SUSTENTABILIDADE COM LODO DE ESGOTO

Documentos relacionados
Avaliação da Reatividade do Carvão Vegetal, Carvão Mineral Nacional e Mistura Visando a Injeção em Altos- Fornos

Introdução. Palavras-Chave: Reaproveitamento. Resíduos. Potencial. Natureza. 1 Graduando Eng. Civil:

Reaproveitamento do Resíduo Sólido do Processo de Fabricação de Louça Sanitária no Desenvolvimento de Massa Cerâmica

Susana Sequeira Simão

PROCESSO DE CONVERSÃO À BAIXA TEMPERATURA - CBT

PRODUÇÃO DE COAGULANTE FÉRRICO A PARTIR DE REJEITOS DA MINERAÇÃO DE CARVÃO. 21/08 24/08 de 2011.

Patricia Cunico, Carina P. Magdalena, Terezinha E. M. de Carvalho,

5 Caracterizações Física, Química e Mineralógica.

Avaliação da lixiviação de Mo, Cd, Zn, As e Pb de cinza de carvão oriunda da termelétrica de Figueira, Paraná

CERÂMICA INCORPORADA COM RESÍDUO DE ROCHAS ORNAMENTAIS PROVENIENTE DA SERRAGEM DE BLOCOS UTILIZANDO TEAR MULTIFIO: CARACTERIZAÇÃO AMBIENTAL

Silva, M.R.; de Lena, J.C.; Nalini, H.A.; Enzweiler, J. Fonte: VALE (2014)

ASPECTOS CONCEITUAIS - DIFERENÇAS

AVALIAÇÃO TECNOLÓGICA PARA EMPREGO DO CARVÃO DA CAMADA BONITO NA GERAÇÃO TERMELÉTRICA E APROVEITAMENTO ATRAVÉS DE TECNOLOGIAS LIMPAS

SGS GEOSOL LABORATÓRIOS LTDA. CERTIFICADO DE ANÁLISES GQ

Avaliação da reatividade do metacaulim reativo produzido a partir do resíduo do beneficiamento de caulim como aditivo na produção de argamassa

OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE RESÍDUO DA CERÂMICA VERMELHA SUBMETIDAS A DIFERENTES CONDIÇÕES DE QUEIMA

Estudo da Reutilização de Resíduos de Telha Cerâmica (Chamote) em Formulação de Massa para Blocos Cerâmicos

II CARACTERIZAÇÃO DE MATÉRIAS-PRIMAS PARA REUSO DE LODO DE ETE EM PRODUTOS CERÂMICOS

A EMPREGABILIDADE DE REJEITO CERÂMICO NA INDUSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL

121,8 127,6 126,9 131,3. Sb Te I Xe 27,0 28,1 31,0 32,1 35,5 39,9 69,7 72,6 74,9 79,0 79,9 83, Ga Ge As Se Br Kr. In Sn 114,8 118,7.

processo sub-produtos rejeitos matérias primas e insumos

INFLUÊNCIA DO TEOR DE SÍLICA LIVRE NAS PROPRIEDADES DO AGREGADO SINTÉTICO A PARTIR A SINTERIZAÇÃO DA LAMA VERMELHA

APROVEITAMENTO DO REJEITO DE PEGMATITO PARA INDÚSTRIA CERÂMICA

Adição de Metais Tóxicos a Massas Cerâmicas e Avaliação de sua Estabilidade Frente a Agente Lixiviante. Parte 1: Avaliação das Características Físicas

4 Caracterização física, química e mineralógica dos solos

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI DIAMANTINA MINAS GERAIS PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

1ª Série Ensino Médio. 16. O sistema a seguir mostra a ocorrência de reação química entre um ácido e um metal, com liberação do gás X:

Caracterização química e mineralógica de resíduos de quartzitos para uso na indústria cerâmica

ESTUDOS PRELIMINARES DO EFEITO DA ADIÇÃO DA CASCA DE OVO EM MASSA DE PORCELANA

LODO BIOLÓGICO: CARACTERIZAÇÃO DE LODO BIOLÓGICO GERADO EM UMA ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE EFLUENTES DE INDÚSTRIA DE EXTRAÇÃO DE CELULOSE.

PRODUÇÃO DE ZEÓLITAS A PARTIR DE CAULIM EM SISTEMA AGITADO COM AQUECIMENTO A VAPOR EM ESCALA SEMI-PILOTO

Universidade Federal do Rio Grande do Sul Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Minas, Metalúrgica e Materiais

MODALIDADE EM2. 3 a Olimpíada de Química do Rio de Janeiro 2008 EM2 1 a Fase

Efeito do Processo de Calcinação na Atividade Pozolânica da Argila Calcinada

INTERESSE PELA UTILIZAÇÃO DE MICRONUTRIENTES

Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Processos Químicos 2

Metalurgia de Metais Não-Ferrosos

CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA DA CINZA DO BAGAÇO DA CANA DE AÇÚCAR DE UMA USINA SUCROALCOOLEIRA DE MINEIROS-GO

A mineralogical study of industrial Portland clinker produced with non-traditional raw-materials (carbonatite) and fuels (coal, pet coke, waste tires)

Identificação do candidato UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO DPTO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS

ESTUDO DAS PROPRIEDADES DE ARGAMASSAS DE CAL E POZOLANA: INFLUÊNCIA DO TIPO DE METACAULIM

Química. A) Considerando-se que o pk a1 é aproximadamente 2, quais os valores de pk a2 e pk a3?

AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DO COAGULANTE CONTIDO NO LODO GERADO NA ETA EM CORPOS CERÂMICOS

Depende do alimento. Depende do alimento. Método interno. Método interno. Depende do alimento. Depende do alimento. Método interno.

Reações Químicas GERAL

ESTUDO DA APLICAÇÃO DE RESÍDUOS DE ARDÓSIA COMO FONTE DE MAGNÉSIO PARA SÍNTESE DE FERTILIZANTES MINERAIS

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA METALÚRGICA. Introdução à metalurgia dos não ferrosos

CONTAMINAÇÃO NA ÁGUA SUBTERRÂNEA PROVOCADA PELO LIXIVIADO DE ATERRO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS

Síntese de Pigmento Cerâmico de Óxido de Ferro Encapsulado em Sílica Amorfa para Aplicações Cerâmicas a Altas Temperaturas ( C)

Caracterização dos Materiais Silto-Argilosos do Barreiro de Bustos

Energia para metalurgia

Aproveitamento energético de combustíveis derivados de resíduos via co-gasificação térmica

ESTUDO SOBRE SOLIDIFICAÇÃO/ESTABILIZAÇÃO DE LODO DE LAVANDERIAS INDUSTRIAIS PARA FABRICAÇÃO DE BLOCOS CERÂMICOS ACÚSTICOS (RESSOADORES DE HELMHOLTZ)

USO DE PÓ DE EXAUSTÃO GERADO NA INDÚSTRIA DE FUNDIÇÃO COMO MATÉRIA PRIMA PARA A INDÚSTRIA DE REVESTIMENTO CERÂMICO.

Ciências da Natureza e Matemática

Exame de Seleção Mestrado em Química Turma 2014 I. Candidato: RG:

Caracterização Tecnológica de Minerais Industriais

Programa de Pós-graduação em Ciência e Tecnologia de Materiais 1º semestre de Informações e instruções para a resolução da prova

121,8 127,6 126,9 131,3. Sb Te I Xe. In Sn 69,7 72,6 74,9 79,0 79,9 83,8 112,4 107,9 85,5 87,6 88,9 91,2 92,9 95,9 (98) 101,1 102,9 106,4 140,1

Universidade Federal do Paraná, Departamento de Hidraúlica e Saneamento, Curso de Mestrado em Engenharia de Recursos Hídricos e Ambiental.

Combustíveis e Redutores ENERGIA PARA METALURGIA

TÉCNICAS ANALÍTICAS NO ESTUDO DE MATERIAIS. INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS UFRGS Prof. Vitor Paulo Pereira

Temperatura no Leito de Pelotas - Teste com recipiente de aço. (Cadinho com Escória) Tempo (segundos)

Instituto de Pesquisas Enérgicas Nucleares IPEN-CNEN/SP

AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE COMPOSTAGEM UTILIZANDO PODAS VERDES E RESÍDUOS DO SANEAMENTO

Classificação Periódica Folha 01 Prof.: João Roberto Mazzei

Identificação do candidato. Exame de Seleção Mestrado em Química Turma I CANDIDATO: RG:

Proceedings of the 48 th Annual Meeting of the Brazilian Ceramic Society 28 de junho a 1º de julho de 2004 Curitiba-PR

Influência do Teor de Calcário no Comportamento Físico, Mecânico e Microestrutural de Cerâmicas Estruturais

Luiz Antônio M. N. BRANCO - FEA/FUMEC- Brasil. Antônio Neves de CARVALHO JÚNIOR - EE/UFMG - Brasil. Antônio Gilberto COSTA - IGC/UFMG - Brasil

EPUSP Engenharia Ambiental. Mineralogia. PEF3304 Poluição do Solo

ESTUDO DO EFEITO POZOLÂNICO DA CINZA VOLANTE NA PRODUÇÃO DE ARGAMASSAS MISTAS: CAL HIDRATADA, REJEITO DE CONSTRUÇÃO CIVIL E CIMENTO PORTLAND

PMT 2420 Metalurgia Geral

UTILIZAÇÃO DO RESÍDUO DO BENEFICIAMENTO DE ROCHAS ORNAMENTAIS (MÁRMORES E GRANITOS) NA CONSTRUÇÃO CIVIL

Processos Pré-Extrativos

QUI219 QUÍMICA ANALÍTICA (Farmácia) Prof. Mauricio X. Coutrim

Energia para Metalurgia

ESTUDO DA INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA NA OBTENÇÃO DE HIDROXIAPATITA PARA FINS BIOMÉDICOS


Somente identifique sua prova com o código de inscrição (não coloque seu nome);

Materiais constituintes do Concreto. Prof. M.Sc. Ricardo Ferreira

SÍNTESE DE ZEÓLITAS DO TIPO 4A A PARTIR DE CINZAS VOLANTES: QUANTIFICAÇÃO DE METAIS TRAÇOS NA MATÉRIA-PRIMA E NO PRODUTO FINAL

Aula 01: Introdução à Metalurgia

Elementos K Ca Sc Ti V Cr Mn Fe Co Ni Cu Zn Raio atómico (pm)

Efeito da Adição de Calcita Oriunda de Jazida de Argila em Massa de Cerâmica de Revestimento

TRATAMENTO DE RESÍDUOS GERADOS EM AULAS PRÁTICAS DE QUÍMICA DO COLÉGIO DE APLICAÇÃO DA UFV: UMA OPORTUNIDADE DE APRENDIZAGEM

Métodos de Monitoramento e Controle de Sistemas de Tratamento de Resíduos de Serviços de Saúde

Cerâmica 49 (2003) 6-10

CARACTERIZAÇÃO E APROVEITAMENTO DE CINZAS DA COMBUSTÃO DE CARVÃO MINERAL GERADAS EM USINAS TERMELÉTRICAS

ESTUDO DA IMOBILIZAÇÃO DE ELEMENTOS TÓXICOS PRESENTES NAS CINZAS DE CARVÃO POR MEIO DO TRATAMENTO COM AGENTES IMOBILIZADORES

DESENVOLVIMENTO DE NOVOS MATERIAIS CERÂMICOS A PARTIR DE RESÍDUOS DE LAPIDÁRIOS

Reações de oxirredução

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA Campus Experimental de Dracena Curso de Zootecnia Disciplina: Fertilidade do solo e fertilizantes

PROFESSOR: FELIPE ROSAL DISCIPLINA: QUÍMICA CONTEÚDO: PRATICANDO AULA 1

FACULDADES OSWALDO CRUZ QUÍMICA GERAL E INORGÂNICA CURSO BÁSICO 1ºS ANOS

ESTUDO DA VIABILIDADE DE UTILIZAÇÃO DO RESÍDUO DE MÁRMORE EM PÓ EM SUBSTITUIÇÃO PARCIAL AO AGREGADO MIÚDO PARA PRODUÇÃO DE ARGAMASSA

REAPROVEITAMENTO DE RESÍDUOS DE BARRAGENS DE MINERAÇÃO PARA O PROCESSAMENTO DE BLOCOS INTERTRAVADOS PARA PAVIMENTAÇÃO

Somente identifique sua prova com o código de inscrição (não coloque seu nome);

TRATAMENTO DE EFLUENTES INDUSTRIAIS CONTENDO METAIS PESADOS

Transcrição:

SUSTENTABILIDADE COM LODO DE ESGOTO SUSTAINABILITY WITH SEWAGE SLUDGE Henck, Brinner Erickson Monari Campus de Sorocaba Engenharia Ambiental brinner@grad.sorocaba.unesp.br PIBIC/Reitoria. Av. Três de Março, 511, 18087-180, Sorocaba/SP Orientador: Prof. Dr. Leandro Cardoso de Morais Campus Sorocaba Palavras-chave: lodo de esgoto; sustentabilidade; geração de energia; controle da poluição. Keywords: sewage sludge; sustainability, power generation; pollution control. RESUMO Este trabalho vem no sentido de observar o possível aproveitamento do lodo de esgoto seco como, uma potencial fonte de energia e também após calcinação sua utilização em formulações cerâmicas. 1.INTRODUÇÃO O tratamento de efluentes é um dos princípios básicos do desenvolvimento sustentável, bem como um dos mais importantes. Os subprodutos do tratamento são água passível de reuso e o resíduo lodo de esgoto, sendo o processamento, o reuso e a disposição do último um dos problemas mais complexos no campo do tratamento de efluentes. Geralmente, o foco se concentra, erroneamente, no tratamento em si, ficando para segundo plano o resíduo gerado. Este resíduo, normalmente, é simplesmente disposto no aterro sanitário mais próximo, contribuindo de forma indireta para as mudanças climáticas. 2. OBJETIVOS Lodo de esgoto seco como uma fonte alternativa de energia; E a aplicação deste lodo calcinado/sinterizado em novas formulações cerâmicas; 3.MATERIAIS E MÉTODOS O lodo de esgoto utilizado neste experimento foi gerado no tratamento de efluentes do município de Sorocaba, localizado no interior do Estado de São Paulo. Para tal, foram utilizadas uma bomba calorimétrica estática, além das análises químicas de Difração de Raios-X (DRX), Fluorescência de Raios-X (FRX) e ensaios de lixiviação do material calcinado/sinterizado. Com esse gerenciamento alternativo de resíduos, haverá uma minimização do volume disposto em aterro sanitário bem como um menor impacto ambiental local e regional. Além disso, as cinzas resultantes da queima do lodo de esgoto poderão ser utilizadas como matéria prima em novas formulações cerâmicas. 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES Poder calorífico do lodo Foram realizados três ensaios na bomba calorimétrica tendo como resultado de poder calorífico superior médio, medido da amostra de lodo seco, 18,77 ± 0,46 MJ.kg -1. Usando a equação (PCI) = (PCS) 2,442(9H tot ), o poder calorífico inferior foi estimado como sendo 17,75 ± 0,46 MJ.kg -1, sendo 2,442 MJ/kg o calor de vaporização da água. Os resultados acima indicam que a combustão do lodo de esgoto seco proveniente da estação de tratamento apresenta um potencial energético que deve ser considerado. Fluorescência de raios-x Nas Tabelas 1 e 2 estão apresentados os resultados de fluorescência por raios-x do lodo seco a 105 C e do lodo sinterizado a 1050 C por 3 horas, respectivamente, expressos em percentuais de óxidos dos elementos de maior teor e em teor de elementos traço.

Quanto aos elementos traços, nota-se que após sinterização não está mais presente o cloro, volatilizado no processo na forma de cloretos. O teor de flúor e enxofre reduziu-se significativamente. Os outros elementos presentes, listados na Tabela 2, praticamente sofreram um processo de concentração, quando comparados seus teores no lodo original seco a 105 C e no produto sinterizado analisado. Tabela 01. Composição em óxidos de amostras de lodo seco a 105 C e sinterizado a 1050 C por 3 horas, os valores são dados em (%) de peso. Óxidos 105 o C 1050 o C - 3h SiO 2 15,84 38,33 Al2O3 7,63 21,14 MnO 0,042 0,097 MgO 0,64 1,8 CaO 2,55 6,68 Na 2 O 0,02 0,52 K 2 O 0,5 1,36 TiO2 0,694 1,75 P 2 O 5 3,738 9,994 Fe 2 O 3 5,91 14,61 Elementos traço 105 o C 1050 o C-3h Ba 745 1482 Ce 115 212 Cl 2572 17 Co 14 25 Cr 929 2078 Cu 942 2034 F 650 326 Ga 9 9 La 46 103 Nb 11 42 Nd 27 47 Ni 285 684 Pb 109 176 Rb 21 64 S 2914 157 Sc 8 19 Sr 111 322 Th 25 43 U 3 3 V 60 122

Y 10 39 Zn 2645 6113 Zr 192 557 Tabela 02. Teor de elementos traço no lodo seco a 105 C e depois de tratado a 1050 C por 3 horas (em mg/kg). Difração de raios-x A Figura 01 apresenta os difratogramas do lodo seco a 105 C (curva 1), e do lodo após tratamentos térmicos em fornos elétricos de laboratório em presença de ar a 250 C, 600 C, 1010 C e 1050 C (respectivamente curvas 2 a 5). Estas análises foram utilizadas para identificação das principais fases cristalinas minerais presentes nos produtos obtidos, à medida que o lodo é processado termicamente, após etapas de queima e sinterização. A Tabela 3 apresenta as fases identificadas após tratamento em cada temperatura. Em base aos difratogramas, identificou-se no lodo original seco, a presença de ilita (I), caulinita (K) e dolomita (D). A 250 o C, quando parte dos produtos orgânicos já sofreu pirólise e início de queima, conforme serão mostrados nos resultados de análises térmicas, os picos característicos das fases cristalinas previamente identificadas no lodo seco (I, K, D) estão mais intensos, visto sua maior concentração no produto assim tratado, tendo sido identificados também quartzo (Q), microclínio (Mi) e gibsita (G). No produto formado a 600 o C, em que praticamente o material orgânico que ainda estava presente a 250 o C já foi quase totalmente queimado, verifica-se a presença de quartzo, microclínio, e que já ocorreu a desidroxilação dos argilominerais ilita e caulinita e da gibsita, e a descarbonatação da dolomita. Cabe observar que a desidroxilação dos argilominerais e da gibsita promove o colapso das respectivas estruturas cristalinas, resultando em uma íntima mistura de óxidos amorfos 2, bastante reativos, o que explica a presença da anortita (A) e ausência de picos de componentes cristalinos anteriormente presentes.

Em continuidade ao processo de aquecimento das fases inorgânicas formadas anteriormente, nota-se a 1010 o C, a formação de tridimita (T) (variedade cristalina do óxido de silício), que resulta tanto da transformação cristalina do quartzo já existente, como das reações em estado sólido dos produtos de desidroxilação de caulinita e ilita 3. A mulita (Mu) identificada é também resultante dessas mesmas reações em estado sólido. Cabe observar que se nota também a esta temperatura, a presença de hematita (H), indicativa da oxidação de ferro, entre 600 o C e 1010 o C, e de anortita (A). A 1050 o C, temperatura em que o processo de sinterização está mais intensificado, conforme será visto por microscopia de aquecimento, as fases cristalinas presentes são as mesmas que a 1010 o C. Tabela 03. Fases cristalinas identificadas após tratamento térmico do lodo seco a diversas temperaturas. Temperatura de processamento Minerais Fórmula bruta 110 o C 250 o C 600 o C 1010 o C 1050 o C Quartzo SiO 2 x x x x Ilita (K,H 3 O)Al 2 Si 3 AlO 10 (OH) 2 x x Caulinita Al 2 Si 2 O 5 (OH) 4 x x Dolomita CaMg(CO 3 ) 2 x x Microclínio KAlSi 3 O 8 x x Gibsita Al(OH)3 x Hematita Fe 2 O 3 x x Tridimita SiO 2 x x Mulita Al 6 Si 2 O 13 x x Anortita CaAl 2 Si 2 O 8 x x x Fig. 01: Difratogramas do lodo seco à 105 C e do lodo após tratamento térmicos em presença de ar a 250 C, 600 C, 1010 C e 1050 C por 3 horas.

Extração e solubilidade dos elementos químicos do material filtrante Pode-se ver, na Tabela 3, os resultados obtidos nos ensaios do lodo calcinado e sinterizado, para extração em solução ácida de 0,1M de HNO 3. Esta solução ácida apresentou um ph de 0,97, característico de uma solução fortemente ácida, apresentando um maior poder de extração de elementos químicos. Na Tabela 4 são mostrados ensaios para solubilidade em água. Os ensaios foram feitos para verificar se houve insolubilização dos metais pesados contidos no lodo de esgoto, pela maior associação dos óxidos respectivos e a matriz cerâmica. Tabela 04 - Análises por ICP-OES para os lixiviados obtidos por extração ácida, solução de 0,1M de HNO 3 com ph=0,97, em (mg/l). Elemento 250 C 350 C 650 C 850 C 1050 C Cu 0,201 1,559 1.77 2,142 1,735 Fe 0,458 9,441 1,722 1,784 0,677 Mn 0,129 2,165 0,689 3,565 2,65 Zn 1,589 29,45 2,843 5,171 2,792 Ba 0,018 0,475 0,298 0,269 0,922 Cr 0,003 0,076 0,003 0,147 0,016 Al 0,171 7,495 7,85 10,334 5,279 Tabela 05 - Análises por ICP-OES para os lixiviados dos ensaios de solubilidade em água destilada, após filtração, em (mg/l). Elemento 250 C 350 C 650 C 850 C 1050 C Cu 0,072 0,061 0,004 0,004 0,004 Fe 0,036 0,231 0,031 0,026 0,231 Mn 0,028 2,655 0,164 0,061 0,003 Zn 0,423 13,22 0,224 0,047 0,003 Ba 0,001 0,117 0,072 0,014 0,003 Na 0,572 8,739 1,525 1,887 1,677 Cr 0,004 0.003 0,003 0,018 0,026 Al 0,004 0.002 0,002 0,002 0,076

5. CONCLUSÕES O tratamento térmico aplicado visando à sinterização mostrou-se efetivo para estabilização dos metais contidos no lodo, pois promove a sua inserção na matriz cerâmica formada durante as transformações termoquímicas dos componentes minerais inicialmente contidos no lodo. Esta retenção foi observada no ensaio de solubilidade em água. No estudo da queima do lodo em bomba calorimétrica, foi permitido estimar o poder calorífico deste material, com valor aproximado de 17,75 MJ/kg. Tal resultado indica a possibilidade de se utilizar a energia gerada durante a queima do lodo como fonte alternativa de energia. 6. BIBLIOGRAFIAS Morais, L.C..; DWECK, J.; CAMPOS, V.; ROSA, A.H.; FRACETO, L.F.; BÜCHLER, P.M. Mat. Scien. Forum. 2010, 660-661, 1009. SRINIVASAN, N.R.. Road Res. Papers. 1956, 1, 1. NORTON, F.H. Ed. Edgard Blucher. 1973, 177. APOIO FINANCEIRO Pró-Reitoria de Pesquisa: Programa Primeiros Projetos. UNESP.