efeitos corporais Efeitos de baixa dose Mutações Cancro Efeitos teratogénicos

Como a radiação actua nos organismos Átomo Molécula Célula Tecido Orgão Corpo

Cromossomas, genes e DNA

Mecanismos de acção da RI Acção directa ACÇÃO INDIRECTA Fotão Interacção directa com os átomos da molécula de DNA ACÇÃO DIRECTA Fotão Predominante para radiação de alta transferência linear de energia (LET) Corresponde a cerca de 30% dos efeitos biológicos da radiação de baixa LET raios X

Mecanismos de acção da RI Acção indirecta ACÇÃO INDIRECTA Fotão Interacção com as moléculas de água - radiólise da água ACÇÃO DIRECTA Fotão Produção de espécies reactivas de oxigénio Corresponde a cerca de 70% dos efeitos biológicos da radiação de baixalet raiosx

Radiosensibilidade A radiosensibilidade das espécies apresenta uma larga margem de variação. VIRUS MOLUSCOS PROTOZOÁRIOS BACTÉRIA MUSGOS, LÍQUENES, ALGAS INSECTOS CRUSTÁCEOS RÉPTEIS ANFÍBIOS PEIXES PLANTAS SUPERIORES AVES Adaptado de UNSCEAR, 1996 MAMÍFEROS 10 0 10 1 10 2 10 3 10 4 DOSE LETAL AGUDA (Gy) Valores aproximados das doses letais agudas para os vários grupos taxonómicos.

Radiosensibilidade celular LeideBergoniéeTribondeau: A sensibilidade das células à radiação está na razão directa da sua actividade proliferativa e na razão inversa do seu grau de diferenciação. As células cancerosas, que se dividem rapidamente e não são especializadas, são bastante sensíveis à radiação(base da radioterapia). As células nervosas, que se dividem mais lentamente e são altamente especializadas, são mais resistentes à radiação.

Sensibilidade das células à radiação Células muito radiosensíveis Células radiosensíveis Células pouco radiosensíveis

Radiosensibilidade relativa de células e tecidos Mais radiosensíveis Linfócitos Células germinais Células hematopoiéticas Epitélio intestinal Pele Células ósseas Células nervosas Tecido muscular Menos radiosensíveis

Efeitos biológicos da radiação ionizante efeitos estocásticos Podem resultar da exposição à radiação durante grandes períodos de tempo (exposição crónica) a baixas doses. A gravidade é independente da dose total e não existe um limiar de dose. Um exemplo típico de efeitos estocásticos são as mutações: alterações no DNA provocadas pela radiação. Muitas vezes o organismo não consegue reparar estas mutações, ou então fá-lo de uma forma deficiente, criando novas mutações. As mutações podem ocorrer nas células germinais ou nas células somáticas: As mutações nas células somáticas afectam apenas o próprio indivíduo que foi exposto podem originar cancro As mutações nas células germinais podem ser transmitidas para a descendência podem originar efeitos hereditários

Efeitos biológicos da radiação ionizante efeitos não estocásticos Estes efeitos surgem quando há exposição a elevadas doses de radiação, e tornam-se mais graves à medida que a exposição aumenta. Pequenos períodos de tempo com altas doses de radiação são designados por exposição aguda. Nestes efeitos existe um limiar de dose, ou seja, para valores de exposição acima deste limiar observa-se necessariamente, para todos os indivíduos, uma lesão. É um efeito certo. Muitos dos efeitos não cancerígenos provocados pela radiação são não estocásticos. Os efeitos não estocásticos observam-se pouco tempo após a exposição à radiação e observam-se na pele, nos órgãos reprodutores, na medula óssea, e nos intestinos. Contudo há efeitos que só vêm a ser observados mais tardiamente, como é o caso das cataratas.

Efeitos cutâneos A pele é o maior órgão do corpo humano, possuidora de múltiplas funções biológicas. Como facilmente se compreende, é o primeiro órgão a sofrer danos resultantes de exposição a radiação externa. A gravidade das lesões cutâneas está dependente da dose recebida e do tempo de exposição.

Efeitos cutâneos Radiodermite precoce: Aparece num curto espaço de tempo após a exposição Dose elevada (5 Gy) Reversível Radiodermite tardia: Aparece normalmente muito tempo após a exposição (meses a anos) Irreversível Profissões típicas (radiologistas)

Efeitos cutâneos Radiodermite precoce Fotografia de dois sobreviventes de Nagasaki, 63 dias depois da explosão: Eritema cutâneo Queda de cabelo

Efeitos cutâneos Homem de 40 anos, submetido a 2 angiografias coronárias Maio de 1990, USA Controlo fluoroscópico. Dose total desconhecida (mas > 20 Gy) 16 18 Resolução 6 a 21 21 8 semanas: meses: da úlcera Necrose após Úlcera após da as da transplante angiografias pelede pele

Efeitos cutâneos Lesões cutâneas crónicas induzidas pela radiação (Dose superior a 10 Gy)

Efeitos oculares Catarata (opacificação) do cristalino induzida pela radiação Cristalino normal Catarata Doses acumuladas de 5 Gy

Efeitos nos órgãos reprodutivos Esterilidade 3 Gy ± 40 anos permanente ± 20 anos temporária 8 Gy Permanente Esterilidade 0,25 Gy Alteração no número e qualidade dos espermatozóides 6 Gy Permanente

Efeitos na medula óssea A medula óssea é um órgão muito radiosensível Baixa dos glóbulos brancos Baixa dos glóbulos vermelhos Aplasia medular Leucemias

Efeitos gastrointestinais Exposição aguda a elevada dose de radiação: Náuseas e vómitos Período de latência Diarreia, cólicas intestinais Obstrução intestinal

Todo o cuidado é pouco! Nunca facilitar! Cumprir sempre as normas de segurança e protecção

Muito obrigada!!